PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
QUADRILHA
(POEMA DE CARLOS DRUMOND DE ANDRADE)
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para o Estados Unidos, Teresa para o
convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto
Fernandes
que não tinha entrado na história.
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CARIDADE
“Há pessoas que desejam saber só por saber, e isso é curiosidade; outras, para alcançarem fama, e isso é vaidade; outras, para enriquecerem com a sua ciência, e isso é um negócio torpe; outras, para serem edificadas, e isso é prudência; outras, para edificarem os outros, e isso é caridade"
Santo Agostinho
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SÓ MAR
Quando eu era criança,
vivia numa fajã,
pejada de arvores frondosas,
prados verdejantes
rochas robustas
ribeiras ousadas
mas encafuada entre veredas e maroiços.
À minha frente,
o mar…
... só o mar,
que eu adorava
mas que me obstruía todos os caminhos
e me cerceava todos os desejos.
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ALICE MODERNO
Alice Augusta Maulaz Moderno nasceu em Paris, em 1867 e faleceu em Ponta Delgada, ilha de São Miguel em 1946. Precisamente, no ano em que nasceu, veio com os pais à ilha Terceira, onde ficaria alguns meses antes de regressar a Paris. Em 1876, voltaria àquela ilha, fixando-se em Ponta Delgada em 1883, ano em que iniciou a sua actividade literária com a publicação, no Açoriano Oriental da poesia Morreu! Em 1886, publicou o primeiro livro de poemas, Aspirações, e em 1892, publicou o primeiro romance, O Dr. Luís Sandoval. Deixou ainda três peças de teatro e um ensaio.
Fundou os jornais O Recreio das Salas, em 1888, e A Folha, em 1902. Em 1891, começou a colaborar, activamente, no jornal Diário de Anúncios de que tomou a direcção entre 1892 e 1893.
Em 1910 participou activamente na vida social como republicana e feminista e, em 1911, fundou a Sociedade Micaelense Protectora dos Animais. Depois da sua morte, em 1948, foi inaugurado o «Hospital Alice Moderno» e, em 1956, com o dinheiro da arrematação dos seus bens foi comprada a Casa do Gaiato. Foi a primeira mulher a frequentar o Liceu em Ponta Delgada, exercendo, também, a actividade docente como professora do ensino particular.
Obras principais - Poesia: Adeus!, Aspirações, Trilos. Ponta Delgada, Hymno dores aço, Os mártires do amor. Asilo de mendicidade, No adro, Os mártires, Mater Dolorosa., Versos da mocidade e Trevos. Romance: O Dr. Luís Sandoval. Teatro: A Apoteose, Na véspera da incursão e A voz do dever. Ensaio: Açores: pessoas e coisas. Tradução: Os piratas da Suécia, O romantismo em França e Vários romances franceses, publicados em folhetim, no Diário de Anúncios.
Dados retirados do CCA – Cultura Açores
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ABRIL MOLHADO
“Abril molhado, sete vezes trovejado.”
Mais um adágio fajãgrandense, a lembrar que se chover em Abril serão muito frequentes as trovoadas. Tudo o que ao tempo dizia respeito se reflectia na vida e nos costumes de uma sociedade essencialmente agrícola, mas com uma pobre e simples agricultura de subsistência, trabalhosa, árdua, mísera e fustigada por flagelos atmosféricos, cenário que Pedro da Silveira retractou neste poema:
“… Na praça os homens falavam da beleza do tempo:
…..
…Na terra as plantas crescem.
Crescem promessas
nos olhos do povo.
…Então
o vento soprou rijo da banda do mar
e a salmoura caiu sobre a terra
como uma semente de maldição.
E onde houve searas viçosas
ficou mais um ano de fomes
e os nossos corações sangrando.”
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A DERROCADA DE RED RIVER
Durmo sobre uma sebe de sobreiros, muito bem podada e ainda melhor tratada. Inicialmente, ali plantara faias, paus brancos, sanguinhos, loureiros e folhados, mas nenhuma destas árvores resistiu a intempéries e vendavais. Agora nasceu e cresceu ali uma sebe, uma espécie de obra de arte, simétrica e verde. O vento é um terrorista mascarado de videira podada. Destrói tudo por onde passa, até desfaz os regos das batatas, antes delas nascerem, mesmo que estejam entrelaçadas com girassóis floridos ou cobertas com farelo de serra. Mas o vento não destrói apenas os batatais e as sebes imberbes. Também entra pelas chaminés de prédios antigos e modernos, sacudindo e abanando alunos que estudam, com afinco, latim, língua difícil e de grandes e profundos meandros morfológicos. O padre Jacinto ensinava latim com uma sabedoria danada, mas também com um rigor tremendo e com uma exigência endiabrada, espalhando o terror pelos cantos das salas, onde eu, geralmente, me escondia a fim de não ser chamado e ler e traduzir, ir ao quadro, e dar um grande estandarete. Prefiro ficar, num canto da minha velha e rústica cozinha, a roer um côdea de pão de milho, rijo e bolorento. Lá fora faz muito frio e há neve no Marão. Faz pouco mais de um ano que eu comprei um camisola esverdeada, com desenhos de marujos a subir e a descer as escadas do Carvalho. Não era Verão mas eu fui à festa do mato, junto à Casa do Estado, nas imediações do Pico da Burrinha, onde meu irmão António me deixou sozinho. Tinha que ir, imediatamente, às Lajes, a pé, atravessando relvas, até à Boca da Baleia. Eu chorava como uma Madalena, sem encontrar remédio para o meu problema e sem descobrir solução para a minha dor, cuja origem desconhecia e, em boa verdade, não me interessava absolutamente nada conhecer. Já há algum tempo que procurava um espaço para levar a minha frenética ovelha a pastar. Era na ladeira do Fernando, no estendedouro onde a mãe, a minha vizinha Lucinda, punha a roupa a corar. Não adivinhava eu, era que estivesse ali sentada, na aba duma pedra, a abrigar-se da chuva a Rosa Maria, toda encharcada e pobremente vestida. Parecia uma pedinte. Apenas os dentes brilhavam por entre um sorriso deliciosamente atraente e reflectiam-se na Caldeira da Água Branca, onde se enfiou a velha Tenenta. Logo a seguir, entrava na estação de metro do Areeiro, onde um grupo de freiras bailava como se estivessem a simular uma solene adoração da cruz. Era Sexta-feira Santa e havia pessoas a correr na Fontinha, com baldes e latas, ávidas de encher água na Fonte Velha…
Depois vinha a professora de Linguística convidar-me para ver o local, onde tinha construído um restaurante. Ela, a Rosa Maria e eu, ao finalizar a aula, fomos lá jantar. Não havia mesas e na cozinha o chefe só falava em migas de brócolos, com salsichas de soja grelhadas. A doutora Andreia, com a sua varinha de condão, bem desejava substituir as salsichas por alheiras e a Rosa Maria, sempre simpática e solícita, amiga de ajudar e de bem-fazer, numa corrida louca, partia para Mirandela, a pé. Andava, andava e nunca mais lá chegava. Mas em Mirandela só havia um talho que estava dividido em duas partes, uma era realmente um talho com alguns produtos de mercearia personalizados, e a outra parte, um edifício muito velho, onde, apenas, havia restos do que teria sido, outrora, um restaurante. Ali era proibido comer carne de vaca, favas e ovos cozidos. Havia muitas pessoas sentadas ao redor de mesas, mas apenas partilhavam os seus pratos vazios, trazidos das cozinhas do Ikea ou mandados vir da Rússia. A Rosa Maria, indignada, dizia que os pratos haviam sido roubados ao Putin. Na viagem de regresso da Rússia, vinha a meu lado um homem com a sua mulher, extremamente gorda. Ao andar, a mulher esquartejava-se e mostrava um traseiro esférico, flutuante e libidinoso. Disseram-me que haviam viajado por dezenas de países asiáticos e nunca tiveram sequer um acidente aéreo, por isso chegavam à Fajã, sãos e salvos, dispostos a empreender novas viagens. Das cozinhas da Via d’Água saíam rolos de fumo. Os sinos repicavam e eu tinha que subir a rocha, debaixo de uma chuva intensa. A Rosa Maria dizia-me para ter cuidado, com a chuva pois com ela a probabilidade de caírem grandes derrocadas, era bem maior. E contava que há dias uma grande derrocada caíra em Red River e destruíra um talho, onde desapareceram todas as salsichas de soja. Tudo ficara destruído com a derrocada de Red River. Pedia-lhe que me guardasse o livro de Francês e que subisse a rocha comigo, mas ela recusava-se. Só me falava naquela temível e trágica derrocada de Red River. Eu, então, subia a rocha sozinho, numa correria louca… mas tinha um medo enorme e terrível… Tinha medo de ser vítima de uma derrocada como aquela de Red River… Uffa!
Levantei-me, assomei à janela e subi a persiana. Um sol danado, lá fora, preanunciava um dia primaveril.
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ROBUSTO
MENU 33 – “ROBUSTO”
ENTRADA
Canapés de tostas com legumes, alface e pimento, barradas com creme de queijo fresco e recobertas com alface e doce de pimento vermelho. Tiras de pimento e rodela de pepino recobertas com creme de queijo.
PRATO
Risoto de salmão com cenoura, feijão-verde, repolho branco e brócolos, com creme de queijo de alho e cebola, levemente polvilhado com queijo ralado.
SOBREMESA
Morango com compota de pera e laranja e com iogurte de soja/morango. Gelatina de ananás..
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Preparação da Entrada: - Barrar as tostas com o creme de queijo e colocar-lhes legumes e pedacinhos de alface encimados por montinhos de doce de pimento vermelho. Barrar as tiras de pimento e as rodelas de pepino com queijo e servir.
Preparação do Prato – Cozer o salmão e os legumes em água temperada com 1 colher de sobremesa de azeite e ervas aromáticas. Guardar esta água. Refogar com alho, uma cebola, em pedacinhos, no restante azeite. Depois de alourar, juntar o arroz, deitando aos poucos a água dos legumes necessária para que o arroz fique bem cozido. Juntar o salmão e os legumes devidamente picados muito miudinhos. Misturar o creme de queijo, mexendo mito bem e polvilhar com um pouco de queijo ralado, preferencialmente, fresco.
Preparação da Sobremesa – Partir os morangos, cobri-los com um pouco de doce compota e iogurte de soja com pedaços de fruta. Gelatina, pelo processo tradicional.