PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
SANTO ANTÓNIO
Velhinha, alquebrada, a arrastar-se pelos caminhos, com as abas das paredes a servirem-lhe de abrigo e as canas abandonadas no caminho utilizadas como bordão, caminhava por aqui e por além, na demanda do sustento de cada dia. Sustento dela e do marido, inerte, preso a uma cama de dor, de sofrimento e de falta de tudo. Ela velhinha, alquebrada e arrastar-se pelos caminhos, a fazer de mulher e de homem da casa. Ele doente, dorido, preso a uma cama, como se apenas servisse para coisa nenhuma.
Era ela que cavava, sachava, plantava e semeava uma pequena courela junto à porta da cozinha e que, apesar de tudo, ia dando couves fresquinhas, batatas suculentas, cebolas repolhudas e outras miudezas que lhe iam garantindo o parco sustento quotidiano. Era ela que acarretava à cabeça pequenos molhos de lenha da Cabaceira, que a cortava e picava. Mas era ela também que ao regressar dos campos, arquejante e fatigada, arrumava a casa, fazia o lume e cozinhava. Era ela que ia buscar a água à fonte, que lavava, varria, arrumava e limpava a casa, enquanto o seu homem, já quase cego e impedido de andar, de sair de casa, de se levantar, de fazer o que quer que fosse, a não ser cramar, gemer e chamar por ela.
Um dia ela partiu para a Cabaceira, à lenha. Em casa nem um garrancho e o café no bule havia terminado. Chovia, trovejava, ventava que metia medo. À Volta do Delgado já estava toda encharcada dos pés à cabeça, pese embora se encostasse à aba de uma ou outra parede e se protegesse com um saco de serapilheira, enfiado na cabeça, a fazer de capuz. Ao redor não se via alma viva. Com um tempo daqueles ninguém arriscava sair de casa. Na ladeira do Delgado, uma ressaca enorme de vento pegou-lhe como se fosse uma pena de ave e atirou-a ao chão. Dorida, angustiada, encharcada, muito custo levantou-se. A terra da Cabaceira ainda era longe, mas o caminho, a partir dali mais protegido de ventos e chuvas pelas altas paredes dos terrenos circundantes. Finalmente chegou ao Descansadouro de Santo António e parou junto à imagem do Santo, pousada ali, num pequeno nicho, sobre o enorme portão de uma horta. Fixou a imagem que lhe pareceu estar solidarizada com seu sofrimento. Afinal Ele, Santo António também estava ali, como ela, não apenas naquela tarde mas todos os dias e todas as noites, à chuva, ao vento, ao frio, às tempestades, carregando o Menino ao colo. Ele, ela e o Menino encharcados de água, de solidão, de sofrimento e de cansaço.
De repente, sem que nada o previsse, fez-se um Sol resplandecente e enternecedor e a natureza como que se ergueu a aconchegar, proteger e apoiar o Menino, o Santo e a velhinha. E ela, rejubilando de alegria, sentiu a roupa a secar-lhe no corpo, as forças a redobrarem-lhe e o ânimo a renascer, mais pujante, mais altivo e mais regenerador. Como se tivesse asas, voou até à Cabaceira e dali até a casa, com um grande molhito de lenha, seca, que havia dar para muitos dias. A lenha estava enxuta, seca, pronta a acender o lume e a fazer o café para o marido que jazia na sua velha enxerga de musgo e pragana, acariciado pelos raios de Sol que lhe entravam pela janela e lhe cobriam o rosto com um manto de tranquilidade de que há muito não usufruía.
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A MINHA GALINHA PINTADA
Poema oral, umas vezes cantado, outras declamado, na Fajã Grande, sobretudo aos serões ou emfestas, na década de cinquenta e anteriores:
“A minha galinha pintada
Põe três ovos por dia,
Se ela pusesse quatro
Que dinheiro não faria.
Já me deram pela cabeça
Uma vaquinha moiresca.
Já me deram pela crista
Uma vaquinha mourisca.
Já me deram pela moela
Uma vaquinha moirela.
Já me deram pelas penas
Duas vaquinhas morenas.
Já me deram pelo rabo
um cavalo enfreiado.
Já me deram pelas tripas
Duas feixadas de tripas.
Já me deram pelas asas
Uma aldeia com dez casas.
Já me deram pela língua
A cidade de Coimbra.
Já me deram pelas pernas
Umas meias amarelas.
Já me deram pelo corpo
Toda a cidade do Porto.
Galinha que vale assim tanto
Das penas até ao osso
Não vai parar ao convento...
Vou eu comê-la ao almoço.”
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CANTAR “OS ANOS BONS”
Na década de cinquenta, todos anos, alguns grupos de crianças percorriam todas as ruas da Fajã Grande, no primeiro dia do ano, com o objectivo de cantar “Os Anos Bons”, junto das portas de quase todas as casas, excepção das que estavam de luto ou tinham algum enfermo em estado grave. Estes grupos organizavam-se alguns dias antes e tinham como principal critério de formação, a idade. Os mais velhos formavam grupos entre si e os mais novos procediam da mesma maneira. Em todos os grupos havia um chefe ou líder que tinham como funções principais formar, preparar e liderar o grupo e ainda a de receber o dinheiro e no fim o dividir equitativamente por todos os membros. No dia de Ano Novo lá iam pelas portas das casas, tocando gaita, ferrinhos e cantando, a fim de que a dona da casa desse uma moedita, um copinho de licor ou um punhadito de figos passados.
Sempre integrei o grupo dos mais novos que alguns anos depois se desfez, sobretudo porque a maior parte abandonou a ilha com destino à América e ao Canadá. Recordo-me que o líder do meu grupo era o José Nunes, que morava na Fontinha, perto da casa da minha avó e tocava muito bem gaita. Era na loja dele que ensaiávamos e era lá também que terminado o périplo pela freguesia nos juntávamos para contar e dividir o dinheiro, sempre com grande rigor e sem trafulhices ou batota, Faziam parte do grupo para além do José Nunes e de mim, o Heitor, o José do Urbano, o José Tobias, o Antonino Lourenço e o José Gabriel.
Chegados juntos da casa cantávamos a primeira quadra desejando aos donos Bom Anos:
Anos Bons e tão Bons Anos,
Deus vos dê de melhorados,
Tudo isto passou Cristo
Perdoai nossos pecados.
Ó senhora dona da casa
Raminho da salsa crua
Lá aos pés da sua cama
Nasce o Sol e põe-se a Lua
Se a porta se abria logo, sinal de que nos haviam de dar alguma coisa, cantava-se esta quadra:
A senhora Mariquinhas
Assentada na cadeira
Parece um botão de rosa
Apanhado na roseira.
Se a porta demorava em abrir-se ou nem sequer se abria, sabendo nós que a dona estava em casa, cantavam-se estas:
Ò Senhora Mariquinhas
Meu raminho de tremoço
Venha-nos abrir a porta
Se não canto até ao’almoço.
Ò Senhora Mariquinhas
Coração de pedra dura,
Venha-nos abrir aporta
Estou co’a mão na fechadura.
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BODIÃO EM JANEIRO
“Um bodião em Janeiro vale mais do que um carneiro.”
Trata-se dum interessante mas invulgar adágio, utilizado na Fajã Grande, não para desvalorizar a carne do carneiro, mas para valorizar o bodião e para afirmar a espécie de sorte que é ter peixe à mesa, em pleno Inverno, quando o mar está permanente bravo, impedindo que nessa altura haja apenas uma fraca e escassa probabilidade de se comer peixe. Sendo assim, nos meses de Inverno, nomeadamente em Janeiro, o mais creditado com os rigores da invernia, conseguir qualquer espécie de pescado, mesmo que seja de menor qualidade, como é o caso do bodião, será sempre mais apreciado à mesa do que a carne de carneiro, disponível em qualquer altura do ano. O adágio, no entanto, deve entender-se, como é óbvio, também e sobretudo num sentido figurado.
Porquê o bodião, pode perguntar-se. Primeiro porque o bodião é uma espécie de peixe muito vulgar nos Açores e ainda mais nas enseadas e baixios rochosos da ilha das Flores. Trata-se de uma espécie sedentária, da ordem dos “Perciformes” e da família dos “Labridae”, realmente muito comum nas águas açorianas e que tem o seu habitat, preferencialmente, nas zonas resguardadas, de rochas revestidas com ervas e algas marinhas, que são a base da sua alimentação. Muito activos durante o dia, se as águas estiverem limpas é fácil observá-los, embora por vezes se confundam com as vejas, sobretudo com os machos, com os quais tem cores e formato semelhantes. O seu aspecto realmente é muito parecido com o das vejas e apresentam olhos salientes, boca pequena em relação ao seu tamanho, mas com os beiços muito revirados e salientes. O corpo é revestido de pequenas e finas escamas, com barbatanas pouco desenvolvidas. As suas cores mais vulgares são o castanho e o verde, podendo variar entre cores únicas, manchas de cores variadas, as cores do arco-íris e outras típicas dos peixes tropicais. A sua pesca tradicional e de cana, não é fácil, sendo que na Fajã Grande, pelo menos, nunca era específica. Ninguém ia pescar aos bodiões, eles eram capturados geralmente quando se pescava às vejas, aos rateiros, ou até aos sargos ou às salemas.
Por todas estas razões adquire mais sentido o adágio fajãgrandense acima referido. Na realidade conseguir um bodião em Janeiro, seria muito raro e difícil, daí a sua sobrevalorização sobre um outro petisco que apesar de raro era bem mais fácil de obter-se – a carne de carneiro. Por sua vez e por assimilação, no sentido figurado, querer-se-ia significar com a utilização deste adágio de que obter uma coisa rara e difícil de conseguir, mesmo sendo de menor qualidade é preferível a algo que, embora sendo melhor, se tem com frequência e em abundancia.
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A LUTA NO OUTEIRO ENTRE O ANO VELHO E O ANO NOVO.
Na Fajã Grande havia uma lenda muito antiga, segundo a qual, todos os anos, a meio da noite entre os dias 31 de Dezembro e 1 de Janeiro, no Outeiro, junto à cruz, o Ano Velho e o Ano Novo consumavam uma árdua e demorada luta, com o objectivo de decidirem quem ficaria a mandar no próximo ano: se o Ano Velho se o Ano Novo. E nós pobres e inocentes criancinhas lá ficávamos deitados nas nossas camas de palha e casca de milho, uns agarrados aos outros, aflitíssimos, cheios de medo, muito bem cobertos e caladinhos, com os olhitos muito arregalados por fora dos cobertores, com os ouvidos à escuta, a tentar descortinar algum ruído ou barulho indicador da luta e a torcer para que fosse o Ano Novo a vencer. Por fim e a muito custo, sem ouvir rigorosamente nada, lá adormecíamos…
E não é que tínhamos uma sorte danada!
É que no dia seguinte de manhã, ao indagar junto dos adultos que nos eram mais próximos, quem teria sido o vencedor, havia sempre uma fonte fidedigna que nos dizia que tinha ganho o Ano Novo. Afinal aquele que nós tanto queríamos que ganhasse e por quem havíamos porfiado.
Que sortudos que nós éramos nesses tempos! Mas também, verdadeiramente, inocentes.
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PAZ PARA A SÍRIA - EM 74 LÍNGUAS
Dit sal 2014 bring vrede na Sirië.
Gjithashtu se 2014 do të sjellë paqe në Siri.
Das 2014 Frieden nach Syrien zu bringen.
أن 2014 سوف يجلب السلام لسوريا
Դա 2014 կբերի խաղաղություն Սիրիա
2014 Suriyaya sülh gətirəcək
Duten 2014 bakea ekarriko du Siriara.
অর্থাৎ 2014 সিরিয়া শান্তি আনতে হবে.
Гэта 2014 прынясе свет у Сірыі.
To 2014 će donijeti mir u Siriju.
Това 2014 г. ще донесе мир на Сирия
ಆ 2014 ಸಿರಿಯಾ ಶಾಂತಿ ತರುವ
Aquest 2014 portarà la pau a Síria
Nga dad-on sa 2014 sa kalinaw ngadto sa Siria.
Že 2014 přinese mír do Sýrie.
那2014年将带来和平叙利亚
那2014年將帶來和平敘利亞
즉, 2014 년 시리아에 평화를 가져올 것이다.
Sa 2014 ap pote lapè nan peyi Siri.
To 2014 će donijeti mir u Siriji.
At 2014 vil bringe fred til Syrien
Že 2014 prinesie mier do Sýrie.
Da 2014 bo prinesel mir v Sirijo.
Ese 2014 traerá la paz a Siria
Ke 2014 alportos pacon al Sirio.
Et 2014 toob rahu Süüriasse
2014 Iyon ay magdadala ng kapayapaan sa Syria.
Että 2014 tuo rauhaa Syyriaan.
Que 2014 apportera la paix à la Syrie
Que 2014 traia paz á Siria
A fydd yn 2014 yn dod â heddwch i Syria.
რომ 2014 წელს მშვიდობის სირიაში.
Ότι το 2014 θα φέρει την ειρήνη στη Συρία.
તે 2014 સીરિયા માટે શાંતિ લાવશે
Wannan zai kawo zaman lafiya 2014 zuwa Siriya.
कि 2014 सीरिया में शांति लाएगा
Hais tias 2014 yuav kev kaj siab lug Syria.
Dat 2014 zal vrede brengen naar Syrië.
Az 2014 békét Szíriába.
Na 2014 ga-eweta udo na Syria.
Itu 2014 akan membawa perdamaian ke Suriah.
That 2014 will bring peace to Syria.
Beidh an 2014 síocháin a thabhairt chuig tSiria.
Að 2014 mun koma á friði í Sýrlandi
Che il 2014 porterà la pace in Siria.
その2014年には、シリアに平和をもたらすでしょう
ថាឆ្នាំ 2014 នឹងនាំមកនូវសន្តិភាពទៅប្រទេសស៊ី
ວ່າປີ 2014 ຈະເຮັດໃຫ້ສັນຕິພາບກັບຊີເຣຍ.
Ut pacem in Syriam MMXIV
Ka 2014 dos mieru Sīrijā.
Kad 2014 atneš taiką į Siriją.
Дека 2014 година ќе донесе мир во Сирија.
Yang 2014 akan membawa keamanan ke Syria.
Li 2014 se ġġib il-paċi Sirja.
E 2014, ka kawea mai te rongo ki a Hiria.
त्या 2014 सीरिया शांती आणील.
Энэ нь 2014 оны Сири амар амгаланг авчрах болно.
त्यो 2014 सिरिया शान्ति ल्याउनेछ।
At 2014 vil bringe fred til Syria
Que 2014 traga paz à Síria.
Że 2014 przyniesie pokój do Syrii
, ਜੋ ਕਿ 2014 ਸੀਰੀਆ ਨੂੰ ਅਮਨ ਲਿਆਉਣ ਕਰੇਗਾ.
Că 2014 va aduce pace în Siria
2014 атакующий защитник Сирии
Куе 2014 пуцање гарда Сирије.
2014 toogashada ayay waardiyayaashu ee Suuriya.
2014 risasi walinzi wa Syria.
2014 skytte vakt i Syrien.
சிரியா2014 படப்பிடிப்பு பாதுகாப்பு.
Suriye 2014 çekim guard.
2014 атакуючий захисник Сирії.
شام کے 2014 شوٹنگ گارڈ.
2014 bảo vệ chụp của Syria
2014 ukudubula labaqaphi waseSiriya.
(Alguma destas línguas Deus há-de entender e senhor Bashsar al-Assad também)