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PERDÃO

Domingo, 02.03.14

O fraco nunca consegue perdoar. O perdão é um atributo do forte."

Mahatma Gandhi

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publicado por picodavigia2 às 22:14

PRIMEIROS DIAS

Domingo, 02.03.14

Os meus primeiros dias no Seminário de Santo Cristo, em Ponta Delgada, quando pela primeira vez demandei aquela instituição de ensino, foram para mim de grande dor, angústia e sofrimento. Vivia bastante isolado, perdia-me nos corredores do enorme esconso casarão que era o antigo convento dos Jesuítas, por vezes retirava-me para os cantos mais recônditos, a fim de que não me vissem chorar. Muitas vezes porém, por mais esforço que fizesse, não conseguia ocultar as lágrimas. Foi o que aconteceu, quando, num dia de manhã, no refeitório, ao ver toda aquela claridade a entrar pela enormes janelas, os pratos muito limpos e asseados, os talheres a brilhar como se fossem de prata, o café quentinho, a fumegar e muito adocicado e o pão de trigo fresquinho e muito apetitoso, lembrei-me de meu pai, de meus irmãos, sentados à mesa esborralhada da minha velha e esconsa cozinha, cheia de fumo e de tisna, a beberem café sem açúcar e a comerem uma fatia de pão de milho ou de bolo com um pedaço de queijo ou, quiçá, sem nada, antes de zarparem para os campos a ceifar fetos, a cortar lenha ou a sachar milho, não pude conter o choro. Desatei em soluços intercalados com lágrimas e perdi o apetite. Por mais que tentasse, não conseguia engolir uma dentada que fosse. Um dos prefeitos veio ter comigo, interrogando-me sobre a razão das minhas lágrimas. Receoso e tímido, com vergonha de confessar a verdade, respondi que era por causa da manteiga. Eu chorava porque não gostava da manteiga de São Miguel. E fui alvo de chacota geral, quando o prefeito, em voz alta e em tom de gozo, exclamou:

- Olhem, o menino! Não gosta da manteiga de São Miguel! Vamos ter que mandar vir manteiga das Flores!

Levantávamo-nos bastante cedo, mas isso não me incomodava. Estava habituado a fazê-lo na Fajã Grande para ir buscar as vacas. E quando elas estavam nos Lavadouros, levantava-me bem mais cedo do que no Seminário. O que me amedrontava de sobremaneira e me atormentava, permanentemente, era o ter que atravessar aqueles corredores subterrâneos, aqueles recantos tenebrosos até chegar à igreja, o andar para aqui e para acolá, ao toque da sineta, passar o dia inteiro dentro de casa, sem ver os pássaros, as ovelhas e as galinhas, sem saborear o perfume das ervas dos campos, não sentir o barulho do vento, não ouvir tilintar as campainhas das vacas, não me molhar com a chuva e, sobretudo, não ver o mar. Tudo ali era estranho, descomunal e muito diferente da vida que eu tinha na Fajã Grande, antes de embarcar no Carvalho, naquela tarde fatídica em que meu pai me veio trazer ao porto das Lajes. 

No entanto haviam começado as aulas e isso alegrava-me bastante. Gostava muito de estudar, de ler, de aprender e adorava a maioria das disciplinas, nomeadamente Matemática, Ciências, Português, Religião e Francês. Apenas a Musica, o Desenho e, sobretudo, o Latim me desagradavam. Haviam-me dito sempre que eu não “tinha ouvido” para a Música, nem “jeito” para Desenho. Quanto ao Latim ainda digeri, relativamente bem, o “rosa - rosae” e o “dominus - domini”, mas quando chegou ao “bónus – bona - bonum”, em que a declinação do adjectivo se devia fazer com os três géneros, embatuquei quase por completo. Além disso o professor de Latim era muito rigoroso e impunha um clima de temor, de medo e de pouco à vontade nas aulas. Por isso mesmo e enquanto nas outras disciplinas tinha boas notas, nestas, geralmente, não passava do dez, do onze ou doze, pese embora nunca tenha tido negativas.

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publicado por picodavigia2 às 17:11

O CAVALO

Domingo, 02.03.14

Numa determinada terra, havia um homem que tinha um cavalo que lhe era muito útil, pois com ele lavrava os campos, puxava uma carroça para acarretar os produtos agrícolas, movia uma atafona para moer os cereais e até transportava o homem e a sua família. O cavalo era-lhe, pois, de grande préstimo e enorme valor.

Mas, o pior é que o cavalo comia e comia muito e, ao comer, gastava e diminuía os lucros do seu dono. Pelo que o homem decidiu ir diminuindo a ração do animal, progressivamente, uns dias mais, noutros menos, na esperança de que o animal não emagrecesse muito e, assim, continuasse a ser rentável para o dono. O cavalo, embora emagrecendo e definhando aos poucos, lá se foi aguentando, enquanto o dono resplandecia de felicidade, por ver o seu pecúlio crescer, ainda que o cavalo pudesse, em alguns dias, ostentar, à mistura com uma certa má vontade, algum cansaço ou fraqueza.

Um dia, consternado, o homem disse à mulher:

- Olha, o nosso cavalo que agora até tinha deixado de comer, morreu.

Verdadeiramente insensato, este homem.

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publicado por picodavigia2 às 10:34

MARÇO MARÇAGÃO

Domingo, 02.03.14

“Março marçagão, de manhã nariz de cão e à tarde sol de verão.”

 

Muito conhecido provérbio mas com um sentido muito real e profundo na Fajã Grande, onde durante quase todo o ano, mas com bastante maior incidência no mês de Março, o tempo era senhor, durante o mesmo dia, de uma enorme instabilidade. Assim no mês de Março, na Fajã Grande, se o tempo estivesse mau de manhã era necessário estar atento e, sobretudo, disponível para os trabalhos do campo, porque de tarde, normalmente viria bom tempo e as condições atmosféricas permitiria o regresso aos campos. O trabalho agrícola exigia tanto que se deviam aproveitar todos os momentos de bom tempo.

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publicado por picodavigia2 às 07:53

HERA E OS FESTIVAIS DE MASTRONÁLIA

Domingo, 02.03.14

Hera, filha de Cronos e Réia, era a deusa da serenidade no casamento, da frescura dos pastos e da perseverança das vacas. Era irmã e esposa de Zeus, o poderoso senhor absoluto e deus dos deuses, sendo, habitualmente, retratada como doce, majestosa e solene, coroada como uma rainha, com uma coroa de ouro. Hera, também, ostentava na sua mão uma romã, símbolo da fertilidade, do sangue, da frieza e da morte.

Sendo responsável e defensora da fidelidade conjugal, Hera tinha, por vezes e sobretudo quando ofendida na sua dignidade, um temperamento ciumento e agressivo contra qualquer relação extra conjugal e, além disso, odiava e perseguia as amantes de Zeus e os filhos de tais relacionamentos. O único filho de Zeus que ela não odiava, antes gostava, era Hermes e sua mãe Maia, pois ficara surpreendida com a inteligência e beleza que o jovem revelava,

A deusa Hera tinha, edificados em sua honra, sete templos, em toda a Grécia. Nas suas representações aos humanos, mostrava, apenas, os seus olhos e usava uma pena de pavão, a sua ave predilecta, para marcar os locais que estavam sob a sua protecção.

Hera era muito vaidosa e sempre quis ser mais bonita que Afrodite, a sua maior e principal inimiga. Irmã e esposa de Zeus, a mais excelsa das deusas do Olimpo, foi descrita e retratada na Ilíada como orgulhosa, obstinada, ciumenta e rixosa. Com Zeus teve todos os seus filhos: Hebe, Hefesto, Ares, Éris e Ilitia. Odiava sobretudo Héracles, o qual procurou, por diversas vezes, matar e, na guerra de Tróia, por ódio aos troianos, devido ao julgamento de Páris, ajudou e apoiou os gregos.

Hera, para além de deusa, era rainha do Olimpo, conhecida também como protectora e defensora da vida e da mulher. Reinava no Olimpo ao lado de Zeus, seu marido, por quem chegou a ser muito humilhada, sobretudo pelas suas traições e atitudes, nomeadamente, quando ele, sozinho, gerou Atena, mostrando, assim, que não precisava de Hera nem para conceber um filho. Triste e desolada, Hera procurava consolo e amparo junto de Hiógenes, que a amava apaixonadamente. Ela, porém, nunca correspondeu a tão grande paixão, tentando sempre ignorá-la.

Um dos graves episódios de ciúmes de Hera foi o que aconteceu com a deusa Calisto que por ser muita bela lhe conquistou o marido. Hera para os separar transformou Calisto numa ursa que, assim, passou a viver numa floresta, muito isolada de todos e muito assustada com medo de ser morta pelos caçadores. Até que um dia, a ursa ao reconhecer o seu filho Arcas, correu para abraçá-lo, mas Arcas não a reconheceu e preparou o arco para lhe atirar. Hera, porém, prevendo o que iria acontecer lançou um feitiço e enviou os dois para os céus, transformando-os em constelações, nascendo assim a Ursa Maior e a Ursa Menor. Mas mesmo assim, Hera ainda tinha muita raiva de sua rival e, por isso, pediu a Tétis e a Oceano, divindades do mar, que nunca deixassem as duas ursas descansar nas suas águas. Essa a razão por que aquelas duas constelações ficam sempre em círculos e nunca desaparecem no céu, nem descem para trás das águas como as outras constelações e as suas estrelas.

Outro episódio de ciúme de Hera foi quando encontrou Zeus com outra amante. Era a deusa Io, mas Hera ao perceber que ela se aproximava de Zeus, transformou-a numa vaca. Hera pediu a Zeus que lhe desse a vaca como presente, o que Zeus não lhe pode negar, fazendo-lhe a vontade. Então ela entregou a vaca aos cuidados de Argos, um monstro de muitos olhos, que ao dormir nunca os fechava todos e, assim, a vaca estava sempre vigiada. Mas Zeus ao ver o sofrimento da amante pediu a Hermes que matasse Argos. Então Hermes tocou uma música, fazendo com que Argos adormecesse por completo, fechando, assim, todos os olhos, após o que lhe arrancou a cabeça.

Então Hera muito triste pelo sucedido, pegou nos olhos de Argos e colocou-os na cauda de sua ave predilecta, o pavão, onde ainda hoje permanecem. A deusa continuou perseguindo Io, mas Zeus prometeu que não a teria mais com a amante. Hera aceitou a promessa e devolveu a aparência humana a Io.

Hera era homenageada, com pompa, nos celebérrimos festivais da Matronália, realizados no dia 1 de Março de cada ano. Tratava-se de grandes e solenes festejos dedicados às mulheres em geral, que, nesse dia, recebiam presentes e orações de seus maridos. Nos templos da deusa, celebravam-se rituais sagrados onde as mulheres deviam usar os cabelos soltos e não podiam usar cintos ou nenhum nó nas roupas. Os seus fiéis e devotos mortais ofereciam-lhe um vaso com um ramalhete de flores, que deviam estar amarradas com uma fita amarela.

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publicado por picodavigia2 às 00:51





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