PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A MORTE DE PIO XII E A ELEIÇÃO DO NOVO PAPA
Num dos primeiros dias do mês de Outubro, meu Deus, jã vão tantos anos e era eu ainda uma criança, os céus da cidade de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel foram atordoados com o constante e permanente dobrar a finados, dos sinos de todas as igrejas, conventos ermidas e capelas da cidade. Um espectáculo de som dolente, aflitivo, sombrio, mas solene e, para mim, habituado ao singelo badalar dos dois pequenos sinos da torre da igrejinha da Fajã Grande, inesquecível e inolvidável. Horas antes havia-nos sido anunciado no Salão de Estudo do Seminário, de que sua Santidade o Papa Pio XII havia falecido. De seu nome de baptismo Eugénio Maria Giuseppe Giovanni Pacelli, Pio XII nascera em Roma, no longínquo ano de 1876, tendo sido eleito Papa no dia 2 de Março de 1939. A cidade de Ponta Delgada celebrou a morte do Sumo Pontífice com três dias de luto, durante os quais os sinos dobravam de manhã e à tardinha. Na igreja Matriz foram celebradas exéquias solenes, presididas por monsenhor José Gomes, a mais alta figura da igreja açoriana na ilha de São Miguel e nas quais participou todo o clero da cidade, incluindo os professores do Seminário, os seminaristas e muitas autoridades. Pela primeira vez entrei na vetusta mas deslumbrante igreja de São Sebastião que, apesar de ensombrada numa penumbra anunciadora do luto, do pranto e da morte de Sua Santidade, se me deparou duma grandiosidade inexaurível, duma beleza extraordinária e duma imponência monumental, sobretudo se comparada com a pequenina e simples igreja da minha freguesia.
Cerca de duas semanas e meia depois tudo mudou. Os sinos voltaram a anunciar, mas agora em solenes e alegres repiques, a eleição do novo Papa. As notícias sobre o Conclave e os nomes papáveis, assim como todo o cerimonial que acompanhava a eleição do Sumo Pontífice, tinham-nos sido dadas e explicadas pelos perfeitos que as ouviam nos rádios que tinham nos seus quartos. O Conclave foi realizado entre os dias 25 e 28 de Outubro e após onze votações, os cardeais-eleitores, sob a inspiração do Espírito Santo, elegeram como sucessor de Pedro, o cardeal Ângelo Roncalli, arcebispo de Veneza. Era, segundo diziam as notícias, um homem já de avançada de idade, muito gordo, mas muito bondoso, muito amável e simpático para com todos e que adoptou o nome papal de João XXIII.
No dia seguinte voltamos à Matriz, acompanhados dos professores, desta feita para participar num “Te Deum” de acção de graças e regozijo pele eleição do novo Papa.
Habituado às simples e parcas celebrações litúrgicas na igrejinha da Fajã, sob a orientação de um único sacerdote, deslumbrei-me por completo com a mística, a grandiosidade e a sumptuosidade de uma e outra destas celebrações, com a beleza dos paramentos e das alfaias litúrgicas, com a monumentalidade da igreja matriz e sobretudo pelo grande número de sacerdotes e de fiéis presentes.
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CAMINHA
Chegaste,
numa manhã ungida
com o perfume da ternura.
Trouxeste,
uma onda gigante,
destemida e brava,
a abarrotar de felicidade…
Encheste de alegria
e de encanto
palácios frios, desertos, inóspitos.
O teu destino,
agora,
é caminhar,
percorrer uma estrada ampla e longa:
- onde as árvores se hão-de revestir de encanto,
- onde os pássaros hão-de alvoroçar de esplendor,
- onde o mundo se transformará num eirado de trigo,
- onde os homens hão-de saborear a amizade,
- onde o Sol, resplandecerá, desfazendo penumbras e enigmas!
E,
se algum dia,
o fulgor das estrelas afrouxar,
ou quando as manhãs se transformarem em mordaças,
… abre uma janela e aceita qualquer raio de luz,
mesmo que seja débil
ou te pareça supérfluo.
Ao João
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MALDIÇÃO SOBRE A ETERNIDADE
A António Osório
(Pedro da Silveira)
Das árvores que plantei
nenhuma já me pertence
e de quase todas nem comi
ou sequer vi os frutos.
Sempre soube que devemos morrer
E penso que é melhor
não se saber quando nem como.
E quanto ao que deixámos,
não se recorde de quem foi.
Que só assim somos eternos.
Pedro da Silveira, Poemas Ausentes,