PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O REGRESSO DOS ESTORNINHOS
Angra hoje resplandeceu alegremente. De manhã cobriu-se e ornou-se com um Sol primaveril, transformando-a numa espécie de aguarela de sonho, de cor, de sabores e de perfumes, anos e anos, como que hibernados nas encostas do Monte Brasil, no Relvão, na Marginal, Pátio da Alfândega, à espera de que os “estorninhos” regressassem. E regressaram, alegres, felizes, menos atrevidotes, mais descarados, com o seu canto, com a sua poesia, devolvendo “à mui nobre, leal e sempre constante”, a glória e o esplendor de que se ufanava, nas décadas 50 e 60.
O segundo dia do “Congresso de Todas as Recordações” iniciou-se com um passeio ao Relvão, pelas ruas e vielas, outrora percorridas. Era dali perto das muralhas do Castelo de São João Batista que se gritava “Vá Lusitiania! Éverdade que os jogadores de tão longe que estavam não ouviam, as açulavam-se os adeptos do Angrense. Há quem se lembre ainda dos nomes de todos os jogadores de ambas as equipas. Depois o Relvão… Onde nos sentávamos a ver o Funchal. Também ao navio era vítima do incentivo “Entra Funchal, por essa doca dentro”. O Pátio da Alfândega já não é o que era. O regresso ao Seminário. De duas, uma: ou somos uns rapazes cheios de força e “ginica”, em melhor forma do que há 50 anos, ou alguém nos quis castigar. Então admite-se fazer um jogo de futebol depois de uma caminhada daquelas, E alguns em grande forma, sobretudo o José Costa, o único equipado a rigor. Alegando que era o melhor lugar para fotos, bem me pirei para varanda dos superiores, onde eles se postavam a ver-nos e onde eu nunca tinha estado. Que aquilo era embuste! Que o que eu queria era fugir do futebol!
De tarde um fórum de excelente qualidade” Um momento de reflexão profunda e de análise contagiante, com o Dr Álvaro Monjardim, numa belíssima comunicação lida pelo João Carlos que o autor estava ausente e uma reflexão feita pelo Dr Cunha de Oliveira. Excelente.
Depois o epicentro do nosso devaneio! A recriação dos saraus músico-literários. Música, é verdade que ensaiada à pressa, mas executada com mestria. Por entre os números musicais, poemas de José Enes, Coelho de Sousa, Artur Goulart, Álamo Oliveira, Onésimo, José Costa e Urbano Bettencourt. Tudo gente da casa! No fim o momento mais sublime: o hino do Seminário cantado pelos de ontem e de hoje. O senhor Reitor, a irradiar uma simpatia contagiante. As suas palavras foram de grande carinho e gratidão. Para além das palavras, um pequeno gesto ainda mais eloquente: uma medalha comemorativa da nossa visita. É que este Seminário de agora, hoje mais do nunca parece andar à procura das suas origens e da sua génese formadora. Talvez tenha encontrado em nós um pouquinho dela.
Autoria e outros dados (tags, etc)
MARÇO VENTOSO
“Quando Março sai ventoso, sai Abril chuvoso.”
Provérbio muito pouco utilizado na Fajã Grande, pese embora ali a situação meteorológica que ele contém fosse muito frequente naquela freguesia da maior ilha do grupo ocidental açoriano.