PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
SONHO MATERNAL
Julguei-me em teu regaço a descansar,
Como fiz, tantas vezes, em criança,
E teu sublime amor reconquistar,
Num beijo de ternura e d’esperança.
Senti-me navegar em segurança,
E num berço d’espuma me embalar,
Sonhando que teu ser também alcança,
O amor que do meu vejo evaporar.
E ouvi, porque, baixinho, me dizias:
- Descansa em meu regaço, confiante,
Porque te amo, meu filho! - Radiante,
Julguei, ó minha mãe, que ainda vivias,
Que eras o sol, o amparo de meus dias!
Foi em vão que sonhei!... Foi um instante!
Angra, 1966
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NAUFRÁGIOS SÃO LIÇÕES
“Naufrágios são lições.”
Apesar de sucinto, este adágio muito utilizado na Fajã Grande, continha uma máxima mundial: A experiência é a mestra da vida.
Era simplesmente isto que com ele se queria significar, por isso era vezes sem conta repetido, sobretudo aos mais jovens e inexperientes. Sempre que cometermos um erro ou fizermos algo mal, não devemos recriminarmo-nos, mas sim aprender com os erros. Os adultos repetiam-nos a si próprios, a fim de se motivarem a não repetir algo que lhes corresse mal.
Logicamente que a criação deste adágio e a sua frequente utilização, teria a ver com um fenómeno muito frequente na Fajã Grande, ou seja, o número bastante grande de acidentes que ocorriam nos mares, baixios e escolhos que rodeavam a freguesia, o maior dos quais foi o da Bidarta, acontecido em 1915.
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ATENA
Atena, deusa da guerra, da civilização, da sabedoria, da estratégia, das artes, da justiça e da habilidade, era filha de Zeus e de Métis, sendo esta a primeira esposa de Zeus e uma espécie de personificação da prudência.
Certo dia, Zeus foi, antecipadamente, avisado por Gaia e Urano, a primeira personificando a Terra e o segundo o Céu, de que a filha que havia de nascer de Métis seria mais poderosa do que que ele próprio e que assim corria o risco de ser destronado. Para evitar tal agravo, Zeus recorreu a um estranho estratagema, através do qual, antecipando-se a Médicis, fez com que a filha fosse gerada no seu próprio ventre e não no da esposa. Assim, Atena foi dada à luz da cabeça do seu pai, junto às margens do rio Tritão, nascendo completamente adulta e, além disso, armada. Mas antes de Atena nascer, Zeus sentiu uma enorme e insuportável dor de cabeça, pelo que pediu a Hefestos, deus do ferro, que lhe abrisse o crânio com um machado, a fim de que conseguisse parir a própria filha.
Atena tornou-se, por tudo isto, a filha bem-amada de Zeus que a sentou, no Olimpo, à sua direita, tornando-a sua conselheira e, algum tempo depois, permitiu que ela conduzisse a carruagem de Diomedes, provocando, no entanto, alguns distúrbios dramáticos: feriu Ares, matou Ajax e provocou a guerra entre gregos e troianos. Além disso, Atena também teve uma actuação indirecta na captura de Paládio pelos gregos, o que acabou por provocar a queda de Tróia.
Atenas teve um relacionamento profundo com Aquiles e favoreceu-o na luta contra Agamémnon, por um lado aconselhando-o a que moderasse a sua fúria e, por outro, colaborando com ele na morte de Heitor. Mas o principal e mais importante relacionamento de Atena foi com Aquiles, de quem se tornou amiga predilecta e protectora durante a sua longa e atribulada viagem de regresso a Ítaca, ajudando-o a libertar-se dos embustes da feiticeira Circe. Quando Aquiles, finalmente, chegando a casa, se entregou ao desalento porque ninguém o reconheceu, a não ser o seu cão Argos, a deusa tornou-se sua íntima confidente, amparando-o e consolando-o. Atena aceitou apoiar Ulisses e ligar-se, perpetuamente, a ele, porque o considerava o mais valente e o mais astuto dos mortais, enquanto ela era a mais sábia e a mais engenhosa das divindades. Também favoreceu Telémaco, filho de Ulisses, disfarçando-se de Mentor, aconselhando-o a ir informar-se sobre o destino de seu pai, profetizando que ele em breve estaria de volta e, mais tarde, instruindo-o sobre a maneira como havia de agir contra os malévolos pretendentes que se aproximavam e provocavam a sua mãe, Penélope. Sob o mesmo disfarce apresentou-se diante daqueles predadores de viúvas, no momento da peleja final, incitando Ulisses a lutar contra eles. Transformando-se em andorinha, desviava as lanças dos impostores e guiava, com pontaria certeira, as de Ulisses.
Foi Atena que vestiu Pandora com um manto de prata e um maravilhoso véu bordado, pondo-lhe na cabeça uma grinalda de flores e uma coroa de ouro, tornando-se aliada de Zeus na luta contra os Titãs e, mais tarde, contra os Gigantes.
Quando Cécrops se tornou rei da Ática, os deuses olímpicos decidiram repartir o reino a fim de estabelecerem os seus cultos nas várias cidades. Posídon chegou primeiro à capital recém-fundada e, com seu tridente, feriu o solo da Acrópole, de onde brotou uma fonte de água salgada. Atena apareceu depois dele, mas reivindicou a posse da cidade, plantando ali a uma oliveira. Ambos iniciaram uma disputa, e Zeus designou como árbitros os outros deuses. Atena foi declarada vencedora porque a oliveira foi considerada mais útil para os humanos do que a água salgada. Assim a deusa assumiu a tutela da cidade e emprestou-lhe o seu nome. Mais tarde Atena foi encomendar armas a Hefestos, mas este, tomado de paixão pela deusa, tentou seduzi-la. Ela rejeitou-o, mas Hefestos não desistiu e ejaculou sobre a sua coxa. Atena limpou o sémen e, enojada, arrojou o pano que usara sobre Gaia, a Terra que, em segredo, gerou um filho com o sémen rejeitado, a quem pôs o nome de Erictónio, tornando-o imortal. De seguida, colocou-o dentro de um cesto, que confiou aos cuidados de um filho de Cécrops, Pandroso, mas proibiu-o de olhar o conteúdo. As irmãs de Pandroso, vencidas pela curiosidade, abriram o cesto mas ficaram horrorizadas ante a visão, por quanto, lá dentro, envolvendo o bebé, estava uma serpente.
Atena ainda enriqueceu o seu excelso e deslumbrante currículo, participando num concurso de beleza, juntamente com Afrodite e Hera, tendo como juiz Páris. Hera, furou o sistema, subornando Páris, garantindo-lhe o domínio sobre todos os reis da terra e a vitória em todas as guerras em que se envolvesse, se ela fosse a escolhida. Mas foi Atena quem acabou por vencer o concurso, sendo proclamada a mais bela.
Vários personagens míticos foram punidos por Atena em consequência de profanações e ultrajes à sua divindade, entre os quais Ajax Menor, o filho de Oileu, príncipe da Lócrida, por ter violado Cassandra, dentro do santuário da deusa. Atena não gostou da profanação e castigou-o severamente: o seu barco, atingido por um raio, naufragou e o seu povo foi assolado por uma praga, sendo obrigado a expiá-la ao longo mil anos, durante os quais os locridenses foram obrigados a enviar, anualmente, duas donzelas para serem sacrificadas pelos troianos. Também Auge, sua sacerdotisa, maculou o seu santuário, na Arcádia, pelo que Atena castigou aquela região, tornando-a infértil até ao dia em que o rei decidiu expulsar dali a devassa e impudica sacerdotisa, vendendo-a como escrava. Pelo mesmo motivo mandou que Tideu matasse Ismene, princesa da Beócia. Mas não ficaram por aqui as punições de Atena aos facínoras e prevaricadores. Ilus foi cego pela deusa por ter destapado a estátua de Paládio, cuja contemplação era vedada aos mortais, Aracne foi transformada em aranha por ter ousado desafiar a própria deusa numa competição de bordados e Mérope foi transformado em coruja, simplesmente, por ter ridicularizado os olhos cinzentos da deusa e zombado dos outros deuses. Atena ainda enlouqueceu Aias Telamânios por ameaçar matar os líderes gregos durante a Guerra de Tróia, matou Laoconte e seus filhos, enviando duas serpentes marinhas para os estrangulr, a fim de impedir que ele revelassem aos troianos o segredo do Cavalo de Tróia e fez desabar uma terrífica peste sobre a Arcádia porque seu príncipe Teutis, a ferira, acidentalmente. Foi Atena que transformou Medusa num monstro, simplesmente por se ter considerado mais bela do que ela e, posteriormente, ajudou Perseu a matá-la, fixando a cabeça da górgona no escudo do jovem, com o qual aterrorizava os seus inimigos.
Mas Atena também se revelou benevolente e generosa. Para evitar que Corónis, princesa da Fócida, fosse violentada por Posídon, transformou-a num corvo. Para proteger Nictímene de destino semelhante metamorfoseou-a em coruja, tomando-a como o seu animal simbólico. Ajudou Argos, artesão de Iolco, a construir um navio com o seu nome e que conduziu os Argonautas e deu a beber o sangue da Medusa a Asclépio, a fim de que ele aumentasse os seus poderes curativos. Na área da educação, ensinou a Dédalo a arte da construção, ajudou Dánao a fabricar um barco para fugir da Argólida com as suas cinquenta filhas, a fim de, mais tarde, as purificar através do assassinato dos seus maridos, inspirou o carpinteiro Epeios para que construísse o Cavalo de Tróia, ensinou a Eurínome a arte da tecelagem e concedeu-lhe a sabedoria, conseguindo para ela também um bom esposo e também ensinou às filhas de Coroneu e às de Pândaro a arte da tecelagem. Foi Atena que restituiu a vida a Perdix, sobrinho e pupilo de Dédalo, sob a forma de um faisão, como recompensa pelas invenções que havia transmitido à humanidade, cegou Tirésias por ele a ter visto nua enquanto se banhava, mas compensou-o concedendo-lhe o dom da profecia, deu dentes de dragão a Eetes, rei da Cólquida, e a Cadmo, rei de Tebas, para que eles dessem origem a uma valente raça de guerreiros e disponibilizou ajuda a Hércules, no difícil cumprimento dos seus Doze Trabalhos. Atena ainda foi a grande auxiliadora dos gregos na Guerra de Tróia e em particular ajudou Aquiles e Ulisses e colaborou com Belerofonte a capturar o cavalo alado Pégaso, instruindo-o e dando-lhe uma rédea especial, de ouro, para que ele o pudesse domar.
Atena, para além de forte, justa e bela, era dotada de uma profunda sabedoria e conhecia todas as artes e estratégias, levando a bom termo todos os seus propósitos. Por isso é que foi sempre, universalmente, respeitada e admirada.
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PALAVRAS INVENTADAS
“Nós não somos do século de inventar palavras. As palavras já foram inventadas. Nós somos do século de inventar outra vez as palavras que já foram inventadas.”
Almada Negreiros