PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
SORRISOS
A doçura dos sorrisos
Era tanta
E tão grande…
Havia apenas uma janela aberta
E nem sequer
Se via o mar
Ou se ouvia a sinfonia, abrupta, do silêncio.
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EM MARÇO
“Em Março, tanto durmo como faço.”
Mais um interessante adágio utilizado na Fajã Grande para indicar que ali, como em quase todas as outras localidades açorianas, o mês de Março era um verdadeiro mês de Inverno, onde se podia ter bom ou mau tempo e, consequentemente, durante o qual se podia trabalhar ou estar completamente impedido de o fazer.
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A BELA ADORMECIDA
Avó, conte mais uma estória, aquela da Bela Adormecida. Esperava um pouco, sentava-se à janela de perna cruzada e começava:
Era uma vez um rei e uma rainha que viviam num belo palácio e governavam um grande reino.
Certo dia tiveram uma grande alegria. Uma cegonha aproximou-se de palácio e, dentro duma cestinha, trazia-lhes uma bela menina. O rei e a rainha ficaram tão contentes, tão contentes que, no dia do baptizado da princesa resolveram dar uma grande festa para a qual convidaram as pessoas mais importantes do reino. Foram, também, convidadas três fadas que seriam as madrinhas da princesa e que as haviam de prendar com as melhores qualidades e os maiores dons que um ser humano pode ter. As fadas chamavam-se Flora, Fauna e Primavera.
Realizaram-se os festejos e, a meio da festa, Flora decidiu conceder à princesa o dom da beleza. De seguida Fauna, aproximando-se da menina deu-lhe o dom da música. Finalmente a terceira fada, a Primavera aproximou-se do berço da menina, para também lhe conceder um dom. Nesse momento, porém, sem que ninguém se apercebesse, entrou no palácio uma bruxa má e invejosa que, subitamente, se aproximou do berço antes da boa fada Primavera, gritando:
- Quando fizeres dezasseis anos vais picar-te no fuso de uma roca e morrerás!
E dando uma enorme gargalhada desapareceu no ar...
Estarrecidos, os reis suplicaram à fada Primavera que retirasse aquele feitiço e desse à sua querida menina um dom que a libertasse da morte.
- Não tenho poderes para isso, - respondeu a fada - apenas posso torná-lo mais suave.
Aproximou-se da princesa e tocando-a na testa com a sua varinha de condão, disse-lhe:
- Não morrerás...adormecerás profundamente, até que um beijo de amor te desperte!
Os anos passaram e a menina cresceu e transformou-se na mais bela e bonita princesa, passando a viver num bosque, perto do palácio, sempre sob os cuidados atentos das três fadas. Ao completar dezasseis anos, as fadas levaram-na para o castelo, para junto dos pais. Percorreu todas as salas do palácio e, numa delas, encontrou uma velha que estava a fiar numa roca, e lhe pediu ajuda. A princesa, boa como era, não foi capaz de dizer que não. Mas mal tocou na roca, picou-se, e caiu no chão profundamente adormecida.
Quando as três fadas, que já haviam regressado ao bosque, souberam do sucedido, resolveram encantar o castelo. Todos adormeceram nos lugares onde estavam, o rei, os músicos, os cortesãos, os criados, até o bobo da corte e as aias e os cavaleiros! O tempo ali como que parou.
Decorridos cerca de cem anos, um dia, andando à caça, um belo príncipe passou no bosque ao lado do castelo abandonado Admirado por não ver ninguém lá dentro resolveu entrar. Percorreu todas as salas e numa delas encontrou uma linda e bela princesa, a dormir. Admirado com a presença da jovem e maravilhado com tanta beleza e com o seu ar bondoso, curvou-se sobre ela para a ver melhor e beijou-a com todo o amor.
O feitiço desfez-se! A princesa acordou. Acordou o rei, a rainha também e toda a corte. E a alegria voltou ao castelo, e fizeram-se grandes festejos, com música e danças por todo o lado.
O príncipe pediu a jovem em casamento e fez-se a maior boda de todos os tempos, e os dois jovens viveram felizes para sempre.
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DOCE
MENU 31 – “DOCE”
ENTRADA
Canapés de bolachas cream-crayquer barradas com creme de queijo fresco e recobertas com rodelas de cenoura, alface e tiras de pimento.
PRATO
Bife de peru grelhado, temperado com alho e limão e encimado com compota de laranja. Migas de ervilhas de quebrar temperadas com ervas doces e alho.
SOBREMESA
Folhado de maçã com geleia e gelatina de morango.
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Preparação da Entrada: - Barrar as bolachas com o creme de queijo e colocar-lhes rodelas finas de cenoura crua, pedaços de folha de alface e tiras de pimentos verdes e vermelhos.
Preparação do Prato – Temperar e grelhar o bife, cobrindo-o, em quente com a compota de laranja. Cozer as ervilhas em água com um pouco de azeite e alho. Esmagar o pão e ensopá-lo com a parte necessária da água de cozer as ervilhas. Refogar em azeite um pouco de alho picado, juntar as ervilhas e o pão e misturar muito bem. Servir, ladeando o bife.
Preparação da Sobremesa – Cortar finamente uma maçã com a casca. Temperá-la com açúcar, canela e sumo de limão. Cortar a massa folhada em quadradinhos sobre os quais se colocam as rodelas de maçã. Levar ao forno e após retirar pincelar com geleia de fruta ou mel. Gelatina pelo processo tradicional.
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SAUDADE
“Saudade é um sentimento que quando não cabe no coração, escorre pelos olhos.”
Bob Marley
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DUARTE BRUNO DE MELO
O poeta Duarte. Bruno de Melo nasceu na vila da Povoação, ilha de S. Miguel, a 6 de Outubro de 1868 e faleceu em Algés, em 17 de Agosto de 1950. Após os estudos primários, viveu em Angra, onde terminou o curso do Seminário e foi ordenado em 1892. Em Lisboa, concluiu o Curso Superior de Letras e o do Instituto Colonial. Foi jornalista profissional e funcionário do Ministério das Colónias, onde dirigiu o serviço de Justiça e Cultos. Foi secretário da Junta Central do Trabalho e Emigração e redactor do Ementário Judicial das Colónias, designado posteriormente Boletim Judiciário do Ultramar. Militante activo da causa republicana, desligou-se do sacerdócio, após a implantação da República, e integrou a Comissão Central das Pensões Eclesiásticas, em 1911, após a publicação da Lei de Separação da Igreja do Estado. Em Lisboa, juntou-se à comunidade açoriana na defesa dos interesses insulares, tendo sido nomeado, em 1944, vice-presidente da Comissão de Defesa e Propaganda das Ilhas. Como poeta, seguiu, numa primeira fase, os cânones parnasianos para, a partir de 1892, se tornar simbolista. Foi um dos pioneiros em Portugal do verso livre, antes da sua prática se tornar corrente com Fernando Pessoa e o modernismo. A sua obra está dispersa por jornais dos Açores e Lisboa.
Dados retirados do CCA – Cultura Açores
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MEDEIA
Medeia, filha de Eetes, rei da Cólquida, sobrinha de Circe foi uma esperta e subtil feiticeira que se apaixonou por Jasão, ajudando-o a obter o famoso “Velocino de Ouro”, que era posse de seu pai. O “Velocino de Ouro”, também conhecido por “Tesão de Ouro” era uma espécie de véu, mítico, doirado, e preciosíssimo que pertencera, originalmente, a um carneiro que tinha salvado duas crianças, Frixo e Hele, filhas de Atamante. Para as livrar de serem imoladas em sacrifício a Zeus, sob as ordens da sua malvada e cruel madrasta, Ino, o carneiro fugiu com as crianças, levando-as às cavalitas, para as montanhas. No entanto, durante a viagem, ao cruzarem o estreito canal que separava a Europa da Ásia, Hele caiu das costas do carneiro, estampando-se no mar que ali existia e que, por isso, passou a chamar-se - o Helesponto. Mas Frixo continuou o voo, bem agarrado ao dorso do carneiro, até o Mar Negro. Aí, o carneiro parou, desceu até à Cólquida e dirigiu-se para palácio do rei Eetes. Eetes recebeu Frixo de maneira gentil e simpática. Para lhe agradecer, o menino sacrificou o carneiro a Zeus, mas antes tirou-lhe o véu da lã, que se transformou num belo - “Velocino de Ouro” que ofereceu-o ao rei Eetes. Eetes, por sua vez, pediu a Ares, deus da guerra selvagem, da sede de sangue e da matança personificada, que o guardasse e Ares depositou-o num bosque sagrado, colocando um temível dragão a vigiá-lo, a fim de não ser roubado. Quando Jasão surgiu à procura do “Velocino de Ouro”, Ares jurou que apenas lho daria se ele conseguisse lavrar um campo com um arado puxado por dois monstruosos e indomáveis touros, com cascos de bronze nas patas e que expeliam fogo pelas narinas, os quais lhe haviam sido oferecidos por Hefesto.
Ora, Jasão queria o “Velocino de Ouro” para satisfazer as exigências imperiosas de Pélias, usurpador do trono do reino de Iolco. Jasão era filho de Éson, o legítimo rei de Iolco mas velho e incapaz de governar, e Pélias, meio-irmão de Éson, deveria governar Iolco, apenas até que Jasão, o verdadeiro herdeiro do trono, atingisse a idade adulta. Quando Jasão alcançou a maioridade, exigiu a sua herança, ou seja, o trono de Iolco, mas Pélias, não quis abdicar e obrigou-o a uma missão impossível: só lhe daria o trono de Iolco se ele lhe trouxesse o “Velocino de Ouro”, tarefa, obviamente, considerada inexequível, dada a permanente vigilância do temível dragão. Mas Jasão teve sorte, porque cerca de cinquenta heróis gregos comprometeram-se a ajudá-lo, não apenas a construir um navio, que o havia de levar à Cólquida mas também acompanhando-o na viagem, a fim de ele conseguir aquele infactível objectivo. Entre estes heróis, os mais importantes foram: Tífis, timoneiro do navio, o músico Orfeu, Zeto e Cálais, filhos do Vento Norte, os irmãos de Helena, Castor e Pólux, Peleu, pai de Aquiles, Meléagro da Caledônia, famoso caçador de javalis, Laerte e Autólico, pai e avô de Ulisses respectivamente, Admeto, o profeta Anfiarau, o próprio Hércules e muitos outros que, em função do navio onde navegavam, ficaram conhecidos como os “argonautas”. É que o navio chamava-se Argo, nome que significava "Rápido", pois era o mais veloz navio até então existente, em toda a Grécia. Foi construído no porto de Pagasse, na Tessália, com madeira do Monte Pélion, sendo a proa feita com parte da madeira de um carvalho sagrado, trazido do santuário de Zeus, em Dodona, por Atena. Esta peça feita com madeira do carvalho sagrado era profética e poderia falar, em ocasiões especiais, a fim de proteger os argonautas ou orientar a rota do navio.
Para além da tarefa de lavrar o campo, Jasão ainda teria de nele semear os dentes de um terrível dragão que fora morto por Cadmo, em tempos idos. Uma e outra destas tarefas eram praticamente impossíveis para Jasão. Foi Medeia, que, conhecendo os segredos do pai e apaixonada perdidamente por Jasão, se dispôs a ajudá-lo em tão difícil tarefa. Movida pela sua enorme paixão, Medeia traiu o seu pai, o rei Eetes e usou os seus poderes mágicos para salvar a vida do amado e lhe dar o “Velocino de Ouro”. Foi Hera, deusa protectora de Jasão, que pediu a Afrodite que convencesse Eros a fazer com que Medeia se apaixonasse por Jasão, a fim de o ajudar. Em troca, Jasão casar-se-ia com ela, e levá-la-ia consigo, para Iolco. Para o ajudar Jasão, Medeia ofereceu-lhe um unguento com que deveria ungir o seu corpo, enquanto lavrasse o campo, tornando-se, assim, invulnerável ao fogo e ao ferro e, desta forma, conseguisse enfrentar os touros e lavrar o campo. Além disso, Medeia também o avisou de que dos dentes do dragão, depois de semeados, nasceria uma seara de soldados que se revoltariam contra ele e que matá-lo-iam. Para evitar que tal acontecesse, Medeia revelou-lhe o segredo de Cadmo: se ele, de longe, atirasse uma pedra para o meio desse exército nascido da terra, os soldados ficariam confusos e destruir-se-iam uns aos outros. Com tais conselhos, Jasão executou as duas tarefas com facilidade e perfeição, exigindo, no fim, a Eetes, a recompensa a que tinha direito: - o “Velocino de Ouro”. Eetes ficou furioso e tentou incendiar o navio Argo. Foi, novamente, Medeia que tal impediu, dando-lhe narcóticos e conseguindo adormecer o terrível dragão que guardava o “Velino de Ouro”, avisando-o, também, dos planos do pai, de lhe incendiar o navio. Jasão conseguiu, assim, fugir da Cólquida, com a posse do tesouro desejado – o “Velocino de Ouro”.
Medeia decidiu partir com Jasão levando consigo o seu irmão Apsirto. Sabendo que o pai lhes iria no encalço e para o confundir e atrasar, Medeia matou Apsirto e cortou-o aos pedaços, espalhando-os pelo caminho, pois sabia que o pai tentaria recolher cada pedaço do filho para lhe dar a sepultura devida e assim conseguiria que ele se atrasasse, impedindo-o de os apanhar. Mas tão hediondo crime fê-los incorrer na ira de Zeus que, para os castigar, decidiu afastar o navio da rota traçada. Mas nessa altura, a nau, Argo, utilizando o poder falante da sua proa, informou Jasão e Medeia de que teriam de ser ritualmente purificados do crime cometido contra Apsirto. Quem o faria, seria Circe, tia de Medeia, por isso, encaminhou-os para a ilha de Circe, onde a feiticeira os purificou, não aceitando, no entanto, que Jasão permanecesse na sua ilha.
Por isso, depois de purificados, continuaram a navegar, com destino à Tessália, mas chegados a Creta, Medeia voltou a ter um papel importante na luta de Jasão contra Talo, o homem de bronze, que, quase invulnerável, rondava a ilha, lançando pedras contra as naus que ali chegavam, impedindo-as de acostar à ilha. Medeia sabia que o seu ponto fraco consistia numa veia que ele tinha, protegida por uma cavilha, no fundo de uma perna. Graças às suas artes mágicas, o gigante foi enfeitiçado, levado à loucura e morto, após o que a tripulação pode, realmente, desembarcar em terra firme, na ilha de Creta.
Daí, Medeia, Jasão e o grupo dos argonautas seguiram para Iolco, na Tessália, onde foram recebidos com muito entusiasmo e grandes festejos. Com a sua arte mágica Medeia rejuvenesceu Éson, rei de Iolco e pai de Jasão, ajudando-o, mais uma vez, a matar Pélias, o usurpador da coroa de Iolco, fazendo com que as próprias filhas lhe dessem uma receita trocada e que estava envenenada. Esse crime, porém, fez com que a população de Iolco se revoltasse contra ela e contra Jasão, obrigando-os a fugir para Corinto, onde passaram a viver exilados.
Alguns anos depois, Jasão apaixonou-se e casou com Gláucia, a jovem filha de Creonte, rei de Corinto, desta feita, abandonando Medeia e os filhos e subestimando o seu poder de enfurecimento. Instigado pelo novo genro, o monarca decretou a expulsão de Medeia e de seus filhos de Coríntio, mas esta, inconformada, sentindo-se traída e humilhada, encheu-se de um ódio sobre-humano e arquitectou uma terrível vingança para aniquilar e destruir o seu ex-marido. Utilizando os seus poderes mágicos, matou os filhos que tivera com Jasão e presenteou a sua rival, Gláucia com um manto mágico que se incendiou ao ser vestido, matando-a a ela e ao pai, rei de Coríntio. Jasão enlouqueceu e suicidou-se. Depois da morte de Jasão, Medeia fugiu para Atenas e casou-se com o rei Egeu, pai de Teseu, com quem teve um filho, Medos. Mas, passado algum tempo, decidiu, conspirar contra a vida do enteado. Teseu, filho do primeiro matrimónio do rei Egeu, tentando envenená-lo. Descoberta foi obrigada a retirar-se de Atenas
Acompanhada do filho Medo, Medeia voltou para a Cólquida. Nessa altura o rei Eetes, seu pai, já tinha sido deposto por seu irmão Perses. Medeia e Medo mataram-no e Medo usurpou o trono da Colquídia. Apoiado pela mãe, tornou-se um rei forte e poderoso, conquistando um grande território, que passou chamar-se Média.
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O LOBO SEM SORTE
(CONTO TRADICIONAL)
Era uma vez um lobo que andava cheio de fome, pois há vários dias não conseguia caçar nada para comer.
Certo dia, acordou muito entusiasmado, cuidando que havia de encontrar alguma comida. Assim, logo pela manhã pôs-se a caminho do bosque e encontrou dois carneiros guerreando. Aproximou-se, sorrateiramente, sem eles se aperceberem. Ao chegar junto deles deu-lhes um enorme raspanete:
- Que desordem é essa? Aqui já não há rei nem roque?
- Ó senhor lobo – respondeu um dos carneiros, muito assustado, - bem sabemos que nos vai matar e comer, mas primeiro resolva-nos aqui uma dúvida: este meu amigo que é doutro rebanho, diz que esta pastagem é do dono dele e aquela é que é do meu dono, mas eu digo que não… Ora o senhor lobo podia ver se este marco está em endireito com aquele além…
O lobo armado em marcador de extremas e fronteiras, pôs-se a olhar muito atento, até que levou uma valente marrada de um dos carneiros que o deixou caído no chão e sem sentidos…
Ao acordar da pancada, lá pensou que não voltaria a ter tanto a azar nem nunca mais ser comido por lorpa, seguiu o seu caminho e, mais adiante, avistou, no meio de um vale, uma égua muito velha e magra com uma cria que andavam pastando.
- Ora ali estará a minha primeira refeição, - pensou. - A mãe está velha e magra e a filha é muito nova para me fazer mal…
Aproximou-se e, delicada e sorrateiramente, pediu desculpa á égua e disse que teria de a matar pois há dias que não comia nadinha. A égua, tentando proteger-se a si e à filhota, disse-lhe que concordava mas que antes se lhe fizesse um grande favor. Se ele atendesse o seu pedido até lhe dava a filha que ainda seria um melhor petisco.
- Qual é o favor? – Perguntou o lobo, já sonhando com um belo almoço.
- Ora, senhor lobo, é só tirar-me um cravo ou um prego que se me cravou na pata traseira e que não pára de me incomodar.
O lobo concordou e, mal se baixou para observar a pata da égua, levou tamanho coice que caiu de costas com os queixos partidos, enquanto a égua e a cria se punham em fuga, correndo para casa do seu dono.
Algum tempo depois, o lobo, ainda atordoado, lá se levantou e continuou a sua caminhada. Logo a seguir atravessou um pequeno oiteiro, onde encontrou uma porca com bacorinhos. Pensando que era desta vez que saciaria a sua fome, aproximou-se da porca com bons modos:
- Ando tão dorido e com tanta fome, senhora porca, que tenho de comer a ti e aos teus porquinhos…
- Ó senhor lobo, eu nem me importo que nos coma, mas os meus filhos ainda não foram baptizados. Se o senhor lobo me fizesse o favor de os baptizar, depois pode comê-los e vão-lhe fazer melhor proveito. Depois ainda me pode comer a mim. É só subir para cima da borda daquele poço, eu vou-lhe dando os porquinhos um a um e o senhor lobo deita-lhes a água. Depois pode comê-los.
Comovido o lobo não se fez rogado e saltou para a borda do poço. Mal o apanhou ali encavalitado, disposto a baptizar-lhe os filhotes, a porca deu-lhe tamanho empurrão que ele caiu para dentro do poço, quase morrendo afogado. A porca fugiu dali a sete pés com os filhos e o lobo, só algum tempo depois e muito a custo, consegui sair do poço, onde, onde quase morreu afogado.
Mas mesmo assim não desistiu de procurar comida, pois realmente tinha muita fome. Continuou a andar e, mais adiante, encontrou uma vaca a pastar num campo mas presa por uma corrente a uma estaca.
- Mas que sorte! Esta não me vai fugir. Agarro a corrente, puxo e a vaca cai. Que rico almoço eu vou ter e que me vai dar para três dias!
Arrancou a estaca, agarrou a corrente e, sem se aperceber, ficou preso a ela. Mal se sentiu solta, a vaca começou a correr, levando o lobo de rastos, atrás de si, preso na corrente. Esta, porém, rebentou e o lobo caiu num valado enquanto a vaca se refugiava no palheiro do seu dono. Cheio de dores o lobo lá se levantou e lastimando-se disse, para consigo: - "Quem te manda lobo ser marcador de extremas, veterinário de éguas e baptizador de porcos?
E voltou para a sua toca esfomeado e triste pensando que se a corrente não se tivesse partido, tinha sido arrastado até à casa do dono da vaca onde, muito provavelmente, havia de morrer com um tiro.