PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O MILAGRE
Fez-se um silêncio enorme, enigmático, perplexo, inexplicável e quase incompreensível, que durou alguns minutos. Apenas se ouvia o roncar tremendo dos trovões a misturarem-se com o ciciar deslizante da lava efervescente e os latidos dos cães, também eles em enigmática aflição. O povo, interiorizando as palavras de Frei José das Cinco Chagas, como se quisesse fixá-las para sempre na memória de todos, gravá-las em letras incorruptíveis no coração de cada um, rezava, implorava, meditava e suplicava a protecção do Divino Espírito Santo, aguardando que as suas fervorosas e humildes preces chegassem junto ao trono do Altíssimo. Os momentos eram silenciosos, longos, doridos e amargos. O tempo, tingido de angústia e sofrimento, demorava e, como que se transformava-se numa eternidade
Muito a custo se passaram algumas dolorosas e angustiantes horas, após as quais, para espanto de todos, aqueles terríveis e fortíssimos tremores começaram a diminuir de intensidade e a ouvirem-se como se fossem apenas um eco. Ao mesmo tempo aquele rio de lava incandescente e destruidor, que descera ininterruptamente pelas encostas da montanha, como que parecia, agora, menos intenso e, aos poucos, o imensurável manto de lava que se havia derramado sobre toda aquela zona, entre Santa Luzia e Bandeiras, parecia ir adquirindo uma cor mais amarelada, mais escura e mais estranha.
Ao meio dia já nem o eco daqueles tenebrosos e aterradores trovões secos se ouvia, a torrente de lava parecia ter-se escoado por completo e o chão desde há muito que não tremia. Um Sol sereno, quente e acariciador desceu sobre a parte sul da ilha, envolvendo-a com um manto doirado. O vento começara a soprar mansamente de Oeste e o mar tornara-se tranquilo e mais azulado. Um misto de perplexidade e alegria como que começava a inundar os ânimos de quantos até então se encontravam exaustos e prostrados no pequeno átrio da ermida. Um a um, os habitantes de Santa Luzia, que até então haviam permanecido deitados, ajoelhados, prostrados, enrolados em cobertores e em sacos de serapilheira, iam-se levantando, na expectativa de que aquele, afinal, ainda não seria o último dos dias de suas vidas. O espectro do medo, do terror e da morte ia-se desanuviando, estranha e lentamente, como um amanhecer de verão que, aos poucos, se ia clarificando. O povo tímido mas expectante, começava a acreditar num milagre. O Senhor Espírito Santo viera em seu auxílio. Salvara-o.
Frei José das Cinco Chagas havia colocado a coroa do Divino Espírito Santo, sobre uma pequena mesa à entrada do templo. O velho ermitão permanecera toda a manhã, de joelhos, debruçado sobre a mesa e com a cabeça reclinada sobre os braços, em profunda e convicta oração.
De longe começavam a chegar ao largo fronteiriço à igreja homens e mulheres, vindos do Lajido, dos Arcos, do Meio Mundo, da Miragaia, do Cachorro e até das Bandeiras, que se juntavam à multidão, aglomerada no largo, em frente à ermida, contando e narrando factos extraordinários. No Cachorro, todo a zona envolvente à ermidinha da Senhora dos Milagres, construída há pouco mais de trinta anos, fora poupada pela lava. A enorme e caudalosa torrente destruidora, ao chegar junto da ermida, por intercessão de Nossa Senhora, Mãe de Deus, afastara-se dela, deixando-a intacta assim como todas as casas ao seu redor. Mais acima havia um boi a pastar num campo, que também poupado à fúria avassaladora da torrente. Ao redor tudo tinha sido destruído. Aquele boi estava a ser criado para ser oferecido ao Senhor Espírito Santo. Lá para os lados do Meio Mundo um outro campo cujo trigo havia de ter o mesmo destino, também não fora atingido pela lava incandescente. Estas e outras narrações passavam de boca em boca e iam chegando aos ouvidos de todos, ao mesmo tempo que os ia animando, revitalizando, enchendo de força e coragem e sobretudo e de um estranho sentimento de fé e confiança - algo de sobrenatural pairava sobre todos, uma força estranha e divina protegia-os. O Senhor Espirito Santo, em cuja força e poder haviam confiado, salvara-os.
E quando ao fim da tarde, o povo reunido começava a partir dali, na possível demanda dos seus lares, na quase certeza de que tudo passara, cada um dos que ali haviam permanecido o dia inteiro, ia sentindo dentro de si e acreditando convictamente que só um milagre, um grande milagre da força e do poder do Divino Espírito Santo os havia salvo. Por isso mesmo, todos sentiam dentro de si aquela força incrível - o vínculo que os unia na promessa que conjuntamente haviam feito e que todos haviam de cumprir e transmitir aos seus filhos e aos seus netos para que a cumprissem para sempre e jamais esquecessem aquela promessa que ajoelhados diante da coroa que Frei José erguera e com que os abençoara, haviam feito ao Divino Espírito Santo.
E transitando em grupos, pelas ruas, às escuras, com destino a lugar nenhum, entoavam cânticos de louvor ao Divino Espírito Santo:
“Ó Senhor Espírito Santo
Nós rogamos com clamores
Mandai que nesta terra
Não haja mais tremores.
Glória ao Pai, nosso criador,
E ao Filho que por nós s’imolou,
Glória ao Espírito Santo Divino
Que com a Sua força nos salvou.
Os pecados são a culpa
Da terra tanto tremer
Eu vos prometo, Senhor
Nunca mais vos ofender.”
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LIMPEZAS PRÓ COMPASSO
Hoje, como habitualmente, realizei mais um percurso pedestre ao redor da Cidade de Paredes, com um itinerário de cerca de 5 Km. Iniciei-como habitualmente, no edifício Fonte Sacra, percorrendo grande parte da CRIP, regressando ao sítio de onde partira.
Nas ruas, passeios, pátios, portas, janelas, casas, tascos, um burburinho medonho. Não havia rua, passeio, pátio, porta, janela, casa, tasco, entrada de prédio que resistisse à fúria avassaladora das vassouras, manqueiras, detergentes e baldes de água. Uma limpeza geral da cidade em geral e de cada casa em particular. Só a partir de determinada altura me lembrei que, afinal, tudo isto tem uma explicação muito simples e tem uma razão muito plausível. Trata-se da preparação para a eminente visita pascal, vulgo compasso, que na boa tradição nortenha deve ser preparado com uma certa antecedência, através de uma boa barrela, efectuando-se, assim, uma limpeza mais profunda e exigente às ruas, aos passeios e às casas, por vezes até caiando ou pintando muros e sempre arranjando e enfeitando os jardins.
Na realidade, as pessoas são todas muito cuidadosas com a limpeza das ruas, das casas e com o arranjo das mesmas. Antigamente já era assim, nos meios rurais e nas aldeias: os homens cuidavam da parte exterior da casa ficando a parte interior ao cuidado das mulheres. Os homens arrumavam o pátio, tiravam as ervas, limpavam a rua, dando um ar festivo a tudo, enquanto as mulheres esfregavam o soalho com sabão e escova e preparavam a sala, enfeitando-a muito bem, colocando-lhe uma a toalha de lino bordada.
Há, inclusivamente, quem ainda hoje considere que um dos grandes benefícios do compasso, para além do aspecto religioso e de agregação das famílias, seja o da higiene!
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NUNO ÁLVARES MENDONÇA
Nuno Álvares Mendonça nasceu na Beira, Velas, ilha de S. Jorge, em 12 de Abril de 1923. Fortemente influenciado pelo pai, Rui de Mendonça, começou por se dedicar à pesca desportiva. Aos 14 anos de idade tirou a cédula marítima e, dois anos mais tarde, dedicava-se já à caça da baleia uma armação baleeira pertencente à família.
Concluiu o Curso Industrial e Comercial na antiga Escola Madeira Pinto, em Angra do Heroísmo. Cumprido o serviço militar em Évora e Vendas Novas, regressou à ilha de S. Jorge, onde exerceu, durante largos anos, intensa actividade laboral e industrial. Amante da liberdade, apoiou, na sua terra natal, as candidaturas de Humberto Delgado e Norton de Matos.
Nos anos 70 fixou-se com a família na ilha Terceira e, uma década mais tarde, na ilha de S. Miguel. Até à reforma dedicou-se à pesca atuneira, tendo sido proprietário do único navio atuneiro português com sistema de pesca de cerco e havendo com ele pescado nos mares dos Açores, Cabo Verde e Golfo da Guiné.
É autor de uma obra de referência no âmbito da etnografia marítima açoriana: Memórias de um Baleeiro. Trata-se de um documento vivo de factos vividos e sentidos pelo seu autor durante o tempo em que foi baleeiro e onde é descrito, de forma rigorosa, os processos, as técnicas, as operações e as nomenclaturas referentes à faina baleeira, a par da evocação de gentes do mar e da terra de grande riqueza humana.
Escreveu ainda Histórias de Aventuras, Contrabandos e Marinheiro em Terra, obras que referem interessantes percursos de vida vivida e de vida sonhada. Assumidamente auto-biográficas, são histórias de aventuras, memórias e peripécias que se lêem com infinito prazer.
Dados retirados do CCA – Cultura Açores
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DESLUMBRANTE
MENU 36 – “DESLUMBRANTE”
ENTRADA
Rodelas de pepino grelhadas em seco e barradas com creme de queijo fresco com salmão. Tiras de pimentos grelhadas e barradas com doce também de pimento. Rodela de queijo fresco, coberta com nozes e barrada com mel.
PRATO
Lombinhos de pescada grelhados, acamados sobre alface e cebola, barradas com azeite e vinagre balsâmico. Arroz de legumes e grelos
SOBREMESA
Uvas e gelatina de morango.
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Preparação da Entrada: - Cortar, finamente, as rodelas de pepino e as tiras de pimento verde, vermelho e amarelos e grelhá-las em fritadeira antiaderente, sem gordura. Barrar as rodelas com creme de queijo fresco e as tiras com doce de pimento, Cortar uma rodela grande ou várias pequeninas de queijo fresco, cobri-lo com miolo de nozes e barrar com um pouco de mel. Empratar
Preparação do Prato – Grelhar os lombinhos de pescada no forno ou no micro-ondas, coloca-los sobre uma camada de alface e tirinhas de cebola, barradas com azeite e vinagre balsâmico. Servir com o arroz.
Preparação da Sobremesa – Processo tradicional.
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MORAL SÓLIDA
A Fajã Grande, na década de cinquenta, sobretudo devido à sua situação geográfica, era uma sociedade bastante isolada, com alguns hábitos e costumes muito rudimentares mas com uma moral digna, nobre e recta.
A maioria da população podia, verdadeiramente, ufanar-se de possuir uma conduta moral nobre e digna e, no seu dia-a-dia, no seu trabalho, nos poucos convívios e descansos de que dispunha, nas festas e divertimentos em que participava, enfim, sempre e em toda a parte, era detentora de costumes simples e bons. Uma digna herança do passado! Praticamente não se conheciam ladrões, pelo que os roubos eram raros e pouco generalizados, até porque sendo uma pequena freguesia rural, muito distante e até, praticamente, isolada de corruptores, não sofria quaisquer influências malignas ou malfazejas. Geralmente ninguém guardava para si o que não era seu e até os achados eram, religiosamente, anunciados pelo pároco à hora da missa, ou no caso dos mais pequenos e menos valiosos, colocados sobre a pia da água benta, à entrada da igreja, a fim de que o dono os recolhesse.
As pessoas adultas andavam sozinhas pelos caminhos e pelos matos, as crianças brincavam nas ruas, as portas das casas estava sempre abertas e quaisquer bens deixados aqui ou além, sem problema. Apenas se contavam, mas com o fim de assustar os mais tímidos, “estórias” de fantasmas, de feiticeiras e de almas do outro mundo.
A educação moral dos filhos também era um ponto de honra. Estes deviam ser educados, respeitadores, trabalhadores e obedientes, evitando brigas e palavras e gestos obscenos.
Havia por vezes, entre as pessoas, algum sentimento de vingança e de intrigas, muitas vezes dentro da própria família, mas a maioria delas acabavam por pacificar-se mais tarde. Os fajãgrandense. No geral, eram francos muitas vezes, ainda que duma rude, muito corteses, sabendo retribuir o bem que lhes era feito.
A Fajã Grande, na década de cinquenta, era, na verdade, uma freguesia pacata, onde dominava a excelência dos costumes e de uma moral sólida. As excepções eram poucas e, obviamente, não ofuscavam a regra geral.
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OS PRIMEIROS FILÓSOFOS
Os primeiros filósofos gregos são conhecidos como Pré-Socráticos. A sua reflexão centra-se, sobretudo, numa preocupação em encontrar uma explicação racional para o Universo e entender os fenómenos da natureza, até então, abordados e explicados por explicações míticas e mitológicas. Com estes primitivos pensadores, pela primeira vez, procurou-se explicar tudo através da razão.
Entre estes primeiros filósofos, destacam-se: Tales de Mileto, Anaximandro de Mileto, Heráclito de Éfeso e Pitágoras de Siracusa. Nas reflexões de todos há uma ideia comum: a de que existia na natureza uma substância fundamental, de carácter eterno e imutável, que devia ser considerada como a origem de todas as coisas e a partir da qual todas as modificações observáveis do Universo se processavam.
Na realidade, o que intrigava os sábios de Mileto, cidade considerada como o berço da Filosofia, era o facto de, pelo menos, até onde afirmavam os sentidos, ocorrerem constantes transformações no Universo. A combustão, a solidificação e evaporação da água, o nascimento de inúmeras espécies de vegetais que brotam na terra eram os principais remas da sua reflexão.
Admite-se que a Filosofia tenha surgido com Tales de Mileto e com os seus discípulos, Anaximandro e Anaxímenes. O próprio Aristóteles, anos mais tarde, considerou Tales como o "fundador da filosofia natural". Algumas das conclusões do seu pensamento ficaram registadas: "A Terra flutua na água" e "A água é a origem de todas as coisas". Cuida-se que Tales se influenciou em mitos orientais, trazidos pelos Magos e homens de negócio que cruzavam a Ásia Menor, com passagem por Mileto, bem como no mito do rio Okeanos, segundo a qual, na tradição grega, esse rio circundaria toda Terra.
Um discípulo de Tales, Anaximandro, postulou que o mundo se originara a partir de um indeterminado ou infinito, que designou por ápeiron. Além disso, também postulou que a formação do mundo se deveu a um movimento turbulento operando dentro do ápeiron. Um outro discípulo de Tales, Anaxímenes, também de Mileto, é considerado o terceiro nome da história da filosofia. Adoptou também a ideia de uma única substância geradora. Para ele o ar estaria na origem de todas as coisas e seria a causa das constantes transformações da natureza. O ar de Anaxímenes, à semelhança do ápeiron de Anaximenesera perpétuo, sendo encarado como "um sopro de vida" que sustentava o universo ou cosmos. Anaxímenes acreditava que, por rarefacção do ar, era gerado o fogo e, por sua crescente condensação, a água e a terra.
Após as primeiras concepções destes filósofos, também conhecidos por milésios destinadas a explicar o mundo, surgiram Parménides de Eléia e Heraclito de Éfeso. Para o primeiro tudo o que existe sempre existiu, isto é, as coisas do mundo são as mesmas desde o início dos tempos. Nada surge do nada e nada do que existe pode transformar-se em outra coisa: o mundo foi concebido e permanece imutável. Para refutar as constantes transformações que eram visíveis na natureza, Parménides encontrou uma solução fácil, pois optou por admitir que os sentidos humanos eram falaciosos, jamais podendo ser utilizados como guias da realidade. Por sua vez, Heraclito propôs para o Universo uma explicação que se chocava frontalmente com as teses do filósofo da escola eleata. Para ele "tudo flui" porque toda a natureza está em movimento constante. Segundo ele o Universo é um rio no qual não nos podemos banhar duas vezes, por isso, a origem das coisas está no contínuo movimento da natureza.
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PAREDES
Paredes é uma cidade portuguesa, situada no Distrito do Porto, Douro Litoral, região Norte e sub região do Tâmega, com cerca de 8.000 habitantes. É a capital e sede do Concelho com o mesmo nome, integrado na Região do Vale do Sousa. Trata-se de um município com 156,56 km² de área e cerca de noventa mil habitantes, subdividido em 24 freguesias. O município é limitado a norte pelo município de Paços de Ferreira, a leste por Lousada e por Penafiel, a sudoeste por Gondomar e a oeste por Valongo. Fica na comunidade urbana do Vale do Sousa. A cidade situa-se a leste do concelho, fazendo fronteira com o concelho de Penafiel, estando separada deste pelo Rio Sousa e é constituída pelas freguesias de Castelões de Cepeda, Mouriz. Bitarães e Madalena.
O concelho de Paredes foi criado em 1836, sucedendo, em grande parte, ao antigo concelho de Aguiar de Sousa. Presentemente o município de Paredes tem quatro cidades: Paredes, Gandra, Rebordosa e São Salvador de Lordelo.
Paredes integra-se numa das regiões mais prósperas e paisagisticamente interessantes de Portugal: o Vale do Sousa, O actual Concelho de Paredes assenta no antigo concelho de Aguiar de Sousa que data dos primórdios da Monarquia. O concelho de Aguiar de Sousa surgiu num pacto de povoamento de Vale do Sousa tendo sido criado pelos meados do século XII. De facto, nas inquirições de 1258 mandadas fazer por D. Afonso III, no Corpus Codicum Latinorum, referem-se algumas das actuais freguesias do Concelho de Paredes, pertencentes, ao então, grande julgado de Aguiar de Sousa (Estremir, Crestelo, Vilela, Bendoma, Ceti, Gondalães, Veiri, Gandera...). Aguiar de Sousa recebeu foral em 1269, confirmado em 1411 por D.João I e reiterado por D. Manuel I em 1513. Sensivelmente na mesma altura, Baltar recebia também a categoria de concelho. Baltar foi elevada a categoria de vila, passando assim, a ter enormes direitos, só comparáveis às maiores povoações do reino. D. João V, a 6 de Março de 1723, confirmou esses privilégios.
Extinto em 1837, o concelho de Baltar era constituído por 9 freguesias: Baltar, Cête, Vandoma, Astromil, Gandra, Sobrado, S. Martinho do Campo, Rebordosa e Lordelo. À excepção de Sobrado e S. Martinho de Campo, que actualmente fazem parte de Valongo, todas as outras seriam posteriormente integradas no concelho de Paredes. Foi por volta do séc. XVIII que o pequeno lugar de Paredes, integrado na freguesia de Castelões de Cepeda, foi ganhando importância. Assim, em finais do séc. XVIII, já existiam os Paços do Concelho e o pelourinho. Paredes tinha então o aspecto de uma verdadeira cidade, embora nem sequer tivesse a categoria de vila.
Em 1821 Aguiar de Sousa era extinto como concelho e grande parte das suas freguesias eram anexadas a Paredes. Com a criação do concelho de Paredes, não só se extinguiu o de Aguiar de Sousa, com ainda o de Baltar, Louredo e Sobrosa que emergiram da crise liberal e tiveram duração pouco superior a dois anos. O concelho de Paredes foi criado por Passos Manuel apenas em 6 de Novembro de 1836, como resultado do reordenamento que ocorreu com a entrada da Constituição de 1820. Nesta data passou a conter algumas das freguesias do extinto concelho de Aguiar de Sousa, englobando um total de 23 freguesias. Em 1855, dos vários lugares da freguesia da Sobreira criou-se a freguesia de Recarei.
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A MULHER QUE FOI LAVAR ROUPA SEXTA-FEIRA SANTA (DIÁRIO DE TI’ANTONHO)
“Lá vai mais uma antiga “estória” e esta muito esquisita, que ouvia do meu avô. Contava ele que quando era criança ouvia contar que, aqui, na Fajã Grande, há muitos, muitos anos vivia uma mulher que não era crente nem temente a Deus, por isso não respeitava nem muito menos cumpria nem os mandamentos da lei de Deus nem os da Santa Madre Igreja. Por isso não se abstinha de trabalhar quer aos domingos quer aos dias santos de guarda. Muitas vezes lhe chamaram à atenção para esse pecado, sobretudo o pároco que, com palavras bondosas, lhe explicava as leis de Deus e os ensinamentos da igreja. Mas a mulher não lhe dava ouvidos e, por vezes, até se ria e apoucava os que respeitavam e cumpriam tais ensinamentos.
Um dos trabalhos que a mulher fazia aos domingos era o de ir lavar roupa para a Ribeira, mesmo à entrada da canada onde se iniciava a subida da Rocha, onde havia um grande açude com enormes pedras ao redor a servirem de lavadouros.
Ora certa vez, a mulher ainda fez pior, pois decidiu ir lavar roupa na Sexta-Feira Santa, o dia considerado mais santificado do ano, dia em que Nosso Senhor morreu. Ninguém, nesse dia, devia fazer trabalho servil, fosse ele qual fosse, porque era um pecado grave. Além disso era um dia de jejum, durante o qual muitas pessoas nem faziam comida e até levavam os animais para os pastos para não terem que tratar deles.
Assim enquanto todas as outras pessoas da freguesia estavam na igreja a comemorar os mistérios da Paixão e Morte de Nosso Senhor, a mulher, que tinha uma trouxa de roupa para lavar, não quis saber que era dia santo de guarda nem do que se comemorava nesse dia. Pegou na roupa e foi para a Ribeira, para a lavar precisamente na hora em que o povo da freguesia estava reunido na igreja. Algumas mulheres que se atrasaram na vinda para a igreja, ainda lhe lembraram o dia que era e pediram-lhe que voltasse para casa, porque era Sexta-Feira Santa. A lavadeira riu-se e continuou a caminhar na direcção da Ribeira. Chegaram as três horas da tarde, em que se acredita que Nosso Senhor morreu na cruz e a lavadeira continuava a esfregar a sua roupa e a bater com a ela no lavadouro, para lhe tirar a sujidade.
A essa hora tocou a matraca, na igreja, porque nem os sinos tocavam nesse dia e as pessoas, contritas, oravam no templo e pediam perdão a Deus Era a chamada hora “tércia” a hora em que Nosso Senhor morreu, pregado numa cruz. Dizia-se que nessa hora até os passarinhos batiam as asas e cantavam e as folhas das árvores punham-se em cruz, em louvor de Nosso Senhor.
Pouco depois da matraca tocar as pessoas que estavam na igreja, apesar da Ribeira ser bastante longe, ouviram um enorme grito de aflição que, ecoando na Rocha se espalhou por toda a freguesia. Muito aflitas e assustadas algumas pessoas correram para a Ribeira a ver o que se passava, pois o barulho vinha mesmo de junto da Rocha. Quando chegaram à Ribeira viram que a lavadeira tinha desaparecido assim como toda roupa. Tudo se sumira, como castigo, por não ter respeitado um dia sagrado.
E contavam os antigos que durante muitos anos depois disto ter acontecido, na Sexta-Feira Santa, durante a hora “tércia”, soprava um vento muito forte que fazia eco na Rocha, provocando ruído estranho e assustador semelhante ao bater da roupa nas pedras e aos gritos da lavadeira pecadora. E muita gente tinha medo de lá passar, nesse dia e a essa hora.”