PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
QUEM SOMOS?
(OLINDA BEJA – SÂO TOMÉ E PRÍNCIPE)
O mar chama por nós, somos ilhéus!
Trazemos nas mãos sal e espuma
cantamos nas canoas
dançamos na bruma
somos pescadores-marinheiros
de marés vivas onde se escondeu
a nossa alma ignota
o nosso povo ilhéu
a nossa ilha balouça ao sabor das vagas
e traz a espraiar-se no areal da História
a voz do gandu
na nossa memória...
Somos a mestiçagem de um deus que quis mostrar
ao universo a nossa cor tisnada
resistimos à voragem do tempo
aos apelos do nada
continuaremos a plantar café cacau
e a comer por gosto fruta-pão
filhos do sol e do mato
arrancados à dor da escravidão
Olinda Beja
Autoria e outros dados (tags, etc)
RODRIGO GUERRA
O escritor açoriano Rodrigo Alves Guerra Júnior nasceu no lugar da Areia Larga, vila da Madalena, ilha do Pico, em1861, tendo falecido em Lisboa em 1924. Estudou no Liceu da Horta mas, o mais da sua cultura foi adquirido pela leitura de obras de autores clássicos e modernos, portugueses, franceses e ingleses. Integrou a geração renovadora da tradição literária açoriana que incluiu Ernesto Rebelo, Florêncio Terra, Garcia Monteiro, Manuel Zerbone, e, um pouco mais tarde, António Baptista, Marcelino Lima e Nunes da Rosa.
Escreveu nos jornais O Faialense, Grémio Litterario e O Açoriano de que foi redactor, com Florêncio Terra e Henrique das Neves. Também colaborou em vários jornais de Angra do Heroísmo, de Ponta Delgada e de Lisboa. Também escreveu para o teatro e a sua peça O Ideal da Prima foi representada no Teatro Faialense. Todavia, os seus contos são o mais relevante da sua obra. Encontra-se incluído em Contos Açorianos e na Antologia Panorâmica do Conto Açoriano. Luís M. Arruda
As suas obras são, para além de O Ideal da Prima: A Americana e Trutas.
Dados retirados do CCA – Cultura Açores
Autoria e outros dados (tags, etc)
O PICO EM FEVEREIRO
O Pico, em Fevereiro, pese embora assolado por ventos e tempestades, fustigado por chuvas e intempéries ou assediado por nevoeiros neblinas, continua detentor da uma beleza e originalidade ímpares, duma graça e singeleza endémicas, e de uma excêntrica e indomável singularidade. A sua imponente e vulcânica Montanha, erguendo-se altiva e altaneira sobre lavas e fumarolas, ora se esconde bem lá no alto, por cima das nuvens, ora se cobre da caramelo ou se reveste da sua mais enigmática singularidade – de neve. O mar, na sua altivez e transcendência, revolta-se indignado e altivo, rugindo contra os baixios magmáticos, como que impedindo barcos e pescadores de se arrastarem sobre pedregulho e tiras de madeira, obrigando-os a permanecerem varados, no cais. A terra, entrelaçada entre maroiços e estreitas canadas, continua ávida de enxadas e aluviões e os campos, repletos de erva da casta, enchem-se de bovinos à espera que lhe mudem a cordada. As vinhas desvanecem mas não morrem e aguardam, expectantes, a tesoura de poda. No Pico, em Fevereiro ainda se adormece embalado pelo canto dos pássaros e acordamos com o corococó dos galos. A escuridão vai-se desvanecendo muito lentamente, ouve-se o arrastar de cadeiras em casa de um vizinho, os “bons-dias” dos que se levantam mais cedo. Finalmente o Sol! Mas esse sim, é que umas vezes nem aparece outras demora a aparecer e mesmo quando o faz, é para logo desaparecer, não fosse ele o “sol de pouca dura”.
Mas afinal, no Pico em Fevereiro, com sol ou com neve, com neblinas ou mar agitado, com isto ou com aquilo, ainda se mata o porco, ainda se amarram as vacas nos campos, ainda se podam as vinhas, ainda se apanham sargos e chicharros, ainda se coze bolo no tijolo, ainda se faz caldo de peixe, ainda se bebe bagaço com groselha, ainda se conservam os maroiços, ainda se arrastam os barcos nos varadouros, ainda se baila a chamarrita, ainda se desperta com o cantar dos galos, numa palavra, no Pico, em Fevereiro, ainda se está no Pico, embora este se modernize cada vez mais, agora aureolado com os recentes galardões de “património mundial da humanidade”, obtido pela sua paisagem vulcânica e de vinha e “maravilha natural de Portugal” conquistado pelo imponência e singularidade da sua montanha