PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A LENDA DA BAIXA DAS SETE MARIAS
Antigamente, na ilha das Flores era costume serem as mulheres a ir às lapas, indo, geralmente, em grupo a fim de que em caso de perigo ou de alguma queda se pudessem proteger umas às outras. O conduto, naqueles tempos rareava e as lapas eram uma boa alternativa para ao jantar acompanhar o pão, as batatas ou os inhames. Se apanhavam muitas guisavam-nas como molho Afonso, ou com pão de milho esmiolado. Se apanhavam poucas faziam tortas de ovos, juntando-lhe salso e ramos de cebola picados
Na Fajã Grande, talvez para alertar as mulheres que iam às lapas para os perigos do mar, contava-se que, antigamente, num certo dia, sete raparigas das Lajes, todas de nome Maria, muito comum na ilha, combinaram ir às lapas para uma baixa que costumava ter muitas lapas e que ficava por fora do Mosteiro.
O mar estava manso e não havia muito perigo. Aguardaram que a maré descesse e começaram a apanhar lapas. Mas quando estava cheia, a maré cobria aquela baixa e, por isso, ela tinha muitos limos e sargaço escorregadio. De vez em quando, vinha uma vaguinha maior que, respingando na baixa a água domar salpicava as roupas das mulheres. Se não tivessem cuidado ficariam todas molhadas. Por isso, muito alegres e divertidas com aquele vai e vem do mar, iam correndo para cima e para baixo e saltando em cima da baixa.
Mas, de repente, sem elas se aperceberem, veio uma vaga maior. Ao fugir uma das mulheres escorregou sobre os limos e caiu à água, mas não sabia nadar. Vendo-a aflita, as companheiras, que também não sabiam nadar, nervosas e assarapantadas começaram a atirar-se ao mar uns atrás das outras para a salvar. Mas o mar, de repente, tinha começado a puxar muito e a ficar mais “brado” e as sete Marias, umas atrás das outras foram desaparecendo, envoltas pelo remoinho de água, sem que se pudessem salvar, morrendo todas ali.
As famílias, os vizinhos choraram uma desgraça tão grande. Nunca tal semelhante havia acontecido nas Lajes. Dizem que durante muitos anos as mulheres nunca mais se atreveram a ir às lapas àquele lugar onde as sete morreram afogadas e, por isso, passaram a chamar-lhe aquela pedra malfadada a Baixa das Sete Marias, nome pelo qual, ainda hoje, o povo da ilha das Flores conhecem aquela baixa do Mosteiro.
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SAUDADE - CHAMARRITA DO PICO
Quadras da Chamarrita do Pico, cantadas nas Folgas. Tema – Saudade:
A palavra saudade
A tristeza a inventou;
Quem não sentiu a saudade,
É certo que nunca amou.
A saudade é com certeza
O final de quem amou,
Pois apenas fica a cinza,
Quando o fogo se apagou.
A saudade é um luto,
Uma dor, uma paixão,
É um constante martírio
Que trago no coração.
A saudade é um mal,
Que nem suspirar permite;
É um tormento de ausência,
É uma dor sem limite.
A saudade é uma flor,
Todo o ano reverdece;
Pobre de quem tem amores,
Muitos tormentos, padece.
A saudade foi criada,
P´ra castigo dos mortais,
Quem traz saudades consigo,
Só dá suspiros e ais.
Cantigas da Chamarrita do Pico – U. S. da Madalena
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ALFREDO MESQUITA
O jornalista e escritor Alfredo de Mesquita. Pimentel nasceu em Angra do Heroísmo, em 1871, tendo falecido em Paris, em 1931. Ao concluir o liceu em Angra do Heroísmo, diplomou-se no Instituto Industrial e Comercial de Lisboa. Foi secretário da Escola Naval e da Biblioteca da Marinha, onde escreveu os primeiros livros. Como jornalista, foi redactor de vários periódicos lisboetas: Democracia Portuguesa, Revista Ilustrada, Portugal, Correio Nacional, Jornal do Comércio, Diário de Notícias e da revista Ocidente. Como escritor revelou o seu espírito humorístico e crítico bastante profundo. Escreveu biografias, ensaios literários, contos, teatro e literatura de viagens. A partir de 1911, iniciou a carreira diplomática como cônsul de segunda classe, em Durban, Orense, Melbourne, Constantinopla, Roma, Nova York e Hamburgo. Foi membro da maçonaria, na Loja Tolerância, em Lisboa. Era detentor de condecorações da Ordem de Cristo e da Legião de Honra. Carlos Enes
Obras principais: Júlio César Machado, Portugal Moribundo, Companheiros de bordo, Cartas da Hollanda, Memórias de um fura-vidas, A Améric e João Chagas
Dados retirados do CCA – Cultura Açores