PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
LITANIA DO MAR
Mar,
brejo incomensurável
de ondas e cachões d’espuma,
- rochedos de lava, areais de prata.
Mar,
refluxo azulado
de naufrágios e horas amargas ,
- barcos perdidos, horizontes vermelhos.
Mar,
reboliço voluptuoso
de marés incontidas e de ondas abruptas
- varadouros de rilheiras carcomidas
Mar,
estância sufocada
de algas murchas, arrancadas aos rochedos
- gaivotas escorraçadas em cio
Mar,
poema estraçalhado
escrito por quilhas, rimado por remos
- quadras e sonetos sem versos.
Mar,
castelo solitário,
tabernáculo de sereias, cubículo piratas
- sonhos desenhados em brisas dispersas.
Mar
aconchego agreste
de brumas, tempestades e caligens,
- epicentro de viagens perdidas.
Mar
de palavras debruadas a prata
lembranças, de sonhos e desejos de sol
- canto dolente, cio de liberdade.
Mar
hino inacabado
de estigmas e de lágrimas derramadas,
- percursos perdidos, destinos incertos
Mar
das madrugadas infinitas
onde a voz do vento embala e entontece
- as velas que partem sem destino.
Mar
cais abandonado
onde o voo das gaivotas rompe a solidão:
- a hora do embarque foi adiada
Mar
gesta inacabada
do pão, da morte, da vida e da saudade
- esperança paramentada de amargura.
Mar
roteiro da grande viagem
onde, no acordar de cada madrugada,
- me vejo, revejo e me encontro comigo
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JOÃO PATETA
(CONTO POPULAR)
Há muito, muito tempo havia um rapaz chamado João que vivia com a sua mãe numa pequena cabana na floresta... Como eram muito pobres, a mãe do João tinha de trabalhar muito, a costurar e a remendar roupa. E o João o que fazia? Nada! Durante o Inverno, era vê-lo sentado em frente ao quentinho da lareira. Já no Verão, o que ele gostava era de se sentar lá fora, no jardim, a apanhar Sol na cara. E era assim que ele passava os dias… Certo sia, a mãe, farta de ver que ele, nada fazia, disse-lhe: - Quem não trabuca, não manduca! Tens de começar a trabalhar, João! E lá foi ele… O primeiro emprego que o João arranjou foi em casa de um lavrador, que lhe deu uma moeda por um dia de trabalho no campo. João colheu o trigo, levou as vacas a pastar e ainda deu de beber aos animais da quinta. O lavrador, muito satisfeito, deu-lhe a recompensa prometida. Só que, já a caminho de casa, João tropeça e deixa cair a moeda num pequeno ribeiro. Como é que ele ia contar à mãe o que lhe tinha acontecido? - És um tonto, João! Um cabeça no ar! Então porque é que não guardaste a moeda no bolso? - Prometo que da próxima vez o faço, mãe… No dia seguinte, João foi contratado por outro lavrador para levar o rebanho a pastar às montanhas. E assim foi… Só que, em vez de receber uma moeda, João ganhou um grande jarro de leite fresco, acabadinho de sair da vaca. “Mas onde é que eu vou levar o jarro de leite? Já sei, no bolso…” E lá foi ele para casa, com o jarro no bolso. Mas, enquanto andava, o leite ia caindo no chão. Resultado: o João chegou a casa sem leite nenhum para dar à mãe. Esta ficou espantada: - Então não sabias que devias trazer o jarro com o leite à cabeça? - Prometo que da próxima vez o faço, mãe… Mais um dia de trabalho e mais uma recompensa: desta vez foi um queijo amanteigado. - Mas João, porque é que não trouxeste o queijo na mão? - Prometo que da próxima vez o faço, mãe… No dia seguinte, João foi ajudar o padeiro da aldeia a preparar o pão. E recebeu em troca um belo gato… Todo contente, João segurou o animal entre as mãos, caminhando na direcção de casa. Mas, como o gato era muito irrequieto, acabou por saltar-lhe das mãos e fugir. João ainda correu atrás dele, mas o gato era muito mais esperto e escondeu-se entre o mato. A mãe nem queria acreditar… - Sabes o que é que devias ter feito? Devias tê-lo atado com um cordel e arrastado atrás de ti. - Prometo que da próxima vez o faço, mãe… O talho foi o sítio que João escolheu para trabalhar, no dia seguinte… Depois de uma manhã de trabalho, João recebeu um belo e saboroso presunto. “Como é que eu o levo para casa? Já sei! Atado com um cordel e arrastado atrás de mim,” - pensou… Claro que quando chegou a casa o presunto já estava cheio de pó e ninguém o podia comer… - João, o presunto é para carregar às costas! - Prometo que da próxima vez o faço, mãe… Depois de uma noite descansada, João foi trabalhar para casa do pastor e recebeu um burro como recompensa. Apesar de ser muito pesado, João não desistiu de seguir os conselhos da mãe. Pegou no animal e pô-lo às costas, apesar de ser muito pesado. A caminho de casa, o rapaz passou pela casa de um homem muito rico. Este tinha uma filha muito bonita, a Maria, mas que tinha um problema: ninguém a conseguia fazer rir! Por isso, o pai tinha prometido que quem fizesse rir a sua filha, iria casar com ela. E foi isso que aconteceu… Muito aborrecida, Maria estava à janela quando viu este espectáculo; um rapaz, muito encarnado, a carregar um burro às costas. E, de repente, uma enorme gargalhada encheu a grande casa. Todos vieram ver o que se estava a passar… |
(Conto adaptado)