PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O LAMEIRO
Um dos vários lugares da Fajã Grande com um nome deveras interessante, apesar de um pouco estranho, era o Lameiro. Situado na zona das terras de mato, entre o Espigão e os Lavadouros, o acesso a este quase mítico lugar, era feito pelo caminho que seguia do Cimo da Assomada e que em Santo António se bifurcava, separando-se do Caminho da Cuada, seguindo pela cabaceira, Cancelinha e Espigão até aos Lavadouros. No entanto, o Lameiro não ficava à beira deste caminho, pelo que o acesso às terras situadas naquele local era feito por uma pequena, estreita e tosca canada, conhecida por Canada do Lameiro, que se iniciava no cimo da Ladeira da Lombega, sita no referido Caminho, logo depois da recta do Espigão.
O Lameiro tinha como fronteiras ou limites, a norte o Espigão, a leste a Alagoinha, a sul os Lavadouros e a oeste a Lombega. Embora localizada numa zona de arvoredos, onde predominavam faias e incensos, o Lameiro era um dos melhores lugares da Fajã Grande para o cultivo de inhames. Eram célebres os “inhames do Lameiro” e da sua excelência e boa qualidade se orgulhavam e ufanavam os que ali possuíam terras.
Muito provavelmente a origem deste nome terá a ver com a sua capacidade produtiva. Na realidade o Lameiro era uma espécie de gratificante e fértil oásis, situado no meio da enorme mancha verde que separava as terras de cultivo e as pastagens ou relvas, na Fajã Grande. Em tempos idos, muito provavelmente, ali teria existido água, ou originária de nascentes ou armazenada, naturalmente, depois de chuvas torrenciais, o que teria conferido àqueles terrenos capacidades produtivas e fertilidade que os lugares ao redor, com excepção da Lombega, não possuíam. Talvez, em tempos recuados se tivesse cultivado ali, trigo ou milho, ou até abóboras, feijão e favas… No entanto, na década de cinquenta apenas se cultivavam inhames, pese embora, num ou noutro campo da Alagoinha, ali ao lado se cultivassem alguns produtos agrícolas, mas em terrenos que ladeavam o caminho, o que facilitava o transporte dos mesmos em corsão ou carro de bois.
Lameiro! Um mítico e emblemático lugar da Fajã Grande, hoje muito provavelmente perdido no tempo e no espaço e onde, decerto, bons e saborosos inhames já não florescem.
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O CRAVO E O LENÇO
Num destes dias, numa viagem de avião entre a Terceira e o Porto, a transportadora aérea em que viaja, decidiu, como é seu hábito, servir, durante o percurso, a tradicional refeição ligeira, com que as companhias aéreas portuguesas, normalmente, obsequeiam os seus clientes, nos voos domésticos: uma sande de fiambre com uma folhita de alface, algum molho do tipo mostarda e uma bebida à escolha. Um essencial, como sobremesa, completava o cardápio. Havia de seguir-se, apenas, café ou chá.
Para espanto meu, este famigerado menu foi-me servido por uma jovem, bela e simpatiquíssima hospedeira que não cessava de olhar para mim, sorrindo suave e alegremente. Interroguei-a, no sentido de descortinar o motivo de tão perturbadora, mas ao mesmo tem gratificante, atitude.
- Então, o senhor não me conhece? Já não se lembra de mim?
Que não, que nunca a vira, que não fazia ideia de quem era ela. Se, eventualmente, já a tivesse visto, disso não me lembrava, o que era, no mínimo, lamentável.
- Então?! Fui sua aluna, sua aluna de Português!... Não se lembra?
Expliquei que as minhas alunas foram sempre criancinhas e foram tantas que de muitas delas não me podia lembrar. Além disso, decerto que teria mudado muito…
Mas, tentando avivar a memória e reparando melhor, concluí que aqueles os olhos, as covinhas da face e, sobretudo, aquele doce sorriso começavam a trazer-me a imagem duma doce e meiga menina, minha aluna de outros tempos, que, aos poucos e com as explicações que me deu, se foi definindo e clarificando.
Tratava-se da Sílvia, natural de uma das freguesias dos arrabaldes da cidade onde resido, que, na verdade, em tempos idos, fora minha aluna. Sim senhora! Agora, lembrava-me perfeitamente dela…
E enquanto com agilidade e segurança ora distribuía as caixinhas do cardápio com a tal ligeira refeição, ora servia as bebidas consoante os desejos dos passageiros, a simpática hospedeira lá foi elogiando as minhas qualidades de professor:
- Olhe, foi o melhor professor que eu tive! E foi consigo que eu comecei a gostar de Português e, sobretudo, de poesia. Foi o senhor que me deu o primeiro poema que eu li. Gostei tanto que o decorei e ainda hoje me lembro dele. Era um poema de Eugénio de Andrade… Quer ouvi-lo? Era assim:
“Tinha um cravo no meu balcão;
Veio um rapaz e pediu-mo
- mãe, dou-lho ou não?
Sentada, bordava um lenço de mão;
Veio um rapaz e pediu-mo
- mãe, dou-lho ou não?
Dei um cravo e dei um lenço,
Só não dei o coração;
Mas se o rapaz mo pedir
- mãe, dou-lho ou não? “
Os passageiros, ao redor, tão pasmados e embasbacados ficaram que suspenderam a tal ligeira refeição. Um senhor, ao meu lado, comentou com algum exagero:
- Parabéns! Os professores deviam ser todos assim…
Terminado o serviço de refeições, a Sílvia, regressando ao meu lugar, explicou:
- Sabe, professor. Foi por causa de si e do tal gosto pela poesia que o senhor fez despertar em mim, nas suas aulas, que decidi formar-me em literatura portuguesa. Infelizmente, não consegui entrar no ensino. Mas talvez tenha sido melhor, pois foi devido a isso que aproveitei a oportunidade de concorrer a hospedeira. Hoje, já sou profissional. Gosto muito deste trabalho e não o trocava por outro. Mas acredite que, foi por causa de si, que continuo a gostar muito e a ler poesia.
Confesso que me senti lisonjeado.
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CIRCUITO PEDESTRE AO REDOR DE PAREDES
O circuito diário, pedestre, ao redor da Cidade de Paredes, tem cerca de 5 Km e demora 12x5 minutos, ou 60x1 minutos, ou seja uma hora. Inicia-se no edifício Fonte Sacra II e termina no mesmo, frente ao Blush. É constituído por 12 etapas, dividias em cinco partes cada.
1. F. Sacra
1.1. Cruzamento
1.2. Hotel
1.3. Cabine
1.4. Anúncio de Semáforo
1.5. Casa Amarela
2. Expansão
2.1. Fossa
2.2. Rua da Saudade
2.3. Numerus
2.4. Entrada das Finanças
2.5. Banco BIC
3. Sentiais
3.1. Eirado
3.2. Padaria
3.3. Biblioteca (fim)
3.4. 1º Cruzamento do Parque
3.5. 2º Cruzamento do Parque
4. Estrebuela
4.1. Ourivesaria
4.2. Multi-ópticas
4.3. Junta
4.4. A. Chinês
4.5. A. Fonte
5. S. José
5.1. Igreja
5.2. Garagens
5.3. P. do Passal
5.4. Infante
5.5. Rede
6. Estação/Feira
6.1. V. Real
6.2. Montepio
6.3. Doce Cake
6.4. Rover
6.5. Feira
7. Pias
7.1. Paragem
7.2. C. Dentária
7.3. Passagem
7.4. Misericórdia
7.5. A. Hospital
8. Castelões
8.1. Queen
8.2. 2º Estacionamento
8.3. Centro Comercial
8.4. Avenida
8.5. Cimo da Rua Nova
9. S. da Guia
9.1. S. Bar
9.2. Cadeia
9.3. E. dos Bombeiros
9.4. A. Casa
9.5. R. de Jogos
10.Perrace
10.1. C. Amarela
10.2. Tasco
10.3. Milénio
10.4. T. da Adega
10.5. C. do Correio
11. Gaia
11.1. Antiga Electro
11.2. Clínica
11.3. Casas Velhas
11.4. Fim da Nacional
11.5. Última Entrado Inter
12. Inter/Queimadas
12.1. Placa da Rotunda
12.2. Fim da Rede
12.3. Pinheiros Altos
12.4. Termo da Mata
12.5. FonteS Sacra
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PALAVRAS, EXPRESSÕES E DITOS UTILIZADOS NA FAJÃ GRANDE (XV)
Ablorado – Dizia-se do pão quando ficava com bolor e com um sabor azedo.
Acomodar – Dar hospedagem. Receber alguém em casa.
Apoquentação - Inquietação.
Arrenegar - Rejeitar
Assim c’ma sim – Mais ou menos, de qualquer modo.
Atazanar – Incomodar, provocar.
Banqueta – Bancada de pedra em frente de um prédio.
Candins – Doces que traziam as encomendas vindas da América
Carro de praça – Taxi.
Cascão das papas – Crosta queimada que se formava no fundo do caldeirão quando se faziam as papas. Era muito apreciado, sobretudo pelas crianças.
Chata – Pequena embarcação, feita de tábuas, destinada a levar os marinheiros para os gasolinas da baleia, apoitadas, longe de terra.
Coarar a roipa – Colocar a roupa ao Sol, sobre um tapete de relva (estendoiro) para a branquear.
Discreteza – Inteligência.
Estar à cabeceira – Velar alguém na morte.
Estarraçador – Pessoa descuidado que desfaz ou estraga tudo.
Estendoiro – Pequeno recinto, geralmente relvado, onde se colocava a oura a “coarar”
Esticar o pernil – Morrer.
Feito-cavalo – Tipo de feto menos comum, com folha mais comprida e sem utilidade.
Feito-manso – Feto normal, comum na freguesia, usado para cama do gado.
Fender lenha – Rachar, cortar a lenha em pequenos pedaços.
Incomenda – Saca com roupa, vinda da América.
Jimpar –Saltar.
Laje – Pedra grande e lisa na parte superior, semelhante a uma mesa.
Laparoso – Mau. Atrevido.
Lepra – Má pessoa. Mau. Atrevido.
Mandalete – Recado.
Manganão – Mariola, atrevido
Milho de vassoura – Tipo de milho miúdo, cuja espiga era utilizada para o fabrico de vassouras. Geralmente era semeado nos cantos dos terrenos agrícolas.
Mosca-tonta – Pessoa sonsa, incapaz.
Oraçais – A planta ou o fruto do araçaleiro.
Pão estufado – Pão colocado num caldeirão, sobre água a ferver, quando velho e bolorento.
Papas grossas – Papas feitas com a farinha do milho moído em verde, em moinhos manuais.
Pequerrucho – Pequeno, criança.
Pinhos – Molas de prender a roupa na corda.
Pisar – Magoar.
Poção –Poço grande.
Poço do esterco – Pequeno recinto, fora dos palheiros, onde se armazenava o esterco do gado
Poderes – Muito ou Muitos, Grande quantidade.
Quedo – Quieto.
Ralar – Preocupar.
Ror d’anos – Muitos anos.
Saroulhas – Ceroulas.
Se cagar todo – Ficar cheio de medo ou muito assustado.
Slipas - Chinelos
Sobrade – Chão de madeira, de uma sala ou quarto.
Sorna – Preguiçoso
Ter o ovo atravessado – Dizia-se das crianças quando estavam irrequietas.
Tesoireiro - Sacristão
Texto – Panela.
Trunfa – Cabelo caído sobre a testa.
Vardade – Verdade.
Vardasca – Pau ou vara para bater.
Velha do Corvo – Personagem mítica, apresentada às crianças e que trazia os bebés quando nasciam.
Velho Laranjinho – Personagem mítica que morria todos os anos e cujo funeral se realizava no dia de finados – 2 de Novembro
Ventas – Cara, rosto.
Vêsio – Vê-lo