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CANÇÃO DE EMBALAR

Sábado, 19.04.14

Eu nasci junto do mar!

O meu berço era uma poça

Meu primeiro colar,

Era feito de conchinhas….

 

Embalaram-me as marés

E brinquei com os peixinhos,

Ouvi cantar as sereias

Vi o furor das procelas.

 

Minha casa era uma furna,

Entre os baixios esconsos.

De dia corava ao Sol

À noite entrava-lhe a Lua.

 

Agora, longe do mar,

Sem peixes nem conchinhas,

Sinto que ainda me embala

O vai e vem das marés.

 

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publicado por picodavigia2 às 21:52

A LENDA DO FOLAR DA PÁSCOA

Sábado, 19.04.14

Conta-se que, há muitos, muitos anos, numa aldeia de Portugal, vivia uma jovem chamada Mariana que desejava casar cedo. Tanto rezou, tanto implorou, tanto prometeu e tanto pediu a Santa Catarina que a sua vontade se realizou e logo lhe surgiram dois pretendentes: um fidalgo rico e um lavrador pobre, ambos jovens e belos. A jovem voltou a pedir ajuda a Santa Catarina para que a ajudasse a fazer a escolha certa. Enquanto rezava e meditava, bateu-lhe à porta Amaro, o lavrador pobre, a pedir-lhe uma resposta e marcando-lhe como data limite para a escolha da jovem, o Domingo de Ramos. Algum tempo depois apareceu o fidalgo a pedir-lhe também uma decisão. Mariana não sabia o que fazer.

No entanto, chegou o Domingo de Ramos mas Mariana ainda nada tinha decidido. Nesse mesmo dia, uma vizinha, muito aflita, foi avisá-la de que o fidalgo e o lavrador se tinham encontrado quando iam a caminho da sua casa e que, naquele momento, travavam, entre si, uma luta de morte. Quem vencesse havia de ficar com ela, como esposa. Muito assustada, Mariana correu até ao lugar onde os dois pretendentes se defrontavam. Implorou de novo a protecção de Santa Catarina e foi então que, por sua intercessão, decidiu escolher Amaro, o lavrador pobre, para seu marido.

Na véspera do Domingo de Páscoa, no entanto, Mariana andava atormentada, porque lhe tinham dito que o fidalgo apareceria no dia do casamento para matar Amaro. Mariana rezou, novamente, a Santa Catarina e foi pôr um ramo de flores no seu altar. Quando chegou a casa, verificou que, em cima da mesa, estava um grande bolo recheado com ovos e rodeado de um ramo de flores, precisamente o mesmo ramo que, momentos antes, havia colocado no altar de Santa Catarina. Correu para casa de Amaro, mas encontrou-o no caminho e este contou-lhe que também tinha recebido um bolo semelhante, em sua casa. Pensando ter sido ideia do fidalgo, dirigiram-se a sua casa para lhe agradecer, mas este também tinha recebido o mesmo tipo de bolo. Mariana ficou convencida de que tudo tinha sido um milagre de Santa Catarina, para que cessassem ódios e invejas e todos vivessem em paz e amizade.

A notícia espalhou-se e, a partir de então, começou a cozer-se um bolo semelhante, por altura da Páscoa, que passou a chamar-se folar, nome originado do latim “florare”, tornando-se numa tradição que se cumpre, todos os anos, para celebrar a amizade, a paz e a reconciliação. É por isso também que, durante as festividades cristãs da Páscoa, os afilhados costumam oferecer, no Domingo de Ramos, um ramo de flores aos padrinhos, a fim de que estes, no dia de Páscoa, lhes ofereçam o folar, que com os tempos passou a ser uma prenda de qualquer espécie, mantendo-se, no entanto, a tradição de cozer o folar por altura da Páscoa

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publicado por picodavigia2 às 19:05

OS OVOS DA PÁSCOA

Sábado, 19.04.14

Numa pequena aldeia, muito isolada, lá bem no alto de uma montanha, numa casa pequena e humilde, morava, sozinha, uma velhinha muito pobre. Tão pobre que apenas tinha de seu uma galinha e um coelho, que criava com muito carinho e que alimentava com ervas que apanhava nos campos, pois mais nada tinha para lhes dar. A galinha tinha o seu linheiro debaixo dos degraus de pedra da escada que dava para o pátio, em frente à cozinha. Era aí que punha os seus ovos. O coelho andava solto, ali por perto, numa pequena cerca que havia junto da casa. À noite, o coelho e a galinha vinham deitar-se junto da cama da velha, dormindo os três, ali, juntos. A galinha, sempre que punha um ovo, começava a cacarejar e a velhinha, assim que a ouvia, corria, apressada, a fim de recolher os ovos que eram o seu principal sustento.

A velhinha gostava muito da galinha e do coelho. A galinha tinha a crista vermelha, as patas amarelas e as penas coloridas de azul, vermelho e alaranjado. O coelho, por sua vez, tinha um ar de espertalhão, as suas orelhas eram grandes e o seu pelo branco e bem fofinho. Apesar de pobre, a velhinha vivia muito feliz com os seus dois amigos,

Certo dia, a velhinha ouviu a galinha a cacarejar tão alto e com tanta força, que correu, de imediato, para junto dela, muito admirada, pois não era costume ela cacarejar tão esganiçada. Até o coelho se admirou e ficou com as orelhas em pé.

A velhinha, muito apressada, desceu os degraus da escada, baixou-se e viu, no linheiro, um ovo muito grande e muito diferente dos habituais, pois a sua casca era toda colorida. O ovo era tão bonito e a velhinha não se cansou de admirá-lo. De seguida, pegou-lhe com muito cuidado e levou-o para a cozinha, ficando sem saber o que fazer com ele. Não o devia comer, porque ele era muito bonito, mas também não o podia deixar como enfeite, pois tinha fome e, além disso, o ovo podia cair e quebrar-se.

O coelho que estava ao seu lado, ao ver a indecisão da velhinha, disse-lhe:

- Porque não o dás de presente a uma criança da aldeia? Aproxima-se o dia de Páscoa e qualquer criança que o receba de oferta, decerto, vai ficar muito feliz.

A velha aceitou de bom grado a ideia do coelho, no entanto, ainda um pouco confusa, perguntou-lhe:

- Mas a que criança o devo dar? Existem várias crianças aqui, na aldeia. – Pensou, consigo a velhinha. Depois, pensando um pouco melhor, exclamou:

- Já sei o que vou fazer. Vou juntar muitos ovos da galinha e vou pintá-los para que fiquem iguais a este. Depois vou dá-los às crianças e todas ficarão felizes.

Saltitando de alegria, o coelho disse, muito entusiasmado:

 - Eu também te vou ajudar a pintar os ovos!

Assim dito, assim feito. Nos dias seguintes a galinha continuou a por ovos que a velhinha foi recolhendo e guardando numa cesta de vime, ao mesmo tempo que os ia pintando com a ajuda do coelho. Ficaram todos muito bonitos: vermelhos, verdes, azuis, amarelos, roxos, alguns listrados de várias cores, outros com bolinhas e, um ou outro, até com flores. No domingo de Páscoa, a velhinha colocou-os numa cesta e foi distribui-los por todas as crianças da aldeia.

Cuida-se que foi por isso que nasceu a ideia de oferecer ovos coloridos pela Páscoa.

 

Texto inspirado num conto lituano.

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publicado por picodavigia2 às 18:35

AS CASAS COBERTAS DE PALHA (DIÁRIO DE TI’ANTONHO)

Sábado, 19.04.14

Muita gente hoje nunca ouviu contar isto, nem muito menos se lembra de ouvir falar de semelhante coisa. É que, antigamente, aqui na Fajã as casas eram quase todas, sobretudo as das pessoas mais pobres, cobertas com palha. Havia pouca telha e mesmo que houvesse alguma, ela tinha que ser comprada e a maioria das pessoas não tinha dinheiro. Contava meu avô que quando era criança, aqui na Fajã Grande, que nem sequer freguesia era, mas sim um lugar pertencente à Fajãzinha, nessa altura chamada Fajãs, a pobreza era muita. O povo passava muita miséria, vivia só do que produzia e não vendia nada, pelo que não tinha dinheiro para comprar telhas, pelo que cobria as casas com palha de trigo, pois nesses tempos não se cultivava milho como agora, mas sim trigo, que dava bem mais trabalho e canseiras. Além disso as casas eram muito pobres, muitas tinham apenas uma ou duas divisões, uma porta sem vidros e o chão era de terra batida, como se diz ou de solo. Por fora eram de pedra como os palheiros de agora. Muitos desses palheiros de hoje, há uns anos atrás, eram casas. O avô daquele rapaz que é padre, o José Luís, que é muito mais novo do que eu, vivia na casa que hoje é o palheiro do Raulino Fragueiro e foi aí que o rapaz nasceu. Alguns anos depois é que o filho, o Antonho fez aquela casa no Alagoeiro e o outro filho, o Manuel, que tem os dois moinhos da Ribeira das casas, construi a sua ali perto. Mas ambos foram para a América, a fim de ganhar dinheiro para as construir. Muitos outros fizeram omesmo. Até eu o fiz, também.

Na construção das casas as pessoas utilizavam apenas os recursos naturais que possuíam, alguns muito abundantes como a pedra para as paredes e a madeira, esta menos abundante, para as portas e divisões interiores. Por isso as paredes de habitações eram robustas, pois muitas ainda hoje aí estão, construídas em alvenaria de pedra seca, eram dobradas e com quase meio metro de espessura.

As pedras eram acarretadas de perto e arestadas com o malho de ferro, ficando com a face exterior direita, um pouco à bruta como ainda se pode ver. Apenas as pedras de cantaria, as ombreiras e as vergas eram bem trabalhadas e picadas, primeiro com o picão e depois com a picareta.

Meu avô também contava que vieram, noutros tempos, muitos pedreiros de São Miguel, sobretudo de Vila Franca do Campo, ajudar a fazer as paredes das casas e que nos tectos de palha de trigo esta era fixa numa armação de madeira, a que era muito bem amarrada e em boas quantidades, para que não entrasse água da chuva e o vento a não levasse.

Naquele tempo, para se poder segurar bem a palha e proteger a casa dos temporais a estrutura do tecto era formada por varais, espaçados e assentes nos frechais. Nos varais pregavam-se ripas de tamujo ou de outra madeira, ou até canas, às quais se amarrava a palha com vimes.

Tempos de muita miséria e pobreza!

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publicado por picodavigia2 às 15:33





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