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GRUPO FOLCLÓRICO DA CASA DO POVO DE SÃO CAETANO

Quinta-feira, 08.05.14

No passado dia um, celebrou trinta e um anos de existência, o Grupo Folclórico da Casa do Povo de São Caetano, um dos expoentes máximos da vida cultural e artística da mais jovem freguesia do concelho da Madalena do Pico.

Enraizado nas ancestrais tradições musicais da freguesia e da ilha, onde sobressam as antigas folgas, verdadeiros momentos de descanso e de pausas no trabalho, em que as pessoas se juntavam, ao serão, com o objectivo de conviverem e se divertirem através da realização de balhos e constituído por mais de quarenta elementos, muitos deles jovens, o grupo consubstancia e congrega um notável conjunto de tocadores, cantadores e bailadores, apresentando um diversificado e brilhante repertório, tendo ao longo destes anos actuado em inúmeros festivais e celebrações, dentro e fora do Pico. Para além do folclore, o grupo dinamiza uma série de actividades culturais, recriando diversos costumes e tradições picoenses, o que o tornam numa espécie de reflexo do viver e do sentir das gentes de uma freguesia que apesar de simples e modesta, possui um rico e nobre património cultural, sobretudo no que à música diz respeito. O seu repertório inclui bailes e melodias com um ritmo próprio, vivo e contagiante, que se coadunam com a agitação espontânea das suas gentes e dos quais se destacam, entre outros: O pezinho, um dos balhos mais característico e representativo folclore local. Trata-se de um balho que, espelhando a autenticidade de um povo, é considerado distinto dentro das diversas variantes de “Pezinhos” conhecidos em outras ilhas, adquirindo em São Caetano uma especificidade no que à letra diz respeito. A Joanita, uma moda que não sendo considerada um baile de roda, possui, no entanto, tem uma coreografia muito viva e interessante. A letra, com um cunho popular notável, conta uma história de amor vivida entre dois primos: Joanita e António. Cá Sei, também conhecido por Abana ou Balho da Casaca ou simplesmente Casaca, possui, em São Caetano, um ritmo notável e dinâmico, com uma interessante especificidade de conteúdo literário. Maria Tomásia, também conhecido por Volta no Meio é um balho exclusivo da Ilha do Pico e a mulher típica mulher da ilha montanha que, sobretudo em tempos idos, para, além de executar com primor e dedicação os afazeres domésticos, acompanhava o homem nas lides árduas dos campos, mas que não se deixava vencer pelo cansaço nem pelo sofrimento. A Tirana, considerado um dos mais harmoniosos balhos do folclore picoense, também evoca a figura feminina, arquétipo de beleza, amor, dedicação, carinho e entrega à família. O Chiu-Chiu, actualmente pouco já pouco conhecida no Pico, é um balho muito antigo cuja coreografia e integridade da letra contêm um sabor arcaico e trovadoresco, fazendo uma espécie de apelo à solidão e ao silêncio. A Praia, um balho que remonta ao Século XVIII e comum às ilhas do Pico e do Faial. Crê-se ser originário destas ilhas e criado por influência dos antigos marinheiros e corsários que demandavam estas paragens, dado que reflecte nitidamente uma envolvência do homem das ilhas com o mar. A Sapateia, também conhecida por Sapateia de Cadeia, é considerada como a fina-flor dos balhos de roda do folclore do Pico. É um bailo típico das casas de folga e disputado pelos melhores e mais esmerados bailadores pelo seu grau de dificuldade. É o mais vivo, o mais variado e o mais ritmado de todos os balhos do repertório do grupo. Tem a particularidade de ser a letra a mandar o balho nas suas mudanças coreográficas. O Mané Chiné, por sua vez, revela-se como o baile mais alegre e ritmado do repertório do grupo e, apesar de todas as dificuldades vividas noutros tempos, manifesta um reflexo da boa disposição e de alegria de viver do povo. O Rola, à semelhança do Pezinho e da Chamarrita, era também um dos balhos característicos das antigas folgas, e, assim como o Ladrão, evoca amores proibidos. É vivo, cadenciado é o reflexo de grande diversidade de ocasiões para os encontros amorosos fortuitos. Mas, incontestavelmente, o balho mais bailado nas folgas de outros tempos era a Chamarrita, onde tinham lugar de destaque os mandadores e os cantadores e em que, vulgarmente se usava a viola da terra, violão, violino e bandolim. Trata-se é um dos mais antigos balhos tradicionais do Pico, sendo considerado o mais emblemático do folclore açoriano. Trata-se de um balho, primorosamente, mandado, com um certo grau de dificuldade e que requer um mandador experiente e animado. Em São Caetano, a Chamarrita começava com 3 pernas: o homem tirava ou convidava uma mulher e bailava três pernas com a mesma. Na última a mulher convidava um dos homens presentes, Todos aguardavam, ansiosamente, este momento. O mandador iniciava a Chamarrita batendo palmas e dizendo entra. Os pares trocavam posições e iam dançando de acordo com as ordens do mandador: quebra entranceia, bate palmas, leva cheia, rola, troca o par, outra senhora, ao meio da casa, “chamarrita, fecha a roda, salta e torna a fechar, “torna a saltar e puxa cadeia”, vira e foge, dobra a casaca, vira o torreão, terminando com “olha o pico”. Para alem da Chamarrita, nas folgas realizadas em São Caetano também se bailava o fadinho e, no fim, a sapateia, esta só pelos mais velhos.

 

NB – Dados retirados do http://gfsaocaetano.blogspot.pt/

 

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publicado por picodavigia2 às 17:34

BARRA VERMELHA

Quinta-feira, 08.05.14

“Barra vermelha água na orelha.”

 

A freguesia da Fajã Grande, a mais ocidental parcela de território povoado português, voltada a oeste, dia a pós dia, observava o ocaso do astro rei, mas no mar, lá bem longe, na linha do horizonte. No entanto ao pôr-se, o Sol provocava no espaço celeste imediatamente superior ou sobreposto â linha do horizonte, que na Fajã Grande era designado por barra, um muito interessante e variado colorido, ora com tons de azul e de anil, ora com tons amarelos, alaranjados e vermelhos. De tanto e tanto observar o colorido da barra, dia após dia, o povo percebera que alguns desses coloridos tinham consequências meteorológicas, como era o caso do vermelho, que seria sinal de que nos dias seguintes havia de chover. Daí a utilização deste interessantíssimo adágio, ao lembrar aos mais distraídos de que com a barra vermelha, vinham aí dias de chuva.

Nos anos cinquenta este adágio ainda era referido muitas vezes, sobretudo, por pessoas mais idosas. A sabedoria popular tem destas coisas.

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publicado por picodavigia2 às 16:31

O CURTUME DE PELES EM SÃO CAETANO DO PICO

Quinta-feira, 08.05.14

A indústria, se é que assim se pode chamar, do curtimento de peles no Pico, possivelmente, terá tido o seu epicentro na freguesia de São Caetano, no que à primeira metade do século passado, diz respeito. Na realidade, nos primórdios do século XX parece ter existido um bom número de curtidores de peles naquela freguesia picoense. Segundo testemunhos, na década de cinquenta do mesmo século, existiriam ainda, na freguesia, cerca de uma dezena de curtidores. Esta actividade, no entanto, tinha um cunho familiar, uma vez que, regra geral, não recrutavam nem empregavam estranhos. Apenas os membros do agregado familiar a ela se dedicavam nas horas vagas, não fazendo do curtume uma profissão a tempo inteiro e consequentemente, um modo de vida exclusivo.

O tratamento e aproveitamento de peles de animais remonta aos primórdios da humanidade. Na verdade, o homem, desde sempre, se dedicou ao tratamento de peles e couros, quer pela simples desidratação, processo simples onde se utiliza algum tipo de sal ou de outros produtos naturais para auxiliar este sistema, quer por um processo químico mais industrial, com a utilização de novas substâncias. Muitas destas novas substâncias, usadas na indústria do curtume são extraídas de alguns tipos de cascas de árvores, que apresentam grande teor de tanino, substância esta que ligada ao colágeno, permite um isolamento das fibras naturais contra fungos e bactérias que são as responsáveis pela degradação da pele "in natura".

Os curtidores de São Caetano conheciam estes processos ancestrais. É verdade que não possuíam o conhecimento científico, nem as formas de acesso a processos químicos, mais modernos, em que a substância mais utilizada é o cromo III, processo que impinge maior agilidade ao curtimento, barateando os custos, e tornando-o mais comercial. Na verdade, em São Caetano, ou devido à falta de conhecimento dessas novas drogas próprias para a curtimenta ou de dinheiro para as adquirir, os curtidores arrancavam faias donde lhe extraiam a casca das raízes, que depois de muito bem batida, era colocada juntamente com as peles a curtir num poço. Depois de as retirar dos poços, as peles eram pregadas com pregos em tábuas e postas a secar ao sol, sendo, depois de bem secas, cortadas às tiras e vendidas.

Havia dois tipos de peles curtidas, consoante se transformavam em sola e carneira. A sola era a pele dos animais maiores, bois e vacas e a carneira dos bezerros e cabras que, depois de muito bem trabalhadas eram depositadas nuns poços com água e cal para lhe retirar o cabelo. Depois eram passadas a cutelo para descarnar e tirar impurezas. Depois eram novamente depositadas no mar amarradas com correntes durante vários dias.

Com a sola, faziam-se as aparcas, com a carneira, faziam-se as correias, para atar quer as botas, quer as aparcas e ainda as luvas que eram usadas quer para acompanhar o foicinho ao mondar os campos e relvas onde proliferavam silvados agrestes, quer para para curtir em estrume no curral do porco e que seria utilizado como adubo das sementeiras, uma vez que era o estrume dos animais que substituía os adubos químicos no estrumar das terras. Quase todos os curtidores, iam vender a maior parte da sua sola, cortada às tiras e metidas num saco às costas, para as outras freguesias do Pico. Tudo era feito a pé, percorrendo muitos quilómetros, batendo de porta-a-porta, de freguesia em freguesia.

Às alparcas, utilizadas por homens e mulheres, eram feitas com sola e com umas arreatas de carneira, sendo-lhes pregados uns pedaços de borracha, extraída normalmente do meio dos pneus deixados de ser usados pelos automóveis, borracha essa que não era barata nem fácil de encontrar, pois os automóveis eram muito poucos, relativamente à procura. Mais tarde, uma parte da borracha, vinha da base aérea das Lajes, da Ilha Terceira, proveniente dos pneus dos aviões Era mais larga, mais resistente e de muito melhor qualidade, e por conseguinte maior duração.

A história da indústria de curtumes está e estará sempre ligada à história da humanidade. O homem primitivo utilizava as peles dos animas como agasalho, curtindo-as por processos simples. Ao longo dos séculos esta actividade foi sofrendo inovações, beneficiando do espírito inventivo de povos e civilizações que sempre reconheceram as características únicas da pele para as mais diversas aplicações e a trabalharam para satisfazer as suas necessidades.

Assim fizeram os curtidores de São Caetano, que com o seu trabalho, simples, árduo mas dedicado e laborioso, escreveram mais uma página da sua pequena mas digna história. Cuida-se que terão sido os frades a ensinar ao povo de São Caetano a arte do curtume, Antigamente, contava-se que na freguesia reria existido um frade curtidor. A prova-lo, ainda hoje existe uma rua com o nume de Canada do Frade.

 

NB - Dados retirados de António Silva  “As Minhas Raízes” e Wikipédia.

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publicado por picodavigia2 às 11:53





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