PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
AS TRÊS PRETENDENTES
Era uma vez um rei, que tinha três filhos. Um dia, sentindo que já estava velho e desejando escolher o seu sucessor, juntou-os e disse-lhes:
- Meus filhos, ide correr o mundo, e aquele que trouxer e se casar com a mulher mais bela e formosa é que há-de ser o meu herdeiro e ficar com o meu reino.
Partiram os três. Os dois mais velhos, depressa, encontraram duas raparigas, ambas muito formosas e belas, que trouxeram para o reino e com quem se casaram. O mais novo andou por muitas terras, mas não conseguiu encontrar uma mulher que lhe agradasse.
No entanto, passado alguns dias, quando ia por um descampado, desceu do cavalo e deitou-se a uma sombra, para descansar. Perto dali, viu uma casa muito alta sem portas e só com uma janela. De repente, chegou uma velha que se aproximou da casa e bateu na parede. Nesse momento, apareceu à janela uma linda menina que lhe atirou a sua trança, à qual a velha se agarrou, subindo para dentro de casa. Pouco tempo depois a velha, agarrando-se, novamente, à trança, desceu e foi-se embora.
O rapaz aproximou-se, então, da casa, repetindo o gesto da velha. A janela abriu-se, a trança desceu e o rapaz, pendurando-se nela, subiu. Ficou pasmado quando, ao entrar, viu diante de si a mulher mais bela do mundo. A menina muito assustada e aflita, suplicou:
— Vá-se embora, senhor, que pode vir minha mãe, e ela tem artes de lhe causar todos os males do mundo.
— Não vou, sem vires comigo, porque só assim eu ganharei o reino de meu pai.
Ao ouvir estas palavras a rapariga concordou. Desceram ambos pela parede e fugiram a toda a pressa, montados no cavalo do rapaz. Ainda não iam longe, quando ouviram uma voz:
— Para, para, filha cruel e ingrata, para, não me deixes só no mundo.
A filha, porém, não lhe deu ouvidos, continuando a fuga. A velha pediu-lhe:
— Ao menos, olha para trás, para receberes a bênção de tua mãe.
Assim que a menina se virou, a velha disse-lhe:
— Eu te esconjuro para que essa tua cara linda se transforme numa cara de boi.
Quando o príncipe chegou à corte, ao vê-lo acompanhado de uma donzela com aquela cara, começaram todos a rir-se sem perceber como ele se tinha apaixonado por uma criatura tão feia e horrorosa. O príncipe contou a sua desventura, mas ninguém acreditou.
Estava prestes a chegar o dia em que os três irmãos haviam de apresentar as suas esposas diante de toda a corte, a fim de que o rei, conforme o prometido, escolhesse a mais bela, decidindo assim qual dos filhos seria o seu herdeiro.
O rapaz contou à mãe o que se passava e esta decidiu atrasar a cerimónia, para ver se a velha, com o tempo, perdoava à menina e lhe restituía a sua formosura. Para tal pediu que cada uma das três meninas lhe bordasse um lenço. As duas primeiras não sabiam bordar, pelo que tentaram enganar a rainha, arranjando quem lhes fizesse os bordados. A que perdera a formosura também não sabia bordar, mas em vez de enganar a rainha, pôs-se a chorar. Tanto chorou que lhe apareceu a velha, e lhe disse:
— Não te rales mais. No dia em que tiveres de entregar o lenço à rainha eu cá to virei trazer.
Chegou o dia, e a velha veio entregar-lhe uma noz muito pequenina. A menina foi levá-la à rainha, dizendo que ali estava o seu lenço. A rainha quebrou a noz e ficou pasmada com a mais fina cambraia, bordada com flores, ramos e pássaros.
Chegou o dia de as três meninas irem à corte para serem apresentadas ao rei. A menina feia começou de novo a chorar, até que, novamente, lhe apareceu a velha, dizendo:
— Não chores mais, minha filha. Trago-te este um vestido para a festa. Com ele ficarás muito bela. Era um vestido todo bordado a ouro e com pedras preciosas. A menina vestiu-o, e quando ia pelo corredor do palácio, olhou para trás e, ao ver a mãe, readquiriu, de imediato, a formusura que perdera durante a fuga.
De seguida, perante a admiração de todos, entrou na sala pelo braço do marido. Jamais se vira na corte jovem tão bela. Perante a raiva e inveja das outras duas, o rei não teve dúvidas em escolhê-la como futura rainha, tornando o marido o herdeiro do seu reino.
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UOSTEROL OU O REI MALDITO
Vários foram os chefes tribais, que, desde os tempos mais remotos e longínquos, se fixaram na serra Prada e impuseram, geralmente à força, regimes totalitários e despóticos, que massacraram, sacrificaram e, por vezes, quase destruíram a dignidade, a felicidade e a própria liberdade dos seus habitantes, os serranos pradenses. Esses régulos assumiam-se, geralmente, de forma disfarçada, como autênticos tiranos que apenas conheciam, tentavam impor e faziam vigorar dois princípios: o da força brutal e o da falsa superioridade. Leis draconianas foram promulgadas, ergástulos megalómanos construídos, imposições draconianas tomadas.
De todos estes pérfidos ditadores, sobressaiu, pela sua excessiva barbaridade e cônscio despotismo, um tal monarca, que o povo alcunhou de "Uosterol", epíteto originado a partir duma incorrecta pronúncia do inglês "The worst of all", ou seja, "O pior de todos". Tratava-se, na realidade, dum monarca que reinou alguns anos, num despotismo galopante e que, para saciar os seus caprichos e fanatismos desenfreados, terá desbastado, destruído e incendiado sete aldeias da serra, matando e arrasando as respectivas populações, só porque desconfiou que, numa delas, se encontrava refugiada uma jovem donzela, que fugira dos arredores do palácio real, quando se apercebeu que sua majestade a iria recrutar para o seu harém. A jovem foi degolada publicamente, ao mesmo tempo que eram destruídas todas as aldeias que, supostamente, lhe tinham dado acolhimento. Eu vou contar pra todos a história de um rapaz
Uosterol tinha, na realidade e desde sempre, a fama de ser um rei mau, perverso e maligno. O povo temia-o, apenas ao ouvir o seu nome. Para além de grosseiro, estúpido e violento, não gostava de alguém e nunca amou, de verdade, quem quer que fosse. Passava a vida em caçadas, duelos e batalhas, provocando mal-estar, tédio e, sobretudo terror, entre os seus súbditos.
Certo dia, porém, chegou à Serra, governada por Uosterol, um homem bom, digno e justo, mas valente e destemido. Com intenção de destruir o facínora e libertar o povo da tirania, dispôs-se a lutar contra o tirano. O povo tremeu e temeu, cuidando que o pior acontecesse. Mas como o homem era bravo e destemido, o povo aceitou que lutasse
Marcaram o duelo no cimo de uma montanha, longe do povoado, antes do pôr-do-sol. Todos já sabiam que um deles havia de morrer. O povo desejava que fosse o fim de Uosterol, pensando, assim, ver-se livre do facínora.
Subiram a montanha. Perante a coragem daquele homem, nesse dia, pela primeira vez, o Uosterol tremeu e teve medo. Nunca encontrara alguém que o desafiasse, que se lhe opusesse e que, sem medo algum, se dispusesse a lutar contra ele, rei poderoso e soberano invencível. Quem seria aquele desconhecido?
Uosteroç, durante a viagem de subida da montanha, entrou num bar bebeu. Bebeu tanto que perdeu a força tirânica, transformando-se num fraco, considerando-se, ele próprio, pela primeira vez na sua vida, um inútil imbecil.
Chegando ao cimo da montanha, ao lugar onde tinham combinado o duelo. Contrariamente ao habitual era Uosterol que tremia, enquanto o desconhecido se mantinha, calmo e firme com a arma na mão, apontada ao facínora. Uosterol preparou-se para atirar, com intenção de matar o desconhecido. Soaram tiros pelos ares, houve tão grande tiroteio como jamais se vira. Toda a Serra estremeceu e emudeceu. Apenas um grito se ouviu, após o qual Uosterol caiu por terra morto.
Algum tempo depois, a paz voltou à Serra.
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A MENINA E O MONSTRINHO
Era uma vez uma menina obediente, educada e submissa mas por vezes brincalhona, atrevida e malcriada, mas tinha um bom coração.
Certo dia, ao sair da Escola, disse para consigo:
- Hoje não vou esperar minha Mãe. Como a minha casa é perto daqui e eu já conheço o caminho acho que me vou embora sozinha...
Se bem o pensou, melhor o fez. Desviando-se do caminho que dava para a sua casa, entrou num bosque. Mal tinha dado os primeiros passos quando viu algo de muito estranho vir ao seu encontro. Apesar do susto, continuou a penetrar no bosque. Sem dar pelo passar veloz do tempo, foi andando, andando até que se apercebeu que se tinha perdido, pois tinha entrado num lugar estranho, esquisito e deserto...
Nesse momento dois meninos com ar de mandriões e cara de malvados, apareceram na sua frente, rindo muito. Então um deles disse:
- Hum, vejam só uma menina sozinha, perdidinha, sem companhia. Que tal se a levasse-mos connosco?
A menina começou a chorar, mas isso em nada alterou a intenção dos meninos que, com cara de poucos amigos disseram de novo, um para o outro:
- Já que ela está sozinha, vamos ficar com ela. Ela pode ser nossa escrava para sempre e se chorar leva uma boa sova e há-de calar-se...
- Tenho uma ideia melhor - disse o outro garoto - Acho que devíamos levá-la e vendê-la, pois há homens que compram meninas... Assim poderíamos ganhar bom dinheiro.
- Concordo, - respondeu o outro – se a vendermos ganhamos dinheiro e ainda nos livramos dela.
E agarrando-a com violência, apesar dos seus choros e gritos, levaram-na para a cidade mais próxima. Nesse momento, no entanto, sem que eles vissem, um pouco mais adiante, um estranho vulto surgiu do nada. Parecia um menino pequeno mas com cara pouco amigável
Saindo das sombras, o estranho e pequeno ser, abriu sua imensa e assustadora boca e falou de um jeito que os dois rapazes ficaram petrificados de medo sem conseguirem se mexer-se.
- Muito bonito... Vocês gostam de fazer maldades? Então acho que vão gostar muito do lugar para onde vou levar os dois...
O estranho ser era do tamanho de um menino, com a cabeça enorme e azul e os pés semelhantes aos das galinhas.
Os dois rapazes ficaram com tanto medo e afastaram-se numa correria tão grande, desaparecendo dali a sete pés.
A menina, mal conseguia falar de tão contente que estava. Ela não havia ficado com medo daquele menino. Emocionada e agradecida deu um grande abraço no seu novo amigo e dizendo:
- Obrigado, meu amigo, salvaste-me daqueles dois malvados. Como te chamas?
- Chamo-me Pé de Galinha e todos têm medo de mim porque sou feio... Nunca me trataram por amigo... Foste a primeira pessoa que me tratou assim...
- Não, não és feio - disse a menina – O teu coração é lindo. És simplesmente diferente das outras pessoas...
O estranho ser, cada vez mais feliz, explicou-lhe que a sua missão era proteger e ajudar as crianças que estavam em perigo. Disse também que gostava muito de comer pão com chá. Então a menina disse:
- Vamos para minha casa fazer um lanche maravilhoso, com pão e chá.
E lá foram muito contentes e felizes. Quando a mãe chegou, a menina contou o que lhe acontecera e prometeu que nunca mais iria para o bosque sozinha.
NB - Texto adaptado de um conto de Alberto Filho.
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A LENDA DAS BANDEIRAS DO SENHOR ESPÍRITO SANTO – UMA BRANCA OUTRA VERMELHA
Contava-se antigamente, na Fajã Grande, uma lenda, segundo a qual, há muitos, muitos anos a população da maioria dos povoados da ilha das Flores tinha caído numa grande falta de respeito para com o seu semelhante: havia desavenças contínuas, zaragatas permanentes, guerrilhas diárias e todo o tipo de abusos, assaltos, roubos e faltas de respeito. Nas igrejas, nos púlpitos e ambões os padres pregavam contra tais depravações e maus costumes, pedindo, aos fiéis, penitência e arrependimento, ao mesmo tempo que anunciavam castigos e punições divinas, eminentes. Mas o povo não se ralava e muito menos se emendava. Pelo contrário, continuava com os seus abusos e desavenças, maltratando-se e insultando-se todos, uns aos outros.
Certo dia levantou-se uma grande tempestade, que aos poucos foi aumentando até se transformar num terrível e gigantesco ciclone. Começaram a soprar ventos fortíssimos, acompanhados de trovoadas medonhas e de chuvas intensas e diluvianas. Toda a ilha era completamente fustigada por aquele terrível temporal, temendo-se que havia de destruir tudo o que de construção humana existia na ilha. Uma tragédia como nunca se vira. Parecia o fim do mundo! As pessoas assustadíssimas e sem saber como se protegerem, cuidavam que aquilo era o castigo anunciado pelos padres, para os punir pelos pecados que tinham cometido anteriormente.
Como a intempérie não cessasse e a segurança do povo e dos seus haveres cada vez mais periclitasse, muitas pessoas começavam a chorar, a rezar e a pedir perdão a Deus. Impotentes, perante a força temível daquele flagelo, uns cuidavam que era o fim dos seus dias, enquanto outros desorientados, corriam de um lado para o outro numa tentativa vã de encontrarem abrigo e de se salvarem. Foi então que um frade eremita, que vivia isolado dos povoados, numa pequena e pobre choupana, muito religioso e temente a Deus, pegando na coroa do Divino Espírito Santo que se encontrava no altar duma pequenina igreja, saiu com ela em procissão, rezando e fazendo preces a Deus para que parasse a tempestade.
Diz a lenda que era tanta a fé do povo que o acompanhava e tanta era esperança de que o Senhor Espírito Santo os havia de os aliviar daquela tormenta e de os salvar de tão grande borrasca, que pouco depois, o Sol surgiu no céu, iluminando toda a ilha com uma luz ténue e suave, enquanto cessava o vento, paravam os trovões e os relâmpagos e a chuva estiava por completo. A população, ainda chorosa, atónita, estarrecida de medo e admiração, começou a agradecer ao Divino Espírito Santo o milagre que acabava de fazer, salvando-a de tão horrorosa tormenta. O povo começou, então, a dar muitas esmolas de pão e carne aos mais pobres, por ocasião do dia de Pentecostes, não só para agradecer o milagre, mas também para se redimir, prometendo ainda que o havia de fazer todos os anos, pela festa do Pentecostes, enquanto o mundo fosse mundo. Foi então que, para que nunca mais olvidassem aquela promessa, mandaram fazer duas bandeiras, uma branca para não se esquecerem do pão e outra vermelha para se lembrarem da carne. Essa a razão porque em todos os impérios do Espírito Santo da ilha das Flores, existem duas bandeiras, uma branca simbolizando o pão e outra vermelha a simbolizar a carne.
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A INEXAURÍVEL SINGULARIDADE DO CORVO
Localizadas sobre a placa tectónica norte americana e edificadas, conjuntamente, sobre um fundo oceânico com cerca de dez milhões de anos, as Flores e o Corvo, quais irmãs gémeas, emergem, paradoxalmente, do mesmo banco submarino. Unidas no espaço, estiveram também sempre lado a lado no tempo, desde que os seus descobridores as encontraram e os seus primeiros povoadores penetraram por elas dentro, desbravando, cultivando, construindo e edificando. Além disso, as duas ilhas do grupo ocidental açoriano permanecem unidas uma à outra, por ligações marítimas, outrora mais espaçadas, rudimentares e lentas, hoje mais rápidas, seguras e sofisticadas. Por isso ir às Flores e não realizar uma visita ao Corvo é como que “ir a Roma e não ver o Papa”. O “Ariel” em carreiras diárias, regulares, os barcos da “Maré Ocidental” e de outras empresas, em viagens ocasionais ou fretados, permitem fazer uma visita, suficientemente prolongada, à mais pequenina e singular ilha açoriana – o Corvo.
Nas idas e vindas de uma ilha para a outra, pelo menos a bordo do “Avô Augusto” e graças aos seus experientes marinheiros, netos do “lobo do mar” José Augusto, é possível parar a meio do canal para observar uma infinidade de golfinhos que saltitam, acompanhando o circular da embarcação, em graciosas e variadas acrobacias e tornear o noroeste da magnífica costa florentina, entre a Ponta Ruiva e Santa Cruz, e entrincheirar-se por entre os inúmeros ilhéus que por ali proliferam. Também é possível observar as magníficas grutas com solo de água e tecto de lava e aproximar-se dos penhascos e ravinas entrecortados por quedas de água a despejarem-se sobre o Oceano. Uma verdadeira maravilha da natureza!
A chegada ao Porto da Casa, no Corvo, consubstancia uma singeleza que ainda torna mais singular a singularidade inexaurível desta ilha anã, estampada quer na simplicidade e idiossincrasia dos corvinos que esperam sobre o cais ou se sentam nas soleiras das portas das estreitas ruas da vila, quer na brancura das casas de portas escancaradas dia e noite ou destrancadas com fechaduras de madeira, quer ainda no emaranhado e estreiteza das principais e mais antigas vielas, ou até nos campos e belgas que as circundam ou nos desabitados palheiros que proliferam já nos matos, a caminho do Caldeirão. Trata-se duma ampla cratera de abatimento e onde se aloja uma, maravilhosamente bela lagoa, no fundo da qual se podem observar várias pequenas "ilhotas", umas compridas, outras redondas e onde, com um bocadinho de imaginação, se podem observar as nove ilhas açorianas. Lá ao fundo, no rebordo do Caldeirão, o ponto mais alto da ilha, o Morro dos Homens, com 718 metros de altura acima do nível médio do mar e, embora menos altos, mas ali bem perto, porque naquela inexaurível pequenez nada é longe e nada é perto, outros montes, onde se destaca o célebre e históricoMarco. Depois e mais a leste, as Quintas e o Fojo, as zonas mais altas do Corvo, onde se pratica a agricultura e cultivam algumas árvores de fruto. Por sua vez, as melhores pastagens para o gado ficam mais para norte, nas chamadas Terras Altas. Curiosamente uma parte desta zona de pastagens, ainda hoje, é de uso comunitário.
No regresso, impõe-se um passeio a pé, pela Vila do Corvo, localizada numa fajã lávica, a Sul e voltada para as Flores. A Vila do Corvo, que forma o concelho com o mesmo nome, é a mais pequena vila açoriana, com apenas 430 habitantes, de acordo com o Censos 2011. Única povoação da ilha, é constituída por um aglomerado de casas baixas com ruas estreitas e tortuosas que sobem as encostas, conhecidas localmente por canadas e possui o singular estatuto de ser o local habitado mais isolado de Portugal.
Do património arquitectónico existente na ilha, destaca-se a Igreja de Nossa Senhora dos Milagres, construída em 1795, que veio substituir uma primitiva ermida. No seu interior, podem admirar-se a estátua da padroeira, obra flamenga do século XVI, um Cristo em marfim e uma imagem em madeira de Nossa Senhora da Conceição, entre várias outras ali existentes. Além da igreja, é digna de ser visitada a Casa do Espírito Santo, no areópago da vila, o típico Largo do Outeiro, fundada a 1871, seguindo a traça arquitectónica das suas congéneres das Flores. Junto ao aeroporto ainda existem alguns interessantes e típicos moinhos de vento, classificados como imóveis de interesse municipal. Dos cerca de sete moinhos que existiram na ilha, apenas três se mantêm em funcionamento, embora já não sejam utilizados para o fim para que foram construídos. O casario da vila é um verdadeiro museu vivo, classificado pelo Governo Regional como conjunto de interesse público. Outro local de interesse é a “Cova da Junça” onde existe uma edificação protegida pelo Governo Regional dos Açores, cuja data de construção recua aos séculos XVII e XVIII, a qual faz parte do Inventário do Património Histórico e Religioso do Corvo. Trata-se de um silo subterrâneo, escavado no subsolo com forma de ânfora ou de talhão, tendo, muito provavelmente, sido usado em tempos idos com o objectivo de guardar os cereais, não só como forma de os conservar, mas também de os esconder quer dos piratas e corsários que assolavam a costa da ilha com frequência quer dos cobradores dos impostos do rei.
Foi toda esta inexaurível singularidade corvina que fez com que esta ilha fosse declarada no mês de Setembro de 2007 Reserva da Biosfera, pela UNESCO, na sequência de uma candidatura apresentada, para esse fim, pelo Governo Regional dos Açores.
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PORQUE MORREM AS MÃES
(POEMA DE CARLOS DRUMOND DE ANDRADE)
“Por que Deus permite
Que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
É tempo sem hora,
Luz que não apaga
Quando sopra o vento
E chuva desaba,
Veludo escondido
Na pele enrugada,
Água pura, ar puro,
Puro pensamento.
Morrer acontece
Com o que é breve e passa
Sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
É eternidade.
Por que Deus se lembra
- Mistério profundo -
De tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
Baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
Mãe ficará sempre
Junto de seu filho
E ele, velho embora,
Será pequenino
Feito grão de milho.”
Carlos Drummond de Andrade