PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
NÃO ENVELHEÇA
"O homem só envelhece quando nele os lamentos substituem os sonhos."
(John W Berry)
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O PENICO
Corriam os famigerados anos da Segunda Guerra Mundial que envolvera a maioria das nações do mundo, organizadas em duas alianças militares opostas: os Aliados e o Eixo. Um conflito tremendo, dramático e o mais letal de toda a história da humanidade, em que todos os países envolvidos se agastavam excessivamente, desfazendo, quase por completo, as suas mais excelsas e dignas capacidades. Açulada pela guerra, a economia mundial suportava um rude golpe, um grande revés e muitos países, para além da angústia e da morte, sofriam o flagelo da fome e da falta de todo o tipo de géneros. Portugal e os Açores, em particular, não foram excepção. Nas ilhas, em cujos mares, em vez dos navios e iates que, tradicionalmente, nelas faziam escala, abastecendo-as e ligando entre si as suas gentes, navegavam, agora, preferencialmente, submarinos alemães, numa zona, para eles, transformada numa espécie de santuário, deserto de navios e aviões inimigos, onde reabasteciam os seus navios de guerra, em trânsito para o teatro das operações ou para as suas bases. Tudo isto fazia com que a vida económica das populações das ilhas começasse a ressentir-se, rareando muitos produtos, nomeadamente, os alimentares e os derivados do ferro.
No Seminário de Angra, nesses tempos a abarrotar de alunos, vivia-se intensamente o drama mundial. Recolhiam-se notícias soltas num ou noutro rádio, liam-se os poucos jornais existentes, discutiam-se as estratégias bélicas e, nos campos de jogos, chegaram a efectuar-se árduas batalhas entre Aliados e Eixo, nem sempre favoráveis aos primeiros. Mas o que mais se fazia sentir era a escassez de géneros, nomeadamente, de alimentos, no minorado pecúlio armazenado nas dispensas anexas à cozinha, e que ia transformando as refeições em momentos de rareza, consubstanciada, sobretudo, na carne, rija, intragável, a originar a lendária “miragaia”. Mas, pior ainda, é que com as restrições à navegação e, sobretudo, com o enfurnar da abastança de muitas famílias, havia diminuído, substancialmente, o acervo de cestas, cabazes, pacotes, sacos, caixas e encomendas que chegavam ao Seminário, quer de São Miguel quer das ilhas de baixo e que, nos intervalos das refeições, alentavam gulosices e sustinham as carências nutritivas que as refeições, cada vez mais limitadas, consubstanciavam. Até a Terceira, por razões mais que óbvias, líder destas remessas, agora fraquejava, tornando-as quase exclusivas de uma ou outra família mais abastada.
Era o que acontecia com o Menezes. A família, residente numa enorme quinta, para os lados da Silveira, possuía bens e terras de tal ordem e riqueza, que por mais que a guerra cravasse as suas garras desoladoras na economia açoriana, não se haviam de esgotar tão cedo. Por isso todos os domingos de manhã, à hora da visita, a mãe e duas tias solteironas, corriam solícitas até à portaria do Seminário, trazendo ao seu menino sacos e caixas com todo o tipo de vitualhas, onde nunca faltava um bolo doce. Mas o Menezes era um sovina, sôfrego, comilão e anafado, incapaz de partilhar com quem quer que fosse uma nica do que tão substantivamente lhe traziam e que tão, avidamente, comia e guardava nas suas malas. À hora do recreio, mal soava a campainha, era vê-lo, de chave na mão, a correr para o porão, a encafuar-se às escondidas, atafulhando-se em bolachas, biscoitos, frutas, filoses e fatias de bolo doce. Os outros, simplesmente, a verem e a crescer-lhes água na boca.
Alguns, mais famélicos, bem o seguiam, a ver se o somítico repartia alguma coisa… Mas ele, nada. Outros, mais atrevidotes, bem o tentavam apanhar de surpresa, surripiar-lhe as chaves, mas ele parecia que tinha olhos no rabo e reflectores nas orelhas. Impossível rapinar o que quer que fosse ao somítico do Menezes.
Revoltado com tamanha sovinice, agastado com tão irritante falta de companheirismo, o Machado jurou a pés juntos que lhe havia de surripiar um bolo, com qual todos se haviam de deliciar. Os outros que não e ele que sim! Que esperassem, que haviam de ver e não demoraria muito.
Foi o Manelinho, o empregado sempre solícito e amigo, encobridor de patuscadas e colaborador na candonga dos cigarros, que comprou um bacio, de alumínio, para não se partir, ao ser arremessado.
Depois, foi aguardar, atentamente, uma manhã de domingo. O Menezes, durante a hora de estudo, chamado à portaria para receber familiares e géneros, foi colocar os sacos e pacotes, na camarata, à espera do recreio seguinte, a fim de os guardar na mala, no porão. Ainda nem tinha regressado o Menezes ao seu lugar e o Machado junto à secretária do prefeito que, muito concentrado, lia o breviário. Tinha uma enorme dor de barriga e precisava de ir à retrete, com urgência. Um desvio pela camarata. Lá estavam as vitualhas do Menezes, entre as quais um bolo doce, excelente, apetitoso, divinal. Retirou-o da caixa de papelão e colocou-o, com cuidado, dentro do penico que, obviamente, nunca tinha sido utilizado.
Mal tocou a sineta para o recreio e o Menezes a correr para a camarata, com o intuito de proteger o seu pecúlio pantagruélico. O Machado e os comparsas com quem compartilhara o ardil, a verem de longe.
Dito e feito. O Menezes, ao deparar-se com a marosca, furioso, pegou no penico e arremessou-o, com violência, para chão da camarata, ficando o bolo, por feliz coincidência, direitinho e inteiro como se, acabado de sair do forno, aguardasse ser retirado da forma. Era o epílogo desejado!
E do bolo, nem uma fevra sobrou.
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VIRIATO
Ninguém sabe ao certo quando nasceu Viriato nem a que família pertencia. Segundo a tradição, durante a juventude terá sido pastor nos Montes Hermlnios, que hoje se chamam Serra da Estrela.
Há quem diga que Viriato participou desde muito novo em assaltos-relâmpago às povoações dominadas por romanos. E que já então se distinguia pela agilidade, pela força e pela inteligência guerreira.
No entanto, foi um dos homens que acreditaram nas promessas de Galba e desceram à planície na intenção de se instalar e viver em paz numa terra fértil. Assistiu ao ataque traiçoeiro; não pôde lutar porque não tinha armas, mas conseguiu fugir.
Depois do massacre, todos os lusitanos sobreviventes regressaram aos seus castros nas montanhas. A pouco e pouco reorganizaram-se, fabricaram armas e prepararam o contra-ataque.
No ano 147 a.C. dez mil lusitanos em fúria avançaram para sul e dirigiram-se a uma zona dominada pelos Romanos.
Queriam saquear as povoações e vingar a morte dos companheiros, mas quando menos esperavam perceberam que estavam cercados à distância por um anel de soldados inimigos. Que fazer?
Os chefes, para evitarem nova carnificina, propuseram-se ir negociar a rendição. Viriato opôs-se com veemência. Erguendo a voz, lembrou:
- Os Romanos não respeitam promessas. Enganaram-me uma vez, não me tornam a enganar. Comigo não contem para negociações. Prefiro lutar ou morrer.
O discurso e a firmeza impressionaram toda a gente, sobretudo os outros chefes. E Viriato continuou:
- Se não podemos vencê-los pela força, vencê-los-emos pela astúcia. Ora oiçam o meu plano.
Propôs-lhes então o seguinte: os homens que combatiam a pé deviam formar grupos e a um sinal combinado disparar em todas as direcções e romper a barreira que os cercava sem dar tempo aos inimigos de se organizarem.
- Enquanto vocês fogem, eu e os outros cavaleiros caímos sobre eles ora de um lado ora de outro, de forma a derrotá-los e a proteger a vossa fuga.
O plano foi aceite; faltava combinar o sinal.
- Fiquem atentos. Quando eu montar a cavalo, já sabem... é ordem para arrancar.
Pouco depois ecoavam gritos de guerra pelos campos, zuniam setas e lanças, por toda a parte se ouvia o tinir das espadas. Os romanos não estavam à espera daquela táctica-relâmpago e, tal como Viriato previra, desnortearam-se. Muitos grupos de peões romperam o cerco e desapareceram, enquanto os bravos cavaleiros lusitanos, apesar de estarem em minoria e de possuírem armas mais fracas, lutavam sem cessar.
O campo de batalha ficou juncado de mortos, o próprio general romano perdeu a vida, mas não se pode falar de vitória ou derrota. Neste confronto, Viriato, mais do que vencer os Romanos, salvou os Lusitanos. A partir de então foi reconhecido e amado como chefe máximo por todas as tribos.
As mulheres sonhavam com ele, os homens admiravam-no, acatavam as suas ordens e seguiam-no com tanto entusiasmo e convicção que durante anos lançaram o terror entre as hostes inimigas. Viriato parecia invencível. E, de facto, em guerra aberta ninguém o derrubou.
No ano de 139 a.C. Viriato foi assassinado à traição, quando dormia na tenda, por três homens da sua tribo que os Romanos tinham aliciado e subornado. Os Lusitanos choraram longamente a perda daquele chefe querido e ficaram muito enfraquecidos. Quanto aos assassinos, parece que não chegaram a obter nenhuma recompensa pelo crime. Segundo consta, foram recebidos com desprezo pelo chefe romano, que lhes terá dito «Roma não paga a traidores».
É engraçado que tudo o que sabemos a respeito deste homem que os Portugueses consideram como o primeiro dos seus heróis foi escrito por autores romanos. Impressionados pela personalidade forte, austera e recta do chefe lusitano, impressionados também pelo imenso valor que demonstrava na guerra, escreveram vários textos elogiosos sobre ele. Apesar de serem adversários, foram os Romanos que deram a conhecer ao mundo a figura de Viriato.
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FEVEREIRO
“Em Fevereiro leva a mãe ao outeiro.”
No caso específico da Fajã Grande, este adágio encaixava-se que nem uma luva, pelo que, sem sombra de dúvida ele era típico desta freguesia, uma vez que a mesma se situa nas fragas de um pequeno monte, a ombrear com algumas habitações, designado precisamente pelo nome de “Outeiro”.
Este adágio era de âmbito profundamente meteorológico. Era uma espécie de previsão e anúncio do tempo. Com ele pretendia-se informar os menos atentos de que, nas Flores e mais concretamente na Fajã Grande, ao chegar o mês de Fevereiro, havia a certeza de que os dias de mau tempo e de grandes temporais, com chuvas diluvianas e ventos ciclónicos, que impediam as pessoas de sair de casa, como os de Dezembro e Janeiro, haviam terminado. Fevereiro já era, naqueles recuados tempos da década de cinquenta, um mês de bom tempo, com dias de Sol, em que nos podíamos sair de casa, à vontade, sem grandes resguardos do frio e da chuva, e darmo-nos ao luxo de não irmos apenas só nós, filhos, sinónimos de mais novos, mais ágeis e mais capazes. Também as pessoas de mais idade e mais débeis, como eram por exemplo as mães, também já podiam aventurar-se a uma caminhada tranquila por aqui ou por além, até subindo lugares mais íngremes, como o Outeiro, sem se sujeitar aos rigores do Inverno. É verdade que nestes dias o Sol, geralmente, ainda aparecia como que tímido e por entre nuvens, sem o brilho do Sol da Primavera ou do Verão, mas já era um Sol quentinho, sobretudo a fazer esquecer os tenebrosos dias anteriores e a convidar a sair de casa.
Se podíamos fazer uma caminhada ou dar um passeio com a mãe até aos meandros do Outeiro era porque na Fajã Grande já havia bom tempo, embora, apesar de estarmos em Fevereiro, ainda estivéssemos no Inverno.
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BEBIDAS E ALIMENTOS PROIBIDOS
BEBIDAS E ALIMENTOS PROIBIDOS A QUEM SOFRE DE
INSUFICIÊNCIA RENAL
Alheiras, Alho Francês, Amendoins, Azeitonas, Bacalhau, Bananas, Bolo doces, Bolo do Tijolo, Bolo-Rei, Caldo de Frango, Carne de Vaca, Carne Gorda de Porco, Castanhas, Chocolates, Compotas, Conserva em Azeite ou óleo, Couves, Croissants, Ervilhas, Espinafres, Feijão, Feijão-Frade, Figos, Frango, Gema de Ovos, Grão-de-Bico, Grelos Hambúrgueres, Inhame, Ketchup, Kiwi, Laranja, Leite, Lulas, Maionese, Marisco, Massa Sovada, Melancia, Melão, Meloa, Morcela, Natas, Nectarinas, Pão-de-ló, Pão de Milho, Pepinos, Piza, Polvo, Pudins, Queijo Ralado, Queijos Curados, Salsichas, Sardinhas, Sopas de ES, Sumos de Frutas, Tangerinas, Tomates. Aguardente e licores, Cerveja e Vinho Verde
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ERA-NÃO ERA
Era-Não-Era, no tempo das eras
Andava na serra,
Lavrando a terra
Com arado de carne
E bois de madeira.
Vieram-lhe dizer que o pai estava a morrer
E a mãe a nascer.
Foi tão grande o seu prazer.
Que prendeu os bois a uma moita
E pôs o arado a comer.
Vai por aí abaixo,
Encontra um ninho de marracho
- Onde hei-de pôr os ovinhos?
- Oh… debaixo da burrinha!
Saíram-lhe dois tentilhões;
E onde haviam de poisar?
Numa árvore que dava avelãs.
Começou a atirar-lhe pedras
E a caírem cebolas albarrans.
Foi vendê-las à vila e fez um dinheirão.
À volta dá com um meloal
E entra a apanhar um melão.
Vem de lá o dono e diz:
- Que fazes em faval alheio?
Atirou-lhe um melão, acertou-lhe com um torrão,
E fez-lhe sangue tão vermelho!
Seguindo o seu caminho,
Logo a seguir viu um passarinho
A sair do seu ninho.
Chegou às suas colmeias
Não pode contar os cortiços;
Mas foi contar as abelhas… e faltava-lhe uma!
N'isto ouviu resmalhar em uma moita,
E julgando que fosse a abelha,
Atirou-lhe com o machado.
Foi lá busca-lo, mas não o encontrou.
Atiçou fogo a uma moita,
Queimou o machado e lá apareceu o cabo.
Voltou para traz e foi falar ao professor,
Que lhe fizesse um machado.
Vai de lá o mestre ferreiro apresentou-lhe um anzol.
Que se havia ele lembrar?
Lembrou-se de ir á pesca.
Quando sente morder no anzol.
Puxa a linha e trouxe…
Um burro pelas orelhas, sem as ter!
Deixou o burro a comer,
E foi ás colmeias outra vez.
Estava a moita feita em mel.
Tirou dois piolhos da cabeça,
Das barrigas fez dois sacos,
e com elas carregou o burro,
Depois de as encher de mel.
Mas a carga era muito pesada,
E o burro ficou todo ferido.
O Era-Não-Era pôs-lhe favas em cima,
Cuidando que o burro morria
Pôs-lhe as favas mesmo cruas,
Por ser assim mais depressa,
E lá o deixou no campo a pastar.
Passado um ano voltou ao campo,
E viu um grande faval nascido em cima do burro.
Tratou logo de ir buscar uma foice para ceifar as suas favas;
Mas quando ia começar o trabalho,
Viu lá dentro um porco-espinho.
Jogou-lhe com a foice, e o cabo entrou-lhe pelo rabo,
Com o rabo o porco ceifava, com as patas debulhava…
E d'esta maneira o Era-Não-Era
Recolheu uma grande colheita.
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AGUARELA
Fajã Grande! O ponto mais ocidental da ilha das Flores, dos Açores e, simultaneamente, o ponto mais ocidental de Portugal e da Europa. Olhando em frente, apenas o Monchique e o mar. O mar é tudo o que a vista humana alcança. Lá ao longe, apenas o horizonte a separar o mar do céu e a impedir que se enxergue, talvez com uns bons binóculos, aparentemente muito longe, mas apenas 3500 quilómetros, Manhattan, a personificação da América. Encastoada entre o Outeiro e o Pico da Vigia, com a rocha lá ao fundo, recortada por inúmeras quedas de água, a Fajã Grande, pintada de verde na Primavera e colorida de amarelo e lilás no Outono, teve uma enorme importância num passado recente, pois foi ponto de paragem dos baleeiros americanos e ponto de partida de grande parte dos emigrantes açorianos que abalaram para os Estados Unidos e Canadá. No final do século XIX e na primeira metade do seguinte, a freguesia continuou a prosperar, adquirindo uma estrutura urbanística que a diferencia claramente das restantes freguesias rurais das Flores e até dos Açores. A rua principal da Fajã Grande, a Rua Direita, a que, mais tarde, foi dada o nome de um dos seus mais ilustres filhos, o Senador José Joaquim André de Freitas, é ladeada por um conjunto de imóveis de traça erudita e com dimensões e qualidade construtiva que atestam a riqueza que a emigração americana trouxe e a relação com a baleação propiciou. Por isso mesmo, foi muitas vezes considerada como um lugar que, embora pequeno, bem merecia o estatuto de vila. Hoje em dia é, essencialmente, uma zona balnear com cada vez mais procura nos meses quentes de Verão. Entre a Fajã Grande e a vizinha freguesia de Ponta Delgada não existe qualquer tipo de ligação rodoviária. A única hipótese de percorrer os 12 quilómetros da costa oeste da ilha é através de um longo e irregular percurso pedestre de cerca de 3 horas e meia, mas que é o mais interessante de todos. Ao longo do troço destacam-se paisagens deslumbrantes sobre as falésias, calçadas de pedra antigas, vários cursos de água, cascatas e a magnífica mostra de exemplares da vegetação endémica. A Fajã Grande conta, actualmente, com várias colectividades, entre as quais se destacam a Tuna Sol Mar da Fajã Grande, fundada em 1993, por Jesuíno Pimentel, sendo composta por amantes da arte musical, tocando e cantando as modas regionais e tradicionais da ilha das Flores. Embora actualmente inactiva, a Filarmónica União Musical Nossa Senhora da Saúde, instituída em 1950, com a oferta, por parte de todas as famílias, do leite do primeiro domingo de cada mês, divulgou, durante décadas, a arte musical das Flores por toda a ilha, actuando em festas locais e regionais. No desporto foi o Atlético Clube da Fajã Grande que também durante décadas ocupou dezenas de jovens na prática desportiva. A Casa do Povo de Fajã Grande, ainda hoje em actividade, possuindo uma moderna sede onde funciona um gabinete de assistência social e um salão polivalente para reuniões e espectáculos, continua a ser uma mais valia, para os seus cerca de actuais duzentos habitantes. Para além do porto e área de lazer adjacente, a freguesia apresenta alguns locais de interesse, nomeadamente a sua Igreja paroquial de São José, edificada em 1868, com a sua génese numa primitiva capela com a mesma invocação, erigida em 1755. Este templo possui dois altares no encontro do arco que separa a restante parte do edifício da capela mor. Possui ainda na Ponta uma ermida da invocação da Senhora do Carmo. A vigia da baleia, uma cabina empoleirada em cima no alto do Pico da Vigia e que se projecta sobre o mar, donde se goza um estupendo panorama. Em tempos serviu a indústria baleeira, assinalando a presença de cachalotes na zona e coordenando a caça pelos botes baleeiros baseados no porto da freguesia. A capela de Santo António, no antigo largo do mesmo nome a Casa do Espírito Santo no lugar da Cuada, datada de 1841 e teatro da festa homónima no dia de Pentecostes, são outros locais de enorme interesse. A Cuada é um lugar pertencente à freguesia, habitado até aos anos sessenta, altura em que todos os seus habitantes emigraram para a América. Foi, então, recuperado e transformado num local de turismo de excelência, como um enorme testemunho de perseverança a seguir. A Cuada, com as suas casas e ruas recuperadas, personifica uma viagem entre o passado e o presente, uma recuperação da traça rural das pequenas casas de pedra, no meio duma paisagem delirantemente bela e estranhamente acolhedora. A Fajã Grande orgulha-se de ter sido o berço de algumas personalidades que, no seu tempo e à sua maneira, se notabilizaram. De entre esses, destacam-se o padre José António Camões, o padre José Luís de Fraga, pelos seus dotes de orador, escritor e músico; o senador André de Freitas e Pedro da Silveira crítico literário, historiador e poeta, com múltiplos trabalhos publicados.