PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
MOMENTO MÁGICO
Amanheceu! Um bando de gaivotas
Em bailados de cio. Doces lamentos…
Esvaídos em magma, eivados de tisna,
Que as marés branqueiam. Há suco verde,
Limos encharcados, no cais deserto.
Que importa se da terra, se do mar?
Porque as ondas não param de sorrir,
De os embalar em seu manto d’espuma.
Há um rio de silêncio. Alguns barcos
Ainda dormem. A faina é incerta!
De onde sopra o vento? Não se sabe…
Mas quando o Sol, no seu trono, rasga o véu,
O mar é um espelho renascido
E o cais um reboliço de esperança.
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ATALHOS E RETALHOS
Ontem foi dia de Páscoa. Decidi alterar o rumo da minha caminhada diária, pelas ruas circundantes da jovem urbe paredense. Optei pelo campo, atravessando os campos e vinhedos de Mouriz às fronteiras de Vila Cova de Carros. Contrariamente às previsões metereólogas, amanhã surgiu esplendorosa, iluminada por um sol, delirantemente, contagiante e enternecedor, convidativo e, generosamente, acolhedor.
Optei, nos espaços em que isso foi possível, caminhar por atalhos solitários, isolados, térreos e de piso irregular mas ladeados de campos verdejantes, de vinhedos promissores, regatos generosos e florestas assombradas. Dos campos pejados de forrageiras, erva, batatas, favas e cebolinho emanava um perfume adocicado, fresco e taumaturgo. Sabia a maré cheia de verdura e de encanto. Os vinhedos eram berçários florescentes dos cachos bebés, a definirem-se ainda em formas enigmáticas. Os regatos simulavam um murmúrio alegre, distinto e nobre, entrecortado apenas pelo canto cicioso dos pássaros e o esvoaçar atrevido das borboletas. Um açude calmo e prateado a silenciar o murmúrio sulcado pelas águas espumosas das quebradas.
Neste idílio primaveril, verde, sorridente, cativante, velhos solares, com portões brasonados, encimados por cruzes e botaréus, a ruírem e a desmoronarem-se, sozinhos, amordaçados, escuros e tímidos. Num abandono total e oblíquo, à espera do fim. Retalhos desfeitos de um passado enigmático
Sob a sombra ternurenta de uma árvore, enquanto ao longe ribombavam os foguetes do compasso, um homem, indiferente ao eminente desmoronar-se dos solares, lia o jornal.
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CAMPEÕES NACIONAIS
Top de Clubes Campeões Nacionais de Portugal:
- Sport Lisboa e Benfica 33 títulos
- Futebol Clube do Porto, 27 »
- Sporting Clube de Portugal, 18 »
- Club Futebol Os Belenenses 01 »
- Boavista Futebol Clube, 01 »
Lista de Campeões Nacionais por anos:
1934/35 F. C. Porto
1935/36 Benfica
1936/37 Benfica
1937/38 Benfica
1938/39 F. C. Porto
1939/40 F. C. Porto
1940/41 Sporting
1941/42 Benfica
1942/43 Benfica
1943/44 Sporting
1944/45 Benfica
1945/46 Belenenses
1946/47 Sporting
1947/48 Sporting
1948/49 Sporting
1949/50 Benfica
1950/51 Sporting
1951/52 Sporting
1952/53 Sporting
1953/54 Sporting
1954/55 Benfica
1955/56 F. C. Porto
1956/57 Benfica
1957/58 Sporting
1958/59 F. C. Porto
1959/60 Benfica
1960/61 Benfica
1961/62 Sporting
1962/63 Benfica
1963/64 Benfica
1964/65 Benfica
1965/66 Sporting
1966/67 Benfica
1967/68 Benfica
1968/69 Benfica
1969/70 Sporting
1970/71 Benfica
1971/72 Benfica
1972/73 Benfica
1973/74 Sporting
1974/75 Benfica
1975/76 Benfica
1976/77 Benfica
1977/78 F. C. Porto
1978/79 F. C. Porto
1979/80 Sporting
1980/81 Benfica
1981/82 Sporting
1982/83 Benfica
1983/84 Benfica
1984/85 F. C. Porto
1985/86 F. C. Porto
1986/87 Benfica
1987/88 F. C. Porto
1988/89 Benfica
1989/90 F. C. Porto
1990/91 Benfica
1991/92 F. C. Porto
1992/93 F. C. Porto
1993/94 Benfica
1994/95 F. C. Porto
1995/96 F. C. Porto
1996/97 F. C. Porto
1997/98 F. C. Porto
1998/99 F. C. Porto
1999/00 Sporting
2000/01 Boavista
2001/02 Sporting
2002/03 F.C. Porto
2003/04 F.C. Porto
2004/05 Benfica
2005/06 F.C. Porto
2006/07 F.C. Porto
2007/08 F.C. Porto
2008/09 F.C. Porto
2009/10 Benfica
2010/11 F.C. Porto
2011/12 F.C. Porto
2012/13 F.C. Porto
2013/14 Benfica
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ANIVERSÁRIO
(UM POEMA DE FERNANDO PESSOA)
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui - ai, meu Deus! O que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas - doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
Fernando Pessoa
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ORIGINAL E CÓPIA
"Todos nós nascemos originais e morremos cópias"
Carl J. Jung
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A VELHA DO CORVO
Em tempos que já lá vão, na Fajã Grande e creio que em toda a ilha das Flores, para justificar a chegada dos recém-nascidos e com o objectivo de prolongar até à idade adulta a inocência das criancinhas, ocultando-lhes todo o processo reprodutivo e ginecológico inerentes à maternidade, dizia-se que os meninos vinham do Corvo, trazidos por uma Velha, numa cestinha muito enfeitadinha. Ao chegar à freguesia, vindo não se sabia como, mas de forma miraculosa, a Velha do Corvo colocava a cestinha na soleira da porta da casa, por ela escolhida, conforme muito bem queria e entendia. Batia à porta, a alertar os donos para a encomendinha e zarpava novamente em direcção à ilha vizinha, em alta velocidade, sem que ninguém lhe pusesse a vista em cima. Uma atrevida, esta velha!
Ora faz hoje precisamente sessenta e oito anos que a dita Velha resolveu mais uma vez empreender uma viagem mágica do Corvo às Flores, trazendo consigo, na sua cestinha, desta feita, um menino. E de que se havia de lembrar a dita Velha? Não sei se por capricho ou por esquisitice, o diabo da Velha decidiu-se por levá-lo à Fajã Grande, depositando-o ali para os lados da Assomada, precisamente numa casa, à esquerda de quem descia aquela rua, logo a seguir ao Poço onde as vacas bebiam água, poisando-o, suave e carinhosamente, fora da porta da sala. A Velha abalou sem que ninguém a visse, mas o menino lá ficou… Embora já tendo três filhotes, os donos da casa, ao que parece, não se importaram e até terão ficado muito felizes e contentes com a visita da Velha e criaram o rebento, que ela ali depositara, com muito amor e carinho.
Diz, quem o viu na altura, que era um menino muito bonito, alvo da neve e tinha olhos azuis e cabelos castanhos, tal e qual a um menino que vinha descrito no livro de leitura da 1ª classe, donde a Velha, ao que parece, terá tirado cópia do pequerrucho e que, por mera coincidência, também, se chamava “Carlitos”.
Obrigado, Velha!...