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A MATANÇA DO PORCO EM SÃO CAETANO - VERSÃO REDUZIDA

Quinta-feira, 13.03.14

A Matança do Porco constituía um verdadeiro dia de festa na freguesia de São Caetano. Os três dias que a antecediam eram de grande azáfama. Para além de preparar e picar as cebolas de rama destinadas às morcelas, era necessáriocozer o bolo e os inhames, assar as batatas-doces e a preparar o peixe, às vezes até pescado pela própria família, a carne de carneiro, o feijão, as lulas e outras iguarias e ir buscar o vinho à adega.

O dia da Matança iniciava-se ao lusco-fusco. Os parentes e amigos que vinham ajudar eram recebidos com um traguinho de aguardente ou de traçado e figos passados. As mulheres embrenhavam-se, de imediato, a colaborar nas lides da cozinha, amassando as cebolas e preparando as refeições enquanto os homens, se quedavam junto ao curral, apreciando o porco, avaliando o seu peso e qualidade, ao mesmo tempo que enrolavam uma ou duas pitadas de tabaco numa folha de casca de milho, transformando-o em cigarro que iam acendendo, sucessivamente, uns nos outros.

Uma vez morto, o porco era totalmente chamuscado com vassouras de mato, sendo, depois, muito bem lavado e rapado. De seguida era aberto, sendo lhe retirados os miúdos, incluindo as tripas que eram separadas, a fim de se proceder à sua rígida, cuidadosa e exigente lavagem, com água, sal, farinha de milho, limas azedas, etc. As grossas, assim como o bucho, eram cheias com o preparado das morcelas. As outras guardavam-se para as linguiças.

O abrir e o desamanhar do porco eram realizados pelos mais sábios e experientes. Os bofes, o coração e uns pedacinhos de carne da barriga eram guisados com batata branca, o fígado transformado em iscas e, juntamente com as sobras do almoço, constituíam a ceia, onde não faltavam os convidados. De tarde, as mulheres lavavam as tripas, enquanto os homens jogavam ao truque e à sueca. Mas a mesa não se levantava e, já pela noite dentro, entre jogos de cartas e copos de vinho, prova-se a morcela. Era também por esta altura que apareciam algumas visitas estranhas, com o intuito de assaltar as morcelas. Entre folguedos e cantigas, por vezes até entre bailados de chamarrita, todos eram brindados com vinho e comida, onde não faltava a saborosa morcela.

Depois de pendurado a um tirante pelo focinho, geralmente na loja ou na própria cozinha, o porco era aberto nas costas, de cima para baixo, sendo-lhe espetadas umas canas atravessadas que mantinham o interior do animal aberto, a fim de o enxugar. Por baixo colocava-se uma pequena celha para aparar os restos de sangue e água que escorriam do interior do animal. No dia seguinte, desmanchava-se, separando, carne, ossos, lombos e toucinho. Algumas postas eram destinadas a presentes, nunca faltando a talhada de toucinho para a Igreja. Do lombo faziam-se os primeiros bifes para o jantar, juntamente com a morcela assada ou frita. A cabeça também era separada e preparada para com ela fazer a tradicional sopa, também incluída no jantar. O toucinho era derretido, quase na totalidade e, depois de se retirar a banha, transformava-se em pequenos mas deliciosos torresmos de graxa. Uma parte da carne e os ossos eram salgados e guardados nas salgadeiras, enquanto outra era finamente picada para as linguiças, que se haviam de encher alguns dias depois, a fim de ir garantindo, juntamente com a carne, os torresmos e o toucinho, o sustento de cada família, durante o ano.

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publicado por picodavigia2 às 21:33

O LAVRADOR D'ARADA

Quinta-feira, 13.03.14

Um dos rimances mais conhecido, declamado e até cantado na Fajã Grande, nos anos cinquenta era o “O Lavrador da Arada”. Era também cantado pelos foliões do Espírito Santo quando acompanhavam os cortejos para a igreja, para matar o gado ou para distribuir a carne ou levar as sortes. Trata-se de um belo poema que pretende mostrar aos crentes, como Jesus Cristo, tanto ama a pobreza e os pobres, que até se disfarçou de mendigo para por à prova a caridade dos homens.

O rimance rezava assim:

 

 “Vindo o lavrador da arada

Encontrou um pobrezinho.

E o pobrezinho lhe disse:

- Leva-me no teu carrinho.

Deu-lhe a mão ao lavrador

E no seu carro o metia.

Leva-o para a sua casa,

P’rá melhor sala que tinha.

Mandou fazer-lhe a ceia,

Do melhor manjar que havia.

Sentou-o na sua mesa,

Mas o pobre não comia.

Mandou-lhe fazer a cama,

Da melhor roupa que tinha.

Por baixo, damasco roxo,

Por cima, cambraia fina.

Lá pela noite adiante

O pobrezinho gemia.

Levanta-se o lavrador

A ver o que o pobre tinha.

Encontrou-o crucificado

Numa cruz de prata fina.

- Ó, meu Deus, se eu tal soubera

Que em minha casa eu vos tinha.

Mandava fazer preparos

Do melhor que encontraria.

- Cala-te aí, lavrador,

Não fales com fantasia.

No céu te tenho guardado,

Cadeira de porta fina.

Tua mulher ao teu lado

Que também o merecia.”

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publicado por picodavigia2 às 21:14

CONTROLE

Quinta-feira, 13.03.14

Aeroporto. Pequeno aeroporto, sem grande movimento, diga-se. Hora de embarque. Um reduzido grupo aguarda a sua vez, a fim de se despojar, por momentos e provisoriamente, de tudo o que carregue consigo e seja um metal qualquer, não vá o alarme denunciar.

Um casal aguarda a sua vez. Ele bonacheirão, alienado de pormenores, com pouco de que se despojasse. Ela toda aperaltada, brunida, pintada, a simular elegâncias inexistentes, a aspergir aromas de importância e bem carregada de pulseiras, colares, brincos, prisões, fivelas e um brutal relógio de pulso. Aproximou-se e lá foi retirando um pouco de tudo, que ia colocando, cuidadosamente, dentro da caixinha.

O segurança incentivava. Se tinha mais isto e mais aquilo e aquele outro. Ela que nada. Não tinha mais nada. Tentou, então passar o arco fatídico. Qual o quê! O alarme, sem escrúpulos, soou, zuniu, alertou e impediu-a de passar. Esquecera uma pulseira que retirou de imediato e colocou na caixa. Nova tentativa e o raio do alarme parecia que estava louco. Detectou mais um colar, uma fivela e um broche de cabelo. Por fim mais nada tinha. Agora sim, podia passar limpinha. O alarme é que não foi na cantiga. E voltou a impedi-la de passar. Mas porquê, se não tinha mais nada, se já se tinha despojado de tudo o qu era ouro ou outro metal…

“De tudo não” – concluiu o guarda. Deve ser dos sapatos ou melhor dos botins. Tem que os tirar. O quê? Tirar os botins, por causa daquele maldito alarme. Era o que faltava… Já tinha tirado o casaco, o cinto, o cachecol e agora os botins… Mas sem tirar os botins é que não passava…

Sentou-se e descalçou-se. Só que, por baixo daquele ouro, daquele aparente bem vestir, daquele aparato de elegância, daquela grandeza camuflada, daquele trejeito de “gran-fina”, tinha – imagine-se – as meias rotas. Num dos pés um dos dedos estava quase todo ao léu!...

Risotas escondidas, murmúrios silenciosos, comentários abafados dos circundantes já fartos de tanto esperar.

E entre as glosas, lá saiu uma mais afoita:

- Se o segurança lhe manda tirar as calças, aposto que tem selote nas cuecas…

Mas não foi necessário pois retirados os botins, o raio do alarme calou-se e ela pode, finalmente, passar no controle.

 

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publicado por picodavigia2 às 16:54

TEÓFILO BRAGA

Quinta-feira, 13.03.14

Joaquim Teófilo Fernandes Braga, escritor, pensador, professor e político nasceu em Ponta Delgada, em 1843 e faleceu em Lisboa, em 1924. Frequentou o Liceu de Ponta Delgada e em Coimbra concluiu os estudos que lhe permitiam o acesso ao ensino superior. Matriculado em Direito na Universidade de Coimbra, doutorando-se em Direito. Foi professor no Curso Superior de Letras de Lisboa, destacando-se como uma notável figura intelectual, com repercussão europeia, sendo a sua orientação republicana, socializante e anti-clerical marcada por um carácter demasiado propenso para o facciosismo da opinião. Mas ao longo da vida deu provas de excepcional devoção às causas nacionais, nelas empenhando o melhor da sua energia intelectual de doutrinário da República

A sua vasta obra de polígrafo cobre áreas vastas, da poesia e da ficção à filosofia, à história da cultura e à historiografia crítico-literária. Deixou a sua autobiografia intelectual e de figura pública em Quarenta Anos de Vida Literária e Mocidade de Teófilo. Outras obras de literatura: Visão dos Tempos, Tempestades Sonoras, A Ondina do Lago, Contos Fantásticos, Teocracias Literárias: relance sobre o estado actual da literatura portuguesa, Cancioneiro e Romanceiro Geral portuguez: confecção e estudos, Contos Populares do Arquipélago Açoriano, Folhas Verdes, Torrentes, Soluções Positivas da Política Portuguesa, Miragens Seculares, As Modernas Ideias na Literatura Portuguesa, História da Universidade de Coimbra, A Pátria Portuguesa, Quarenta Anos de Vida Literária, Alma Portuguesa: Viriatho, História da Literatura Portuguesa, Perspectivas da Literatura Portuguesa do Século XIX, Farpa e Dicionário Bibliográfico Poryuguês

“O pensamento político de Teófilo Braga apresenta-nos uma assinalável constância. A via definidora do seu projecto de sociedade irá fixar-se, de uma vez por todas, a partir do momento em que secunda a renovação global, estética e política, defendida em termos amplos por Antero de Quental no decurso da “Questão Coimbrã” (1865-1866)”.

 

Dados retirados do CCA – Cultura Açores

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publicado por picodavigia2 às 06:16





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