PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
MAR BRAVO
O vento trouxe a tempestade
e todas as ondas perderam a quietude
e arremessaram-se, contra as fragas,
num frenético vaivém
como se estivessem loucas,
ou fossem rouxinóis
à procura das fêmeas
em dia de cio.
Autoria e outros dados (tags, etc)
A APANHA O MILHO EM SÃO CAETANO
Na freguesia de São Caetano, a economia baseou-se sempre numa agricultura de subsistência, em que um dos principais e mais importantes produtos cultivados era o milho, do qual dependia, em grande parte, a sobrevivência da população. O ciclo do milho, cultivado nos terrenos mais férteis e mais próximos das habitações, prolongava-se por etapas diversas e diferentes e abarcava tarefas múltiplas e diversificadas, ao longo de quase todo o ano. O que de mais importante se extraía do milho era a farinha, com a qual se fazia o pão e o bolo, elementos básicos na alimentação diária e, por isso mesmo, o milho era a base de sustento da maioria dos habitantes de São Caetano. Durante o mês de abril fazia-se a sementeira do milho à estaca ou em regos feitos com arado puxado por animais. Durante o seu crescimento tinham lugar, sucessivamente, outras tarefas, tais como sachar, desbastar, abarbar e quebrar a espiga, sendo esta guardada nos palheiros para alimento dos animais no inverno. Por sua vez o pasto que era cortado logo a seguir, servia para fazer a cama aos animais, transformando-se em estrume para ser utilizado nas sementeiras. Finalmente a apanha do milho, nos campos a abarrotar de maçarocas, após a qual eram transportadas em cestos, às costas ou em carros de bois para a loja da atafona, a fim de serem descascadas. Ao serão juntavam-se as famílias para descascar e amarrar as maçarocas que depois eram colocadas, umas vezes nas burras, feitas com paus de faia, outras nos tirantes das própria habitações. Era durante o desfolhar que os homens retiravam as folhas mais finas do interior da maçaroca, as quais guardavam para, mais tarde, nelas embrulhar o tabaco e “fazer” os cigarros. O dia de “apanhar o milho” era, pois, um dia de muito trabalho e de grande azáfama e canseira. Mas como geralmente aos trabalhos duros e pesados o povo dava sempre um certo sentido de alegria, este dia também se tornava, de alguma forma, numa espécie de dia de festa. Homens e mulheres muniam-se de cestos que eram colocados, estrategicamente, em pontos diversos, ao longo do terreno. Enquanto iam arrancando as maçarocas dos pés do milho com perícia e destreza, atiravam-nas para dentro dos cestos, até os encher por completo. Muitas terras ficavam longe do caminho e a elas tinha-se acesso apenas por canadas ou veredas muito estreitas e sinuosas, onde os carros de bois não passavam. Era aos mais jovens, mais robustos e mais fortes que competia a tarefa de acarretar os enormes e pesados cestos a abarrotar de maçarocas, até à atafona, onde eram despejadas e onde ficavam aguardando que ao serão se juntasse a família, os parentes, os amigos e os vizinhos para, num ambiente de alegria e folguedo, as descascar e amarrar.
Autoria e outros dados (tags, etc)
HINO
Cântico de loas
A unir gerações.
Glórias enaltecidas
Num respirar de alvoroços.
Autoria e outros dados (tags, etc)
MARGARIDA JÁCOME CORREIA
Margarida Vitória Borges de Sousa Jácome Correia nasceu em Ponta Delgada, ilha de São Miguel, em 31 de Março de 1919, tendo falecido em Lisboa, em 21 de Julho de 1996. Era filha do marquês de Jácome Correia, e de Dona Joana Chaves Cymbron Borges de Sousa. Senhora de grande beleza, de enorme vitalidade, e de uma considerável fortuna familiar, relacionou-se com personalidades importantes do meio cultural português, designadamente com os escritores Armando Côrtes-Rodrigues, com quem foi casada, com Domingos Monteiro, Hernâni Cidade, Natália Correia e Vitorino Nemésio, tendo desempenhado um papel de relevo na sociedade cultural portuguesa da sua época. Como empresária, foi fundadora de uma empresa de agro-pecuária pioneira na ilha de S. Miguel, a “Viçor”, que se dedicava ao arroteio de terras, à criação de vitelos e à produção de rações e de forragens para gado, e que acabaria, mais tarde, por falir. A sua vida afectiva, de uma grande riqueza humana, foi recheada de acidentes por vezes dramáticos, por vezes pitorescos, frequentemente escandalosos para os padrões portugueses e sobretudo insulares da época, mas sempre fulgurantes: casou ainda muito jovem, contra a vontade paterna, com Albano de Oliveira Azevedo, filho de banqueiro e gerente de uma loja de ferragens em Ponta Delgada, ainda seu parente pelo lado materno, de quem se divorciou ao fim de dez anos. Após o divórcio, a família forçou o seu internamento na clínica psiquiátrica de Prangins, perto de Génève, onde Margarida Vitória conheceu um galã egípcio, Aly Abdel Fatha El Lozy, de Damieth, com quem viria a casar e de quem teve dois filhos, acabando este casamento igualmente em divórcio. Mais tarde, casou-se com Armando Côrtes-Rodrigues, poeta do Orpheu e como ela natural de S. Miguel, de quem também se divorciaria. Durante o período em que viveu no Cairo, Margarida Vitória relacionou-se com o pintor libanês Edmond Soussa, então retratista oficial das princesas do Egipto, com o qual esteve para casar, mais tarde, em Paris. Foi através de Côrtes-Rodrigues, logo após o casamento com ele, que Margarida Vitória conheceu Vitorino Nemésio, que por ela se apaixonou, vivendo os dois uma relação amorosa de enorme intensidade que durou até à morte de Nemésio em 20 de Fevereiro de 1978, e que este foi registando nos poemas que viria a reunir no livro Caderno de Caligraphia, escritos entre Março de 1973 e Maio de 1977. Encontram-se ecos da relação com Nemésio na obra em que Margarida Vitória registou as suas memórias de vida – o polémico Amores da Cadela Pura: confissões, cujo primeiro volume foi escrito com o apoio de Vitorino Nemésio –, sobretudo no segundo volume, concluído pouco antes da morte da autora e que ainda se mantém inédito. Neste último livro encontram-se dados importantes sobre as relações afectivas de Margarida Vitória num período de decadência física e económica, tendo por fundo o conturbado ambiente político que se viveu em Portugal na sequência do 25 de Abril de 1974, sobretudo na ilha de S. Miguel com o movimento independentista a que de certo modo – e romanticamente, tal como Nemésio ou Natália – ela esteve ligada. Faleceu em 1996, arruinada mas sempre bela e sedutora.
Dados retirados do CCA – Cultura Açores
Autoria e outros dados (tags, etc)
LAMENTO DA SEBE PODADA
Lamento o choro dos salgueiros, dos álamos e dos choupos
E ouço, ao longe a voz da desistência, das mãos atadas, encolhidas,
Tentando remendar o silêncio das folhas destroçadas, tentar
Estimulando os murmúrios aveludados dos ramos destruídos.
Hoje é dia de dor pujante, de silêncio amargurado, de sonhos inacabadas,
Onde se revolta, dramaticamente, a destruição dos troncos virgens,
Das folhas imberbes, da robustez consubstanciada no desalinho.
Espaço perdido, contra o qual u vento se atira, loucamente,
Como se acalentasse o suplício das folhas destruídas
E as confundisse com os destroços de guerras nunca terminadas,
Onde as flores murcham, à porfia, e as fontes secam, em frenético reboliço.
O nítido brilhar das gotículas de água, cessa a inebriante teimosia
De se suspender nas folhas verdejantes
E surgir, apenas, como arquétipo da desilusão e da amargura,
Na companhia da verdade perdida, salpicada de brisas matinais.
A decisão da poda, mesmo que turva de ilusões, é sempre cruel,
Excede-se em labirintos energúmenos que o próprio vento não desfaz.
Talvez, depois da poda, o vento se minimize e aquiete súplicas
Na eminência dum recheio opípara, ornado de encanto e ternura.
Sebe de cor verde, quando te revoltas,
A tua voz ergue-se silenciosa e indefinida
Transformando a demência dos teus troncos,
Velhos e entontecidos,
E a linearidade das tuas folhas,
Truncadas e fendidas,
Numa doce ilusão, onde domina quietude
Onde há beleza perene e elegância salutar.
Durante toda a tua curta vida,
- curto período em que não és podada -
Acredita que o vento continua a ser o teu amante
Mesmo que as tuas folhas amareleçam
E os teus caules se calcifiquem de musgos e limos.
O que eu quero é ver-te no meu jardim
Podada, sim, mas elegante e altiva.
Autoria e outros dados (tags, etc)
NÃO ADIANTA EXPLICAR
“Não adianta explicar quando o outro está decidido a não entender.”
FB
Autoria e outros dados (tags, etc)
CASCATA DO POÇO DO BACALHAU OU DA RIBEIRA DAS CASAS
O site Cascatas de Portugal apresenta a lista das 35 cascatas existentes no nosso país, das quais 4 se situam nos Açores, sendo uma destas a Cascata do Poço de Bacalhau, localizada bem no coração da freguesia da Fajã Grande, na ilha das Flores. Das restantes três cascatas ou quedas de água açorianas, uma outra também se localiza na ilha das Flores, precisamente, na fronteira entre as freguesias da Fajã Grande e Fajãzinha, sendo as outras duas, uma em São Miguel, mais concretamente, na freguesia do mesmo nome, no concelho da Povoação, enquanto a outra, a Cascata da Fajã de Santo Cristo, se localiza no Percurso Pedestre da Caldeira da Fajã de Santo Cristo, concelho das Calheta, ilha de São Jorge, apresentando-se, no entanto, como cascata dotada de uma queda de água relativamente pequena, pois a sua altura não ultrapassa os 10 metros, enquanto a do Poço do Bacalhau ou da Ribeira das Casas, quase atinge os 100 metros. Verdade, no entanto, é que, pelo menos no que à ilha das Flores em geral e à Fajã Grande em particular diz respeito, muitas outras cascatas ali existem, assim como na freguesia da Fajãzinha. Essa a razão, por que a ilha das Flores foi apelidada de Ilha das Cascatas.
A Cascata do Poço do Bacalhau localiza-se no percurso da Ribeira das Casas, quando, ao chegar à beira da Rocha lança-se abruptamente até ao poço que lhe dá o nome. Depois de aquietar neste as suas águas flavescentes, a Ribeira das Casas continua num pequeno percurso mas sinuoso percurso, ora alimentando moinhos ora abastecendo lagoas, na direcção do mar, através de um vale ladeado por duas elevações de terreno resultantes de antigas derrocadas. Na margem direita o Pináculo das Covas e na esquerda as Águas. Esta cascata apresenta-se como uma verdadeira queda-de-água que se precipita por cerca de 100 metros de altura, num abundante e portentoso caudal sobretudo nas épocas mais chuvosas, sendo que, mesmo durante a época estival o seu nível de água torna-se mais diminuto ao ponto de esta se dissipar na forma de uma espessa, pesada e abundante neblina na sua precipitação a caminho do solo onde as águas se depositam numa lagoa natural rodeada de vegetação natural e endémica, a conhecida laurisilva da Macaronésia. Esta mítica e lendária lagoa é usada como zona balnear. As águas que abastecem o manancial desta cascata são originarias das nascentes de altitude que brotam das serras centrais da ilha das Flores, uma vez que a Ribeira das Casas tem a sua nascente na longínqua Água Branca, nos contrafortes do Morro Alto, formando um pequeno caudal que se vai avolumando ao longo do seu percurso, não só com a água das muitas grotas que nela desaguam mas também com a captação da humidade resultante das densas camadas de nuvens que se acumulam por sobre a floresta de laurisilva que servem de núcleo de condensação e ao mesmo tempo de regulador e distribuidor da quantidade de água recebida devido à sua densidade e também à quantidade de musgos que atapetam o solo e que vão libertando a pluviosidade recebida de forma lenta e regular.
Em dias de vento forte a cascata adquire uma interessante forma de leque, enquanto nos dias de temporais e derrocadas atinge um matiz negro, muitas vezes carregado de lama, destroços de árvores ou animais em decomposição, a contracenar com os belos dias primaveris, em que limpa e transparente, refracta de forma bela e esplendorosa os raios do Sol poente, transformando-os em belos e deslumbrantes Arco-Íris.
É a seguinte a relação das restantes cascatas de Portugal Continental: Cascata de Fervença, Cascata do Laboreiro, Cascata da Peneda, Cascatas de Taiti, Cascata da Laja, Cascata de Leonte, Cascata do Arado, Cascata de Água Cai d`Alto, Cascata de Fisgas do Ermelo, Cascata de Galegos da Serra, Cascata de Agarez, Cascata de Pitões das Júnias, Cascata da Frecha da Mizarela, Cascata da Cabreia, Cascata da Pantanha, Cascata da Fraga da Pena, Cascata da Pedra da Ferida, Cascata do Penedo Furado, Cascata do Poço do Inferno, Cascata do Pulo do Lobo, Cascata do Pego do Inferno, Cascata do Pomarinho, Cascata da Torre, Cascata do Cadouços, Cascata Queda do Vigário, Cascata do Olho de Paris, Cascata de Penedos Altos, Cascata da Ribeira de Alface, Cascata do Véu da Noiva. Cascata das 25 Fontes e Cascata da Levada Nova da Ponta do Sol, sendo que as últimas três se localizam na Região Autónoma da Madeira.
Autoria e outros dados (tags, etc)
SOL DE ABRIL
“Sol de Abril, quem no vir abre a mão e deixa-o ir.”
Trata-se de mais um interessante adágio fajãgrandense de carácter meteorológico, através do qual se constata um fenómeno climatérico bastante vulgar nas ilhas açorianas e consequentemente nas Flores. Na realidade, no início da Primavera e, por conseguinte no mês de Abril, é vulgar nas ilhas existirem dias de alguma instabilidade climatérica. Naquele mês, nos Açores, geralmente o Sol é “de pouca dura”, isto é, o astro-rei tanto aparece como desaparece logo a seguir, alternando, no mesmo dia, com períodos de chuva. Por outras palavras, o Sol de Abril é muito instável e pouco seguro ou duradouro. É como um pássaro que se tem preso na mão e, se a abrirmos ele foge logo.
Com este erudito adágio pretende pois, a sabedoria popular, lembrar aos mais descuidados que nas suas idas e vindas aos campos e nos seus trabalhos e tarefas diárias, devem estar prevenidos contra esta instabilidade climatérica primaveril, porque pode estar a fazer Sol, num determinado momento do dia e, num abrir de mão, isto é, num instante, o tempo se alterar e começar a chover ou fazer mau tempo.
Douta sabedoria popular, com importantes ensinamentos que não devem ser ignorados pois revelam a virtude de, regra geral, serem exactos e verdadeiros.
Autoria e outros dados (tags, etc)
FAJÃ GRANDE
(TEXTO DE LUÍS ALVES DE FRAGA)
Certamente o leitor nunca se interrogou sobre qual é a povoação mais ocidental da Europa. Mas se, por um acaso, já alguma vez se lhe colocou esta dúvida, quase pela certa terá pensado no continente europeu e jamais no arquipélago dos Açores. Pois é. Na distante ilha das Flores, virada para o continente americano situa-se a freguesia da Fajã Grande, localidade mais a ocidente na Europa.
Também poucos são os portugueses que se dão ao trabalho de consultar o dicionário para procurar saber o que é uma fajã. Se folheassem esse pesado livro onde se compilam os significados do vasto léxico por nós usado dariam com a seguinte explicação: «fajã: terreno plano, cultivável, de pequena extensão, situado à beira mar, formado de materiais desprendidos da encosta». Por mera curiosidade, posso acrescentar que é um termo próprio dos Açores e de origem desconhecida.
Então, a localidade da Fajã Grande, por definição, fica à beira mar e tem atrás de si uma encosta que, no caso vertente, é uma alta arriba escarpada de onde correm duas ribeiras – a das Casa e a do Cão – que se despenham à vertical para correrem rumo ao oceano. É um aglomerado de casas dispersas, formando pouco mais do que meia dúzia de arruamentos.
Para lá chegar ou se vai de barco ou de automóvel, deixando-se para trás, sem nela se ter entrado, uma outra pequena urbe de nome Fajãzinha. No Verão, de preferência em Julho, se não chover e o céu não estiver carregado de nuvens, a paisagem que se desfruta do alto da rocha sobranceira à Fajãzinha é idílica, pela beleza do colorido da vegetação – onde abunda o verde, o azul e o rosa das hortênsias – e pela grandiosidade do confronto entre o mar imenso, o silêncio só cortado pelo voo e grito das aves e o marulhar distante da cascata de água cristalina que forma a Ribeira Grande.
Quem vem de automóvel para a Fajã Grande entra pela Assomada para vir desembocar na Rua Direita, no enfiamento da anterior; passa-se pelo largo e tem-se, a meio caminho, a igreja e, por detrás, o cemitério. Mais adiante a Casa do Espírito Santo (de fora) e as bifurcações para a Tronqueira e a Via d’Água.
Só já na Rua Direita os edifícios – de baixa estatura, não vão além de um primeiro andar – estão ligados uns aos outros, porque, antes, separam-se por pequenos quintais onde ainda se cultiva algum alimento para consumo da casa.
Foi lá ao fundo, na Tronqueira, quase já próximo do caminho que conduz ao começo da larga baía onde desagua a Ribeira das Casas, bem de frente para a imensa queda de água que se despenha da alta rocha de 90 metros, numa casa desnivelada em relação à rua, que o meu pai nasceu no dia 4 de Dezembro de 1907.
Não seria a Fajã Grande muito diferente, há cem anos, do que é agora, salvo os benefícios que a tecnologia introduziu naquela distante ilha. As diversões poucas ou nenhumas, convidavam a uma vida que se distribuía entre o trabalho – não muito apressado pois os ritmos da Natureza são lentos – e uma religiosidade que se praticava na igreja matriz, construída, em 1868, sob a invocação de S. José, no lugar onde já existia uma pequena capela, erigida em 1755, também dedicada ao putativo pai de Jesus.
As constantes chuvadas e a humidade relativa sempre deram àquelas terras um extraordinário poder fértil. Cresce o pasto em abundância, o que convidou a que os mais afortunados tivessem uma ou duas, às vezes, três vacas de ordenha que também serviam nos trabalhos do campo. Nas leiras próximas das casas, ou mais distantes, cresceu e cresce o milho e menos o trigo.
Frequentar o ensino primário era uma obrigação que todos cumpriam na falta de outros trabalhos. Mas não era rentável ter um mestre-escola capaz de ir muito além das primeiras letras e das contas. Esse era o motivo por que, para ser aprovado no exame da chamada 4.ª classe, havia que o candidato se deslocar à vila de St.ª Cruz onde residia o professor com competência para aquilatar do saber e passar o respectivo diploma. Coisas que já só a imaginação concebe, nos tempos que correm!
Engastada entre verdura
Daquele bosque de além,
Qual diamante fulgura
A terra da minha mãe…
Terra de graça e ventura!
És minha terra também.
Viste-me, tu, com brandura,
Vir ao Mundo, ser alguém.
Volveram-se anos, parti…
Mesmo longe de ti
Onde o Destino me mande
Nunca mais te hei-de esquecer
Mas sempre bem-dizer
Minha aldeia Fajã Grande.
Foi assim, em poesia simples, quase ingénua, que o meu pai, rondaria os vinte anos de idade, escreveu na revista Os Prelúdios, que se publicava em Angra do Heroísmo as saudades que o roíam da freguesia. Estava, então, prestes a deixar para trás o seminário e a despreocupada vida de estudante de que sempre gostara. Vocação sacerdotal não a tinha, como o atestam os versos que pela mesma época escreveu, mas não publicou.
Duas fadas que passavam
Em noite de lua cheia,
Sozinhas ao pé da aldeia,
Deste modo conversavam:
- Vamos colher muitas rosas
Na rainha das roseiras,
De todas as mais Formosas
Como colhem as romeiras?
E desfolharam as rosas
Que colheram de mão cheia
- Rosas frescas, tão viçosas!
E em noite de lua cheia
As folhas – todas mimosas –
Foram as moças da minha aldeia…
Os sonhos da juventude, a distância da terra natal, as saudades da família – especialmente da mãe que adorava – a ambiência intelectual da velha cidade capital do arquipélago, ter-lhe-ão despertado o gosto de fazer poesia. Todavia, como mais tarde provou, viria a ser no jornalismo a sua primeira área de afirmação.
Foi vendo o seu exemplo e ouvindo, com atenção, as suas longas palestras – que os amigos escutavam com prazer – que em mim nasceu o desejo de lhe imitar o talento. Mestre na arte de me ensinar a viver, o meu pai foi, também, um severo crítico da minha prosa. Com ele aprendi muito.
Luís Alves de Fraga in Blog Desbogleando http://luismfraga.blogspot.pt/
Autoria e outros dados (tags, etc)
O CARVALHO DE MARÇO
O Carvalho de Março, trouxe-me uma carta com uma terrível notícia. Ainda antes de a abrir, estranhei que o envelope trouxesse o remetente com o nome da minha irmã, quando habitualmente era o nome de meu pai que ali constava, embora escrito por ela. Abri-a nervoso e tímido. A carta era curta, concisa c carregava muita tristeza, mágoa e angústia. Dizia-me a minha irmã que no mesmo Carvalho em que a carta seguia, também viajava meu pai, acompanhado por meu tio António, com destino a Angra, à Casa de Saúde de São Rafael, a fim de ali ser internado, uma vez que “enlouquecera”. Senti uma enorme angústia, um nó na garganta e uma forte dor no peito. Queria evitar chorar, ali, diante de todos, em pleno salão de estudo, mas não consegui. Para esconder as lágrimas, deitei a cabeça, sobre a carta e sobre os braços, e inclinei-me em cima do tampo da carteira, enquanto soluçava dolosamente, sem me conter.
De repente senti alguém bater-me levemente com os cotos dos dedos no cocuruto. Levantei a cabeça, lavado em lágrimas. Era o prefeito que, de imediato, me recriminou em ar displicente:
- Com que então, a chorar com saudades da mãezinha!
Foi como se me caísse em cima o mais fulminante de todos os raios já mais emitidos por uma tremenda trovoada. Cheguei a enraivecer-me e até me enfureci. Mas voltei a ler a carta, a reclinar-me sobre o tampo da carteira e chorar porque achei que tinha direito a fazê-lo.
A minha desolação e o meu choro foram tão grandes e tão notórios, que no fim da hora de estudo o Octávio, o Manuel Faria e alguns outros ocorreram até junto de mim, a inteirar-se do sucedido e a confortar-me, solidarizando-se com a minha dor.
O Manuel Faria, entendia muito bem o que era a separação dos pais, pois também tinha recebido uma triste e amarga notícia que o deixara extremamente desolado. A sua família tinha sido uma das mais atingidas pelo vulcão dos Capelinhos e os pais, que antes já eram bastante pobres, e que alguns anos antes haviam perdido a atafona e parte da casa num incêndio, agora, haviam ficado sem terras, sem gado e sem nada, tendo mesmo que abandonar a freguesia e refugiar-se em casa de benfeitores nos Cedros e no Capelo. Alguns meses depois os sinistrados, nos quais eles se incluíam, continuavam a viver da caridade dos habitantes de outras freguesias. Por isso e passados alguns meses, pariram todos para Moçambique, juntamente com outras famílias do Faial, ficando o Manuel Faria sozinho nos Açores.
Mas era na dor e no sofrimento que, afinal, nos sentíamos, mais solidários, mais compreensivos e, sobretudo, mais amigos.
Autoria e outros dados (tags, etc)
IDA AO POÇO EM SÃO CAETANO
São Caetano, assim como a maioria das freguesias da ilha do Pico, somente a partir da década de 80, foi provida pela rede de abastecimento público de água. Os próprios tanques e cisternas que ainda hoje proliferam pela freguesia, junto às habitações, apesar de não utilizados actualmente, na sua maioria, são construções relativamente recentes. Daí que, em tempos mais remotos, a água fosse um elemento, raro, precioso e de difícil obtenção. O Pico é uma ilha vulcânica, seca e, por conseguinte, em São Caetano a água era escassa. Além disso, as ribeiras apenas se enchiam por altura de chuvas torrenciais e as nascentes eram raras, distantes das habitações e com caudais insuficientes para satisfazer as necessidades da população. Por outro lado, tratando-se de uma freguesia pobre, em tempos mais recuados, poucos tanques de recolha da água foram construídos na localidade.
Perante a escassez de água os habitantes de São Caetano adoptaram uma solução que lhes permitia aceder à água e adquiri-la recorrendo aos chamados “Poços de Maré”. Apesar de salobra, insípida e pouco bebível, foi esta água que desde os primórdios do povoamento até ao início do século passado abasteceu a quase totalidade da população desta hospitaleira freguesia, embora, por vezes o povo recorresse ao lugar das Fontes, no Caminho do Mato, onde ia buscar a água, sobretudo, para beber, para fazer o café ou o chá.
Mas estes poços, construídos em pedra vulcânica, eram edificados perto da costa, muito distante das habitações e, além disso, enchiam-se somente por altura da maré cheia, através de infiltrações oriundas do mar. Assim, o ir buscar água ao poço, apesar de se tornar uma rotina diária para os nossos antepassados, constituía uma tarefa árdua, difícil e muito cansativa, pois exigia que as mulheres percorressem veredas íngremes e escarpas pedregosas, transportando a água, em potes de madeira levados à cabeça. Eram também as mulheres que pelos mesmos trilhos, carregavam, em trouxas, a roupa antes e depois de a lavarem nas pias que existiam junto àqueles poços. Por vezes, sobretudo, enquanto esperavam os maridos que estavam no mar, as mulheres depois de lavar a roupa, punham-na a secar sobre as pedras da costa, evitando, assim, o peso de a transportar molhada, de regresso a casa.
Assim, a água recolhida e transportada com tanto esforço e sacrifício, apesar de salobra, era considerada um bem precioso que urgia poupar, por isso, geralmente, era depositada e guardada em talhões de barro a fim de se conservar mais fresca, sendo o seu uso racionado.
Autoria e outros dados (tags, etc)
PÁSCOA
Páscoa, Páscoa!
Alegria no ar.
Saboreamos os ovos de chocolate,
Comemoramos a Ressurreição de Jesus.
Os ovos iremos procurar…
Animação sem fim!
Autoria e outros dados (tags, etc)
MEMÓRIAS
(POEMA DE PEDRO DA SILVEIRA)
À memória de António Dacosta que, pintor e poeta, sabia
de sereias e tritões como meu avô José Laureano
1
Perdi os nomes da inocência.
A ignorância
Continuo a aprendê-la.
2
Tinem campainhas
No azul novo da manhã.
Vacas a caminho das relvas.
3
A mesa está .posta. Come
Como quem beja
O pão duro da vida
Autoria e outros dados (tags, etc)
A CANADA BATEL/BANDEJA
Na década de cinquenta, ainda existiam vestígios de uma antiga canada que ligava o lugar do Batel à Bandeja, sendo nessa altura muito pouco utilizadas, apenas ou exclusivamente, por quem tinha terras naqueles andurriais.
A canada iniciava-se precisamente em pleno lugar do Batel, mais precisamente no descansadouro que existia naquele interessante e histórico local, a meio e à direita de quem subia a ladeira com o mesmo nome. A canada iniciava-se como que aproveitando o amplo espaço do descansadouro e, depois, prolongava-se na direcção leste/oeste, com destino ao caminho que começava no Cruzeiro e seguia pela Bandeja até às Queimadas. Ingreme e sinuosa, cheia de pedregulhos, muitas vezes servindo-se das próprias propriedades, esta canada desembocava, precisamente, na ladeira da Bandeja, quase formando um cruzamento com uma sua congénere que comunicava com o Outeiro e que mais se assemelhava ao seu prolongamento.
Quase inacessível, esta velha canada que hoje, muito provavelmente, terá desaparecido por completo, decerto que serviu, talvez nos primórdios do povoamento da freguesia, de caminho aos nossos avoengos, muito provavelmente quando o caminho Alagoeiro/Lavadouros ainda não existia e, por isso mesmo, naquela altura já apenas remanescia mais como um marco histórico, um mito, uma lenda, talvez, do que uma via rodoviária de interesse e utilidade.
Autoria e outros dados (tags, etc)
GARRAFA EMÉRITA
Emérita. Transparente na sua essência, leve na sua sustentabilidade, prática na sua função, a garrafa de plástico emerge em elegância e altivez, num misto de utilidade compassiva, de acompanhamento benéfico e facilitismo desregrado. Desconheci-a na minha infância. Nessa altura, era o vidro meu bem, mas raro e de difícil cesso. Por vezes retirado do mar. Nos tempos dos meus avós, o barro. Em ocasiões de emergência a folha de inhame. Tudo a substituir qualquer garrafa ou vasilha que, hoje, a garrafa de plástico consubstancia.
Agora, propala por todo o lado. Mas a sua principal soberania, solidifica-se sobre a minha mesa-de-cabeceira, onde jaz, aparentemente estática, na ânsia se ser enfiada e engolida até meio, num começo de manhã primaveril, chuvosa, fria a lembrar um Inverno teimoso na despedida. Geralmente, acompanha um Avodart de combate à próstata. Isolada no canto murado de um armário durante o dia, rejuvenesce e domina a sua estática funcionalidade, à noite e, sobretudo, de madrugada. Longe dos vidros, que os cristais são raros, repartidos em guarda-loiças de sala. Nem ela os via nem eles a olhavam com a vergonha incoerente de quem cuida que, pelo menos em questão de hormonas de consistência e durabilidade, se impõe por uma questão de diferença racial.
No subterfúgio da superficialidade, a repetência da garrafa, simula whisky de salas senhorias e ricas. Como superadora da sede, funciona, actua, propala, anima e, sobretudo acalma. Como guardada, surge indiferente no escuro do armário, agarrando-se no seu corpo, simuladamente vidrado, a um abandono desmedido e inerte. Desprezada na sua utilidade, onde ainda reina o copo de vidro, alto, esguio, elegante e luminoso a garrafa de plástico eriça-se na preservação da sua utilidade, no manter da sua funcionalidade, no permanecer da sua existência. Todos estes parâmetros, porém, parecem ruir, como castelos de cartas. Talvez, se não a garrafa pelo menos o seu conteúdo, se dissolva na ilusão de gotas de chuva suspensas nos beirais à espera que um talhão de barro qualquer, as receba, como mosto sagrado, como suco dulcificante como promessas de um regresso a uma serenidade persistente e indelével. Como o carácter de um sacramento.
Notícias recentes, informam que três estudantes duma credenciada universidade londrina, desenvolveram uma membrana orgânica, em forma esférica, que promete poder vir a substituir as tradicionais garrafas de plástico. Esta invenção, baptizada de Ooho, é constituída por materiais orgânicos, como algas marrons e cloreto de cálcio. Na sua génese parece produzir uma espécie de gel ao redor da água e poderá, a breve trecho, reduzir o desperdício de recursos associado às garrafas de água, revela, o que no mínimo, dará à garrafa de plástico o estatuto de emérita.
E toda a gente a envaidecer-se desta descoberta que além do impacto que terá em termos ecológicos, permitirá reduzir custos em termos globais, uma vez que estas bolhas, já alcunhadas de Ooho podem ser produzidas a muito baixos custos
E eu, no silêncio escuro da noite, ao tomar o meu Avodart que me há-de aliviar dos males da próstata, avanço devagar à espera que dela saia o precioso líquido que me permita engolir, com tranquilidade, a cápsula, esta sim, semelhante às tais bolhas que os estudantes londrinos inventaram. Por isso regresso e recorro à minha futura emérita garrafa de plástico, em cada madrugada, mesmo que esta não seja primaveril.
Autoria e outros dados (tags, etc)
UMA MADRUGADA INFERNAL
A noite embora permanecendo escura e fria, aproximava-se da madrugada. Aqueles trovões secos, terríveis e temíveis, que a todos assustava e horrorizava, agora eram mais espaçosos e sobretudo bem mais fracos. José Pereira de Azevedo, cuidando que o pior já passara e temendo que o frio da noite lhe engelhasse o filho, decidiu regressar a casa, com a mulher e o pequeno António. Era outro conforto, embora a segurança fosse quase nula. A mulher, inicialmente, manifestou determinada recusa, mas por fim cedeu. Não havia de ficar sozinha, ali ao relento, e o marido em casa com o filho. Foi sobretudo o argumento, teimosamente sustentado pelo marido de que o frio da noite iria fazer muito mal ao pequeno, que a demoveu da sua persistente teimosia. Regressaram os três a casa. Primeiro adormeceu o menino e, algum tempo depois, de tão cansado que estava, o pai. Madalena de São João, nervosa e temendo o pior, manteve-se acordada.
Não tardou muito! Seriam umas seis horas da madrugada, quando José Pereira de Azevedo, pese embora tivesse adormecido poucos momentos antes, acordou sobressaltado com um enorme, terrível e monumental estrondo. Ao seu lado a mulher, que, antes, na velha enxerga de pragana se havia voltado e revirado, vezes sem conta, sem pregar olho, contara bem, muito bem. Dezasseis vezes! Dezasseis vezes durante aquela madrugada infernal, a terra tremera em horrendos abalos, seguidos de grandes estrondos. O último, porém, aquele que acordara o marido, já quase madrugada, fora o maior, o mais horroroso, o mais tremendo, o mais demolidor. Parecia que a casa, a montanha, o mundo lhes desabava em cima.
Há noites e noites, que era aquele martírio sobressaltado, aquele susto contínuo, aquela maldição permanente. Quase não pregavam olho e se adormeciam, era como um passar por brasas, para logo acordar com um estrondo maior do que o anterior. O pequeno casebre de pedra negra e solta dos Azevedos, só por milagre do Divino Espírito Santo ainda lhes não caíra em cima. Em muitas casas da freguesia, algumas mesmo ali, ao lado, já não havia pedra sobre pedra.
Tresloucada e aos gritos, antecipando-se ao marido, Madalena saltou da velha enxerga num ápice e agarrou-se ao corpo do pequeno António, que dormia, ali ao lado sobre um tapete de palha, enrolado em grossos cobertores de lã, como que a impedir que as pedras que rolavam das paredes vacilantes caíssem sobre o filho. Depois agarrando-se e amparando-se ao marido, com o garoto muito embrulhado e muito aconchegado ao seio, saíram, os três, atónitos, assustados, porta fora.
Ainda não amanhecera por completo mas a madrugada, apesar de escura, parecia clarear com as revoadas dos trovões secos e com os estrondos sucessivos e aterradores, vindos das encostas da montanha. Atónita, apavorada e entontecida com o ribombar daqueles trovões secos, toda a população, temendo o pior, saíra para o relento da madrugada. Dos casebres ao redor, novos e velhos, homens e mulheres gritavam em alto berreiro, confusos e apreensivos, tentando encontrar um outro familiar que havia permanecido no interior dos velhos casebres.
De repente e por entre o escuro da madrugada e o cada vez mais aterrador ribombar dos ruídos, uma enorme clarão. Começava, lá no alto, entre a montanha quase invisível e o firmamento adormecido, um fogo terrível, vermelho, assustador que se escoava como se fosse um rio, na direcção das casas, dos campos, das hortas, das vinhas e do mar. Um verdadeiro inferno! Parecia que o mundo acabava naquele momento, ali sem salvação ou redenção possíveis para ninguém. O terror era geral e o pânico indomável. Cada qual procurava, sem proveito, os seus familiares.
A manhã até parecia que se clarificava com aquele fogo estranho e pavoroso, por entre um alvoroço louco e imaginável. O fogo descia cada vez com mais veemência, pelas encostas sobranceiras ao povoado, na direcção do mar e começava a atingir os casebres mais pobres mais pequenos, construídos no sopé da montanha, do lado das Bandeiras. O povo aos gritos, aos sobressaltos, aos berros corria sem fazer coisa nenhuma, tentando procurar os familiares desaparecidos. Era um alvoroço tresloucado, uma gritaria inaudita, um desassossego nunca visto. Parecia que a abóboda celeste se havia transformado numa enorme bola de fogo que caía sobre a ilha, aniquilando-a e destruindo-a por completo.
Autoria e outros dados (tags, etc)
A BELEZA DAS COISAS
“A beleza das coisas existe no espírito de quem as contempla.”
David Hume
Autoria e outros dados (tags, etc)
TRABALHOS DE ABRIL, TRABALHOS MIL (DIÁRIO DE TI’ANTONHO)
Sexta-feira, 3 de Abril de 1946
“Afinal eu bem queria escrever mais, muito mais mas não tenho tempo e confesso que também os olhos já não me ajudam muito. De dia não tenho lá muito tempo para as escritas. Há sempre muito que fazer nos campos, sobretudo nesta altura do ano. E à noite com o vidro do candeeiro sempre sujo de tisna ou com a candeia de enxúndia de galinha a tremelicar com a ventania que entra pelos buracos do telhado, vê-se muito pouco. Se o pavio do candeeiro está baixo a luz é fraca, se levanto o pavio suja-me o vidro e ainda vejo menos. Quando é que há-de chegar a esta terra a luz eléctrica que dizem que já há em Lisboa?
Estamos em Abril e esta é uma altura do ano de muito trabalho. O gado está no oitono, amarrado à estaca, mas é preciso dar-lhe a cordada várias vezes ao dia, levar-lhe vasilhas e vasilhas de água e tirar-lhe o leite de manhã e à tarde. Além disso ainda é preciso levar incensos e erva para que os animais permaneçam mais tempo na terra e a trilhem bem. Eu tenho o meu gado no Mimoio, numa terra de trevo. Tenho apenas duas vacas a dar leite e uma gueixa alfeira. Já me dão trabalho que chegue que a minha Maria já pouco me pode ajudar. A gueixa o outro dia deu-me uma trabalheira dos diabos: tanto e tanto puxou que arrancou a estaca, a maldita. Deu-me cabo do trevo quase todo. Cagou-lhe em cima e agora as outras não lhe pegam. Perdi um dia, pois tive que ir às Lajes, ao ferreiro, comprar um estaca nova, maior e mais grossa e, depois de a bater com o maço e a enterrar ainda lhe enfiei uma pedra em cima. Agora nem uma junta de bois a arranca. Depois já há campos para lavrar e para semear. È tempo de plantar a planta da batata-doce que o canteiro está a abarrotar de rama. Há milhos no Areal já prontos a sachar e desbastar. Há tanto que fazer! Nem sei com dar tafulho a isto tudo. Bem diziam os antigos: Em Abril, trabalhos mil”
Autoria e outros dados (tags, etc)
AS ANTIGAS FOLGAS EM SÃO CAETANO
As Folgas, realizadas outrora, na freguesia de São Caetano, eram verdadeiros momentos de descanso e de pausas no trabalho, em que as pessoas se juntavam, com o objectivo de conviverem e se divertirem através da realização de balhos. Geralmente realizavam-se ao serão, sobretudo no Inverno e tinham lugar ou em casas particulares, ou numa loja que tivesse alguma dimensão, ou até nas casas de arrumos. Era o dono da casa que convidava os melhores tocadores e cantadores da freguesia, a que se juntavam os familiares e amigos. Eram também, muitas vezes, momentos de encontro para os namorados ou ocasião de descobrir o primeiro amor. Por vezes os que não eram convidados para uma determinada folga, ficavam indignados e juntavam-se numa outra casa, com os mesmos objectivos, o que fazia com que houvesse alguma disputa pela qualidade e apreciação de cada uma das folgas. Destas disputas nasceram, as chamadas folgas guerreadas, situação muito frequente na freguesia, onde cada qual disputava não só a qualidade dos balhos mas também a quantidade de participantes e das bebidas oferecidas.
O balho mais bailado nas folgas era a Chamarrita, em que tinham lugar de destaque os mandadores e os cantadores e em que os instrumentos musicais, vulgarmente, usados eram: viola da terra, violão, violino e bandolim.
A Chamarrita é um dos mais antigos bailes tradicionais do Pico, sendo considerado o mais emblemático do folclore açoriano. Trata-se de um baile mandado, muito primoroso, com um certo grau de dificuldade e que requer um mandador experiente e animado. Em São Caetano, a Chamarrita começava com 3 pernas: o homem tirava ou convidava uma mulher e bailava três pernas com a mesma, na última esta convidava um dos homens presentes os quais aguardavam, ansiosamente, este momento. O mandador iniciava a Chamarrita batendo palmas, dizia “entra”. os pares trocavam posições e iam dançando de acordo com as ordens do mandador: “quebra entranceia”, “bate palmas“, “leva cheia”, “rola”, “troca o par”, “outra senhora”, “ao meio da casa”, “chamarrita”, “fecha a roda”, “salta e torna a fechar”, “torna a saltar e puxa cadeia”, “vira e foge” , “dobra a casaca”, “vira o torreão” e, terminava com “olha o pico”.
Para alem da Chamarrita, nas folgas realizadas em São Caetano também se bailava “o fadinho” e, no fim, a “sapateia”, estasó pelos mais velhos.
Autoria e outros dados (tags, etc)
PADRE FRANCISCO JOSÉ GOMES
Um dos vários sacerdotes que paroquiou na paróquia de São José da Fajã Grande, na primeira metade do século XX, foi o padre Francisco José Gomes, onde, na década de cinquenta, ainda muito lembrado naquela, pois havia pouco mais de vinte e cinco anos que ali vivera, pelo que existia ainda uma memória muito viva do mesmo.
Francisco José Gomes, natural das Lajes das Flores, entrou para o Seminário de Angra no ano lectivo de 1898-1899, onde se matriculou em 11 de Junho de 1898, com 16 anos de idade, pelo que, terá nascido em 1882. Era filho de José Francisco Gomes e Maria Vitória do Rosário, sendo o pai viúvo de um primeiro casamento com Maria Emília da Trindade, com quem contraira primeiras núpcias, em 26 de Novembro de 1868. Por sua vez, o segundo casamento com a mãe do Padre Francisco José Gomes, Maria Vitória do Rosário foi celebrado, assim como o primeiro, na paroquial da Senhora do Rosário, das Lajes em 18 de Novembro de 1880.
Com ele mais 33 candidatos ao sacerdócio, deram entrada no Seminário de Angra, entre os quais um brasileiro, de nome Ramiro de Sousa Ramos, natural do Rio de Janeiro, outro americano mas filho de pais portugueses, chamado Joaquim Frederico Henriques, natural de Suisun City, Solano, Califórnia e ainda um outro de Lisboa da freguesia de Santa Maria Maior, de nome Augusto Joaquim Taveira. Curiosamente dos açorianos era o único natural do concelho das Lajes das Flores, havendo no entanto um outro aluno natural de Santa Cruz, de nome José Pedro Lopes e um outro do Corvo, de nome António Cândido de Avelar
Alguns destes alunos já eram homens na casa dos vinte anos e, um deles, Francisco Gonçalves Cardoso natural da freguesia da Serreta, ilha Terceira, já tinha feito os estudos preparatórios fora do Seminário, entrando, assim, com o objectivo de frequentar o Curso de Teologia. Acontecia ainda que alguns dos outros alunos, embora matriculados naquela instituição diocesana, eram alunos externos. Por sua vez Manuel Crisóstemo de Oliveira, natural das Bandeiras, ilha do Pico, um dos mais novos, apenas se matriculou, não frequentando o Seminário nem outra instituição de ensino ou professor particular. O destaque maior, no entanto, entre os alunos que se matricularam no Seminário Episcopal de Angra, naquele ano lectivo, vai para o aluno José Augusto Pereira, da freguesia de São Vicente Ferreira, ilha de São Miguel, que mais tarde foi uma das maiores e mais cultas figuras da igreja açoriana: o cónego José Augusto Peeira, professor do Seminário e autor de várias obras de carácter histórico, sobre a diocese açoriana, com destaque para o livro A Diocese de Angra na História dos seus Prelados. Outro sacerdote micaelense que frequentou o mesmo curso foi o padre Evaristo Máximo do Couto, pároco dos Ginetes, ilha de São Miguel, durante muitos anos.
Muito provavelmente Francisco José Soares ordenou-se sacerdote, no mesmo dia que o cónego Pereira e o padre Evaristo, ou seja em 1907, na Sé de Angra. Pouco depois da ordenação foi nomeado cura da Ponta, na Fajã Grande. Sabe-se, também que foi o último cura e o último padre com residente fixa naquele curato fajãgrandense, mais concretamente num passal ali existente, mesmo ao lado da igreja da Senhora do Carmo. O padre Francisco José Gomes exerceu o sacerdócio como cura da Ponta, entre 1907 e 1909, sucedendo ao padre José Furtado Mota. Colocado noutras localidades da ilha regressou à Fajã Grande, mas como pároco, após a morte do padre Francisco Vieira Bizarra. Paroquiou a Fajã Grande entre os anos de 1922 e 1925, portanto, antes do padre Manuel de Freitas Pimentel, que ali começo a paroquiar em 1925, após ter sido cura no Corvo e em Santa Cruz das Flores.
Mais tarde foi colocado no Corvo como vigário e ouvidor.
É a seguinte a relação dos colegas de Seminário do padre Francisco José Gomes: Manuel José Lopes, Ilha do Pico, Lajes, freguesia das Ribeiras, Abílio Maria da Silva, Ilha do Faial, Horta, Adriano Moniz, Ilha de São Miguel, Ribeira Grande, freguesia da Ribeirinha, Alípio Félix Machado, Ilha de São Miguel, Nordeste, Ângelo do Rego Quintanilha, Ilha de São Miguel, Lagoa, freguesia do Rosário, António Cândido Avelar, Ilha do Corvo, Vila do Corvo, António Silveira Bettencourt, Ilha Terceira, Angra do Heroísmo, freguesia da Conceição, Augusto Joaquim Taveira, Lisboa, freguesia de Santa Maria Maior, Ernesto Porfírio da Silveira, Ilha do Pico, São Roque, Evaristo Máximo do Couto, Ilha de São Miguel, Lagoa, freguesia de Santa Cruz, Francisco José Gomes, Ilha das Flores, Lajes, Francisco Pereira Rodrigues, Ilha do Faial, freguesia dos Flamengos, Francisco Silveira Garcia, Ilha do Faial, Horta, freguesia de Castelo Branco, Gaspar de Castro Neves, Ilha do Pico, Lajes, Henrique Ricardo de Sousa Pamplona, Ilha Terceira, Praia da Vitória, Jacinto Soares de Medeiros, Ilha de São Miguel, Ribeira Grande, Jaime Inácio da Fonte, Ilha do Pico, Madalena, freguesia de São Mateus, Jaime Pedro Lopes, Ilha das Flores, Santa Cruz das Flores, João Furtado Pacheco, Ilha de São Miguel, Vila Franca do Campo, João Garcia Duarte, Ilha do Faial, Horta, freguesia da Feteira, Joaquim Frederico Henriques, Estados Unidos da América, Estado da Califórnia, Solano, Cidade de Suisun City, José Duarte de Medeiros, Ilha de São Miguel, Povoação, freguesia do Faial da Terra, José Augusto Pereira, Ilha de São Miguel, Ponta Delgada, freguesia de São Vicente Ferreira, José de Menezes do Rego, Ilha Terceira, Angra do Heroísmo, freguesia da Conceição, José de Menezes Paiva, Ilha de São Miguel, Ribeira Grande, José Pereira Cardoso, Ilha de São Jorge, Velas, Manuel de Ávila Carolo, Ilha do Pico, São Roque, Manuel Crisóstomo de Oliveira, Ilha do Pico, Madalena, freguesia das Bandeiras, Manuel Gonçalves Cardoso, Ilha Terceira, Angra do Heroísmo, freguesia da Serreta, Manuel Leal do Couto, Ilha Terceira, Angra do Heroísmo, freguesia do Porto Judeu, Manuel Paulino de Azevedo Castro Ilha do Pico, Lajes, freguesia da Calheta de Nesquim, Raul Camacho, Ilha do Pico, Madalena, freguesia das Bandeiras e Ramiro de Sousa Ramo, Brasil, Estado do Rio de Janeiro.
Autoria e outros dados (tags, etc)
ENGANOS DE UM DE ABRIL
Ontem, dia um de Abril, dia de enganos ou “dia de mentiras” como se dizia antigamente, foi publicado aqui, no Pico da Vigia, uma notícia, intitulada “Fábrica de Sumos e Enlatados de Fruta Vai Ser Construída em São Caetano do Pico”. Tratou-se, obviamente, de uma brincadeira de “dia de mentiras” que também foi publicada na minha página do Facebook. De realçar a excelente colaboração do António Arruda com um belíssimo comentário que veio enriquecer e tornar mais interessante a brincadeira. Pena que os restantes dias, eivados de tão más notícias, não fossem elas de enganos, e esta fosse realmente uma notícia verdadeira. Seria excelente para o Pico.
Já o ano passado, na mesma data e com os mesmos objectivos, “Pico da Vigia” colaborou na celebração deste dia, se assim se pode dizer, com a publicação da notícia “A Fajã Grande das Flores Elevada a Vila e Sede de Concelho”, brincadeira que também provocou algum interesse.
A proclamação do dia um de Abril como dia do engano parece ser uma prática celebrada pela totalidade de povos do mundo que dedicam este dia a festas e celebrações em homenagem à “transgressão” e à “subversão” que visam, sobretudo, valores e hierarquias. Na maioria dos países da Europa, este dia celebra-se, por tradição, no dia um de Abril. Assim acontece em Portugal, Espanha, Irlanda, a Escócia, País de Gales, a Alemanha e também no Brasil, onde se faz do mesmo uma jornada em que não apenas se anunciam mentiras como também se pregam partidas. Há países que celebram este dia a 28 de Dezembro.
Existem muitas explicações para que o dia 1 de Abril se tenha transformado no “Dia do Engano”. Segundo uma delas, esta brincadeira surgiu, pela primeira vez, em França, no começo do século XVI, altura em que o Ano Novo era festejado no dia 25 de Março, data que marcava a chegada da Primavera, cujas festas duravam uma semana, terminando no dia 1 de Abril. Segundo dados históricos, em 1564, com a adopção do calendário gregoriano, o rei Carlos IX de França determinou que o Ano Novo deixasse de ser comemorado naquela data, passando a sê-lo, no dia 1 de Janeiro. Muitos franceses rejeitaram esta mudança e continuaram a seguir o calendário antigo, celebrando o início do ano de 25 a 1 de Abril. Os que haviam sido fiéis às novas alterações passaram, então, a ridicularizá-los, a enviar-lhes presentes esquisitos e convites falsos para festas que não existiam. Essas brincadeiras ficaram conhecidas pelas “plaisanteries”. Quase 200 anos depois, o hábito de fazer brincadeiras neste dia alcançou a Inglaterra e, rapidamente, se espalhou pela maioria dos países do mundo. Nos países de língua inglesa, o dia da mentira costuma ser conhecido como “April Fool's Day” ou “Dia dos Tolos”, e em Itália esse dia é chamado Pesce d'Aprile” ou "Peixe de Abril". Até hoje muitas organizações de média, revistas, jornais, canais televisivos, etc, têm propagado falsas notícias no Dia das Mentiras. Mesmo as agências de notícias mais conceituadas consideram o Dia das Mentiras uma brincadeira normal e uma tradição anual, que respeitam. A Internet, como não podia deixar de ser, um dos mais excelsos meios de comunicação mundial, serviu para facilitar o trabalho dos “fanáticos” destas brincadeiras. Algumas das mais famosas mentiras, divulgadas neste dia, foram as seguintes:
ü Em 1957, a BBC emitiu uma peça jornalística sobre a plantação de uma árvore de esparguete, na Suíça. Um vídeo mostrava fazendeiros suíços a carregar sacos de esparguete.
ü Em 1962, quando ainda não havia TV a cores, um técnico do único canal sueco anunciou que uma meia-calça de nylon cobrindo as telas dos aparelhos de televisão, permitiria que o sinal da TV passasse para o modo ‘colorido’.
ü Em 1992, a Rádio Pública Nacional dos Estados Unidos anunciou que o ex-presidente Richard Nixon voltaria a se candidatar à Presidência, com o slogan “Eu não fiz nada de errado e não farei novamente”.
ü Em 1976, Patrick Moore, astrónomo, anunciou que um alinhamento gravitacional entre Plutão e Júpiter às 9h47, reduziria a gravidade terrestre, permitindo que o planeta Terra passasse a flutuar.
ü Em 1998, a rede de restaurantes fast-food Burger King publicou um anúncio a promover um novo “hambúrguer para canhotos”.
ü Em 2005, o Google cria uma página sobre uma bebida sua.
ü Em 2008, a Wikipédia anuncia que apagará todas as imagens da Wikipédia lusófona por problemas de Copyright.
ü Em 2009, o site inglês “F1live” lança a notícia de que Lewis Hamilton teria trocado a McLaren pela Brawn.
ü Em 2010, o blog Bizarrices Automotivas é retirado do ar sem qualquer aviso, aparentando ter sido apagado.
ü Em 2011, o diário britânico The Independent anunciou que Portugal havia vendido Cristiano Ronaldo à Espanha por 160 milhões de euros.
ü Em 2012, o blog Pico da Vigia anuncia que a freguesia da Fajã Grande, na ilha das Flores, tinha sido elevada a vila e a sede de concelho.
ü Em 2013 o mesmo blog anuncia a construção de uma fábrica de sumos e enlatados de fruta em São Caetano, na ilha do Pico.
NB – Texto publicado no Pico da Vigia, em 1 de Abrilde 2013
Autoria e outros dados (tags, etc)
DIA DE MENTIRAS
O Pico da Vigia divulgou, ontem, dia um de Abril, uma notícia de última hora, segundo a qual a Fajã Grande das Flores fora elevada à categoria de vila e sede de um novo concelho daquela ilha. Tratou-se, evidentemente, de uma simples e inofensiva brincadeira ou melhor de uma mentira, no dia que, manda a tradição, de tal forma seja comemorado: o dia um de Abril, dia de Mentiras.
Na realidade, desde há vários anos, que o Dia das Mentiras é celebrado no dia 1 de Abril. Trata-se no geral de pequenas e divertidas partidas ou de mentiras inofensivas. Antigamente, na Fajã Grande e naturalmente em muitas outras localidades, era tradição celebrar e festejar este dia com entusiasmo, tentando cada um enganar da melhor maneira e da forma mais perfeita, os outros, levando-os a caírem, inocentemente, no logro, o maior número de vezes possível. Mais tarde o Dia das Mentiras passou a ser aproveitado pelos órgãos de comunicação para publicar notícias falsas, levando muitos leitores a cairem na esparrela. Ultimamente tem sido a Internet, através de muitos sites, blogs e redes sociais que tem mantido bem viva esta tradição de contar mentiras com o objectivo de se propagar uma informação falsa que leve os outros ao logro. O objectivo principal de toda esta panóplia de mentiras é tentar que algumas pessoas, por se esquecerem que o dia 1 de Abril é o Dia das Mentiras, acabem por acreditar em histórias ou notícias que pouco ou nada têm de verídico.
Acredita-se que o dia 1 de Abril seja considerado Dia das Mentiras desde que em França, em meados do século XVI, foi adoptado o Calendário Gregoriano. O Ano Novo, anteriormente, comemorado a 25 de Março, e com festas que duravam até 1 de Abril, passou a ser comemorado a 1 de Janeiro. Aos franceses que resistiram à mudança de calendário, e ainda consideravam 1 de Abril como início do ano, começaram a ser enviados presentes estranhos e convites falsos para festividades inventadas. Essas brincadeiras ficaram conhecidas como “plaisanteries”.
Algumas das mais famosas mentiras, divulgadas neste dia, foram as seguintes:
Em 1957, a BBC emitiu uma peça jornalística sobre a plantação de uma árvore de spaghetti, na Suíça.
Em 1962, quando ainda não havia TV a cores, um técnico do único canal sueco anunciou que uma meia-calça de nylon cobrindo as telas dos aparelhos de televisão, permitiria que o sinal da TV passasse para o modo ‘colorido’.
Em 1992, a Rádio Pública Nacional dos Estados Unidos anunciou que o ex-presidente Richard Nixon voltaria a se candidatar à Presidência, com o slogan “Eu não fiz nada de errado e não farei novamente”.
Em 1976, Patrick Moore, astrónomo, anunciou que um alinhamento gravitacional entre Plutão e Júpiter às 9h47, reduziria a gravidade terrestre, permitindo que o planeta Terra passasse a flutuar.
Em 1998, a rede de restaurantes fast-food Burger King publicou um anúncio a promover um novo "hambúrguer para canhotos".
Em 2005, o Google cria uma página sobre uma bebida sua.
Em 2008, a Wikipédia anuncia que apagará todas as imagens da Wikipédia lusófona por problemas de Copyright.
Em 2009, o site inglês "F1live" lança a notícia de que Lewis Hamilton teria trocado a McLaren pela Brawn.
Em 2010, o blog Bizarrices Automotivas é retirado do ar sem qualquer aviso, aparentando ter sido apagado.
Em 2011, o diário britânico The Independent anunciou que Portugal havia vendido Cristiano Ronaldo à Espanha por 160 milhões de euros.
Em 2012, o blog Pico da Vigia anuncia que a freguesia da Fajã Grande, na ilha das Flores, tinha sido elevada a vila e a sede de concelho.
Autoria e outros dados (tags, etc)
FÁBRICA DE SUMOS E ENLATADOS DE FRUTA VAI SER CONSTRUÍDA EM SÃO CAETANO DO PICO
Segundo noticiaram alguns jornais da cidade norte-americana de Newark, estado de New Jersey, a empresa de sumos refrigerados e de enlatados de fruta “Semed´s Globalfruit” pretende instalar, brevemente, uma unidade fabril na ilha do Pico. Segundo aqueles jornais, a filial daquela empresa norte-americana, cujo projecto já foi apresentado à edilidade madalenense, será construída na freguesia de São Caetano, concelho da Madalena. A concretizar-se este projecto, o local para a instauração da respectiva fábrica e armazéns anexos será uma parte da zona litoral, entre o porto de São Caetano e o farol de São Mateus. A escolha do local, o desbloqueamento de entraves burocráticos, uma vez que se trata de uma zona de adegas e cultivo de vinha, bem como a aquisição dos terrenos parecem ser os maiores obstáculos, àquele projecto, por parte do poder local, uma vez que, no que à “Semed’s Globalfruit” diz respeito, já todas as decisões parecem estar tomadas. No entanto e segundo fontes ligadas ao município madalenense, a escolha do local não será problemática, uma vez que, por um lado, os técnicos norte-americanos já garantiram que a área pretendida não destruirá nenhuma das adegas ali existentes, nem na área da freguesia de São Caetano, nem na de São Mateus e, por outro lado, naquela zona, desde há muito que se abandonou a cultura da vinha, estando a maioria dos terrenos que a empresa pretende adquirir, a abarrotar de faias e incensos e votados ao abandono.
Recorde-se que a “Semed’s Globalfruit”, com a construção desta filial nos Açores, pretende alargar a sua produção junto dos mercados europeus e do norte de África, uma vez que, até ao momento, se tem limitado a mercados das américas do norte e do sul. “Expandir as nossas linhas de produtos na Europa, no Norte de África e também nas ilhas açorianas, alargar a nossa produção e diversificá-la são os nossos objectivos ao implementar este projecto nos Açores”, declarou Mike Lourence ao “The Independent” de Newark. “O Pico, onde o nosso fundador, Rafael Lourence, tem as suas origens, parece-nos ser a melhor aposta. A ilha, para além de um excelente porto, situado em São Roque, tem muitas outras estruturas que poderão tornar perfeitamente viável o nosso projecto. Além disso, actualmente, o número de desempregados que grassa na ilha, garante-nos a mão-de-obra necessária. A proximidade do Faial poderá, também, ser um bom auxiliar quer no recrutamento de mão-de-obra quer no escoamento de produtos.”, concluiu Mike Lourence.
Sabe-se, também, que a “Semed’s Globalfruit” tem como um dos seus objectivos prioritários lançar novos produtos no mercado. Assim e ainda segundo Mike Lourence “Não apenas o Pico mas também as outras ilhas do arquipélago podem fornecer-nos muita matéria-prima, sobretudo, frutos típicos da região, aos quais pretendemos alargar a nossa produção, como seja o caso do araçá, do maracujá, da nêspera e sobretudo do phisális. Além disso a ilha ainda poderá fornecer matéria-prima para outros produtos que já constam da nossa produção, como a laranja, a uva e até os figos.”
A “Semed’s Globalfruit”, fundada em 1957 por Garry Lourence, filho de emigrantes picoenses, está sediada nos arredores da cidade de Edison, no estado de New Jerssey e nela trabalham mais de 500 funcionários, possuindo, actualmente, vendas anuais no valor de cerca de US$ 350 milhões, em sumos e enlatados de fruta, tendo recentemente alargado os seus mercados internacionais, com a criação de uma fábrica, semelhante à que agora pretende instaurar no Pico, em Dampier, na Austrália e, mais recentemente, uma outra em Portoviejo, no Equador.
A nova fábrica que será construída numa área de 50 mil metros quadrados, deve gerar cerca de 550 postos de trabalho, entre operários, armazenistas e camionistas. Além disso dará origem a um desenvolvimento da hotelaria e da restauração, uma vez que se prevê uma chegada ao Pico, proveniente dos Estados Unidos, de altos quadros e outro pessoal qualificado que, para além de orientar, quer os trabalhos de construção das estruturas quer para dirigir os primeiros tempos de laboração, dará a formação necessária aos quadros técnicos, operários e trabalhadores das diversas áreas. O projecto prevê que, numa primeira fase, a fábrica possa ter a capacidade de produção de mais de um milhão de unidades por ano, sendo previsível o aumento desse número, em caso de sucesso.
Acrescente-se ainda que em termos de postos de trabalho, muitos outros poderão ser criados quer a nível do sector primário, fruticultura, quer no terciário, uma vez que se vão fortalecer ou até criar novas estruturas de apoio, sobretudo a nível económico e logístico.
Para a autarquia madalenense "O projecto ora apresentado, foi recebido com muita satisfação e terá o aval da edilidade porquanto ele consolida e consubstancia um empreendimento de valor gigantesco para o concelho e para a ilha e vai marcar, muito positivamente, a história da indústria picoense e açoriana e ainda animar e desenvolver, substantivamente, o concelho e a ilha”.
Autoria e outros dados (tags, etc)
A FAJÃ GRANDE ELEVADA A VILA E SEDE DE CONCELHO
Notícia de última hora:
O Conselho de Ministros restrito para a “Reforma Autárquica”, reunido na tarde de ontem, decidiu elevar à categoria de vila a, até agora, freguesia da Fajã Grande da ilha das Flores, nos Açores, através da aprovação de um diploma que também desanexa aquela freguesia, a mais ocidental de Portugal e da Europa, do concelho das Lajes da mesma ilha, do qual fazia parte, desde a sua elevação a freguesia, no longínquo ano de 1861. Através do mesmo diploma também é criado mais um concelho na maior ilha do grupo ocidental açoriano, a ilha das Flores, a acrescentar aos dois actualmente existentes: Lajes e Santa Cruz. Do novo concelho que passará a designar-se por “concelho da Fajã Grande das Flores”, farão parte, para além da sede do concelho, a Fajã Grande, as actuais freguesias da Fajãzinha e do Mosteiro, até agora pertencentes ao concelho das Lajes e ainda a freguesia de Ponta Delgada, esta retirada ao concelho de Santa Cruz, do qual até agora fazia parte. No mesmo diploma se elevam a freguesias os lugares da Ponta e da Cuada, ambos pertencentes à freguesia da Fajã Grande e ainda o lugar da Caldeira, pertencente à freguesia do Mosteiro, passando assim o novo concelho da Fajã Grande a integrar sete freguesias, a saber: Ponta Delgada, Ponta, Fajã Grande, Cuada, Fajãzinha, Caldeira e Mosteiro. Este número, no entanto, poderá ser aumentado, dentro de poucos meses, uma vez que o referido diploma ainda prevê, para breve, a criação de freguesias nos lugares de Alagoeiro, Porto, Furnas e Areal, na Fajã Grande, de Pentes e Fajã dos Valadões, na Fajazinha. Caso se venha a verificar a criação destas cinco novas freguesias, o concelho agora criado será constituído por doze freguesias, passando a ser de facto o maior dos concelhos das ilhas do grupo ocidental e um dos maiores dos Açores.
As razões que se prendem com esta decisão governamental são sobretudo de carácter económico e administrativo, uma vez que se prevê, para muito breve, um grande desenvolvimento económico de toda esta zona noroeste da ilha das Flores, dada a incrementação que se prevê lhe seja dada, sobretudo no apoio ao desenvolvimento de algumas das actividades que constituem o sector primário, nomeadamente a agricultura, a pecuária, a silvicultura, a fruticultura e sobretudo a pesca. O futuro incremento destas actividades deve-se a um importante protocolo assinado ente os governos de Portugal e dos Estados Unidos, através do qual se fixam os parâmetros que orientarão as condições especiais de desenvolvimento da região do futuro concelho. Segundo este protocolo o governo Norte-Americano investirá cerca de 800 (oitocentos) milhões de dólares em estruturas de apoio ao desenvolvimento de todas estas actividades, com grande destaque para a pesca, através da construção de dois grandes portos, da compra e manutenção de uma potente frota piscatória e ainda da construção de duas fábricas de conserva, uma na Fajã Grande e outra em Ponta Delgada. Prevê-se assim, que nos próximos meses a população do novo concelho aumente substancialmente, na ordem dos cem mil por cento.
Presume-se que até ao fim do próximo Verão se iniciem todas as obras das estruturas de apoio não apenas ao sector piscatório mas também à agricultura e às restantes actividades do sector primário, prevendo-se, nesta área, a construção de uma fábrica de manteiga e uma outra de sumos e conservas de fruta. Todo este desenvolvimento económico quer do sector primário quer do secundário irá também e muito naturalmente desenvolver o sector terciário, nomeadamente o comércio e os serviços.
Resta acrescentar que, numa segunda fase, o mesmo protocolo prevê, por parte do governo dos Estados Unidos, um forte investimento no turismo.