PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
PAPAS QUE FORAM FORÇADOS A ABDICAR
Para além dos papas que abdicaram livremente e por iniciativa própria, embora fazendo-o por razões diversas, outros chefes da Cristandade foram forçados a abandonar a cátedra de São Pedro, por motivos alheios à sua própria vontade, sendo que, nalguns casos, as pressões foram tão violentas e tão execráveis que culminaram no assassinato do Sumo Pontífice. Desta lista histórica, obviamente, estão excluídos os papas mártires, dos primeiros séculos do cristianismo.
O Papa Eusébio foi eleito em 309, permanecendo na cátedra de Pedro apenas quatro meses, em consequências das perturbações e actos de violência na Igreja, devido a uma rumorosa disputa sobre a readmissão dos apóstatas, Eusébio foi banido pelo imperador Magêncio, que governava Roma, na altura. Foi exilado para a Sicília onde morreu em 310. A Igreja venera-o como santo e a sua festa é no dia 26 de Setembro. Sucedeu-lhe Melquíades, um papa africano de origem berbere, eleito após o imperador Maxêncio ter exilado Eusébio. Dois anos depois, Constantino derrotou Maxêncio, assumiu o governo de Roma e garantiu a liberdade religiosa aos cristãos.
João I, eleito papa em 523, ao ser enviado a Constantinopla, em 525, a fim de tentar obter tolerância da parte do imperador Justiniano para os árabes, foi aprisionado por Teodorico, o Grande, que o obrigou a abdicar do papado, colocando no seu lugar Félix IV, que, antes da sua morte, reuniu vários clérigos e importantes cidadãos romanos e, solenemente, elegeu seu sucessor, Bonifácio II, evitando assim as ameaças consubstanciadas na eleição do antipapa Dióscoro.
No mesmo século João III, eleito papa em 561, foi deposto e forçado a abdicar pelo general Narses, uma vez que, durante o seu pontificado os Lombardos invadiram a Itália e Narses tornou-se governador de Roma, entrando em rota de colisão com João III. Devido à guerra, durante mais de um ano, a Sé de Roma esteve vacante, sendo então eleito Bento I.
No século seguinte, o papa Martinho I, eleito em 649, condenou e afastou os escritos do imperador bizantino, Constante II, que, de imediato, o mandou aprisionar e levar cativo para Constantinopla, sendo julgado, considerado infame e condenado à morte. No entanto, ao ser forçado a renunciar, teve a pena capital suspensa, mas foi encarcerado, submetido a maus-tratos e desterrado para Quersoneso (actual Ucrânia), onde faleceu.
João VIII, eleito em 872, morreu envenenado, dez anos depois. Embora não descuidando os assuntos espirituais da igreja, João VIII assumiu-se mais como chefe militar e líder politico do que do pai espiritual da cristandade. Os seus exércitos defenderam a Itália contra os sarracenos, derrotando-os em Terracina. Em 875, coroou imperador o rei dos francos ocidentais, Carlos o Calvo, e à morte deste, coroou imperador, o rei dos francos orientais, Carlos III o Gordo. Mas depois da coroação, o imperador não manteve a ajuda que lhe prometera, pelo que o papa foi derrotado pelos árabes e forçado a abdicar. Em sua substituição foi eleito, precisamente no dia da sua morte, Marinho I.
Depois da morte de Bonifácio VI, em 896, algo de muito estranho e pouco ortodoxo aconteceu no Vaticano. O partido dos duques de Espoleto, a seu belo prazer, colocou no trono pontifício o Estêvão VI. Roma passou para a chefia de Lamberto de Espoleto e o novo papa foi obrigado a reconhecer Lamberto como único imperador e a reprovar e anular todos os actos do Papa Formoso, antecessor de Bonifácio VI, que coroara Arnolfo, imperador da Alemanha. Abusando da subserviência de Estêvão VI, os partidários de Lamberto instituíram o tribunal do "Sínodo do Cadáver". O cadáver mumificado do papa Formoso foi retirado, sacrilegamente, do seu ataúde, sentado num trono e acusado do grande crime de haver aceite ter sido Papa. Intimado a se defender, e logicamente nada respondendo por ser um mero cadáver, foi julgado criminoso, despojado das insígnias pontificais, sendo-lhe cortados os dedos da mão que abençoara as multidões. O cadáver foi depois lançado ao Tibre, donde foi retirado pelo povo, que lhe guardava enorme carinho e admiração e lhe deu sepultura. Estêvão VII foi aprisionado, obrigado a abdicar, acabando por ser linchado.
Leão V foi eleito papa em 903 e assassinado, dois meses após a eleição, pela família romana dos tusculanos, os mesmos que mataram o antipapa Cristóvão. A causa da sua morte permanece obscura e pouco se sabe, também, sobre a sua vida e acerca do seu curto pontificado. Foi preso por motivos desconhecidos e há uma lenda atribuindo a sua morte a Sérgio III, seu sucessor e, supostamente, pai do papa João XI. Muitos historiadores, no entanto cuidam que é mais provável Leão V ter morrido de causas naturais, na própria prisão.
O Papa João X foi eleito em 914. O seu pontificado foi profundamente influenciado por Alberico I de Spoleto, conde de Túsculo e esposo da bela princesa toscana, Marózia, que dominava Roma. João X foi um papa enérgico e independente, criou grandes inimigos, acabando por ser preso pelos partidários de Marózia, cujos planos ambiciosos condenara. Foi obrigado a abdicar do papado, morrendo na prisão, um ano depois, ao que consta de fome ou de ansiedade.
Pouco se sabe do papado de Estevão VII que terá sido eleito em 928 ou 929. A sua eleição foi imposta pelos condes de Túscolo, graças às suas intrigas contra Marózia, então senatriz de Roma. A validade do seu pontificado é dúbia, pois tal como o seu antecessor, Leão VI, foi eleito quando o Papa João X ainda era vivo mas estava preso. Consideram os historiadores que, se a retirada do papado a João X for inválida, Leão VI e Estêvão VII não foram papas legitimados. Ambos tiveram pontificados curtos e sem nenhuma informação relevante. Estevão VII, possivelmente, morreu assassinado em 931, pelo filho de Marózia, Alberico, que também assassinou a própria mãe.
Após a morte de Estevão VII, foi eleito João XI, com apenas 21 anos de idade, filho de Alberico I de Espeleto e de Marózia, através de intrigas da mãe, ficando completamente sob a sua influência, sob um governo tirano. Depois de várias lutas, um de seus irmãos tornou-se governador de Roma, obrigando João XI a refugiar-se num convento e a renunciar ao cargo.
Bento VI foi eleito papa em 973. Pouco se sabe do seu pontificado, excepto que confirmou os privilégios de várias igrejas e mosteiros e que, um ano após à sua eleição, foi preso, obrigado a abdicar e assassinado por estrangulamento.
Numa época perturbada, com dois antipapas à porfia, João XIV, foi eleito em 983. Após a morte do imperador Oto que o colocara no trono, os nobres de Roma aproveitaram o clima de insurreição e revoltaram-se contra o pontífice, sob o pretexto de que este não era romano. Foi o próprio antipapa Bonifácio VII que, aproveitando o contexto de agitação que se vivia em Roma, o prendeu no Castelo de Santo Ângelo, onde veio a morrer envenenado.
Finalmente, João XXI eleito em 1276 e o único papa português, até ao presente. João XXI não abdicou voluntariamente, nem foi forçado a fazê-lo por imposição de ninguém, mas simplesmente porque foi vítima de um acidente que lhe provocou a morte. Foi homem de grande sabedoria, professor, médico, cientista, pároco em Mafra e arcebispo de Braga e, nessa qualidade, participou no XIV Concílio Ecuménico de Lião, sendo, nessa altura elevado a cardeal pelo papa Gregório X. A sua eleição papal, após a morte do Papa Adriano V, decorre num período muito perturbado por tensões políticas e religiosas. O acidente que o vitimou e que, precocemente o afastou da cátedra de Pedro, ocorreu durante as obras de restauro do palácio onde vivia, em Viterbo.
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PAPAS QUE RENUNCIARAM ANTES DE BENTO XVI
A anunciada renúncia à chefia da Igreja Católica, por vontade própria, pelo actual Papa, Bento XVI, senão inédita, é, pelo menos muito pouco vulgar entre os 262 sucessores de São Pedro. No entanto, alguns foram os papas que já o fizeram, embora por outras razões, cabendo a Bento XVI ficar na história como sendo o primeiro papa a abdicar por motivos, considerados pelo próprio, de incapacidade física ou mental, embora haja rumores, no Vaticano, de que João Paulo II, falecido em Abril de 2005, tenha escrito e deixado, aos cardeais, uma carta de renúncia, a fim de que fosse protocolada, caso viesse a ser vítima de qualquer tipo de doença que o deixasse incapacitado para o governo da Igreja.
A primeira renúncia de um chefe da Cristandade ocorreu no ano de 235, e foi feita pelo papa Ponciano, o 18º sucessor de Pedro, durante o seu exílio na Sardenha. Ponciano abdicou voluntariamente, ao perceber que jamais sairia com vida da “ilha da morte”, a fim de voltar ao Vaticano. Ponciano foi chefe da Igreja entre os anos 230 e 235, não foi martirizado como os seus predecessores, mas condenado a trabalhos forçados na Sardenha, pelo Imperador Maximino Trácio. Ponciano foi canonizado e a Igreja recorda-o, juntamente com Santo Hipólito, a 13 de Agosto. Desconhece-se quanto tempo Ponciano viveu exilado, após a renúncia, mas sabe-se que morreu de esgotamento, em virtude do tratamento cruel, violento e desumano de que foi vítima, nas minas da Sardenha, onde trabalhava, condenado a trabalhos forçados. Os seus restos mortais foram transladados para Roma pelo Papa Fabiano e enterrados na catacumba de Papa Calisto I.
O segundo papa a abdicar foi Silvério, em 537. Fê-lo, também, por ser forçado a exilar-se, por ordem da imperatriz Teodora, na ilha mediterrânea de Palmaria. Quando conseguiu libertar-se do exílio e regressar ao Vaticano, a imperatriz já havia colocado outro pontífice no seu lugar, o papa Virgílio, pelo que Silvério aceitou manter-se definitivamente afastado da cátedra de São Pedro. Também foi canonizado.
O Papa actual não ficará na história por ser o único papa de nome Bento a resignar. Durante uma época tumultuosa da história da Igreja Católica, conhecida como a “idade das trevas”, os papas acotovelaram-se, guerrearam e entregaram-se à corrupção e à venalidade, aliando-se, geralmente, a famílias aristocráticas, poderosas e influentes. Para acabar com exageradas mordomias e extravagantes excessos, nada abonatórios do Vigário de Cristo, a Igreja e o povo de Romana elegeu Bento V, como Sumo Pontífice, em 964. Algum tempo depois, o imperador Oto I, fundador do Sacro Império Romano, fez eleger, Leão VIII, pelo que Bento V, foi forçado a resignar, alguns meses após a sua própria eleição. Nascido em Roma, o papa Bento V foi eleito em 22 de Maio de 964, ainda durante o pontificado do seu antecessor, João XII, em circunstâncias políticas críticas e contra a vontade do poderoso imperador que depusera João XII. Bento V passou por períodos turbulentos, não conseguindo opor-se ao todo poderoso imperador que, assim, reinstalou Leão VIII no trono de São Pedro. Bento V abdicou e abandonou Roma, um mês, após a sua eleição, refugiando-se na Alemanha, onde permaneceu exilado, até a morte de Leão VIII. Com a nova vacância da Santa Sé, o imperador Oto I acabou por reconhecer-lhe a autoridade pontifícia sob pressão dos francos e romanos, mas o Sumo Pontífice emérito, faleceu poucos dias depois, com fama de santidade.
No século seguinte, em 1009, há relatos de uma nova renúncia papal. Desta feita foi o papa João XVIII, que abdicou pouco antes da sua morte, pela simples opção de querer viver os últimos tempos da sua vida, como monge, na basílica de São Paulo, em Roma. Eleito em 1004, durante os cinco anos e meio de pontificado, promoveu e paz por todos os lugares alcançados pela Igreja Romana, lutou tenazmente para que o cristianismo fosse difundido entre os bárbaros e os pagãos e realizou vários sínodos para levar mudanças à vida dos clérigos. Abdicou voluntariamente e retirou-se para o mosteiro de São Paulo Fora dos Muros, vivendo como monge, durante alguns anos.
No mesmo século, porém havia ainda de verificar-se uma nova mas heteróclita renúncia. Trata-se de Bento IX a quem são reconhecidos três mandatos como papa, implicando outras tantas renúncias.
Bento IX ascendeu ao papado em 1032, com apenas 20 anos, levando uma vida imoral e dissoluta. Em 1044, a cidade de Roma revoltou-se e elegeu como papa Silvestre III, a favor de quem Bento IX se viu obrigado a renunciar. Um ano depois, após a morte de Silvestre III, Bento IX voltou a ocupar a cátedra de São Pedro, num segundo pontificado, que durou apenas 21 dias, pois voltou a renunciar ao papado, mas de forma estranha “vendendo a tiara” ao seu padrinho João Gratian, o qual se fez eleger como novo papa, tomando o nome de Gregório VI. João Gratian, Arcipreste de S. João "ad portam Latinam", forçou o afilhado a abdicar, com o objectivo de ver a Santa Sé livre de um pontífice tão indigno, pese embora o seu pontificado também não tenha trazido a paz à Igreja. No entanto, os bispos reunidos em Sínodo consideraram que o modo como Gregório VI obtivera o pontificado era, claramente, um caso de simonia e obrigaram-no a renunciar, o que acabou por fazer. Como seu sucessor foi eleito Clemente II, que teve um curto papado. Após a sua morte, Bento IX retomou o trono de São Pedro, governando a igreja, apenas durante 228 dias, voltando a abdicar, pela terceira vez, mas definitivamente, em 1048. Bento IX nasceu em Roma com o nome Theophylactus e era filho de Alberico III, conde de Túsculo e sobrinho dos papas Bento VIII e João XIX. Foi o pai que devido ao seu poderio e influência, lhe obteve o trono papal. São Pedro Damião, no Liber Gomorrhianus descreve-o como "regozijando-se em imoralidade" e "um demónio do inferno dissimulado de sacerdote". O destino de Bento IX, depois de renunciar pela terceira vez, é obscuro. No entanto, parece provável que tenha abandonado, definitivamente, as suas pretensões papais.
Também o papa Celestino V abdicou em 1294. Frade beneditino radicalmente espiritualista e um asceta de vocação que vivia como recluso, Celestino V foi eleito num conclave que demorou cerca de dois anos, apesar de haver apenas doze votantes. O conclave foi mesmo interrompido por causa de uma epidemia de peste, que, inclusivamente, vitimou um dos cardeais. A somar a isso, vivia-se um período de lutas pelo poder, entre famílias italianas mais influentes. Em 5 de Julho de 1294, finalmente, elegeu-se Celestino V. De carácter fraco, submisso e desajustado para o cargo, deixou-se iludir e influenciar por famílias poderosas, sendo forçado a abdicar, meio ano após a sua eleição.
Por fim, o último papa a renunciar antes de Bento XVI foi Gregório XII, em 1415. Deposto pelo Concílio de Pisa em 1409, onde foi eleito o antipapa Alexandre V, manteve-se, teimosamente, no trono. A renúncia foi tomada, anos mais tarde, como uma negociação feita durante o Concílio de Constança, no período do Grande Cisma do Ocidente - uma grande crise religiosa que ocorreu na Igreja Católica entre 1378 a 1417. Gregório XII tinha 90 anos à época e sua renúncia acabou por contribuir positivamente para o termo da crise. Consta que o concílio, em reconhecimento pela dignidade mostrada pelo Papa, o convidou a assumir o bispado do Porto e a representação pontifícia da região italiana do Marche. Gregório XII não aceitou e agradeceu, através duma carta que enviou aos padres conciliares. Morreu dois anos após a renúncia.
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OS PADROEIROS DAS PARÓQUIAS AÇORIANAS
Os Açores têm 156 freguesias e 164 paróquias, uma vez que, nalgumas ilhas existem paróquias que não correspondem a freguesias, assim como há freguesias que ainda não são paróquias.(1) Obviamente que cada paróquia tem a sua igreja paroquial e, consequentemente, o seu padroeiro. Algumas paróquias terão sido constituídas logo após o povoamento e, por isso, muitos dos seus padroeiros assim como os das localidades que mais tarde lhes deram origem, foram o resultado da devoção dos primeiros povoadores, de cujos santos traziam as respectivas imagens. Mas, por vezes e muito naturalmente, nalguns lugares não havia imagens. Sabe-se, por exemplo, que a primeira igreja construída no Faial, teve como padroeiro a “Santa Cruz”, precisamente porque os povoadores que ali chegaram não tinham nenhuma imagem, construindo uma cruz para colocar no altar-mor. Outros padroeiros terão surgido como resultado da aflição dos habitantes em momentos de angústia, como crises sísmicas e tempestades, (Santa Bárbara, Senhora da Agonia) ou crises agrícolas (Santo Antão e Santo Amaro) ou de ataques dos piratas (Senhora dos Milagres), etc.
São 74 os padroeiros açorianos para as 156 paróquias, pelo que muitos se repetem em várias ilhas e até dentro de cada ilha. Nossa Senhora é a mais proclamada como padroeira, sobre 36 invocações diferentes, muitas delas também repetidas, num total de 69, o que corresponde a 42% do total das paróquias açorianas.
A invocação mais repetida, nos Açores, é a de São Pedro, padroeiro em nove paróquias: S. Miguel (4), Terceira (3), Flores e Santa Maria. Segue-se Santa Bárbara com oito invocações, como padroeira, o que acontece em todas as ilhas, excepto Flores, Corvo e Graciosa, sendo esta invocação repetida na Terceira e em São Miguel. As invocações marianas mais frequentes são a Senhora da Conceição (6): S. Miguel (3), Terceira, Faial e Flores e a Senhora do Rosário (6): S. Miguel (3), São Jorge (2) e Flores. Santo António é padroeiro de 5 paróquias: S. Miguel (2), Terceira, S. Jorge e Pico, o mesmo acontecendo com São José: S. Miguel (3), Terceira e Flores e também com São Mateus: Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico e Faial. Nossa Senhora da Ajuda tem 4 invocações: S. Miguel (2), Pico e Faial, assim como a Senhora da Luz: S. Miguel (2), Graciosa e Faial e a Senhora dos Milagres: S. Miguel, Terceira, Flores e Corvo. Ainda com 4 invocações, temos a Santa Cruz: S. Miguel, Terceira, Graciosa e Pico e São Sebastião: São Miguel (2), Terceira e Pico. O Divino Espírito Santo, embora amplamente festejado e fruto de muita devoção em todas as paróquias, é padroeiro, apenas de 3: S. Miguel, Terceira e Faial. Voltando às invocações marianas, a Virgem é 3 vezes proclamada padroeira como: Senhora dos Remédios: S. Miguel (2) e Flores, Senhora da Graça: S. Miguel (2) e Faial e Senhora do Pilar: S. Miguel, Terceira e Flores. Santa Ana também tem 3 invocações: S. Miguel (2) e S. Jorge, assim como Santa Catarina de Alexandria: Terceira, S. Jorge e Faial e Santa Luzia: S. Miguel. Terceira e Pico. Curiosamente, na Terceira existem duas paróquias com o nome de Santa Luzia, sendo que o padroeiro de uma delas (Santa Luzia da Praia) é São José. A Santíssima Trindade tem 3 invocações: Pico, Faial e Flores assim como o Santíssimo Salvador: S. Miguel, Terceira e Faial. São Jorge também tem 3 invocações: S. Miguel, Terceira e, naturalmente, S. Jorge. São Roque tem 3: S. Miguel, Terceira e Pico. São muitas as invocações como padroeiros de duas paróquias, quer de Nossa Senhora, quer de Santos. Nossa Senhora da Penha de França (S. Miguel e Terceira), da Piedade (S. Miguel e Pico), das Candeias (S. Miguel e Pico), das Dores (Pico e Faial), das Neves (S. Miguel e S. Jorge), do Guadalupe (Terceira e Graciosa), do Livramento (S. Miguel e Flores) (2) e, ainda, dos Anjos, neste caso, com ambas as invocações em São Miguel. Há também várias invocações de santos, como padroeiros, simultaneamente, em duas paróquias açorianas: Santo Amaro (S. Jorge e Pico), Santo Antão (S. Jorge e Pico), São Bartolomeu (Terceira e Pico), São Brás (S. Miguel e Terceira), São Caetano (Pico e Flores), São João Baptista (Terceira e Pico), São Lázaro (S. Miguel e S. Jorge) e São Miguel Arcanjo (S. Miguel e Terceira)
São 35 as invocações Divinas, de Maria ou de Santos que não se repetem nas paróquias dos Açores. As invocações divinas, são apenas três: duas em S. Miguel: Bom Jesus Menino e Senhor Bom Jesus e, nas Flores) Santo Cristo, enquanto as marianas são bastantes mais: Senhora da Assunção, da Purificação e do Bom Despacho em Santa Maria, Senhora da Anunciação, da Apresentação, da Boa Viagem, da Estrela, da Misericórdia, da Oliveira, da Saúde, das Necessidades, do Amparo, dos Prazeres e Mãe de Deus, na ilha de São Miguel. Por sua vez na Terceira as invocações marianas não repetidas, são apenas três: Senhora da Pena, das Mercês e de Belém, no Faial, Senhora das Angústias e Senhora do Socorro e no Pico senhora da Boa Nova.
Finalmente são treze os santos invocados, singularmente, como padroeiros das ilhas açorianas: Em São Miguel: Santa Clara, São Nicolau, São Paulo, São Vicente Ferreira e Santos Reis Magos, na Terceira: Santa Beatriz, Santa Margarida, Santa Rita, São Bento e São Francisco Xavier, em São Jorge: São Tiago Menor e no Pico, Santa Maria Madalena.
(1) Nos Açores existem 10 paróquias que não são freguesias: Corvo, Pico 2 (Silveira e Santa Bárbara/Santa Cruz-Ribeiras), S. Jorge 2, (Santo António e Beira): Terceira 3, (Santa Rita, St Luzia e Casa da Ribeira) e S. Miguel 2 (Atalhada e Saúde/Milagres-Arrifes). Por sua vez há duas freguesias que não são paróquias: Ribeira Seca no concelho de Vila Franca do Campo e Lomba de S. Pedro, no da Ribeira Grande.
(2) Nas Flores, na Caveira, a invocação primitiva era “As Benditas Almas”, caso único no mundo. Esta invocação, no entanto, foi retirada e substituída pela Senhora do Livramento, durante o episcopado de D. Manuel Afonso de Carvalho, argumentando o Prelado que as “Almas do Purgatório” ainda não eram santas e que o dia da sua festividade (2 de Novembro) era inadequado a uma celebração festiva condigna.
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A LENDA DO CALHAU DAS FEITICEIRAS
Na Fajã Grande, ilha das Flores, no cimo da ladeira do Covão, no caminho que dava para o Outeiro Grande e antes do cruzamento da Pedra d’Água, existia, e provavelmente ainda hoje existe, um enorme e estranho calhau, que o povo chamava Calhau das Feiticeiras.
Tratava-se de um enorme e negro tufo de forma oval, encravado na rocha que ostentava desde a base até ao cume, mais de uma dúzia de pequenas pegadas, cuja elegância, delicadeza e graciosidade pareciam ser denunciadoras de que pés femininos por ali teriam passado, vezes sem conta.
Como este, tantos outros montes, morros, ribeiras e até ilhéus, da ilha das Flores estavam, antigamente e muito provavelmente ainda hoje estarão repletos de lendas e histórias que os seus nomes, geralmente, guardam e que umas vezes nos levam aos tempos remotos do povoamento da ilha e noutras nos transportam aos tempos primordiais e pré-históricos da civilização da Atlântida ou da sua destruição.
Reza uma lenda muito antiga que um dos mais altos picos montanhosos da Atlântida era o Vamilkmar. Durante os cataclismos, os terramotos e os vulcões que destruíram aquele mítico continente, situado no meio do Atlântico, um estranho gigante, conseguindo a muito custo escapar à fúria de Analtredevica, a deusa dos cataclismos e terramotos, ter-se-á refugiado naquele local, ficando, durante milhares de anos, adormecido, no meio do Oceano. Os enormes cataclismos e temíveis terramotos que ali se verificaram, antes, durante e depois da formação da ilha das Flores, foram lentamente alterando o colossal e gigantesco atlante, acabando por transformá-lo naquele rochedo, ali plantado. Só que e à medida que o estranho ser se agigantava para se defender fosse do que fosse, enquanto um dos seus sentidos ou capacidades se desenvolvia extraordinariamente e de forma gigantesca, os outros adormeciam e como que se atrofiavam. Na sua luta titânica para sobreviver, escapar às violentas tempestades e orientar-se durante os espessos nevoeiros, Vamilkmar exercitava de tal modo e com tanta intensidade a visão que o ouvido, o olfacto, o gosto, o tacto e a própria inteligência se ofuscavam. Para sobreviver às constantes tempestades e orientar-se nas noites escuras das tremendas catástrofes, no negrume e libertar-se da fúria dos vulcões e dos densos nevoeiros matinais, o gigante desenvolvia excessivamente a vista, enquanto o ouvido, o olfacto, o gosto, o tacto e a inteligência se atrofiavam. Perante os estrondos aterrorizadores dos trovões, os rugidos roufenhos das tempestades e o bramir altivo do oceano era o ouvido que se excedia enquanto todos os outros se atrofiavam. Quando os enormes vulcões se abriam e jorravam rios de enxofre de cheiro nauseabundo e atrofiante e das altas montanhas jorravam rios de lava mefítica, era a vez do olfacto se desenvolver na sua máxima capacidade, aniquilando totalmente todas as outras capacidades. O mesmo acontecia quando gosto saboreava os amargos sabores das maresias provenientes da gigantesca agitação dos oceanos ou o tacto se defendia dos gelos glaciares ou das chuvas e dilúvios torrenciais. Por fim e depois de ensaiar constantes e necessárias tentativas de sobrevivência, era a inteligência do gigante que crescia, crescia até se sobrepor e adormecer todas as suas outras capacidades sensoriais.
Duraram séculos e séculos, estas tentativas de sobrevivência de Vamilkmar foram tantas, tão contínuas e tão frequentes que o gigantesco corpo se foi alterando na sua forma humanóide. O seu corpo adquiriu uma forma opaca, dura e teúrgica e a sua cabeça foi-se ramificando e desarticulando de tal modo que se lhe foram crescendo ramificações, mais tarde transformadas em cabeças, num total de seis – cinco para cada um dos sentidos e uma sexta para a inteligência. Com o serenar das tempestades e das intempéries, com o apaziguar dos trovões e tempestades, com o aplacar dos vulcões e terramotos, com amainar das ondas e maresias, com o aquietar dos ventos, com o diminuir de chuvas e dilúvios, porém as cabeças do gigante foram adormecendo lentamente, atrofiando-se e juntamente com o seu corpo transformaram-se naquele enorme e gigantesco tufo.
Passaram dezenas, centenas e milhares de séculos e o gigante ali permanecia em plena e constante hibernação, enquanto, lentamente e ao seu redor, a ilha ia adquirindo a forma que hoje tem, não sem que antes voltassem tempestades violentíssimas, cataclismos abissais, tremores de terra e maremotos contínuos que, apesar de fortíssimos e muito violentos, não conseguiram ressuscitar o gigante adormecido, transformado em tufo. O passar dos anos havia-o empedernido de tal maneira que o seu corpo nunca mais perdeu aquela forma rochosa e pétrea. Apenas as cabeças sobreviveram, mas como não tinham corpo que as alimentasse, que lhes desse vida, foram autonomizando-se e acabaram por transformar-se em belos seres com formas estranhas - as feiticeiras - que se subiam, desciam e se escondiam nas abas do calhau, aparecendo apenas ao crepúsculo. Como não se podiam afastar do tronco adormecido do gigante, nem aparecer durante o dia, passavam desde o lusco-fusco do anoitecer até ao crepúsculo da madrugada, subindo e descendo, descendo e subindo aquele enorme gigante adormecido, deixando-lhe no dorso as indeléveis pegadas do seu contínuo, permanente e secular subir e descer.
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DR JOSÉ SOARES NUNES
Aqui, da ilha montanha, parcialmente boqueado do mundo, da informação e, sobretudo, da Internet, uma vez que não disponho de outro meio que não seja um simples, mas muito gastador e, por vezes, desajustado Mobile USP, raramente recebo informação actualizada.
Hoje porém foi-me permitido aceder ao FB e entre outras, recebi uma agradabilíssima notícia: a Assembleia Regional dos Açores decidiu homenagear, entre outros ilustres açorianos, José Soares Nunes, Monsenhor e professor no Seminário Episcopal de Angra do Heroísmo. Lendo com maior atenção a notícia que de imediato me despertou um interesse gigantesco, percebi que a Monsenhor José Nunes será atribuída, no próximo dia vinte, a Insígnia Autonómica de Mérito Cívico dos Açores
Fui aluno do Dr José Nunes, no Seminário de Angra, na década de sessenta, tinha ele acabado de chegar de Roma, onde havia feito a sua formação universitária. Primeiro tive-o como professor de Grego e, três anos depois, como mestre de Teologia Dogmática. Durante estes anos, o Dr José Nunes exerceu também o cargo de Vice-Reitor do Seminário, onde se manteve até ao presente, como professor. Ao longo destas cerca de cinco décadas, ter-se-ão sentado à sua frente centenas de alunos, muitos dos quais poderão, com certeza, dar, em momento tão solene, testemunhos muito mais válidos e doutos, mas não mais verdadeiros e sinceros, sobre o mestre.
Sentei-me na carteira de aluno, durante vinte e dois anos e na de professor trinta e seis e, por isso, tive a possibilidade de perceber que cada aluno tem sempre, no seu, íntimo, entre os seus professores, um preferido, talvez mesmo, de eleição e, consequentemente, mais desejado e mais querido. Porém, nem sempre todos os alunos são unânimes ou consensuais nesta sua, subjectiva e muito pessoal, escolha.
Para mim e que me perdoem todos os outros de que guardo as mais belas recordações e grandes amizades, José Nunes foi o meu professor de eleição e já lho confessei. Provavelmente, não terá sido o professor mais sábio, nem sequer o mais competente, talvez até nem aquele que me dispensasse maior atenção e amizade, mas com certeza que foi, por quantas atitudes suas ao longo de mais de meia de dúzia de anos como aluno, pude perceber, o mais humilde. E isso me basta, para hoje e desta forma simples e singela o homenagear!
Senhor duma simplicidade deslumbrante, o Dr José Nunes entrava na aula com uma postura horizontal, paralela aos alunos, firmando-se como mais um de nós, uma espécie de colega mais velho que partilhava os conteúdos programáticos das disciplinas de que era responsável. Não se sentava na cátedra do mestre para ensinar, mas colocava-se ao lado dos alunos para partilhar conhecimentos. Isso fazia com que as suas aulas se transformassem em momentos duma envolvência fantástica, em que o mestre, embora mantendo a sua dignidade, se metamorfoseava numa espécie de companheiro que ajudava, amparava, apoiava, auxiliava e nunca recriminava, reprimia ou descriminava quem quer que fosse, por errar ou até por não saber. Magnânimo na condescendência, benevolente no esforço, complacente nas dificuldades, encorajante no desânimo, fortalecedor nas fraquezas e tolerante no erro, o professor José Nunes, perante os descalabros em que as traduções do grego eram férteis, nunca recriminava, condenava ou sequer utilizava a tradicional expressão: “Está errado.” Perante o maior dos erros de qualquer um dos alunos, apenas e tão-somente, com o doce sorriso que lhe era peculiar, sugeria: “Eu acho que isso se pode traduzir doutra maneira”.
Não resisto a transcrever um dos mais significativos episódios reveladores da sua simples e natural humildade. Estava eu, certa tarde, no quarto do Dr Américo Vieira, na altura Director Espiritual do Seminário e considerado uma “sumidade” em Teologia Dogmática. Bateram à porta. Era do Dr José Nunes que, enquanto preparava a aula do dia seguinte, lhe tinha surgido uma dificuldade e vinha esclarecê-la com o Dr Américo. Apesar de me ver, não se coibiu de pedir a ajuda e de a receber. Eu era um dos alunos com quem ele teria a aula no dia seguinte…
Passaram-se muitos anos e seguimos destinos diferentes, desencontrando-nos nos caminhos da vida. Regressei a Angra e procurei o Dr José Nunes. Estivemos horas a conversar, num café de Angra. Tive a oportunidade de recordar, na frente dele, o seu perfil de mestre, cuja postura simples, amiga e humilde, nunca esqueci. Mais, confessei-lhe que ao longo da minha vida de professor me lembrei muitas vezes dele, modelando a minha postura e o meu relacionamento com os meus alunos, por aquele modelo de simplicidade e humildade que descobrira nele, granjeando assim uma amizade recíproca. Felizmente, pude concluir que isso resultara num deslumbrante sucesso da minha actividade profissional, obtendo, sempre, da parte dos meus alunos uma amizade transcendente e recíproca e respeito verdadeiro e inequívoco.
Há uns anos, rejubilei de contentamento quando soube que a Santa Sé havia reconhecido os méritos do Dr José Nunes, atribuindo-lhe o título de Monsenhor. Agora voltei a exultar de alegria porque a Sociedade Civil e o Poder Político lhe atribuíram esta insígnia, a qual, para além de representar o seu reconhecimento público como um cidadão que, ao longo da sua vida, contribuiu de forma significativa para consolidar a identidade histórica, cultural e política do povo açoriano, pretende também, “de forma simbólica, estimular a continuidade e emergência de feitos, méritos e virtudes com especial relevo na construção do património insular”. Na realidade o Dr José Nunes, com justiça, se junta ao rol daqueles açorianos que foram reconhecidos por se notabilizarem com o seu labor, a sua arte ou o seu pensamento, simbolizando a perpetuação da própria identidade açoriana.
Recorde-se que o Dr José Soares Nunes é natural da freguesia dos Rosais, ilha S. Jorge, tendo entrado para o Seminário de Angra em 1946, completando o curso de Teologia, no ano de 1958. Por não ter a idade canónica na altura, foi ordenado de Presbítero a 6 de Janeiro de 1960 na capela do Seminário Episcopal de Angra, por D. Manuel Afonso de Carvalho, a quem servira já como secretário. Após a Licenciatura em Teologia Dogmática, na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, o Padre José Nunes regressou à diocese de Angra, passando a integrar o quadro de professores do Seminário Episcopal de Angra, onde se tem mantido até ao presente, tendo contribuído, ao longo de várias décadas para a formação de muitos sacerdotes ao serviço da Igreja. Entre outros serviços prestados à diocese angrense, foi Vigário Episcopal da Ilha Terceira, capelão do BI 17, do Regimento de Infantaria e do Regimento de Guarnição nº1 em Angra durante mais de três décadas, Administrador Paroquial do Posto Santo em 1997/1998, e capelão de várias casas religiosas. Actualmente, além de professor de Teologia, ocupa também o cargo de vice-chanceler da cúria diocesana.
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MAROIÇOS DE MANUEL TOMAS
Foi lançado, no passado dia 9 de Março, na vila da Madalena, na ilha do Pico, por ocasião da celebração do 290º centenário da elevação daquela localidade a concelho, o livro Maroiço da autoria do Dr Manuel Tomás da Costa. Trata-se do último trabalho deste escritor e poeta picoense, apresentado no salão solene dos Paços do Concelho, com a presença dos presidentes da Câmara, José António Soares, da Assembleia Municipal, Dr Álvaro José Alves Manito e de muito público. Trata-se de um livro de poesia, editado pela Companhia das Ilhas, sediada nas Lajes do Pico e cuja apresentação esteve a cargo do Dr Júlio Aroeira, professor da Escola Cardeal Costa Nunes e do Dr Manuel Costa Júnior, Director do Museu Regional do Pico, sendo a mesma precedida pela encenação do espectáculo cénico, “Entre a terra e o mar”, apresentado por um grupo de alunos da EBS da Madalena, sob orientação das professoras Carla Silva e Gilberta Goulart.
Natural da Madalena do Pico, Manuel Tomás fez uma boa parte da sua formação académica no Seminário de Angra, tendo dedicado toda a sua vida profissional ao serviço da educação, quer como professor, quer como dirigente de algumas escolas, sendo actualmente director da escola básica e secundária Cardeal Costa Nunes, da Madalena. Manuel Tomás faz parte da “ínclita geração” que frequentou e se formou no Seminário de Angra, na década de sessenta, sob a competência, a sabedoria, o humanismo e a dignidade de um excelente punhado de mestres que, na altura, constituíam o corpo docente daquela instituição. Manuel Tomás que, segundo as palavras do autarca madalenense, José António Soares, tem dado “ um contributo inestimável no campo da Informação, na nossa região e, sobretudo, na nossa ilha, como co-fundador do jornal: “Ilha Maior”, pelo qual foi responsável durante largos anos como Director”, iniciou a sua actividade literária em 1978 com alguns ensaios, publicou em 1996, “Miragem do Tempo” de Tomás da Rosa, em 1999, A Música das Sete Cidades e em 2011 Eu Sei Lá o Quê, o seu primeiro livro de poesia. Este ano, para além da obra agora apresentada, já publicou Picolândia, uma colecção de crónicas divulgadas ao longo de alguns anos, em jornais da região.
Telúrica, acutilante, realista mas deslumbrantemente enternecedora, a poesia de Manuel Tomás em Maroiço apresenta-nos um Pico espelhado em emoções e sentimentos, “a terra dos ilhéus” descrita “à maneira antiga” onde as cores, os sons, os perfumes e os sabores da natureza, pura, original e genuína, nos penetram, dominam e como que nos cristalizam numa simbiose ente “as pedras pedrinhas e pedregulhos” que desde os primórdios do povoamento, os nossos antepassados foram arrancando do chão pétreo, para conquistar uma “nesga de terra”. Da sua pachorrenta e sofrida arrumação formaram-se os maroiços, autênticos zigurates recheados de funchos e heras, testemunhos vivos da persistência picoense, ecos de um passado egrégio e progénie, a envolverem-nos em sensações dinâmicas, que nos enlevam em encanto e nos sublimam em deslumbramento. Ladeados por atalhos e veredas, atapetados de musgo, balizados por bardos de incenso e faia ou ornados de madressilva e poejo, erguidos nas encostas pedregosas da ilha, muitos deles, talvez, nos primórdios do povoamento da mais jovem ilha açoriana. Manuel Tomás ainda nos transporta por viagens de sonho, pelos mares que rodeiam a ilha e a separam das outras que por ali abundam, em barcos recheados de memórias, muitos deles com a história escrita nas ondas e agora a apodrecer sobre o cais. Depois, chegam as gaivotas que “já não cantam, nem voam à noite”, o mar, a espuma, “as sombras” da montanha e “o vento e o vinho destes mares verdes e sem limite”.
A encerrar a apresentação, Manuel da Costa Júnior, surpreendeu o autor e o público presente ao cantar, acompanhando-se à viola, um dos poemas do livro de Manuel Tomás - “Canção do Garajau”, com música da sua própria autoria:
“Partir na voz do vento
ouvir as asas do vento
estar e não estar
tocar no seio do vento
e ver a onda
no momento de salgar a alma
Partir na voz do vento
regressar em toada molhada
pela rocha e pelo relento
sem sotavento
sem barlavento
sempre à deriva
na amura de um fado”.
Texto colocado no Pico da Vigia em 19 de Março de 2013