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FRANCISCO DO CANTO E CASTRO

Sábado, 15.02.14

O poeta Francisco do Canto e Castro nasceu em Angra do Heroísmo, em 13 de Novembro de 1903 e faleceu no Rio de Janeiro, em 1988. Funcionário de Finanças, em Angra e na Horta, emigrando em 1947 para a Califórnia, terra de sua primeira mulher, Josefina Amarante do Canto e Castro. Viveu na cidade de S. José, onde manteve um programa de rádio e em 1960 fixou-se no Rio de Janeiro onde continuou a actividade cultural, colaborando nos jornais e proferindo conferências. Muita da sua poesia encontra-se dispersa por jornais e revistas, nomeadamente no Boletim do Núcleo Cultural da Horta e na Atlântida, do Instituto Açoriano de Cultura.

Das suas obras destaca-se: De olhos postos no Teatro de Guerra, Alma açoriana e O imigrante português nas américas, mas muita da sua poesia encontra-se dispersa por jornais e revistas, nomeadamente no Boletim do Núcleo Cultural da Horta e na Atlântida, do Instituto Açoriano de Cultura.

 

Dados retirados do CCA – Cultura Açores

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publicado por picodavigia2 às 19:29

NOME FAGUNDES

Sábado, 15.02.14

Nas duas últimas décadas do século passado, andava eu na casa dos quarente – cinquenta, eram muito comuns e frequentes as acções de formação para professores, umas organizadas pelos organismos regionais dependentes do Ministério da Educação, outras, simplesmente, propostas e oferecidas por entidades ou instituições privadas. Nas escolas, uma procura desusada às mesmas, uma vez que a sua participação, para além de um direito estabelecido no estatuto da carreira docente, enriquecia o currículo e garantia créditos, muitos deles necessários à progressão na carreira e, além disso, geralmente, consubstanciava um dia de alívio da actividade docente e ocasião inequívoca para um convívio mais alegre e folgazão. À noite, na televisão, desfilavam telenovelas brasileiras, muitas delas tendo como protagonista o prestigiado actor António Fagundes.

A participação nessas acções, muitas vezes era de opção livre, mas para outras éramos convidados, por vezes até obrigados a frequentá-las, porquanto, exercendo cargos de chefia nas escolas, devíamos informar-nos sobre temas de interesse didáctico e pedagógico, a fim de, mais tarde, os partilhar com os colegas de grupo na escola a que pertencíamos. Bons e santos tempos, estes.

Certa vez, numa altura em que era responsável pelo Departamento de Língua Portuguesa da escola onde leccionava, intimaram-me a participar numa dessas acções, organizada por um organismo do Ministério, na região onde a escola se situava. E tive que ir.

Logo no primeiro dia de actividades, no encontro inicial, atendendo a que os professores participantes eram oriundos de escolas diferentes e que a maioria não se conhecia, as duas formadoras propuseram que cada um se apresentasse, mas de forma diferente do habitual, através da estória do seu nome.

De rompante, começaram a chover estórias interessantíssimas, umas simples, outras comoventes e uma ou outra, até um pouco dramática. Apareceu de tudo: um nome herdado da avó, uma opção da madrinha, uma irmã mais velha falecida, um avoengo do século passado, a devoção especial a um santo, um milagre de Fátima, a padroeira da freguesia, um simples acaso, etc., etc.. Todas elas estórias muito interessantes e comoventes. relatadas com entusiasmo e, sobretudo, com uma desusada mas bravata ostentação.

Chegou a minha vez. Eu estava numa extremidade da sala e fui o último. Então contei:

- Eu chamo-me Fagundes porque, quando estava grávida de mim, a minha mãe via muitas telenovelas, em que o actor principal era o António Fagundes, por quem a minha mãe tinha um enorme fascínio e de quem gostava muito. Era o seu actor preferido. Quando nasci, em homenagem a ele, pôs-me o nome: “Fagundes”.

Foi uma risota geral. Mas não é que uma professora, na sua ingenuidade pura e cândida, se volta para mim, muito admirada, indagando:

- Ui! Nesse tempo já havia telenovelas?

A risada ainda foi maior.

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publicado por picodavigia2 às 12:27

UM COMPANHEIRO

Sábado, 15.02.14

Logo após a minha chegada a Ponta Delgada, a bordo Carvalho, saindo da Doca e atravessando o Largo de São Francisco, seguia em frente, numa rua de prédios antigos e altos, que me faziam lembrar a rua Direita, em ponto grande. De seguida voltei à esquerda, depois à direita, passei junto ao liceu e, finalmente, cheguei ao jardim Antero de Quental, no cimo do qual ficava o Seminário. Eu seguia só, acabrunhado e triste, pelas ruas de Ponta Delgada cheias de lojas, repletas de carros e apinhadas de gente, a caminho do Seminário. Lamentava o meu infortúnio e indignava-me com o meu destino. Sentia-me só, não conhecia ninguém e, no meu íntimo, desejava, imediatamente, voltar para Flores, donde nunca devia ter saído. Aumentavam, galopantes, as saudades de meu pai, de meus irmãos, da minha casa, da minha avó e até da minha ovelha, Além disso, preocupava-me de sobremaneira e entristecia-me, sobretudo ao pensar que não tinha as chaves, nem sabia como havia de abrir as minhas malas. Mas não podia continuar assim. O Carvalho partiria, dentro em breve, mas para Lisboa, bloqueando-me, por um mês, o regresso às Flores, donde eu agora estava muito longe. Por isso, continuava, só triste e macambúzio, enquanto os outos conversavam, brincavam e tentavam divertir-se. Pensei, então, que não poderia continuar assim. Tinha, necessariamente, que me juntar a eles, meter conversa com alguém.

Foi ainda, no largo de São Francisco que o fiz. Enquanto parámos a observar o Castelo de São Brás, a igreja do Convento de Santo Cristo, a de São José e o Hospital, dirigi-me a um dos que me acompanhavam na demanda do Seminário pela primeira vez e que como eu viajara no Carvalho, desde o Faial, donde era natural. Ouvira-o na doca, quando o padre Agostinho lhe perguntara de onde era, responder que era do Faial, da Praia do Norte, freguesia onde outrora fora pároco o meu primo padre António Cardoso, agora colocado na Feteira. Foi um óptimo pretexto para meter conversa com ele, até porque pensava que algo mais nos unia, pois as nossas ilhas pertenciam ao mesmo distrito, o Faial, depois do Corvo era a ilha mais próxima das Flores e ambas estavam bastante afastadas de São Miguel, onde agora fôramos despejados e ambos nos encontrávamos bem longe de casa, quase perdidos.

Estranhamente nem eu, nem o Manuel Faria de Castro - assim se chamava o meu novo e primeiro interlocutor – nos lembrávamos ou sequer tínhamos uma vaga memória de nos termos cruzado a bordo do Carvalho Araújo. O navio era muito grande, transportava muita gente e nem sequer trajávamos de fato preto como os do segundo ano. 

Como eu, o Manuel Faria também espelhava no rosto um misto de tristeza, de estranheza, de mágoa e de angústia, não tanto por estar em São Miguel, longe de casa e da família, mas pelas consequências da crise sísmica, verificada no ano anterior. A Praia do Norte fora a freguesia faialense mais atingida pelo vulcão dos Capelinhos e a família dele, uma das mais prejudicadas. Os pais e os irmãos haviam ficado sem casa, sem campos, sem gado, sem trabalho, sem nada. Muito possivelmente seriam forçados a emigrar para a América ou para a África. De olhos rasos de lágrimas, lado a lado comigo, a caminho da Gaspar Frutuoso, contava-me as cenas horrorosas que durante dias e meses havia vivido, juntamente com os pais e irmãos, durante aquela catastrófica crise sísmica. Foi esta troca recíproca de mágoas e tristezas, este comungar de dissabores e angústias que nos havia de unir e tornar grandes amigos durante os primeiros anos.

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publicado por picodavigia2 às 08:57





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