PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
MARESIA
em vão se revoltam as ondas,
transformando este mar numa afronta, num suplício
onde os barcos se recusam a partir e até as gaivotas
arribam, desoladas, ao silêncio molhado das rochas escuras…
e num ápice, o turbilhão emaranhado das ondas ,
transforma-se em tempestade calamitosa,
cresce em fúria, acalenta-se em revolta
e tudo bloqueia, como se fosse o rei do universo.
faz tanto vento e a chuva associa-se à tempestade
a noite ainda está distante mas as luzes já tremem de medo…
sobre as rochas tingidas de lava,
foram despejadas rajadas de escuridão húmida.
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A ALDEIA DAS FORMIGUINHAS
No meio dum campo muito grande de milho, havia uma pequenina aldeia somente habitada por formiguinhas. Nessa aldeia havia uma formiga muito especial, pois era ela que mandava em todas as formiguinhas da aldeia e, como ela tinha muito que fazer, todas tinham que trabalhar para a alimentar. Mas, muitas formiguinhas pensavam que ela era muito preguiçosa. Não ajudava as formiguinhas a trabalhar, muitas vezes ralhava com elas, não as tratava muito bem e comia quando lhe apetecia a comida que as outras formiguinhas cozinhavam. As outras formiguinhas criticavam-na porque ela passava o dia inteiro sem fazer nada e ralhava com elas e não dava valor aos trabalhos que as outras formiguinhas se desdobravam a fazer. Por isso muitas formiguinhas achavam que ela, a rainha, era má aquela formiga rainha. As formiguinhas, coitaditas lá iam trabalhando dia e noite, ouvindo, pacientemente, a rainha, sempre a ralhar com elas, sem terem coragem de lhe dizer alguma coisa.
Ora havia naquela pequenina aldeia, uma casinha mais afastada das outras, onde vivia uma formiga que não se conformava, nem concordava com o que a rainha dizia, nem com as atitudes que tomava. Entre todas as formiguinhas ela era a que mais se revoltava conta a rainha, Achava que nem era preciso haver uma rainha. Ela também trabalhava muito, fazia tudo muito bem feitinho, tinha muito juízo, pensava muito com a sua cabecinha. Pensava, pensava, fartava-se de pensar e não aceitava a maneira como a rainha tratava as formiguinhas, nem concordava com o que ela dizia, achava que ela devia trabalhar como as outras. Cada vez mais furiosa com o que via, perguntava a si própria:
- Porque será que ela só come o melhor, está sempre a dormir e não faz nada?
Certo dia saiu da aldeia. Afastou-se, começando a caminhar por entre o milho, para buscar umas ervas muito verdes, muito frescas e muito tenrinhas que a rainha precisava. Lá foi andando, andando até se cansar muito, pois o lugar para onde ia era muito longe da sua casa. Muito cansada e aflita, com medo de se perder, parou â beira do caminho, para descansar e para respirar um pouquinho. De repente ouviu um barulho que lhe parecia água a correr... Andou mais um pouquinho e viu um rio muito pequenino onde corria água muito clara, muito limpa e muito fresquinha.
- Que maravilha! – Disse ela. - Um riacho com tanta água, tão limpa! E parece muito fresquinha.
Como estava muito cansada e cheia de sede, aproximou-se para beber. De repente o rio começou a crescer e a formiguinha, quando tentou chegar à beira da água para beber, ouviu uma voz que lhe perguntou:
- Precisas de ajuda?
Assustou-se e olhou à volta para ver quem falara com ela. Então ela viu que à sua frente, bebendo água e ao mesmo tempo tomando banho no rio, estava um grande elefante.
- Ui! Como tu és grande e forte! – Disse a formiguinha admirada e, aproximando-se, pediu licença para também beber água.
- Ora formiguinha a água é de todos e para todos. Bebe à vontade e deixa que eu te ajude a dar-te um pouquinho dela. – Disse o elefante.
Assim o fez. Encheu a sua tromba de água e estendeu-a à formiguinha para que ela bebesse. Ela ficou admirada e maravilhada, pois na aldeia tinha que pedir licença à rainha para beber água e muitas vezes a rainha não a deixava beber. Contou então ao Elefante como vivia na sua aldeia, como ela e as suas amigas eram tratadas pela rainha e que não estava nada contente. O elefante, depois de a ouvir atentamente, explicou-lhe:
- Tu não vives sozinha, vives em grupo com outras formiguinhas assim como eu vivo em grupo com outros elefantes. Mas no grupo tem que haver regras, uns fazem o seu trabalho, mas tem que haver alguém que os oriente, que olhe por todos. Ora é isso que faz a rainha, por isso todas as formiguinhas devem ajudá-la e colaborar com ela.
A formiga percebeu a lição e voltou para casa um bocadinho envergonhada. Antes, porém, apanhou a ervinha que a rainha precisava e percebeu que tinha que respeitá-la, ajudá-la e viver em paz e amizade com a rainha e com todas as outras formiguinhas.
Só assim é que todas seriam felizes.
NB – Texto adaptado
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A MUNICIPALIDADE
Desde da segunda metade do século XV que o povoamento dos Açores se havia consolidado, fixando-se em todas as ilhas uma população activa, trabalhadora, que aos poucos se ia adaptando às precárias e difíceis condições de vida das ilhas, aos rigores climatéricos, às crises sísmicas, tentando edificar, dia a pós dia, um património agrícola, habitacional, artístico e cultural, notável, grandioso, específico e único. Embora pacífico e ordeiro o povo açoriano necessitava duma estrutura governativa que, sobretudo, o defendesse dos ataques exteriores, nomeadamente dos corsários e dos piratas e que o ajudasse no tempo de crises e de calamidades. Por isso, a partir da segunda metade do século XV estabeleceu-se, nas ilhas, uma estrutura governativa de cariz senhorial, com o objectivo de assegurar e manter o efectivo governo das ilhas, confiado ao seu donatário, que nelas se fazia representar pelos seus capitães, também chamados capitães-donatários, a quem competia a governação das capitanias em que o arquipélago, à semelhança de outras parcelas do país, fora dividido. Paralelamente, seguindo a forte tradição municipalista portuguesa, as ilhas foram rapidamente estruturadas em concelhos, com os seus órgãos municipais a assumirem boa parte da condução da governança e administração local. O poder real era representado por um corregedor, que percorria as ilhas em correição, verificando o cumprimento das leis por parte das câmaras e dos capitães-donatários. Paralelamente, o poder espiritual e a organização religiosa das ilhas dos Açores, como das restantes terras do além-mar português, começaram por estar sujeitas à jurisdição espiritual da Ordem de Cristo, exercida pelo vigário “nullius” de Tomar, que mandava visitar as ilhas pelos seus representantes, os chamados bispos de anel. A partir de 1514, com a criação do bispado do Funchal, o arquipélago passou para a jurisdição da nova diocese madeirense. Até que, a pedido de D. João III, rei de Portugal, o papa Clemente VII criou o bispado de São Miguel, mas faleceu antes da bula respectiva ter sido expedida. No ano seguinte, o recém-eleito papa Paulo III pela bula “Aequum Reputamus” erigiu o bispado de São Salvador do Mundo, criando a diocese de Angra do Heroísmo e ilhas dos Açores, dando-lhe por catedral a igreja do mesmo nome, na cidade de Angra.
No entanto e com o passar do tempo, o poder dos capitães foi-se apagando, sobretudo, devido ao isolamento imposto pela irregularidade das comunicações marítimas e teve como principal consequência permitir que o verdadeiro poder recaísse no âmbito municipal, apenas moderado pela intervenção do corregedor. Daí resultou uma ampla autonomia local, com cada Município a depender apenas do distante poder senhorial e real, sem qualquer dependência em relação quer às outras ilhas, quer aos municípios vizinhos. Esta situação de autonomia municipal apenas foi interrompida durante o governo filipino, após o qual as ilhas açorianas voltaram à sua antiga forma de administração, assim se mantendo durante mais de um século sem alterações significativas.
A freguesia de Santa Luzia pertencia ao Concelho de São Roque, desde sempre sediado no lugar do Cais do Pico, criado por carta de Foral, datada de 10 de Novembro de 1542 por ordem do rei Dom João III. Essa a razão pela qual o tenente Alçada de Melo, representante do capitão do donatário, o corregedor de São Roque, o edil e muitas outras autoridades representantes da municipalidade se desvelavam em cuidados para assistir e ajudar a população daquela freguesia, gravemente afectada por aquela infausta e cáustica tragédia.
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IYA
Iya!
Kini kan lẹwa ododo
Ni Ilaorun tilekun.
Mo ti a bi ti o,
Bi awọn Flower ti aiye.
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MÃE
Mãe!
Que verdade linda
O nascer encerra.
Eu nasci de ti,
Como a flor da Terra.
Matilde Rosa Araújo em O livro de Tila:
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SOBRE A MORTE DE DANIEL DE SÁ
não posso, no meio desta tristeza, esconder a doçura da amizade que, mesmo no meio de diferenças, ao longo dos anos todos fomos criando. O Daniel é um irmão desta família. Todos o respeitávamos imenso e continuaremos a respeitar a sua memória e a sua obra. Todos o reconhecíamos (…) como homem de fortes convicções, íntegro e isento, profundamente honesto, leal, crente de pensar por si, estudioso e amante profundo dos factos, implacável com fanatismos por via de ser senhor de um espírito crítico que o ajudava a discernir desvarios, crendices e pieguices de factos e realidades. Para além de tudo o mais, era também um escritor onde punha tudo aquilo em que acreditava com a finura de linguagem que ele cultivava com esmero, devoção e brilho.
(…) Os Açores perderam uma voz. Que vai fazer muita, muita falta. Sobretudo quando ela, nas nossas contas humanas, ainda deveria intervir por muitos, muitos mais anos.”