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AS PAPAS

Sábado, 18.01.14

CONTO TRADICIONAL)

 

Era uma vez uma raposa e um lobo que eram compadres e muito amigos. Um dia andavam uns malhadores a malhar o centeio, numa eira e tinham levado uma travessa de papas para o almoço, a qual haviam colocado, sobre um muro que ficava perto. Ao passarem por ali, na ida para a caça, a raposa, ao ver as papas, disse para lobo:

- Ó compadre, olhe que papas saborosas estão ali. Se as fôssemos roubar tínhamos o almoço garantido. Já não precisávamos de nos irmos cansar para a floresta, a correr atrás dos coelhos.

- Ai comadre, que boa ideia! – Respondeu o lobo, muito contente. - Seria muito bom. Eu estou com uma fome danada, além disso já estou velho, já me cansa andar atrás dos coelhos. Mas, comadre, como é que havemos de as ir buscar, se andam por lá perto os malhadores?

- Olhe compadre, é fácil, muito fácil. Vossemecê vai por aquele lado, onde estão os malhadores, para os distrair, enquanto eu vou por este lado para trazer as papas, sem eles darem por isso.

Lá foram os dois conforme o combinado. O lobo dirigiu-se para o lado onde estavam os malhadores, mas quando se aproximou, um deles ferrou-lhe uma forte pancada com a malha, que o lobo ficou todo partido, começando a gritar. A raposa, muito matreira, apanhou as papas sem os malhadores darem por isso, comeu-as quase todas, deixando apenas uma pequena quantidade com que borrifou a testa. O lobo quando chegou ao pé dela, muito dorido, disse-lhe:

- Ai comadre, não imagina o que me aconteceu… Deram-me uma pancada tão grande com uma malha que estou todo partido, quase nem posso andar.

- Ai compadre, não me diga, - disse a raposa - o que lhe haviam de fazer!? Mas olhe que a mim, ainda me fizeram pior. Está a ver a minha testa? Olhe, deram-me uma paulada tão grande na cabeça que até me deitaram os miolos de fora.

- Ó comadre, se está assim tão mal não se preocupe. Salte-me para as costas, que eu levo-a a casa.

A raposa não se fez rogada, saltando de imediato para as costas do lobo. Quando iam no caminho, em direcção a casa, a raposa começou a dizer:

- Rão, rão, rão, que o podre leva são.

O lobo, estranhando aquela espécie de gozo da raposa, perguntou-lhe:

- Ó comadre, então o que é que vai a dizer?

- Ah! É uma oraçãozinha que eu cá sei, para me por melhor.

E continuou muito bem refastelada às costas do lobo e com a barriga cheia.

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publicado por picodavigia2 às 20:18

A REVOLTA E O CASTIGO DE LUCIFER (DIÁRIO DE TI’ANTONHO)

Sábado, 18.01.14

Uma “estória” muito interessante que meu avô me contava muitas vezes era a da revolta e do castigo de Lucifer, o anjo bom que vivia junto de Deus e que se tornou no diabo, sendo lançado no Inferno.

Segundo ele me contava, Lucifer era o mais belo, o mais bonito e o mais maravilhoso anjo do Paraíso. O seu nome significava: portador da luz e estava sentado ao lado de deus, beneficiando das suas graças, benevolências, dádivas e favores permanentes.

Lucifer possuía muitas qualidades, algumas um tanto ou quanto estranhas: era tão belo e de aspecto tão delicado que o seu rosto parecia o de uma donzela, os seus cabelos possuíam um brilho dourado e os seus olhos eram azuis e brilhavam mais do que as estrelas. Era esbelto de corpo, elegante no andar e desenvolto nas suas atitudes. Mas, o que mais chamava a atenção dos que com ele conviviam, eram as suas extravagantes botas que calçava: eram vermelhas, de cano longo e com um salto tão delgado que parecia uma agulha.

Além disso Lúcifer gozava da confiança plena de deus. Era o anjo da beleza suprema, exercendo, na corte celeste, algumas funções de grande responsabilidade: era o estilista-mor, o costureiro principal, o chefe dos bailarinos e o cabeleireiro privativo do seu chefe. Mas Lucifer também tinha defeitos e o principal era ser muito vaidoso e ambicioso.

Um certo dia, olhando-se ao espelho, encantado com a sua beleza, exclamou:

- Como sou bonito! Sou tão lindo que mereço um paraíso só para mim!

Decidiu, então, Lúcifer, ir ter com deus, dizendo-lhe:

- Meu deus e meu senhor! Como vedes sou o anjo mais bonito, mais elegante, mais esbelto e mais habilidoso de quantos existem nesta corte celeste. Sou tão belo e tão bonito como tu, por isso eu quero ser igual a ti, em força, em glória, em esplendor e em poder. Quero ter uma corte celestial semelhante à tua, ter coros de anjos e arcanjos ao meu redor, que me obedeçam e sirvam. Quero ser, em tudo, igual ou superior a ti.

Deus ouviu e, embora não cumprindo os seus pedidos, prometeu que se ele ali permanecesse lhe havia de dar mais poder, mais glória e mais exaltação. Mas Lucifer, não aceitou. A sua ambição era infinita e os seus desejos incontroláveis. Por isso Deus, furioso, decidiu castigá-lo severamente.

- A tua ganância e a tua ambição pelo poder perderam-te. Vai-te daqui para fora, vai para o inferno.

De repente abriu-se um enorme buraco no universo, no fundo do qual ardia um lume intenso e devorador, para onde Lucifer foi atirado e onde permaneceu para sempre, junto com os outros anjos maus que o acompanharam na sua revolta contra deus.

 

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publicado por picodavigia2 às 18:07

PALAVRAS, DITOS E EXPRESSÕES UTILIZADOS NA FAJÃ GRANDE (IX)

Sábado, 18.01.14

Acamado – Doente.

Acartar – Acarretar.

Açucre – Açúcar.

Alanterna – Lanterna.

Aleive – Acusação maligna, calúnia.

Amigar-se – Amancebar-se.

Amojar – Dizia-se das vacas quando davam sinal de já começarem a  ter leite no úbere, sinal de que em breve teriam cria.

Amuado – Zangado.

Andar a torrar favas – Não fazer nada, andar ao desvario.

Antiontem – Um dia antes de ontem.

Às avessas – Ao contrário.

Assanhado – Zangado.

Atão – Então.

Azeite-doce - Azeite normal, de oliveira que na ilha era usado quase somente como medicamento.

Bácoro – Porco novo.

Badalhoca – Mulher desarrumada, pouco limpa, porca.

Badameco - Pessoa a quem não se deve dar importância. Possivelmente de origem americana.

Bambalear – Andar a baixo e a acima, tremelicar.

Banda – Lugar, lado.

Baraço – Atilho feito de espadana para atar os molhos do pasto ou a lenha.

Barriga de bichas – Avarento, pessoa má para os outros.

Belzabu – Diabo.

Belga   - Qualquer faixa de terreno agrícola, comprida e estreita e geralmente sobranceira a outra.

Bexigas – Varíola.

Bichas – Lombrigas.

Bocadinho – Pequena quantidade, pouco.

Bolacha no rabo – Palmada no rabo.

Buxa – Pequena refeição, sande.

Cabo – Fim.

Cachaço – Pescoço.

Caçoar – Fazer pouco, gozar.

Caganita - Pessoa muito fraca, que não pode com quase nada. É usado no sentido depreciativo.

Canalha – Crianças.

Canteiro - Espaço destinado a criar a planta da batata-doce. Era sempre feito junto das casas, tinha a for quadrangular e era protegido por um bardo. Cavado em grande profundidade era colocado bastante estrume e sobre estes, as batatas cobertas de terra. A rama nascida era cortada e plantada nos campos para dar a batata-doce, fundamental na alimentação e na engorda dos porcos.

Cão da Meia-noite – Um dos nomes porque era conhecido o diabo.

Catrapiscar o olho – Namorar.

Danado – Mau, zangado. Desejoso, inquieto.

Dantes – Noutro tempo.

Dar ao badalo ou dar à trela – Falar muito e sem jeito.

Dar oividos – Ouvir mexericos, ouvir o que outros dizem.

Destrocar – Trocar.

Destróia - Pessoa, geralmente criança, que não se porta lá muito bem. Possivelmente tem a sua origem no verbo destruir.

Sarna – Pessoa teimosa, aborrecida e impertinente.

Sova – Tareia, pancadaria.

Tabefe – Estalada.

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publicado por picodavigia2 às 17:26

VIOLÊNCIA2

Sábado, 18.01.14

“Aquilo que se obtém com violência só se pode conservar pela violência.”

 

(Mahatma Gandhi)

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publicado por picodavigia2 às 16:37

À MERCÊ DOS CAPRICHOS DA NATUEZA

Sábado, 18.01.14

Aqui transcrevo, com a devida vénia, um artigo de opinião da jornalista Maria José Margarido, publicado no «Diário de Notícias» em 12 de Agosto de 2006 e, recentemente, divulgado pelo “Forum Ilha das Flores”.

“Esta mania de tirar férias no Outono tinha de trazer, um dia, os seus dissabores. A ilha das Flores, a apenas uma hora de avião de São Miguel, acabou por permanecer, teimosa, a quatro dias de distância. Mau tempo oblige, há que reaprender esta subjugação do homem pelos deuses do vento e, principalmente, do nevoeiro - se os açorianos ainda não lhe deram um nome profano, já o deviam ter feito. Chegámos a sobrevoar a ilha e voltar para trás dois segundos antes de o piloto se fazer à pista, por "brusca alteração das condições atmosféricas". É então compreensível a sensação de triunfo que nos abria os sorrisos quando finalmente desembarcámos - e que se manteve apesar de a nossa anfitriã nos perguntar, assim que ficámos ao alcance da sua voz: "Mas porque é que decidiram vir cá em Outubro?".

É verdade, éramos poucos, a juntar aos já de si poucos habitantes da ilha: que tivéssemos reparado, apenas nós e uma solitária alemã de meia-idade, adepta de longos passeios. Este é um daqueles locais únicos no planeta, onde nos sentimos realmente longe de tudo, e a base das operações é muito importante - principalmente quando a tal instabilidade climatérica pode obrigar a alguns períodos de recolhimento. Foi assim que rumámos à Aldeia da Cuada, uma povoação abandonada pelo êxodo migratório para os Estados Unidos e totalmente recuperada, sem mudar uma pedra à sua configuração original, para turismo rural.

 É difícil descrever a localização destas casas, uma das zonas mais bonitas da ilha. Tentemos. A aldeia fica na costa oeste da ilha das Flores, num pequeno planalto sobranceiro à foz da ribeira Grande, entre a Fajã Grande e a Fajãzinha. De um lado, o oceano a perder de vista, varrido por focos de luz vindos do céu; do outro, uma falésia imponente que só às vezes se revelava - a si e às cascatas que a percorriam, quedas de água que no Verão são só uma mas se desmultiplicam nos dias mais generosos em chuva de Outubro.

Começávamos assim a responder à pergunta primordial da nossa anfitriã. O vento que assobiava entre as frestas da janela à noite, fazendo-nos sentir numa jangada de pedra no meio do oceano, poderia ser outra resposta. Uma aldeia inteira só para nós e dois patuscos burros, capazes de reciclar caroços de maçã, bonés e o que quer que lhes aparecesse à frente em jeito de oferenda, são outro argumento possível. Tal como a descoberta, após horas de luta com o omnipresente nevoeiro, da cascata do Poço do Bacalhau, que liberta as suas águas de uma altura de 90 metros, pulverizando-se no ar antes de formar uma deliciosa lagoa natural onde se pode tomar banho. OK, nós não pudemos, mas não nos importámos muito.

Nenhuma ilha dos Açores tem como esta, em apenas 143 quilómetros quadrados, tantas cascatas e cursos de água a serpentear pelas encostas e falésias. No seu planalto central, a ilha das Flores ostenta vaidosa nada mais nada menos do que sete lagoas, nascidas de crateras vulcânicas. Só no último dia conseguimos vê-las, com as nuvens a afastarem-se finalmente como se de um ritual de despedida, um prémio de persistência, se tratasse. Cada uma é parte de um caleidoscópio de cores: a lagoa Funda ou Verde, com margens revestidas de hortênsias; a Branca, a Seca, a Comprida, a Rasa, a evocar paragens escocesas; a Lomba e a Funda das Lajes - a maior de todas.

Há que transigir: não vimos no seu esplendor as flores que baptizaram a ilha. Por pouco não conseguíamos pisar a ilha do Corvo, à distância de duas horas de barco: acabámos por ter lugar no único que conseguiu fazer a travessia naquele mês, carregado de gasolina, vacas e outros mantimentos mortos e vivos. E o Caldeirão não revelou o seu lago de sete ilhotas, representação estranha e pictórica de parte do arquipélago. Mas voltámos com a certeza de ter vivido algo único, o que nos dias que correm é muito mais que muito.”

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publicado por picodavigia2 às 11:38

TENENTE BARTOLOMEU LOURENÇO FAGUNDES

Sábado, 18.01.14

O tenente Bartolomeu Lourenço Fagundes nasceu no lugar da Fajã Grande, freguesia das Fajãs em 1753. Era filho de António Silveira Azevedo, natural de Santa Luzia do Pico e de sua mulher Catarina de Freitas, natural do lugar da Fajã Grande, freguesia das Fajãs casados na igreja da Fajãzinha, em trinta de Janeiro de 1752. Era neto paterno de José Pereira de Azevedo, natural de Santa Luzia do Pico e de Madalena de São João, provavelmente natural da freguesia de São João do Pico e materno de Bartolomeu Lourenço e de sua mulher Isabel de Freitas, sendo bisneto do Alferes André Fraga Pimentel. Casou, na igreja da Fajãzinha, na altura ainda igreja paroquial da freguesia das Fajãs, com Ana de Freitas, nascida em 1756, no dia 17 de Janeiro de 1774, filha de Manuel Lourenço e de sua segunda mulher, Joana de Freitas.

Sabe-se que Bartolomeu e Catarina tiveram vários filhos, sendo um deles o padre José Narciso da Silveira, um outro Manuel Joaquim Fagundes e ainda um terceiro de nome Francisco Lourenço da Silveira.

Bartolomeu Lourenço Fagundes foi tenente de um ou de mais de um dos vários fortes existentes na Fajã Grande e na costa oeste das Flores, como já o tinha sido o seu bisavô, o alferes André Fraga de Mendonça. Estes fortes destinavam-se sobretudo a proteger a população da ilha e defendê-la dos ataques dos piratas. Os mais conhecidos na zona costeira da Fajã Grande eram o Castelo da Ponta, o Vale do Linho, a Castelhana e o Estaleiro, devendo ter existido um quinto, para os lados do Areal, mas dele não há memória.

O tenente Bartolomeu Lourenço Fagundes faleceu em 16 de Novembro de 1816, tendo a sua mulher falecido alguns meses antes, mais concretamente, em 23 de Janeiro do mesmo ano.

Teve o tenente Bartolomeu Lourenço Fagundes um neto também chamado Bartolomeu que foi avô do meu avô materno que assim e por arrastamento era conhecido por José Batelameiro – uma adaptação popular de Bartolomeu - quando o seu nome real era José Fagundes da Silveira. De avô em avô conclui-se que o tenente Bartolomeu Lourenço Fagundes era meu penta avô e, naturalmente, é por essa razão, que tem direito a esta crónica.

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publicado por picodavigia2 às 10:47





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