PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A SENHORA DOS MILAGRES DO CORVO
A padroeira de Vila Nova do Corvo é a Senhora dos Milagres, cuja festa se celebra a 15 de Agosto. A padroeira da vila e da ilha está representada, na igreja paroquial, por uma pequenina imagem de Nossa Senhora, que se diz dos Milagres e que, segundo a tradição, terá chefado à ilha juntamente com os primeiros povoadores. Felizmente, por vontade explícita do povo, até hoje, nunca foi substituída por outra maior e, sobretudo, mais bonita, como, infelizmente, aconteceu, ao longo dos séculos, em muitas igrejas e ermidas das restantes ilhas e do próprio continente. Trata-se, na realidade, da conservação secular, de uma obra de arte da escultura religiosa do século XV, trazida pelos primeiros povoadores da mais pequenina ilha açoriana.
Dizem os estudiosos da arte sacra que esta imagem, muito possivelmente, será de origem flamenga, tendo, nos primeiros anos do povoamento, sido invocada como Nossa Senhora do Rosário, primeiro nome da única paróquia existente no Corvo.
Uma lenda, ainda hoje muito divulgada e presente na crença popular, explica a mudança da invocação de Nossa Senhora do Rosário para Nossa Senhora dos Milagres. Segundo essa lenda, quando a ilha foi invadida por piratas que tentavam saquear a população, retirando-lhe os seus bens, levando os jovens como escravos, violando donzelas, roubando e destruindo tudo, os corvinos, bravos e destemidos, invocando a Virgem sua padroeira, conseguiram afastá-los e assustá-los de tal maneira que os facínoras regressaram a bordo dos seus navios e fugiram. Alguns pereceram à defesa dos corvinos, tendo um deles sobrevivido. Ao ser recolhido pela população, contou que em cima da rocha, junto ao mar, havia uma mulher na qual as balas das suas armas faziam ricochete e voltavam para eles, atingindo-os. Esta mulher, segundo o povo cuidou, era a Virgem, sua padroeira, que assim, miraculosamente, os protegeu e defendeu, pelo que o povo passou a invocá-la como Senhora dos Milagres.
Consta que a partir de então, como agradecimento e prece, invocando a protecção de Nossa Senhora dos Milagres, no Corvo, todos os dias, antes da missa, se reza o Rosário, em honra de Nossa Senhora.
Ao longo dos anos, muitas têm sido as promessas feitas à Virgem, Senhora dos Milagres, sobretudo pelos inúmeros emigrantes que se fixaram na América e no Canadá. A Padroeira do Corvo possui um rico tesouro em ouro, composto por duas coroas, uma para a Senhora e outra para o Menino, e ainda um preciosíssimo rosário também em ouro. Segundo uma outra lenda, este rosário terá sido oferecido à Virgem, pelo célebre pirata Almeidinha, que era amigo do pároco do Corvo e através dele das suas gentes e como sinal da sua amizade ofertou esta relíquia a Nossa Senhora.
Este pirata era tão amigo do padre que na altura paroquiava a ilha e que seria natural de São Jorge, conhecido como o padre Queixudo, devido a exagerado formado do seu queixo que lhe dava um aspecto feio. Segundo alguns historiadores, o padre Queixudo " paroquiava a ilha do Corvo na data 1819-20” altura em que terá decorrido o episódio com o pirata Almeidinha que, numa das suas escalas na ilha, não encontrando o padre Queixudo, soube que este tinha sido preso por ordens de El-rei, devido às suas relações de amizade com os piratas. O pirata Almeidinha, então, deixou dinheiro a fim de com ele se pagar o resgate e, assim, conseguir o regresso à ilha do bondoso sacerdote.
À festa da Senhora dos Milagres, deslocava-se, antigamente, muita gente das Flores, inclusivamente da Fajã Grande, de onde, quase todos os anos, se o tempo estivesse bom, partia uma lancha a abarrotar de pessoas, tendo-se verificado, em 1942. Um grave desastre onde perderam a vida dezassete pessoas.
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O GATO DAS BOTAS
Era uma vez um moleiro que tinha três filhos. Um dia, chamou-os para lhes dizer que ia repartir por eles todos os seus bens. Assim: ao mais velho deu o moinho, ao do meio deu o burro e ao mais novo deu o gato.
O filho mais novo ficou muito triste porque entendia que o pai não tinha sido justo para com ele. Mas, surpresa das surpresas, alguns dias depois, o gato começou a falar!
Certo dia disse-lhe:
- Dá-me um saco e um par de botas…
O rapaz ficou muito espantado e obedecendo ao pedido do gato no dia seguinte, lá foi comprar um saco e umas botas.
- Aqui estão meu amigo! - Disse ele.
O gato calçou as botas, pegou no saco e foi para uma floresta que havia por ali perto. Como era muito esperto, não demorou muito a apanhar uma lebre bem gordinha, que a pôs dentro do saco. De seguida, pôs o saco às costas e dirigiu-se para o castelo onde morava o rei e ofereceu-lhe a lebre, dizendo:
- Magestade, venho da parte do meu amo, o marquês de Carabás, e trago-lhe esta linda lebre de presente, que ele lhe manda.
O rei ficou muito impressionado e contente com aquela atitude e disse:
- Diz ao teu amo que lhe agradeço muito!
Daí em diante o gato repetiu aquele gesto várias vezes, levando vários presentes ao rei e dizendo sempre que era uma oferta do seu amo, o marquês de Carabás.
Um dia, em que o rapaz passeava pelos campos, na companhia do gato, este diz-lhe:
- Senhor, tomai banho neste rio que eu trato de tudo.
O gato esperou que a carruagem do rei passasse junto ao rio onde o seu amo tomava banho e pôs-se a gritar:
- Socorro! Socorro! O meu amo, o marquês de Carabás, está a afogar-se! Ajudem-no!
O rei, ouvindo aquilo, mandou logo parar a carruagem e ajudou o marquês, dando-lhe belas roupas e convidando-o a passear com ele e com a filha, a princesa, na carruagem real.
O gato desata então a correr à frente da carruagem. Pela estrada fora, sempre que via alguém a trabalhar nos campos, pedia-lhes que dissessem que trabalhavam para o marquês de Carabás. O rei estava cada vez mais impressionado! Por fim, chegando a um castelo gigante, o gato pediu para ser recebido pelo Gigante, e perguntou-lhe:
- É verdade que consegues transformar-te num animal qualquer?
- É! - Disse o gigante.
Então o gato pediu-lhe que se transforme num rato. E assim foi. O gato que estava atento, deu um salto, agarrou o rato e comeu-o. O rei, a princesa e o marquês de Carabás chegam ao castelo do Gigante, onde são recebidos pelo gato:
- Sejam bem-vindos à morada do meu amo! - Disse o gato.
O rei nem queria acreditar no que os seus olhos viam:
- Tanta riqueza! Tanta sumptuosidade! Tem que casar com a minha filha, senhor marquês.
E foi assim, graças ao seu gato e a um par de botas, que o filho de um pobre moleiro casou com a princesa mais bela do reino.
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BURRO E SÁBIO
“Mais fácil é ao burro perguntar que ao sábio responder.”
Provérbio Popular
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JONAS NEGALHA
Jonas de Amaral Medeiros Negalha nasceu em 1933, na Lomba da Maia, ilha de natural da freguesia de Lomba da Maia, ilha de S. Miguel, viveu alguns anos em Ponta Delgada tendo emigrado para o Brasil e fixado residência em S. Paulo onde trabalhou e veio a falecer em 2007. Professor, escritor, poeta, começou a sua carreira literária com a publicação do livro de poemas "Versos ao Marquês de Pombal". Depois seguiu uma verdadeira carreira literária, com a publicação de outras obras, revelando-se escritor, poeta, filósofo e professor. Foi membro da União Brasileira de Escritores. As suas obras já foram traduzidas em várias línguas e, em 1970, foi candidato ao Prémio Nobel de Literatura. A sua poesia caracteriza-se pela independência estilística e ideológica e os seus versos denunciam as iniquidades sofridas pelo ser humano, sobretudo nos países sob o domínio imperialismo. A sua poesia como que carrega uma chuva de munições contra o colonialismo português em África. É possível perceber, através dos seus versos, que Ele viveu o tempo Salazar, do fascismo e do colonialismo.