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MUDAR O MUNDO

Terça-feira, 25.02.14

“Antes de iniciares o trabalho de mudar o mundo, dá três voltas pela tua casa.”

 (Provérbio chinês)

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publicado por picodavigia2 às 19:09

A PARÓQUIA DA FAJÃ GRANDE

Terça-feira, 25.02.14

A erecção da nova paróquia de São José da Fajã Grande, por separação da de Nossa Senhora do Remédios de Fajãzinha, foi feita por alvará do bispo de Angra, D. Frei Estêvão de Jesus Maria, datado de 20 de Junho de 1861, instituindo de facto uma nova paróquia, incluindo nela as povoações da Fajã, da Ponta e da Cuada.

A igreja paroquial de São José da Fajã Grande nasceu como uma pequena ermida da mesma invocação, cuja construção foi iniciada em 1755, sendo benzida a 24 de Maio de 1757, pelo vigário da Matriz de Santa Cruz e Ouvidor de toda a ilha e também do Corvo, Agostinho Pereira de Lacerda. Situava-se no serrado do Licate. O seu primeiro administrador foi o padre Francisco de Freitas Henriques. Segundo a tradição, esta ermida comunicava, através duma ponte, como solar dos Freitas Henriques, que antes teria pertencido a um sargento-mor, deportado no lugar. O primeiro enterro na ermida teve lugar em Janeiro de 1758. A actual igreja, construída no sítio da antiga ermida, foi iniciada em 1847, ficando concluída em 1849. O templo foi benzido a 1 de Agosto de 1850.sendo feita pelo padre Francisco António da Silveira, ouvidor eclesiástico. Por legado de um emigrante fajãgrandense na América, de seu nome José Luís da Silveira, a igreja recebeu grandes melhoramentos em 1880.

 

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publicado por picodavigia2 às 15:02

MEMÓRIA VAGA

Terça-feira, 25.02.14

(PEDRO DA SILVEIRA)

Era um vapor que passava

e o seu rasto na água.

 

Era uma ave suspensa

no redondo do céu.

 

Era a tarde e a sua

luz esmaecente.

 

E eram as nossas mãos

que se uniam

 

em silêncio.

 

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publicado por picodavigia2 às 14:09

O VESTUÁRIO

Terça-feira, 25.02.14

Não se pode falar, com rigor, de um traje típico da Fajã Grande, no que às primeiras décadas do século passado, diz respeito. As pessoas, no geral, andavam descalço e vestiam pobremente, sendo que a maioria da roupa vinha da América e por isso mesmo, muitas vezes o seu uso tornava as pessoas desaleitadas e pouco elegantes. Apesar de tudo o vestuário permitia uma perfeita distinção entre o pobre e o rico, sobretudo entre os que trabalhavam no campo e os que não faziam nada e que, consequentemente, andavam sempre bem vestidos. Cada qual se vestia de acordo não tanto com as suas possibilidades, mas sobretudo em função do que vinha da América, nas tradicionais encomendas e lhe coubera, muitas vezes por sorte.

De entre as peças de vestuário feminino usadas, antigamente, na Fajã Grande, merecem lugar de destaque a chamada saia peliçada e o bolero. Muitas vezes e em muitas ocasiões, as mulheres usavam um lenço de merino, a cobrir a cabeça, atando-o por debaixo do maxilar inferior ou com as pontas amarradas atrás: de clafá. As mulheres de mais idade, muitas delas viúvas, vestiam totalmente de negro até ao fim da sua vida. Usavam um xaile negro, por cima do vestido e um lenço escuro na cabeça. A forma de trajar o xaile dependia do estado da portadora ou de uma situação passageira porque passava. Assim, as viúvas e as mulheres quando deitavam luto usavam-no dobrado em triângulo e sem cadilhos, para maior simplicidade, fazendo-o cair em ponta, ao longo das costas. Era o chamado xaile de ponta. Por sua vez as mulheres solteiras ou casadas usavam o xaile, dobrando-o como se fosse uma manta. Para sair de casa depois de cozer pão e estar quente do forno ou em dias de chuva ou de noite, as mulheres colocavam o xaile sobre a cabeça, prendendo-o, à frente, com as mãos

As cores preferidas na indumentária feminina variavam com o estado de solteira, casada ou viúva. Estas vestiam de preto até ao fim da sua vida ou até contraírem novas núpcias. As solteiras usavam roupas de cores vivas e claras, as casadas de cores mais modestas, mas tudo isto, na maioria dos casos era condicionado pela roupa que vinha nas sacas da América. Como objectos de adorno, as raparigas solteiras, geralmente, traziam, ao pescoço, um colar ou um fio com uma cruz ou medalha e usavam brincos nas orelhas. Também era muito usado o broche e as prisões de prender o cabelo. O anel, geralmente fantasia, constituiu o mais apreciado objecto de luxo da mulher, que o trazia não só como adorno mas ainda como distintivo do seu estado. As solteiras traziam-no nos dedos indicadores e médio, as casadas, no anelar da mão esquerda.

Os homens vestiam calça de cotim ou de angrim, estas vindas da américa, camisa de flanela e a froca, uma espécie de blusão também de angrim, substituído, poe vezes por uma jaqueta e noutras por uma suera, sendo esta também muito comum às mulheres.

A roupa melhor era designado por roupa de domingo enquanto a outra simplesmente se chamava roupa de trazer.

Vindos da América, também era muito vulgar, nos homens o uso dos alvarozes imitação do inglês overalls. Tratava-se de umas calças de angrim, bastante larga que se vestiam sobre uma camisola feita de lã de ovelha. Os homens, mesmo os mais novos, geralmente cobriam a cabeça com uma boina ou com um boné. Ao domingo alguns usavam chapéu de lona e nos dias de muito sol quase todos recorriam ao chapeu de palha de trigo entrançada, fabricado na própria freguesia e também comuns às mulheres, mas com formas diferentes e distintas para cada um dos sexos. Sobretudo os mais novos andavam, em regra, descalços, sendo a cobertura dos pés quase considerada um luxo escusado e dispendioso. Andar descalço era o mais normal, noentanto, além de ser prejudicial à saúde e inconveniente, na travessia de grotas e ribeiras, e no trânsito por caminhos íngremes e escorregadios. Pior no entanto era a lama que se infiltrava em dedos gretados e em topadas, situação que atingia o seu apogeu nos momentos de tirar o esterco e a urina dos palheiros do gado. Somente os velhos e doentes andavam calçados, sendo muito comuns os chamados sapatos de pele de cabra. Os sapatos que vinham nas encomendas da América, muitas vezes grandes outras curtos e quase sempre usados e desajeitados eram um luxo, sendo o seu uso exclusivo de domingos e dias de festa.
Para certos serviços, nomeadamente o de ceifar erva nas lagoas, eram as botas de borracha, compradas nas lojas da freguesia e muito prejudiciais à saúde. Alguns homens usavam tamancos e as mulheres galochas

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publicado por picodavigia2 às 10:50

PERDÃO

Terça-feira, 25.02.14

O António Tenente era um exímio pescador mas tinha um feitio dos diabos. Autoritário, impulsivo, rabugento, teimoso e, sobretudo, incapaz de perdoar ofensa que lhe fizessem. Anos a fio, na “Senhora da Ajuda”, à pesca da albacora, o afastamento prolongado da família como que o abrutalhara, filtrando-lhe a sensibilidade, arrefecendo-lhe os sentimentos, gravando-lhe, na alma, o restolho da solidão, da apatia e da indiferença. Tornara-se frio, solitário, insensível, implacável e, sobretudo, casmurro. Agora, apenas o mar e só o mar lhe domava os sentimentos e satisfazia os desejos. O mar, para o Tenente, parecia ter-se tornado numa paixão rude, num fascínio relutante, num encanto achaboucado. O mar era algo de que jamais se havia de separar e, mesmo agora, já trôpego e pouco afoito a aventuras em águas distantes e profundas, longe da costa, arrastava-se, até ao porto e passava horas e horas ali, ora sentado sobre a rocha a olhar, sombriamente, o horizonte perdido, ora a pescar de pedra. Hábil e expedito, caniço bem aparelhado, peixe bem engodado e era um abarrotar de sargos, prumbetas, vejas, garoupas, castanhetas, salemas e um ou outro peixe-rei. Enchia a casa, a mulher pagava favores às vizinhas e ainda vendia uma ou outra cambulhada mais robusta e substanciosa.

O Tenente tinta três filhas. A mais velha, a Ermelinda havia-se perdido de amores pelo Augusto, o filho do Chico do Cabeço, ele, também, um velho e experiente pescador de traineira. O Tenente e o Chico, porém, não se falavam. Pior. Odiavam-se a tal ponto que nem se podiam ver. Enredos e discussões a bordo da “Senhora da Ajuda” geraram ameaças, despoletaram insultos e, sobretudo, cimentaram ódios, que, dificilmente, se haviam de dissipar. Ermelinda sabia-o e temia que o progenitor algum dia anuísse ao namorico. O coração, porém, fora mais forte. A simpatia inicial transformara-se em paixão e esta, em namoro. Afinal, ele, o Augusto, também a amava e muito.

Correram os dias, intensificou-se o namoro, divulgou-se pela freguesia a novidade, a qual, rápida e célere, foi parar aos ouvidos do Tenente. Muniu-se o facínora duma corda dobrada em quatro e esperou a filha, ao lusco-fusco, perante os choros e imprecações da mulher que, adivinhando a borrasca, implorava clemência.

Mal entrou Ermelinda em casa, surge-lhe, pela frente, o Tenente, furibundo e terrífico, de chicote em riste, indagando, em tom ameaçador:

- É verdade que namoras o filho daquele pulha? – Perante o silêncio comprometedor da rapariga, o Tenente insistiu, ao mesmo tempo que lhe assapava, como rito inicial da zurzidela, uma forte chicotada nas costas, com a corda que, momentos antes, dobrara em quatro.

Como Ermelinda continuasse calada, pese embora os gritos da mãe que a todo o custo tentava libertar a filha da fúria do pai, este, empurrando a mulher, assapou na rapariga uma nova vergastada e ainda uma terceira. A moça, por entre gemidos de dor e gritos de angústia, caiu por terra, esvaindo-se em sofrimento. Prostrada, ao lado, a mãe alvoroçara-se em choros e berreiros que em nada demoviam o algoz da sua pertinaz atrocidade. Encarando a filha, com os olhos a abarrotar de raiva, furioso e colérico, o Tenente ameaçou:

- Ou esqueces o filho daquele porco, para sempre ou sais por essa porta fora imediatamente.

Muito a custo, Ermelinda, lavada em lágrimas e arquejar em dor, levantou-se em silêncio, abriu a porta e saiu, enquanto o pai continuava a vociferar impropérios e injúrias.

Com o corpo dorido e a alma perfurada, Ermelinda foi procurar alento em casa dos pais do Augusto. Recebeu-a a mãe que o rapaz passava os dias no mato, a roçar. Saia alta madrugada, levava consigo um pedaço de bolo e queijo, uma garrafita de vinho e lá ia, trabalhando à jorna. Regressou já noite, surpreendendo-se com a presença de Ermelinda. O pai, ao lado, até parecia que saboreava com enlevo mesquinho o desprezo a que o Tenente botava a filha, vangloriando-se, cinicamente, de a ver ali, destronada, sofrida, humilhada, pedinte, afastada do aconchego familiar. Casasse o filho com quem quisesse mas ali em casa, rebento de tão ruim cepa, filha daquele Caim, nunca havia de pernoitar, nem lhe havia de lhe chegar uma febra que fosse de comida, nem uma coberta de cama, ou outro provento qualquer.

Fez-se o casamento à socapa, sem boda e sem enxoval e foi o Aníbal, para quem o Augusto, habitualmente, trabalhava e que lhe alojara a moça, que lhe arranjou uma casa, velha e decrépita, um pardieiro, onde, apesar de tudo, poderiam, ao menos, colocar uma barra, uma mesa e acender o lume. Nesse dia o Tenente, a propósito de renovar a cédula, partiu para o Faial na lancha da manhã e voltou na da tarde…

Envoltos em penúria, abalroados por privações mas dignificados pelo amor, sem terras, sem vinhas, sem gado, com parcos recursos, mas fugindo aos vitupérios dos progenitores, Augusto e Ermelinda fixaram-se ali, recuperando e melhorando, aos poucos a velha casa que o amigo lhe emprestara.

Chegou o primeiro rebento. Novamente os ouvidos do Tenente se aferroaram com a novidade. Vociferou, uivou, recalcitrou e protestou, jurando que neto do pelintra do Chico do Cabeço nunca lhe haveria de entrar em casa.

Certa tarde, porém, ao passar junto ao pobre casebre onde morava a filha, parou, espreitou e viu. Viu que um garotito, talvez já com dois anitos, saltava, pinchava, corria com alegria e deslumbramento como se fosse a criança mais feliz do mundo. Cabelos loiros e encaracolados, olhos azuis, rosto muito branco e pele macia, a criança aspergia docilidade, irradiava ternura, emanava inocência. O Tenente, não se conteve. Impulsivamente, saltou o muro e viu-se no pequeno quintal, junto à porta do humilde casebre. O petiz, como que descobrindo, no rosto calejado do velho, uma onda de ternura tão grande como o mar, pressentindo que aquele homem o desejava abraçar, correu na sua direcção, de braços abertos, agarrando-o e abraçando-o, como se sempre o tivesse conhecido. Lágrimas grossas, amargas, dolorosas mas emotivas escorriam dos olhos e cobriam o rosto calejado do Tenente, que, simultaneamente, também se abraçava ao neto, idolatrando-o na sua cândida inocência.

E quando Ermelinda, apercebendo-se de que alguém lhe rondava o casebre, assumiu à porta, chamando o “António”, o pai voltou-se. Ela vendo-o embebido naquele idílio, também se dirigiu para ele de braços abertos, exclamando:

- Está perdoado, meu pai! 

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publicado por picodavigia2 às 09:21





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