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A TRÊS TEMPOS

Sábado, 15.03.14

I - AO ROMPER DA AURORA

Na década de cinquenta, na Fajã Grande, Ilha das Flores, dava-se, inequivocamente, cumprimento ao estabelecido no velho adágio “Deitar cedo e cedo erguer…”, pelo que o povo caminhava para os campos e trabalhava, de acordo com a popular modinha beirã “Ao romper da bela aurora, vai o pastorzinho…”

Na realidade, naqueles longínquos anos, todos os dias, incluindo, domingos, dias santos, feriados e dias santos abolidos, o dia de trabalho iniciava-se altas horas da madrugada. No Inverno, os homens saíam de casa com destino aos campos, ainda noite escura. Havia tarefas que, necessariamente, deveriam ser feitas alta madrugada. A mais cansativa, para quem tinha gado vacum, era a de ir ceifar um ou dois molhos de erva às lagoas – terrenos onde a erva crescia no meio de água – acarretando-a às costas, para os palheiros, onde o gado a aguardava como alimento preferido. A erva, para manter a qualidade e a frescura de bom alimento, devia ser ceifada e guardada antes do Sol nascer. Era uma tarefa cansativa e desgastante, não apenas no ceifar mas sobretudo no carregar com os molhos às costas. Para além de serem muito pesados, pingavam enorme quantidade de água que escorria pelos ombros e costas dos que os carregavam, encharcando-os, por vezes, da cabeça aos pés. Outra tarefa, embora mais leve e menos cansativa e, por isso mesmo, atribuída, geralmente, às mulheres e às crianças era a de ir buscar ou levar o gado às relvas, o que também era feito de madrugada. O gado devia evitar o calor do dia ou o frio da noite e ser ordenhado a tempo de o leite ser entregue nas máquinas. Assim, uma outra tarefa que se impunha era a da ordenha e do transporte do leite para os sítios onde era desnatado. Só depois, por vezes já bastante tarde, as mulheres faziam o café, misturando alguns grãos do dito cujo com chicória, cevada e, por vezes até favas ou milho torrado, tudo devidamente moído, em água a ferver. Despejado em grandes tigelas misturava-se um pouco de leite. O almoço, como então se chamava a primeira refeição do dia, para além do café bem quentinho, aromático e fumegante, incluía pão de milho ou bolo, geralmente acompanhado com queijo caseiro ou doce. O pão de trigo era apanágio dos dias de festa e, quando o de milho escasseava, recorria-se a bolo do tijolo ou a papas fritas, quando estas sobravam da véspera. Quando o pão de milho era mais envelhecido e rijo ou já roçava o gosto azedo do bolor, fritava-se em banha de porco, sendo que, muitas vezes, as fatias, antes de fritas, eram passadas por ovo batido. Nesses dias, considerava-se o almoço um luxo. Só então se partia para os campos para as tarefas da manhã.

 

Ao romper da bela aurora,

Sai o pastor da choupana.

Vem gritando em altas vozes:

- Muito padece quem ama

 

Muito padece quem ama,

Mais padece quem namora.

Sai o pastor da choupana,

Ao romper da bela aurora

 

Não empobrece ninguém.

Assim como não enrica.

Não empobrece ninguém

Assim como não enrica.”

 

Se na bela e popular canção beirã, substituíssemos a palavra “ama” por “trabalha”, embora perdendo a rima e desajustando a métrica, ganharíamos um interessante e significativo hino ao árduo labor que, quer nas frescas madrugadas de Verão, quer nas tempestuosas e escuras manhãs de Inverno, homens, mulheres e crianças realizavam na Fajã Grande, na década de cinquenta, do século passado.

 

II - PELA MANHÃ FORA, TOQUE, TOQUE

Após o almoço da manhã, seguia-se a parte mais tormentosa e cansativa do dia, em termos de trabalhos agrícolas. Era por volta das nove horas que se iniciava esta segunda etapa de trabalho intenso e extenuante, a qual terminava ao início da tarde. Na Primavera era o tempo de preparar os campos e semear os milhos, tarefa demorada, porquanto as terras tinham que ser adubadas, com esterco ou sargaço, muitas vezes acarretado, às costas. Depois era o lavrar com o arado de ferro, desfazer leivas e torrões com a grade, atalhar e, finalmente, semear o milho com o arado de pau. Já crescido, o milho tinha que ser mondado, sachado e corrido e quando espigado, era necessário espalhar e semear as forrageiras – trevo ou erva-da-casta – pelo meio. No Verão as manhãs eram ocupadas com a ceifa dos feitos nas relvas e terras de mato e o desbravar da cana roca, um flagelo que infectava o crescimento das árvores e dos inhames. Era, também, necessário dar continuidade aos trabalhos agrícolas. Além disso, como o gado, nesta estação do ano, devido ao excessivo calor, ficava fechado nos palheiros, era imperioso acarretar os alimentos que necessitavam. No Outono era a apanha dos milhos e o seu arrumo nos estaleiros, tarefa que ocupava não apenas as manhãs mas o dia todo. Além disso, havia muitas outras colheitas a serem recolhidas, nomeadamente, batatas, feijão, cebolas, etc. No Inverno eram as terras de mato o destino de homens e mulheres. Havia que cortar e recolher os incensos, alimento fundamental e quase único, para os bovinos, naquela estação do ano. Era, também, nesta altura que se sachavam os inhames e se cortava e serrava a lenha. O Inverno, porém, na Fajã Grande era bastante intempestivo e chuvoso, pelo que, durante muitos dias, os homens, impedidos totalmente de ir para os campos, a não ser para cumprir os serviços mínimos obrigatórios, aproveitavam amanhã para um merecido descanso, juntando-se à Praça, numa emblemática casa velha que ali existia. Conversavam, fumavam, discutiam, faziam negócios e jogavam às cartas, tendo como mesa, um cesto com o fundo virado para cima. Bem pior era a situação das mulheres nesses dias, porquanto aproveitavam, para remendar, costurar, fiar e efectuar outras tarefas domésticas.

Era pois, pela manhã fora, por vezes conduzindo animais, que o povo caminhava com destino aos campos, a fim de realizar estes e muitos outros trabalhos, calcorreando caminhos sinuosos a abarrotar de pedregulhos, ladeiras íngremes, atalhos e veredas, por vezes carregando pesadíssimos sacos, cestos ou molhos, os homens às costas, com um bordão a servir de alavanca e contrapeso e as mulheres à cabeça, com uma rodilha de pano a proteger-lhe o cocuruto.

 

“Pela estrada plana, toque, toque, toque,

Guia o jumentinho uma velhinha errante.

Como vão ligeiros, ambos a reboque,

Antes que anoiteça, toque, toque, toque,

A velhinha atrás, o jumentito adiante!...

 

Toque, toque, a velha vai para o moinho,

Tem oitenta anos, bem bonito rol!...

E contudo alegre como um passarinho,

Toque, toque, e fresca como o branco linho,

De manhã nas relvas a corar ao sol.

 

Vendo esta velhita, encarquilhada e benta,

Toque, toque, toque, que recordação!

Minha avó ceguinha se me representa...

Tinha eu seis anos, tinha ela oitenta,

Quem me fez o berço fez-lhe o seu caixão!...

 

Mas na Fajã Grande, freguesia com grande parte do território encastoado entre colinas e outeiros, os caminhos não eram nada planos e o jumento, na década de cinquenta, ainda era um animal raro, naquela freguesia. Para além de se ir levar a “moenda” ao moinho, com alguma frequência, havia muitas outras tarefas a realizar, mas, à boa maneira da moleirinha de Guerra Junqueiro, homens, mulheres, velhos e crianças, caminhavam, todos os dias, manhã fora, toque, toque, a trabalhar árdua e penosamente, a fim de, ao início da tarde, ao chegar a casa, dispor, apenas e tão só, de um simples e parco jantar.

 

III - QUANDO A TARDE DESCIA

 

Após um “jantar” frugal – batatas ou inhames com uma limitada porção de peixe, ou conduto de porco racionado ou uma torta de ovos, às vezes, simplesmente, batatas de mangão – impunha-se, novamente, um caminhar apressado e lesto para os campos, porque a tarde descia rápida, a fim de que se desse continuidade ou se terminassem as tarefas iniciadas de manhã. Muitas vezes havia que substituí-las por outras, impossíveis de adiar. No primeiro caso, as mulheres, iam aos campos levar o jantar aos que ali trabalhavam. Poupava-se tempo e ganhava-se no avanço do trabalho. Havia no entanto, muitas tardes em que era imperioso homens e mulheres dedicarem-se a outras tarefas, como a apanha das batatas, o plantar e cortar das couves, acarretar esterco para os campos ou, na maioria das vezes, trabalhar as terras mais próximas de casa e as situadas à beira-mar. Nas tardes de Verão, no entanto, era quase impossível trabalhar nos campos da Fajã Grande. A razão era simples: a freguesia situa-se, como o nome indica, numa “fajã”, ou seja, num terreno baixo, por trás do qual existe uma rocha. Só que, neste caso, a rocha de tão alta e inclinada que era, fazia jus a que o Sol nela se reflectisse e retrocedesse sobre o povoado, como que redobrando a força, a intensidade e o calor. Um autêntico forno! Por isso os homens passavam as tardes, sentados à sombra das casas, conversando e falquejando. No Inverno, ao invés, tardes havia em que era impossível trabalhar, neste caso devido à chuva e ao mau tempo.

Em contrapartida trabalhava-se à tardinha e durante uma boa parte da noite para compensar as “folgas” das tardes calorentas. Estes trabalhos relacionavam-se sobretudo com o tratamento e ordenha do gado e a limpeza dos palheiros, esta uma das tarefas mais degradante, asquerosa, conspurcas, imunda e enlameada que os homens eram forçados a executar. Munidos do “garfo de tirar esterco”, puxavam, rapavam, remexiam, amontoavam, espetavam toda aquela imundície acumulada nos palheiros e padejavam-na às garfadas para um monte de esterco que dia após dia ia crescendo e fermentando fora da porta do palheiro, levantando um cheiro horroroso, promíscuo, mefítico, aberrante que penetrava pelas frestas e paredes das casas contíguas e que se defluía, emanava e dispersava pelos arredores. Uma ou duas vezes por semana também era necessário despejar a poça, com odores e cheiros ainda mais mefíticos. O seu conteúdo era padejado com um caneco velho, para de dentro das “latas da urina” ou seja, uns enormes vasilhames de madeira, exclusivamente usados para este fim e que depois de cheios eram transportados aos ombro, presos num pau, um atrás das costas e outro à frente, para alimentar e fazer crescer as caseiras, as batatas-doces e as couves que floresciam nas terras do Porto, das Furnas e do Areal.

Trabalhos cansativos e degradantes que custavam e que doíam, realizados, como Fernando Pessoa escreveu, enquanto a sombra da tarde descia, emersa nas canseiras do fim do dia.

 

“O sol às casas, como a montes,

Vagamente doura.

Na cidade sem horizontes

Uma tristeza loura.

 

Nesta hora mais que em outra, choro

O que perdi.

Em cinza e ouro o rememoro

E nunca o vi.

 

Felicidade por nascer,

Mágoa a acabar,

Ânsia de só aquilo ser

Que há-de ficar.

Sussurro sem que se ouça, palma

Da isenção.

Ó tarde, fica noite, e alma

Tenha perdão.”

 

E nesta “cidade sem horizontes” (entenda-se: nesta freguesia sem horizontes) chegava uma tristeza loura, um suplício a que estiveram rigorosa e permanentemente condenados, em pleno século XX, os nossos avós, os nossos pais e os nossos irmãos. Talvez por estas e por outras razões e porque, voltando ao poema de Pessoa, havia uma felicidade por nascer, uma mágoa a acabar, e, por isso, com uma enorme ânsia de só aquilo ser, muitos escapuliram para a América e para o Canadá.

 

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publicado por picodavigia2 às 21:09

UMA VISITA

Sábado, 15.03.14

O Carvalho de Novembro, em vez das cartas habituais, trouxe-me uma agradável surpresa. Uma visita! Precisamente no dia em que o Carvalho atracara à doca, a meio da tarde, durante o recreio grande, avisaram-me de que me dirigisse à sala de visitas. Tinha lá alguém vindo das Flores que queria ver-me e falar comigo. Apreensivo e quase incrédulo, desloquei-me para o sítio indicado, praticamente propriedade dos alunos de São Miguel e onde eu nunca havia entrado. A surpresa ainda se tornou maior quando dei de caras, sentado numa cadeira, à minha espera, com meu tio Cristiano.

Abraçámo-nos demoradamente, fazendo de conta que aquele abraço também era de meu pai, de meus irmãos, da minha avó, de todos os meus outros tios e primos que ainda viviam nas Flores. Depois explicou-me a razão de ser da sua inesperada viagem: no Carvalho anterior recebera a “carta de chamada” e por isso não me puderam avisar da sua vinda. Já tinha a passagem de avião e partiria para a América no dia seguinte. A mulher e os filhos haviam de seguir mais tarde.

Meu tio Cristiano, para além de agricultor, criador de gado e baleeiro ainda era alfaiate e um bom jogador de fuetebol. Fora ele que me fizera o fato e os guarda-pós. Desde há muito e sobretudo na altura das provas, que eu ia muito para casa dele, brincando com meus primos. Durante as nossas brincadeiras e folguedos, meu tio apercebera-se de que eu tinha a vista muito fraca e via mal. Como nas Flores não havia oftalmologista, ordenou-me que logo que chegasse a São Miguel, pedisse ao Reitor do Seminário que me levasse a uma consulta. Na opinião dele, sobretudo agora que iria estudar, devia usar óculos. Por isso a primeira coisa que me perguntou foi pelos óculos. Disse-lhe que já tinha falado com o Senhor Reitor mas que ele não ligara importância nenhuma e que tinha vergonha de voltar a falar. Meu tio, que era levado da breca, enfureceu-se e, perguntando-me onde era o quarto do reitor, irrompeu pelo Seminário dentro, até à reitoria. Eu atrás cheio de medo e de vergonha e ele à frente como se a casa fosse dele! O Senhor Reitor, no entanto, recebeu-nos de bons modos, parecendo até não se ter importado de meu tio lhe entrar tão abruptamente pelos aposentos. Meu tio explicou-lhe pormenorizadamente ao que vinha e o Senhor Reitor ouviu-o atentamente. No fim disse-lhe que muitos seminaristas queriam usar óculos apenas por vaidade, para parecerem mais bonitos e que talvez fosse isso que eu queria e que por certo não precisaria de óculos. Meu tio contrariou-o, dizendo-lhe que não era o meu caso, que sabia que eu tinha a vista muito fraca e que até ele próprio me levava ao médico se o Senhor Reitor autorizasse. Mas o Senhor Reitor não autorizou, nem nunca mais se lembrou de me levar ao oftalmologista. E assim andei aqueles dois anos cegueta, à espera de chegar a Angra para aí, sim, marcar uma consulta num oftalmologista, comprar uns óculos com lentes de nove e onze dioptrias e até, pelos vistos, vendo-me ao espelho, parecer a mim próprio que ficara mais feio e, além disso, sujeitando-me a que, a partir de então, me chamassem “caixa de óculos”.

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publicado por picodavigia2 às 18:07

TABELA DE SESENMAISEL

Sábado, 15.03.14

Tabela de AP( alimentos interditos ou proibidos a doentes que sofrem de Insuficiência Renal:

 

Ac

Px

Bl

Bo

Ou

01

FS

Vt

39-PM

Na

16-Srd

Ol

50-Mel

Em

05-Bn

Ed

40-Mlo

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Ld

28-BT

IM

11-Bg

Dn

57-Fra

F(Mr)

03-Lj

Gi

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19-Inh

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53-PF

Ez

43-Lt

Mt

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Nt

49-Nct

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Et

Zl

10-SL

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44-Cr

Di

06-BD

Au

02-Ml

IM

12-Bc

05

SJ

Ln

26-CV

Qu

52-Bf

Tr

21-Chc

Fr

33-Ge

VC

41-Mt

06

EF

Ml

60-FO

Ag

45-Fg

CO

42-FM

CP

51-Qu

Pt

46-Kb

07

Pi

Cd

01-Fj

AC

30-QR

Zh

31-Nt

Ze

59-CG

M(Pe)

56-FF

08

CC

RM

27-Lg

HB

54-Am

OU

37-Mr

IT

38-Mr

EF

25-Grg

09

SG

Zb

07-MS

EC

17-Hbg

Ol

35-Cvj

Sn

34-Cv

HP

14-CA

10

Mz

Bt

32-Gl

Jo

20-Fv

Ll

58-SF

AC

36-Yg

Ir

48-Kt

11

Ga

RM*

05-Mai

AC

24-Pd

CV

22-Gr

Mn

23-Bis

SC

04-Al

12

IQ

Al*

29-Uv

Pl

08-CP

Ct

18-Pz

Mn

55-FP

Is

13-B-R

 

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publicado por picodavigia2 às 16:47

INQUIETANTE

Sábado, 15.03.14

MENU 30 – “INQUIETANTE”

 

 

 ENTRADA

 

Rodelas de rolo de fiambre recheado com creme de queijo fresco e ervas aromáticas, sobre bolacha cream-cakers acompanhadas de tiras de alface e ornadas com tiras de pimento e nozes

 

PRATO

 

Linguiça* e lombo de porco grelhados com arroz de ervilhas de quebrar e salada de feijão frade*, couve* e pão, ensopados em azeite perfumado com alho.

 

*NB – As que podem ser substituídos por salsicha, flagelots e brócolos ou alface.

 

SOBREMESA

 

Chease cak de ananás, geleia de pêssego e suspirp

 

 

 

******

 

Preparação da Entrada: Enrolar o creme de queijo em tiras de fiambre e guardar no congelador durante 15m. Cortar os rolos e empratá-los em cima de quadrados de bolacha, enfeitados com alface picada, tiras de pimento e nozes

 

Preparação do Prato – Cozinhar o arroz pelo processo tradicional e grelhar a carne e a linguiça. Cozer ligeiramente a couve. finamente picada. Juntar numa frigideira o azeite, o alho, o feijão, o pão moído e a couve. Misturar bem. Empratar.

 

Preparação da Sobremesa – Triturar, finamente, as bolachas. Juntar os pedaços de ananás com o queijo creme, uma colher de doce e outra de açúcar e reduzir a creme, a que se juntam as bolachas moídas. Suspiros e gelatina pelos processos tradicionais.

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publicado por picodavigia2 às 15:22

FRANCISCO BETTENCOURT

Sábado, 15.03.14

O poeta e contista Francisco Joaquim Moniz de Bettencourt, que utilizou o pseudónimo literário Mendo Bem nasceu na Praia da Vitória, ilha Terceira, em 8 de Dezembro de 1847e faleceu em Évora, em 1905. Feitos os estudos primários e secundários, em Angra do Heroísmo e em Coimbra, foi funcionário da Fazenda Pública em Angra, Ponta Delgada e no Funchal, vindo, mais tarde, a ascender à categoria de Delegado do Tesouro. Em 1880 seguiu para o Continente fixando-se em Lisboa, no Porto, na Guarda e, por fim, em Évora. Estreou-se nos periódicos da Praia e Angra, fundando, de parceria com António Gil e Augusto Ribeiro, o Almanaque Insulano. Dedicou-se à crónica jornalística, ao ensaísmo literário e ao conto, mas foi sobretudo na poesia que veio a distinguir-se. Poeta essencialmente lírico, de um lirismo bucólico e romântico, a sua obra acusa a tendência para um certo convencionalismo de temas e formas poéticas. São inegáveis a espontaneidade e a delicadeza de alguns dos seus versos, escritos em linguagem simples e vazados em ritmos de sabor clássico. O encantamento sentimental pela paisagem das ilhas é nele dominante. A sua prosa ficcional não ultrapassou o retrato circunstancial da vida insular, em quadros onde as personagens carecem de funda densidade psicológica.

As suas principais obras são: Esmola aos Náufragos, Vale das Furnas: Miniaturas em Verso, Viana da Mota e Moreira de Sá em Ponta Delgada, Florilégio Mariense, Cozinha Económica, Marienses: Trovas Açorianas, Notas de Viagem, O Coronel Sousa e Silva: Cartas Açorianas dirigidas à Redacção da Actualidade, Os primeiros versos de Garrett, Insulares e Contos e Histórias

 

Dados retirados do CCA – Cultura Açores

 

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publicado por picodavigia2 às 12:29

QUADRAS SOLTAS III

Sábado, 15.03.14

Tu que cuidas já ser “rei”,

Por teres forno na Pedreira.

Cuidado, que pode o forno,

Assar-te p’rá vida inteira.

 

Nos Açores, um “magano”

Não bebe vinho do Pico.

Se prefere o alentejano,

Por certo que é muito rico.

 

Minha avó tinha razão:

Charro assado é bom petisco.

Mas em casa do João,

É melhor do que marisco.

 

Já precisas de balança

Pra pesar o teu valor,

Pois tua vista não alcança,

Dos teus versos, o “horror”.

 

E fácil cantar vitória

E entoar laudes em bica

Quem se contenta co’a glória,

De um tão mísero Benfica.

 

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publicado por picodavigia2 às 09:13

NO BORRALHO DO ENCONTRO

Sábado, 15.03.14

Quando se faz uma enorme fogueira, no fim fica sempre um borralho, difícil de apagar, sobretudo porque há sempre uma ou outra brasa que se vai reacendendo aqui e acolá, correndo-se o enorme risco de ela se reacender de tal maneira e com tal veemência que volte a atear-se um novo fogo. Essa a razão por que quando sou eu que faço a fogueira, se verifico que alguma brasa se reacende, corro logo a apagá-la.

Foi exactamente isto que aconteceu por estes dias. No brasido da gigantesca fogueira ateada por estes dias – a fogueira do nosso encontro, da nossa amizade, do nosso carinho, do “Congresso de Todas as Recordações” – ficou uma brasa acesa, que é como quem diz, ficou algo esquecido e de que eu sou o único culpado. Por isso me apresso aqui, a ressarcir o meu erro, a penitenciar-me daminha culpa. Felizmente, ainda venho a tempo de emendar a enorme borrada, apagar a gigantesca gafe, desfazer o gigantesco lapso por mim cometido, uma vez que o texto lido, na manhã do passado domingo, no átrio de entrada do Seminário, ainda não foi divulgado na comunicação social, apenas um grupo pequeno e restrito, dele teve conhecimento. No final da minha dissertação, em vez de referir apenas: “Muitos outros se distinguiram, sobretudo no ensino e na gestão bancária”. Deveria ter escrito assim: “Muitos outros se distinguiram, sobretudo no ensino e na gestão bancária, destacando-se, nesta última área, o Noé Carvalho e o Duarte Miranda”.

Aqui me penitencio, aqui me retraio, por não ter referido estes dois nomes, pedindo-lhes as minhas maiores e mais sinceras desculpas. No entanto, como todos os condenados tem direito a defesa, mesmo culpado, vou tentar fazer a minha defesa, aliviando-me a pena e remediando a afronta.

1 – Encontrei o Noé Carvalho, no Mucifal, há uns meses atrás e conversamos muito, talvez mais e, sobretudo de forma mais sincera porque mais adulta, do que nos tempos do Seminário, em que, pelo menos eu, era um jovem imaturo, insensato e incauto. Na altura não o achei nada vaidoso, mas também se fosse não o condenaria por isso, porquanto a vaidade, civilmente, não é crime, apenas religiosamente um “pecado”

2 – Bem me tinham avisado que, na “Homenagem” não referisse nomes, pois corria sérios riscos. Como acredito muito no bom senso das pessoas, decidi arriscar. Hoje arriscaria de novo, mesmo esquecendo o nome do Noé ou de quem quer que fosse. É que há ali nomes tão grandes que nunca deixaria de os referir com receio de olvidar um ou outro. Isso sim, se não crime, seria, no mínimo, uma injustiça.

3 – Os poetas deixam poemas, os músicos obra feita, os sacerdotes incendeiam os púlpitos e os políticos os parlamentos. Parece-me mais verossímil esquecer um bancário ou até um professor, não por não terrem mais valor, mas porque a intensidade da sua acção, digna, nobre e profícua, tem por natureza, menos “visibilidade”.

Apesar de sentir que estas condicionantes, seriam motivos mais do que suficientes para uma  “absolvição”, aqui deixo o meu sincero pedido de desculpas ao Noé,  ao Miranda e a muitos outros, infelizmente também esquecidos e, sobretudo a outros bancários, se os há e que cujos nomes, o Noé, melhor do que ninguém me poderia ter referido.

Angra, Julho de 2012

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