PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A MÚSICA DA ALMA
“A poesia é a música da alma, e, sobretudo, de almas grandes e sentimentais.”
Voltaire
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MAR PORTUGUÊS
(POEMA DE FERNANDO PESSOA)
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Fernando Pessoa, in Mensagem
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DIA MUNDIAL DA POESIA
A poesia é uma das sete artes tradicionais, pela qual a linguagem humana é utilizada com fins estéticos, ou seja de manifestar e comunicar algo em que tudo pode acontecer, dependendo quer da criação e imaginação do autor quer da compreensão e interpretação do leitor. Na realidade, se o sentido da mensagem poética é pertença do autor, cada leitor como que se torna um poeta, na medida em que a compreende e a interpreta à sua maneira. De forma a tornar-se, ele próprio, também um criado, um outro poeta. A poesia identifica-se com a própria arte, dado que esta também é uma forma de linguagem, ainda que, não necessariamente, verbal. Acredita-se, inclusivamente, que a poesia como uma forma de arte seja anterior à própria escrita. Muitas obras antigas, como os Vedas indianos, os Gathas de Zoroastro, a Odisseia. a Ilíada e até alguns livros da Bíblia, como os Salmos parecem ter sido compostas antes da invenção da escrita em forma poética e transmitidas oralmente, para ajudar a memorização e a transmissão oral nas sociedades pré-históricas e antigas. Sabe-se também que os provérbios populares se foram transmitindo de geração em geração, pelo mesmo processo. Daí a sua estrutura. Isto permite concluir que a poesia aparece entre os primeiros registros da maioria das culturas letradas, com fragmentos poéticos encontrados em antigos monolitos, pedras rúnicas e estelas, etc.
O poema épico mais antigo sobrevivente da humanidade é a Epopeia de Gilgamesh, originado no terceiro milénio a.C. na Suméria, actual Iraque, e que foi escrito em escrita cuneiforme, em tabletes de argila. Outras antigas poesias épicas incluem os épicos gregos da Ilíada e Odisseia, os livros iranianos antigos Gathas Avesta e Yasna, o épico nacional romano Eneida, de Virgílio, e os épicos indianos Ramayana e Mahabharata, entre outros
A poesia, independente da forma como é expressa ou escrita, é sempre a expressão de um sentimento, como por exemplo o amor, a saudade, a nostalgia, etc. O poema é um sentimento expressado em belas palavras, palavras que tocam a alma. Mas a poesia é diferente de poema. O poema é a forma em que está representada ou escrito o sentimento que a mensagem encerra, enquanto a poesia é a forma literária utilizada e que dá a emoção ao texto.
A poesia pode fazer uso da chamada licença poética, que é a permissão para extrapolar o uso da norma culta da língua, tomando a liberdade necessária para recorrer a recursos como o uso de palavras de baixo-calão, desvios da norma ortográfica que se aproximam mais da linguagem falada ou a utilização de figuras de estilo como a hipérbole ou outras que assumem o carácter "fingidor" da poesia, de acordo com a conhecida fórmula de Fernando Pessoa "O poeta é um fingidor".
A matéria-prima do poeta é a palavra e, assim como o escultor extrai a forma de um bloco, o escritor tem toda a liberdade para manipular as palavras, mesmo que isso implique romper com as normas tradicionais da gramática. Limitar a poética às tradições de uma língua é não reconhecer, também, a volatilidade das falas.
No dia poesia, façamos versos.
NB – Dados retirados da Wikipédia.
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A VISITA DO SENHOR BISPO
Em Novembro professores e alunos do Seminário Menor de Ponta Delgada tiveram a visita do Senhor Bispo, que, habitualmente, residia em Angra. Com a chegada do Sucessor dos Apóstolos, o Seminário, de repente, como que se tornou mais silencioso, mais recôndito, mais sombrio e mais enigmático. Algum tempo antes, o Senhor Reitor chamara-me, novamente, ao seu quarto. Como já estava habituado, nem me preocupei, cuidando que seria uma nova carta da minha tia. Mas não era. Com um pequeno dossier aberto à sua frente, que eu cuidei conter a minha documentação, disse-me que eu não possuía nenhuma certidão do crisma e que no registo do meu baptismo não tinha averbado a data de ter recebido o sacramento da Confirmação. Consequentemente, concluía ele, eu ainda não tinha crismado. Confirmei a sua conclusão e ele de imediato indagou:
- Então porque não crismaste se o Senhor Dom Manuel, depois de chegar à Diocese já visitou todas as ilhas, incluindo as Flores e o Corvo, onde administrou o Santo Crisma?
Expliquei-lhe que não o podia ter feito porque a minha mãe falecera precisamente no dia em que o Senhor Bispo visitara a minha freguesia. Nem eu, nem meus irmãos, nem meus tios, tínhamos tido a possibilidade de crismar.
O Senhor Reitor informou-me, então, de que eu não devia continuar no Seminário sem receber o Santo Crisma, até porque podia muito bem eu não estar nas Flores quando o Senhor Bispo lá voltasse. Que em breve o Senhor Dom Manuel viria visitar o Seminário e que me havia de crismar. Que arranjasse um padrinho. Ora eu tinha um vizinho, o senhor padre Jaime que era professor no Seminário de Angra. Uma das suas irmãs já era madrinha de meu irmão e outra da minha irmã, pelo que decidi que havia de convidá-lo para meu padrinho. Ele aceitou e nomeou seu procurador o padre Agostinho Tavares.
Assim, enquanto esteve de visita no Seminário, uma das tarefas que Sua Excelência Reverendíssima desempenhou foi a de me crismar, juntamente com mais um ou dois alunos, pois a quase totalidade já crismara nas suas paróquias. A cerimónia realizou-se na igreja de Todos os Santos, na presença de todos os professores, do seu secretário José Nunes e de todos os alunos. No momento de receber a cruzinha na testa, traçada com o polegar direito do Bispo, encharcado em óleo santo, foi o padre Agostinho Tavares que, aproximando-se, me colocou a mão sobre o ombro, como se fosse meu padrinho. Talvez por isso e talvez por tudo tratou-me sempre com um enorme carinho e com uma admirável consideração e grande amizade.
Apenas nesse dia e durante algumas refeições ou enquanto passeava nos corredores com o Senhor Reitor víamos o Senhor Bispo. Geralmente estava fechado no quarto, recebia o clero e visitava algumas paróquias da ilha. Quem nos recreios nos procurava, conversava e convivia connosco era o seu secretário José Nunes, um jovem simpático e meigo, hospedado na barbearia, transformada em quarto de hóspedes, que havia terminado o curso no Seminário de Angra e que aguardava a idade canónica para ser ordenado sacerdote.