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O EMIGRANTE DE SÃO CAETANO

Sábado, 01.02.14

Crónica de Lélia Nunes, publicada no “Portuguese Times”, edição nº 2113, de 21 de Dezembro de 2011.

 

“No último dia 12 de novenbro, juntamente com a comemoração do 20º aniversário, a Portuguese-American Leadership Council of the United States – PALCUS (Conselho de Liderança Luso-Americana dos Estados Unidos), em noite de gala realizada na cidade de  Washington, homenageou  algumas personalidades portuguesas ou luso-americanas que se destacam por sua liderança no exercício profissional  e/ ou na realização de atividades  comunitárias de expressivo valor para  o desenvolvimento  das  Comunidades Portuguesas dos Estados Unidos. Uma tradição instituída em 1996 e que ano após ano vem distinguindo e premiando homens e mulheres que são reconhecidamente líderes em diferentes campos de atuação.

Divulgada a lista dos  galardoados aplaudi as respeitadas e reconhecidas  lideranças femininas da  Dra. Berta Cabral, presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada ( Prêmio de Liderança Internacional) e da Professora Maria Pacheco, Universidade de Brown (Prêmio de Liderança em Educação). Outros nomes integravam a tal lista de premiados e todos com certeza merecedores da distinção atribuída pela  PALCUS.

Foi com muitíssima satisfação que identifiquei entre os homenageados  “António Pereira Vieira Goulart” -  o  amigo Tony Goulart - ali  distinguido com a outorga do Prêmio de Liderança em Serviços Comunitários.  Lembro bem do dia que ouvi falar do Tony pela primeira vez. Na verdade, primeiro conheci o senhor António Goulart. O ano era 2002 e o lugar Casa do Povo de São Caetano, na Ilha do Pico. Era domingo do Espírito Santo e a Casa do Povo engalanada recebia toda a freguesia e mais gente de outros lados  que, no grande salão, esperavam  pela  tradicional Sopa do Espírito Santo. Um espanto! A azáfama era grande. Homens e mulheres se movimentavam em diferentes funções recebendo os convivas do grande banquete. Já na entrada deparei com centenas e imensas rosquilhas de massa sovada colocadas em açafate de vime, guarnecido por toalha branca, de renda ou linho, enfeitadas com flores do campo.

 Naquela altura eu ainda não percebia bem o que se passava num ritual de sopas. O salão decorado com simplicidade e elegância apresentava inúmeras fileiras de mesas cobertas com toalha branca, flores, uma garrafa de sumo, outra de vinho e muito pão. Entre flores, cetim encarnado, fitas, toalhas rendadas e candelabros onde velas tremulantes compunham um ar de sagrado ao bonito arranjo de um altar, coroas e bandeiras do Espírito Santo se destacavam no amplo salão. Abençoavam àquela Casa do Povo onde os devotos do Divino partilhavam a dádiva do alimento numa sentida  convivência fraterna. Meus olhos ávidos e curiosos por mais saber percorriam tudo na ânsia de registrar e não deixar escapar nada. A mini agenda estava cheia e não tinha espaço para novas anotações. O jeito foi rabiscar em guardanapos de papel as  minhas observações e informações que iam sendo passadas na simples menção de que eu estava ali como uma investigadora das tradições açorianas do Espírito Santo. Foi num desses guardanapos que anotei o nome de António Goulart um emigrante na Califórnia, nascido bem ali em São Caetano e que organizara e publicara no ano anterior o livro “The Holy Ghost Festas: A Historic Perspective of the Portuguese in California”. Afinal, fiquei sabendo que o senhor António era um emigrante muito ligado ao associativismo comunitário português na região de San Jose, no estado da Califórnia  e um empresário da construção civil muito bem sucedido. Cursara o 9º ano do Seminário nos Açores e aos 20 anos  emigrara para a América atrás do sonho – California dream, percorrendo o caminho árduo de todo emigrante na busca do seu norte seguro. De volta ao Brasil  busquei no guardanapo rabiscado o endereço anotado (da Câmara de Comércio Portuguesa em San Jose) e escrevi ao senhor solicitando informações sobre a aquisição da tão referenciada obra sobre a história do Espírito Santo na Califórnia.

Semanas depois chegou o “livrão” do Divino. Encadernado, bonito, a capa era  a imagem da própria bandeira do Espírito Santo. Muitos textos e imagens, testemunhos de toda uma história de vivências e mundividências de pertenças a mundos distintos e identificados pelo peso do hífen, que tão bem enfatiza Onésimo Teotónio de Almeida em seus ensaios sobre a experiência luso-americana (in: O Peso do Hífen,2010). Junto ao livro uma atenciosa carta de oferta e uma pergunta ao pé da página: “Como você descobriu São Caetano? Tony Goulart.”

Desse dia em diante, António Pereira Vieira Goulart passou a ser  simplesmente Tony Goulart, um açoriano dedicado a sua comunidade, assumindo e realizando inúmeros projetos sociais econômicos e culturais que contribuem para o desenvolvimento pleno de uma região que tem na sua história a presença do emigrante açoriano, aquele que “através dos tempos procurou noutras terras espaço, pão e justiça, que levava na mente a  esperança de riqueza, às  costas, sua ilha e no seu coração, o culto ao Espírito Santo.” Palavras de Manuel Duarte e que aqui cito de cor. Sua liderança inconteste em dezenas de atividades comunitárias que efectivamente participa na defesa da causa portuguesa e sua atuação como coordenador da editora Portuguese Heritage Publications da Califórnia, cuja finalidade precípua é salvaguardar e divulgar a história da presença portuguesa na Califórnia, com dezanove títulos  publicados, verdadeiros registros documentais, não deixam a menor duvida que a sua trajetória por terras da abundância foi abençoada. Sim, por tudo que tem feito em prol das comunidades o Tony Goulart é

merecedor de todas as homenagens recebidas em sua vida como recentemente nos Açores, no dia da Região, na segunda-feira do Espírito Santo ou como a que acabou de receber - “Prémio de Liderança em Serviços Comunitários,” num reconhecimento da egrégia associação luso-americana PALCUS, entidade com expressiva representatividade de portugueses em diferentes estados norte-americanos.

Enfim, o ousado sonho do jovem emigrante de São Caetano do Pico se transformou numa invejável realidade.

Parabéns Tony Goulart!”

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publicado por picodavigia2 às 18:37

FRÁGIL

Sábado, 01.02.14

MENU 27 – “FRÁGIL”

 

 

 ENTRADA

 

Canapés de tosta húmida, fiambre, pimentos e queijo ralado,

 intercalados com rodelas de cenoura acamadas sobre alface e cobertas com creme de queijo fresco com sabor a salmão.

 

PRATO

 

Canelloni recheados com creme de salmão, cebola, alho e cenoura, guarnecidos com pimento laranja. Fitas de alface  e massa cortada em tiras, borrifadas com azeite e vinagre balsâmico e cobertas com nozes.

Rodelas de queijo fresco regado com doce.

 

SOBREMESA

 

Maçã natural e Gelatina de Morango..

 

 

******

 

Preparação da Entrada: Cozer a cenoura. Cortá-la em rolas, colocando-as no prato juntamente com as tostas, depois de as humedecer em caldo. Cobrir as cenouras com queijo creme de salmão e acamá-las sobre ripas de alface. Fazer os canapés colocando  sobre as tos húmidas tiras de fiambre e de pimento e um pouco de queijo rsls

 

Preparação do Prato – Cozer as cenouras, o peixe e a cebola. Esmagar e juntar um pouco de água, formando um creme com que se recheiam os canelloni, cortados em quatro. Colocá-los erguidos em prato ao redor de um amontoado feito com alface e maça picadas e borrifadas com azeite e vinagre balsâmico. Ladear com triângulos de queijo fresco, cobertos com doce de compota.

 

Preparação da Sobremesa - Confecção tradicional.

 

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publicado por picodavigia2 às 16:51

HOMENAGEM E GRATIDÃO

Sábado, 01.02.14

O vento soprava, fortíssimo, de noroeste e entrava pela pequena baía, ornada de molhes e pontões, agitando e revoltando o mar, lançando-o, abruptamente, sobre os baixios negros, crispando-o em ondas altíssimas, temerosas e inquietantes, apesar de deslumbrantemente encantadoras. O Faial, mesmo em frente, bocejava um nevoeiro sombrio e relutante e soluçava murmúrios de um dolente e aflitivo isolamento. São Jorge, apesar de não muito longe, nem se via. Apenas o Pico se firmava muito alto, esguio, sereno e constante, escarrapachado sobre o oceano, a simular uma enorme pirâmide entontecida. A Madalena, alheando-se a ventos e maresias, desfazendo o seu marasmo habitual, erguendo-se em apoteóticos alentos, como que se engalanava, emocional e emotivamente, para prestar uma simples mas sentida homenagem e manifestar o seu profundo agradecimento, àquela que foi a pioneira da criação e do desenvolvimento do ensino preparatório e secundário, na mais jovem vila da ilha montanha, nas últimas décadas do século passado – Cecília Amaral. Os picoenses e os madalenenses em particular souberam antanho e ainda sabem hoje, melhor do que ninguém, neste caso pela voz do seu presidente, José António Soares, que a gratidão é um dos mais belos sentimentos que o ser humano tem o dever de manifestar e que o acto de agradecer é um valor, uma espécie de trunfo de que disfrutam para selar o mérito, a competência, o trabalho e, sobretudo, a dedicação de quem se entrega, total e dedicadamente, ao serviço dos outros, ali, na ilha. E quando todo um tão vasto e cristalino acervo vivencial, como o da homenageada, circum-navega em prol da educação e da formação humana, as loas ao mérito e as gratulações de reconhecimento pelo trabalho realizado e pela dedicação empreendida, mais do que um dever, são uma imposição. A simplicidade, a doçura, o encanto, a simpatia, a sinceridade e amizade verdadeira que sempre pautaram o quotidiano de Cecília Amaral engrossaram a vontade de estar presente, de comungar um momento de enlevo, de partilhar um acto de homenagem e agradecimento. Assim o entenderam a vila, o Concelho e a Câmara Municipal da Madalena do Pico, juntamente com um bom número de populares – a maioria antigos alunos, alguns professores, misturados com dois resistentes dos inícios da década de setenta - quando no passado dia 8 de Março – dia da mulher e 290º aniversário da criação do Concelho da Madalena – se juntaram num acto de homenagem e gratidão, no bairro do Granel, ali nos arrabaldes do Centro de Saúde, recordando, agradecendo, preiteando e perpetuando a memória, gravando-lhe o nome no basalto negro duma rua.

Na realidade, Cecília Amaral tem o seu percurso pedagógico radicalmente acorrentado à implementação e ao desenvolvimento do ensino, não apenas na Madalena mas na ilha do Pico. Leccionando, no início do seu percurso pedagógico, como professora do então chamado ensino Primário, nas escolas da Candelária e da Criação Velha, a partir de meados da década de cinquenta iniciou, em sua casa, o acompanhamento pedagógico de um bom punhado de alunos, preparando-os para os exames de admissão ao Liceu. Mais tarde, estendeu, progressivamente, as suas explicações a muitos dos alunos que, na altura, se auto propunham fazer exames liceais.

Na segunda metade da década de sessenta e face ao crescente número de alunos que a procuravam e porque na ilha não havia nenhuma escola oficial ou particular, nem do ensino preparatório nem do secundário e as ofertas de disponibilidade de ensino muito reduzidas, sendo os alunos do Pico obrigados a se deslocarem para o Faial, simplesmente para tirar o segundo ou o quinto ano, Cecília Amaral alargou a sua actividade docente, em conjunto com outros colegas e amigos professores, utilizando espaços públicos da vila e até casas particulares. Eram os primórdios da criação e instituição do ensino na vila da Madalena, obstando a que milhares de alunos interrompessem os estudos após a conclusão do ensino primário e impedindo muitos outros de se descolarem para a ilha vizinha ou para paragens mais longínquas.

No início dos anos setenta e porque o número de alunos se agigantava, Cecília Amaral, sentindo a necessidade de instalações próprias, lançou-se, sem apoios e a suas expensas, na construção do edifício onde durante décadas funcionou o Externato Particular da Madalena e onde actualmente funciona a Escola Profissional. O Externato então criado, manteve-se em actividade, como única escola dos ensinos preparatório e secundário, no concelho da Madalena, até quase ao fim do século passado, altura em foi criada a Escola Cardeal Costa Nunes.

Mas Cecília Amaral não pautou a sua vida, apenas pela docência. Desenvolveu, juntamente com o marido e outros familiares, uma importante actividade a nível empresarial, com incidência, nas áreas do comércio e dos transportes.

A Assembleia Regional dos Açores, já lhe havia reconhecido o mérito, entregando-lhe, no dia da Região, a insígnia honorífica de mérito, considerando-a, na actualidade, como uma das mais importantes personalidades da ilha do Pico.

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publicado por picodavigia2 às 16:36

A FILHA REJEITADA

Sábado, 01.02.14

(CONTO POPULAR)

 

Era uma vez uma mulher muito bonita que tinha uma estalagem e a todos os homens que lá se hospedavam perguntava se tinham visto uma mulher mais bonita do que ela. Ela tinha uma filha mais bonita do que ela mas mantinha-a fechada para ninguém a ver. Disse-lhe um dia um almocreve, depois dela lhe fazer a pergunta habitual:

- Ainda agora ali vi uma mulher mais bonita do que vossemecê, debruçada a uma janela a pentear os seus belos cabelos.

-Ai, sim! É a minha filha. Vou mandar matá-la.

E mandou dois criados levá-la a um monte para a matar, mas a rapariga pediu-lhes que a não matassem, que a deixassem abandonada ali, mas viva, que prometia não mais voltar a casa da sua mãe. Os criados tiveram dó dela e deixaram-na, sozinha, no monte. Ela foi andando, chegou a uma serra e viu uma casa que parecia abandonada. Era noite e ela com intenção de pedir guarida, bateu à porta, mas não encontrou ninguém. Entrou para dentro e fez a ceia, e assim que a acabou de a fazer, escondeu-se. Nisto chegaram uns ladrões que vinham de fazer um roubo e, depois que viram a ceia feita, começaram a dizer:

- Ai! Que bom! Quem nos dera saber quem é que fez a ceia. Se por aí está alguém, apareça.

A rapariga apareceu-lhes e contou-lhes a sua sorte. Eles, lamentando o sucedido disseram-lhe:

- Agora não se aflija. Há-de ficar connosco e havemos de trata-la como nossa irmã.

Daí por diante os ladrões lá iam para os seus roubos e ela ficava sempre a arrumar e a limpar a casa e fazer-lhes a comida. Eles estimavam-na, respeitavam-na muito e tratavam-na com amizade e carinho.

Ora havia uma velhota que ia muitas vezes à estalagem da mãe dela que andava sempre em recados por muitas terras. Certo dia, a mãe disse-lhe:

- Você, como anda por muitas terras, diga-me se já viu uma cara mais linda do que a minha?

E ela disse-lhe:-

Vi, vi uma rapariga que ainda era mais linda que você, num monte, muito distante daqui.

- Você quando volta para lá? Quero que lhe leve uns sapatos.- E deu uns sapatos à velha, dizendo-lhe:

-Leve-lhos e diga-lhe que é a mãe que lhos manda; mas ela que os calce antes de você de lá sair; eu quero saber se é certo que ela os calça, a fim de ter a certeza de que é a minha filha. Olhe que eu pago-lhe bem.

A mulher levou os sapatos à filha. Ao chegar lá, disse-lhe:

- Aqui tens estes sapatos, que te manda a tua mãe.

A rapariga respondeu

- Eu não quero cá sapatos nenhuns; meus irmãos dão-me quantos sapatos eu quiser; não os quero.

A velha teimou tanto com ela que a rapariga pegou neles; calçou um, fechou-se-lhe um olho; calçou outro, fechou-se-lhe o outro olho e ela caiu morta. Depois vieram os ladrões, choraram muito ao pé dela, lastimaram muito a morte dela e depois disseram: «Esta cara não há-de ir para debaixo da terra; levemo-la num caixão à serra que vem lá o filho do rei à caça para ele ver esta flor.»

Depois levaram-na a esse sítio; veio o filho do rei e viu-a e achou-a muito bonita e depois tirou-lhe um sapato e ela abriu um olho, tirou-lhe outro, abriu outro olho e ficou viva. O príncipe levou-a para o seu palácio e casou com ela e foram felizes para sempre.

 

Conto Popular, baseado na versão de Adolfo Coelho

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publicado por picodavigia2 às 16:20

SÃO CAETANO DO PICO

Sábado, 01.02.14

No site da Câmara Municipal da Madalena, ilha do Pico, pode ler-se o seguinte, sobre a freguesia em epígrafe: “São Caetano é a mais jovem freguesia, instituída em 2 de Outubro de 1880, situa-se na parte sul do concelho e da ilha do Pico, entre as freguesias de São Mateus e São João. Localizada a dezoito quilómetros da sua sede concelhia, engloba os lugares de Prainha do Galeão, Caminho de Cima e Terra do Pão.

Alojada no regaço de uma pequena baía, onde assenta o Porto da Prainha, esta freguesia possui grande beleza, em boa parte, conferida pela sua posição geográfica. Instalada entre o mar e a montanha do Pico, é sulcada por ravinas designadas por quebradas, sendo a freguesia mais próxima desta montanha.

Ocupa uma área de 24,36 quilómetros quadrados e é demarcada por diversas elevações designadas cabeços: o da Prainha e o do Mistério, a Rocha Vermelha e o Paul. Cruzam este território as ribeiras: da Prainha, do Diluvio, da Cancela, da Grota, da Laje e a Ribeira Grande.

Os trilhos, primitivos acessos situados entre o mar e a montanha, conduzem qualquer viajante ao rico património paisagístico desta localidade, destacando-se o trilho da canada de São Caetano que se inicia junto à Prainha do Galeão em forma de escadaria; a canada da Ribeira da Prainha, trilho que ligava a Prainha do Galeão à parte superior da freguesia e que era usado por pescadores e baleeiros; o Largo das Fontes, acesso às pastagens de São Caetano e famoso pelas suas fontes.

Os primeiros colonos da região fundaram a povoação na zona, hoje, denominada por Prainha do Galeão, onde Garcia Gonçalves ali fez construir um galeão como forma de pagamento de dívidas ao rei Dom João III.

Sendo estes colonizadores muito devotos de São Caetano, sacerdote de Vicenza, elegeram-no como orago do povoado, logo nos primeiros tempos. Francisco Pires Flores mandou edificar uma pequena ermida em sua honra, no mesmo local onde actualmente se encontra um nicho com a imagem primitiva do santo.

Em 1878 foi iniciada a construção da igreja paroquial de São Caetano, mas a escassez de madeiras causou grande atraso na obra, agravado ainda por uma forte tempestade que se abateu sobre a ilha. Na mesma época naufragou na zona da Prainha um barco oriundo de Vicenza carregado de trigo que acabou por fornecer abundante madeira para a finalização do templo.

A agro-pecuária e a pesca continuam a ser a base de sustento da economia local, porém outras actividades se desenvolvem tais como a carpintaria, panificação, pequeno comércio e turismo.

O desenvolvimento cultural desportivo e de espaços de lazer é apoiado pelas associações e colectividades locais graças ao animado interesse da população que fez surgir os clubes de voleibol e de ténis de mesa, o Grupo Folclórico da casa do povo e o famoso grupo de música popular " Ronda das Nove" que com muita competência e orgulho promove a música de temática tradicional dos Açores.

Património histórico, cultural e natural: Igreja Matriz, Ermida de Santa Margarida, Impérios do Espírito Santo, Casas Rurais com balcão, Zona das Adegas, Casas dos Botes, Casa do Povo, Antigos Trilhos pedonais, Poços de Maré, Largo das Fontes e Baía da Prainha do Galeão - Zona Balnear.”

O mesmo site ainda informa que a freguesia possui uma população de 479 habitantes e que as suas actividades económicas mais importantes são a agricultura, a pecuária e a pesca, sendo as principais festas a de São Caetano, a de Santa Margarida e a de Nossa Senhora da Assunção, esquecendo as do Espírito Santo, uma, na Prainha, na terça-feira seguinte ao domingo de Pentecostes e outra em Julho, no Império da Terra do Pão.

No que ao património arquitectónico da freguesia diz respeito, o site destaca: Igreja Matriz, Ermida de Santa Margarida, Impérios do Espírito Santo, Casas Rurais com balcão, Zona das Adegas, Casas dos Botes, Casa do Povo, Poços de Maré e Largo das Fontes. Esclareça-se, no entanto, que a igreja de São Caetano, não tem o estatuto de “matriz”, uma vez que nunca originou nenhuma outra, o mesmo não acontecendo com a de São Mateus.

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publicado por picodavigia2 às 13:54

EMÍLIO PORTO

Sábado, 01.02.14

Faz agora precisamente um ano, que “Farol da Ponta”, uma das, até então, mais insignes e respeitáveis colunas do jornal “O Dever”, se apagou. Infelizmente pela razão mais triste, pesarosa e angustiadora. O falecimento do responsável quer pela criação quer pela manutenção semanal, naquele semanário lajense, duma coluna, intitulada “Farol da Ponta”.

A família, os amigos, a vila das Lajes e a ilha do Pico choraram a sua morte, por quanto ela significava uma perda de vulto, não apenas do colunista do “Dever”, mas sobretudo e especialmente de um músico de elevada craveira, de um maestro de inquestionável competência. Que o diga o Grupo Coral das Lajes do Pico, que, na semana passada lhe prestou condigna, justa e merecida homenagem.

Na realidade foi nesta área que Emílio Porto marcou a sua presença, contribuindo, com o seu trabalho e mestria, para o desenvolvimento da cultura musical açoriana. Desde os tempos de aluno do Seminário de Angra, onde, não apenas, fez grande parte da sua formação, mas também onde já se distinguiu como músico insigne, regente de capela e de grupos corais, que Emílio Porto se consagrou como um dos mais insignes músicos e maestros açorianos. Como ele próprio confessou, foi o ambiente musical do Seminário que o motivou para música, pois segundo ele: “O ambiente musical que se vivia no Seminário em 1950 era o reflexo de uma tradição forte nas ilhas açorianas. Consequências, talvez, dos apelos do Motu Próprio do Papa Pio X, e também da necessidade de ir ao encontro das pessoas que viviam em quase isolamento total. Os padres deveriam saber música para poderem ensinar e exercer condignamente as funções litúrgicas da Igreja Católica e, ao mesmo tempo, contribuir para o seu desenvolvimento cultural. E continuou a ser assim. (…) No meu primeiro ano lectivo - 1950-1951 - assisti na minha cadeira, ao fundo do salão, ao concerto do Orfeão do Seminário, na festa de São Tomás de Aquino. Aí ouvi, pela primeira vez, as primeiras palavras do hino do Seminário "Se há grandeza, no mundo, é aquela..." O Seminário respirava música por todo o lado. Que me contagiou. A partir do primeiro ano esteve sempre presente. Nessa mística me integrei. Desde as primeiras noções do solfejo entoado, à teoria musical e História da Música, e às práticas musicais curriculares e ocasionais. E depois, pela vida fora, até hoje.”

A morte de Emílio Porto, há um ano, no entanto, para além da enorme perda que constituiu, a nível musical, também fez silenciar as colunas deste jornal e o seu blogue “Alto dos Cedros, onde divulgava a maior parte dos seus escritos. Neste aspecto também constituiu e constitui uma perda irreparável.

Conheci o Emílio Porto, quando em Setembro de 1960, demandei, pela primeira vez, o Seminário de Angra. Recordo-me de o ver assomar à janela do seu quarto, voltada para os “miúdos”, sempre sério e pensativo, a descer os degraus dos teólogos, a correr para a sala seis, a fim de chegar a tempo à aula de Teologia, a jogar voleibol no campo junto à cozinha, a percorrer as ruas de Angra, com passagem pelo pátio da Alfândega e, sobretudo, a reger, com mestria, elegância e emoção, a capela do Seminário. Frequentava o décimo primeiro ano e eu, o terceiro. As normas de um regulamento interno, rígido e rigoroso, impediam a comunicação diária entre os alunos das três prefeituras, quebrada apenas, nas manhãs de Natal, nos dias de Festa, nos ensaios do orfeão e pouco mais. Não era de muitas falas, nem se metia em graçolas ou brincadeiras com os mais pequenos. Tinha, no entanto, um ar alegre, prazenteiro, solene, digno, concentrado e trabalhador, revelando já dotes extraordinários e inexauríveis, a nível da formação musical.

Anos mais tarde, embora em tempos diferentes, cruzei-me com ele em São Caetano do Pico, substituindo-o, nas inúmeras actividades em que ele ali se envolvera e a que procurei dar continuidade e prosseguimento. Em São Caetano do Pico, Emílio Porto, para além de granjear o respeito, a consideração e a estima de toda a população, deixou uma obra notável. Dedicado à juventude, que acompanhava em todas as actividades e com quem se envolvia em todos os acontecimentos, com destaque especial para a música e também para o teatro, Emílio Porto deixou ali uma obra notável, marcando positivamente uma geração.

Mais tarde serviu o exército português no ultramar, durante a guerra colonial, realizando duas comissões de serviço em Angola. A forma como o fez, estabelecendo a amizade como estandarte da guerra e a verdade como lema de vida, granjeou-lhe o respeito, a consideração e a estima de quantos com ele conviveram. A atestá-lo os variadíssimos testemunhos de quantos acompanhou naquelas missões e os encontros regulares que, passados quarenta anos, ainda mantinha com os seus camaradas de guerra.

A partir de então, perdi-lhe as pegadas. Sei, no entanto, que, quer como homem, quer como cidadão ou professor e ate como político, teve sempre um comportamento digno, nobre e exemplar, pautado por um empenhamento honesto, por uma competência fluente, por uma dignidade desmedida e por uma humildade transparente, que nem o Grau de Comendador, com que foi agraciado pelo presidente Jorge Sampaio em 2008, nem a Insígnia Autonómica de Mérito Cívico que a Assembleia Regional dos Açores lhe atribuiu, haviam de desfazer.

Quis o destino que, nos últimos tempos, nos reencontrássemos e restabelecêssemos uma amizade recíproca, íntima, sã e enternecedora, a nível individual e familiar. Não apenas em encontros frequentes, que agora podíamos fruir, mas também no “Alto dos Cedros” e no “Pico da Vigia”, onde, dia após dia, íamos fazendo deslizar memórias de um passado que, afinal, tinha muito em comum.

Como herança final, haveria de ser eu a dar-lhe continuidade nesta coluna, embora muito longe da competência que nele refulgia. Apenas e tão só, até porque de maneira diferente, para que este “Farol da Ponta” que ele criou com tanto interesse, continuasse a cintilar.

 

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publicado por picodavigia2 às 12:18

UM PASSEIO A CAVALO

Sábado, 01.02.14

(TEXTO DE VITORINO NEMÉSIO)

Ao entardecer os campos enchiam-se de neblina, o Pico ficava baço e monumental nas águas. Dos lados da estrada da Caldeira sentiu-se uma tropeada, depois pó e um cavaleiro. Os cavalos meteram a trote e puseram-se a par. O de Roberto Clark vinha suado, com um pouco de espuma e na barriga um sinal de sangue. O de Margarida, enxuto, meteu a passo:

- Ah, não posso mais... O tio desafiou-me e deixou-se ficar para trás! Assim não vale...

- Largaste-te logo... Eu bem te disse: prender e folgar... prender e folgar... E depois, deixaste-o fazer a curva a galope com a mão do outro lado.

Roberto Clark exprimia-se correntemente em português; só tinha um nada de entonação ingénua, cheia de ohs, que tanto divertia Margarida; às vezes hesitava um pouco, à procura de certas palavras, fazendo estalar os dedos como quem deixa fugir precisamente a que convinha. Era um rapaz alto, espadaúdo. Vestia um casaco de sport e calção encordoado, à Chantilly, um boné escocês enterrado até às sobrancelhas ruivas, debaixo das quais espreitavam dois olhinhos sem cor precisa, como que metidos n’água.

- Que bom, galopar! E depois, este não é como a Jóia, que apanhou aquele passo escangalhado da charrett...

- Quê? A égua de teu pai, o peru? Já lhe disse que tem de vendê-la.

- Ah! Se o tio conseguisse...

- Com o dobro do dinheiro da Jóia arranja-se um bom cavalo. Eu ponho o resto. É o meu presente de anos.

Margarida sorriu; mas mostrou-se reservada, lassou um pouco as rédeas do bridão e compôs o cabelo. Não sabia o que era fazer anos desde a última vez que os passara na Pedrada Burra, nas Vinhas, quando o avô ainda se mexia e teimava em meter-se ao Canal.Em Fevereiro havia muitos dias de mar bravo, as lanchas afocinhavam nas grandes covas de água cavadas pelo vento da Guia. Para tirar o avô das escadinhas eram duas pessoas: o Manuel Bana dentro da lancha a agarrá-lo por um braço, o cobrador nos degraus do cais, de mão estendida, e sempre aquele perigo de escorregar nos limos. Mas teimava; metia-se no vão da janela do pomar quase entalado pela mesa, estendia o baralho das paciências na coberta de tapete com a garrafa de whisky ao lado, a caixa dos charutos e dos sisos do whist aberta. Ficava ali tardes... a ouvir a tesoura de Manuel Bana, que podava defronte.

Nesse ano quisera nas Vinhas todas as famílias amigas ― lanchas atrás de lanchas, o portão do pátio aberto para a charrette e com argolas para os burros. Tinham jantado na falsa por cima do barracão das canoas, por arrumar mais gente. A última vez que enfeitaram o bolo com rosas de que ela gostasse, as primeiras rosas de trepar do quintal do tio Mateus Dulmo. E camélias fechadas do Pico, como uns copinhos... Vinte velas a arder diante do seu talher!

- Estás velha, hem...

- Velha, não; mas enfim... O tempo não passa só para quem viajou muito como o tio. Quem me dera...

- Viajar ou envelhecer?

- Talvez as duas coisas...

Sentiu sede de se abrir toda ao tio, explicar aqueles dois pontos que ele isolara tão bem a rasto da recordação do seu dia de anos no Pico; mas não achou palavras sensatas, ou pelo menos capazes de serem ditas ali de selim a selim, nos campos tão bonitos. As culturas começavam a cobrir-se das primeiras flores singelas; os olhinhos das árvores abotoavam discretamente. O verde-negro dos pastos, o verde dos Açores, quente e húmido, emborralhava-se até longe. Os cavalos seguiam de cabeça comprida, fazendo vibrar de vez em quando as ventas.

 ... Envelhecer não seria; mas era deixar passar um grande espaço de tempo, como um troço de filme em branco, fechar os olhos ao peso daquela doçura da volta, tapar os ouvidos como quem teve um mau dia e chora ao meter-se na cama, moída, gasta... Na manhã seguinte acordar, mas passados uns anos, longe do Faial, ou noutro Faial só com o caminho à roda, o Pico em frente... gaivotas... sem ninguém.

O tio tinha dito: «viajar ou envelhecer?» Margarida gastara a resposta naquele silêncio e os olhos nas orelhas do cavalo.

Vitorino Nemésio, Mau Tempo no Canal

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publicado por picodavigia2 às 10:50

A GUERRA E O GOVERNO

Sábado, 01.02.14

(EXCERTOS DO SERMÃO HISTÓRICO E PANEGÍRICO, PROFERIDO PELO PADRE ANTÓNIO VIEIRA, NOS ANOS DA RAINHA D. MARIA FRANCISCA DE SABÓIA, EM 21 DE JUNHO DE 1668.)

“As desconsolações gerais que padecia Portugal o ano passado e ainda na entrada do presente, se atentamente as considerarmos, todas se reduzem a três: a guerra, o casamento e o governo. Na guerra estava o povo aflito, no casamento estava a sucessão desesperada, no governo estava a soberania abatida. E em todas juntas? - O Reino perigoso e vacilante. Ora vejamos como Deus neste grande ano, em quanto consolador, nos sarou estas três desconsolações (…)

Começando pela desconsolação da guerra, e guerra de tantos anos, tão universal, tão interior, tão contínua: oh que temerosa desconsolação! É a guerra aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas, e quanto mais come e consome, tanto menos se farta. É a guerra aquela tempestade terrestre, que leva os campos, as casas, as vilas, os castelos, as cidades, e talvez em um momento sorve os reinos e monarquias inteiras. É a guerra aquela calamidade composta de todas as calamidades, em que não há mal algum que, ou se não padeça, ou se não tema, nem bem que seja próprio e seguro. O pai não tem seguro o filho, o rico não tem segura a fazenda, o pobre não tem seguro o seu suor, o nobre não tem segura a honra, o eclesiástico não tem segura a imunidade, o religioso não tem segura a sua cela; e até Deus nos templos e nos sacrários não está seguro. Esta era a primeira e mais viva desconsolação que padecia Portugal no princípio deste mesmo ano. Mas que bem no-la consolou Deus com a felicidade da paz, de que nos fez mercê! Assim o diz o texto do Evangelho. “Deixo-vos a paz, e dou-vos a minha paz - diz Cristo -, mas não vo-la dou como a dá o Mundo”. O que reparo nestas palavras, e que parece nos dá Cristo a mesma cousa duas vezes, e que de uma mercê faz dois benefícios, ou de um beneficio duas dádivas. Na primeira cláusula dá-nos a paz, na segunda cláusula torna-nos a dar a paz. Pois se a paz é a mesma, porque no-la dá duas vezes? Nem é a mesma, nem no-la dá duas vezes - disse e notou agudamente Santo Agostinho. Na primeira cláusula dá-nos a paz e na segunda cláusula dá-nos a sua paz. O ser a paz sua ou não ser, é grande diferença de paz. A paz não sua, é a paz que dá e pode dar o Mundo; a paz sua, é a paz que só dá e pode dar Deus; e esta é a paz que Cristo promete no Evangelho e a que nos deu neste feliz ano…

(…)

A terceira e última desconsolação que padecia Portugal, era o governo. A enfermidade não é culpa; e os efeitos da enfermidade são dor, não devem ser escândalo. E porque sei com quanto decoro e reverência se deve falar nessa mesma dor (já que é forçoso trazê-la à memória), será a voz do nosso sentimento uma pintura totalmente muda. Viu o profeta Ezequiel quatro corpos enigmáticos e hieroglíficos, que tiravam pelo carro da glória de Deus e, em cada um, ou qualquer deles (porque todos eram semelhantes), se me representa o governo de Portugal naquele tempo. Lá tiravam pelo carro da glória de Deus, cá tiravam também pelo carro das glórias de Portugal; porque não se pode negar, que no mesmo tempo vimos o Reino carregado de fortunas e palmas, sendo tão lastimoso o governo para os de dentro, nas leis, quanto era glorioso contra os de fora, nas armas. Formava-se aquele corpo enigmático (como o nosso político) não de uma só figura, senão de muitas. Tinha uma parte de humano, porque tinha rosto de homem, tinha duas partes de entendido, porque tinha rosto de homem e rosto de águia; tinha três partes de rei, porque tinha rosto de homem, rosto de águia e rosto de leão: de leão rei dos animais, de águia rei das aves, de homem rei de tudo; finalmente, tinha quatro partes de quimera, porque aos três rostos de leão, de águia, de homem, se ajuntava, com a mesma desproporção, o quarto, de touro. Destes quatro elementos se compunha aquele misto, e por estes quatro signos (uns próprios do seu zodíaco, outros estranhos) se passeava naquele tempo o Sol. Quando entrava no signo de touro, dominava grosseiramente a terra; quando passava ao signo da águia, dominava variamente o ar; quando se detinha no signo de homem, dominava friamente a água; quando chegava ao signo de leão, dominava arrebatadamente o fogo. Assim influía (ou assim entregava as influências) o confuso planeta, já aparecendo resplandecente, já desaparecendo eclipsado; tendo o império dividido entre si a luz com as trevas, a razão com o apetite, a justiça com a violência, ou, para falar mais ao certo, a saúde com a enfermidade. A parte sã era de homem e de águia, a parte enferma era de leão e de touro; e quanto se intentava nas deliberações da parte sã, tanto se desfazia nas perturbações da enferma. O que dispunha a benignidade do homem, descompunha a fereza do leão; o que levantava a generosidade da águia, abatia a braveza do touro. Visto pela parte sã, provocava a adoração e amor; visto pela parte enferma, provocava a dor e comiseração; e como o juízo verdadeiramente estava partido, não podia o governo estar inteiro. A esta desconsolação tão lastimosa e tão universal acudiu Deus, como às demais, suprindo suavemente a enfermidade e defeito de um irmão com a perfeição e capacidade do outro…”

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publicado por picodavigia2 às 10:09

ADÁGIOS DE FEVEREIRO

Sábado, 01.02.14

“Fevereiro leva a ovelha e o carneiro.”

 

“Fevereiro enganou a mãe ao soalheiro.”

 

Na Fajã Grande, na década de cinquenta, não eram muitos os adágios sobre o mês de Fevereiro e os poucos que ao segundo e mais pequeno mês do ano se referiam, geralmente, continham informações de carácter meteorológico. Que me lembre, apenas dois; “Fevereiro leva a ovelha e o carneiro.” e este outro “Fevereiro enganou a mãe ao soalheiro.”

Embora um pouco enigmáticos, aparentemente, ambos os provérbios referem o mau estado do tempo que, geralmente, no mês de Fevereiro, ainda se verificava na ilha das Flores. Na realidade na maior ilha do grupo ocidental açoriano e, mais concretamente na Fajã Grande, em Fevereiro, imperava o “general” inverno, mas intercalado com dias soalheiros e de bom tempo. Por isso mesmo, o tempo pré-primaveril de Fevereiro, apesar de permanentemente ameaçado por um ou outro dia tormentoso e ameaçador de mau tempo, já permitia abandonar o gado ao relento, nos campos e nas pastagens, sobretudo o gado ovino, mais habituado às agruras do Inverno e que passava quase todo o ano fora dos palheiros ou resguardos.

No segundo adágio acima referido, parece, também, estar também patente esta ideia, talvez ainda mais clara, premente e completa, por quanto se confirma que este mês do ano, na realidade, intercalava o mau tempo com o bom tempo, sendo, no entanto, este último enganador. Em Fevereiro, ora havia um dia de bom tempo, mesmo de Sol, soalheiro que, no entanto, enganava, porque afinal durante aquele mês ainda se sucederiam muitos outros dias de mau tempo e até de temporal. Não se cuidasse pois que, havendo em Fevereiro um dia de bom tempo, não era de forma nenhuma o fim do Inverno. Um dia soalheiro, no segundo mês do ano, poderia ser sinal de que muito temporal ainda poderia estar para vir. Daí que se resguardasse tudo o que era de grande estima e que estava personificado na própria mãe.

Mais duas sentenças sábias dos fajãgrandense que assim se iam informando uns aos outros e dando conta do estado do tempo a fim de estarem atentos e se prevenirem contra as fortes intempéries que por vezes fustigavam as ilhas, sobretudo as do grupo ocidental – Flores e Corvo.

 

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publicado por picodavigia2 às 08:59





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