PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
AS FREITAS
Recuando oito gerações, na descoberta dos meus antepassados, descobri um razoável número de mulheres, minhas avós, tias e tias avós que tiveram no seu nome o sobrenome ou apelido “Freitas”. Foram elas:
Isabel de Freitas – casou na Fajazinha em 05-02-1725 com Bartolomeu Lourenço Fagundes, que era filho de António Lourenço e de Maria de Freitas. Ela era filha do alferes André Fraga e de Bárbara de Freitas
Joana de Freitas 2ª mulher de Bartolomeu Lourenço com quem casou na Fajazinha em 06-10-1732 e era filha do capitão do Capitão Gaspar Henrique Coelho s e Francisca Rodrigues Coelho (natural dos Cedros capitão das Fajãs e neta paterna do capitão Domingos Rodrigues Ramos e Catarina de Freitas. Era irmã do padre Francisco de Freitas Henriques de do capitão da Fajã António de Freitas Henriques.
Catarina de Freitas – casou em 30-01.1752 com António Silveira de Azevedo na igreja da Fajãzinha, filha de Bartolomeu Lourenço e de Isabel de Freias do primeiro casamento. Neta Paterna de António Lourenço e de Maria de Freitas e materna deo Alferes André Fraga e de sua mulher Bárbara de Freitas.
Ana de Freitas – casou na fajazinha, em 17 de janeiro de 1774 com Bartolomeu Lourenço Fagundes. Era filha de Manuel Lourenço e Joana de Freitas e e Bartolomeu Lourenço Fagundes era filho de António Silveira Azevedob e de Catarina de Freitas. Era nora de Catarina de Freitas
Maria de Freitas – primeira mulher de Manuel Lourenço com quem casou na Fajãzinha em 08-11-1723 era filha de do Alferes André Fraga Pimentel e de sua mulher Barbara de Freitas que faleceu com 55 anos em 26-10-1718
Joana de Freitas 2ª mulher de Manuel Lourenço com quem casou na fajazinha em 22-111751 e era filha de António George Garcia e de Maria de Freitas era mãe Ana de Freitas esposa de Bartolomeu Lourenço Fagundes
De ascendência paterna
Ana de Freitas Jr que casou na Fajãzinha, em 22 de Outubro de 1804 com Joaquim António Rodrigues de Freitas foram eus trisavós e pais de minha bisavó Mariana Joaquina de Jesus
Ana de Freitas que casou na Fajazinha em 6 de Outubro de 1763, com António de Freitas Fragueiro natural das Lajes das Flores e que foram
Como se isto não chegasse ainda tenho, na actualidade, algumas tias e primas com o mesmo sobrenome.
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LIBERTAÇÃO
Numa manhã, cálida, fulva e etérea do Outono, chegou à serra Prada um viajante solipsista, misterioso e invulgar. Invulgar porque, imaginem, era um anão. Vinha de longe, de muito longe. Percorrera mares, andurriais e páramos, suportando tempestades e procelas, saltando montanhas de espuma e de submissão, sentando-se à sombra de árvores sem folhas e sem esperança, perdendo-se ininterruptamente em ilhas desertas e em oásis mistificados. Atravessara, com extenuante lucubração, um grande e tórrido deserto, com rios de fogo e pináculos de estranha adoração, onde se perdera e onde, simultaneamente, enlapara muitos dos seus sonhos e fantasias. Mas trazia consigo a experiência da liberdade, a fragrância da dignidade, a auréola da fraternidade, a estranheza da sublimidade e do amor, sobretudo do amor. Sonhava, sempre, que as estrelas são de prata, e que para além de cada oceano, há sempre um outro mar. Ensinava que as nuvens quando se desfazem não pretendem apenas jorrar sobre os mortais a incomodidade da chuva. Aprendera nos campos e nos bosques e estudara com as flores e os pássaros. Acolhia com sorriso as manhãs sombrias, escuras, enevoadas e chuvosas. Era amigo da esperança e das florestas. Pernoitava nos bosques, ao relento, dialogando com o destino e com a solidão. Alimentava-se do perfume das flores e dos frutos. Possuía um coração com aromas de alecrim e sabor a hortelã. Mas tinha um grande defeito: dependia total e exclusivamente do sol, para quem olhava constantemente, sonhando poder, um dia, voar ao seu encontro.
Mais! Era gimnosofista, o anão! Vivia permanentemente nas florestas, abstraído das multidões, convivendo com a frescura e a mansidão dos bosques. Considerava a "noite" como a origem de todos os males e produtora de todas as limitações, e a "escuridão" a filha única da ignorância universal. A fuga a estas maléficas divindades, adquire-se através da sabedoria, filha da claridade, mas que permanece longínqua e quase inatingível, porque libertadora de sucessivas, contínuas e constantes migrações, e que consiste, apenas e simplesmente, na capacidade equívoca de fugir aos pesadelos escuros e tétricos da nossa existência atormentada. Isto apenas se consegue mediante um isolamento total e uma entrega às "hamadríades", ou seja, as ninfas dos bosques, que nascem simultaneamente com as árvores, nunca se desvinculando das mesmas, vivendo e morrendo com elas. A vida duma árvore ninfada ou duma ninfa arborizada é, no entanto, perene e infinita, porque umas e outras dependem da única fonte de vida do universo - o Sol. Por essa razão, o anão entendia, que as árvores nunca deviam ser destruídas, pois o aroma das suas folhas, o perfume das suas flores e o sumo dos seus frutos constituem o alimento primordial e único de todo a raça carracena, pelo que a vida depende, necessariamente e em último grau, da luz emanada pelo astro-rei. Este é um armazém infinito de poder e beleza, receptor tranquilizante de todas as inquietudes. Somente através dele é possível atingir a sublimação da beleza absoluta e, consequentemente, atingir a simplicidade. Assim toda e qualquer oposição à força e à beleza solar devia ser eliminada.
Chegou, pois, o anão, à serra Prada e aboletou-se num tétrico e cavernoso antro, isolado de tudo e de todos. Inicialmente, os serranos, supinamente preocupados com as perversas vicissitudes resultantes da famigerada governação dos seus chefes, não se aperceberam da sua presença. Passados alguns dias, porém, numa tarde clara, florida, perene de sol e de ternura, o anão desceu aos povoados e encontrou a serra na posse plena da sua beleza omnipotente e beatificante, isolada e só, mas acolhedora, glorificante e transcendente.
O povo, ocupado em orgias contestatárias e efervescentes, nem se apercebeu da sua presença e o anão perdeu-se, no meio da confusão que então se gerava, vagueando por entre a população envolvida em deslumbrantes manifestações contra o estado da nação. A revolta agigantava-se cada vez mais. O anão foi apanhado pela manifestante enxurrada, sem se aperceber e sem que ninguém o notasse. Foi levado pela confusão até ao palácio real, que de imediato foi invadido. A multidão, difluída junto à platibanda que o cercava, de rompante, encostou-se aos altos portões que a encimavam e que de imediato cederam e entrou, em turbilhão, pelos pátios ajardinados e pelos salões desertos e esconsos.
O monarca, mais uma vez se ausentara, para se dedicar às suas actividades preferidas e satisfazer os seus reais e eficientes instintos cinegéticos. A última sala a ser invadida foi a do trono. Uma multidão furibunda, intransigente, sedenta de esperança e liberdade, encostou-se à porta e esta cedeu facilmente. De repente, todos entraram, à esmo, pela sala dentro. A confusão era enorme e emaranhada em sucessivos e contínuos atropelos. Ninguém podia fugir, libertar-se ou, tão pouco, mover-se. O anão, hesitante, enleado e ilaqueado, ainda tentou fugir. Não conseguiu. Impossível de todo! Estava completamente preso e assolado, amarrado a uma força infinita, invisível e estranha, que o puxava e que, por fim, sem saber-se como, o sentou no próprio trono real.
De repente, fez-se um enorme e sepulcral silêncio na sala.
O anão estava ali, só, mais a multidão, que, faminta de lenimento, fixava o seu olhar tímido, mavioso e expectante, no rosto aureolado e blandicioso de tão inesperada e inquietante personagem, que, na realidade e a partir de agora, seria a esperança libertadora da sua estigmatização.
Um grito de alívio ecoou por toda a serra Prada! As árvores ficaram mais verdes e floridas, as flores mais perfumadas e alegres, os frutos mais aromatizados e saborosos. As aves, encheram-se de coragem, perderam os últimos resíduos de medo e de temor e voaram mais alto. Os animais retoiçavam com mais afinco e blandícia. A suavidade ornamentava o destino de toda a serra. O vento soprava paramentado de ternura e graciosidade.
Porém o monarca emérito, ausente do palácio real, continuava abstraído na prática das artes cinegéticas e pantagruélicas, não se apercebendo, de imediato, que ali terminara o seu reinado e que era substituído na governação serrana por um simples, humilde e heteróclito anão.
A noite, porém, decorreu, em toda a serra, sobressaltada, angustiante e repleta de escuridão e incerteza. Mas a manhã seguinte, surgiu, risonha, afável, simpática e perene de sol e de ternura. Os dias seguintes correram céleres, maviosos e flexíveis. Era imperioso, por parte da nova governação, alterar ou suprimir muitas das leis vigentes, estabelecendo novos rumos, mudando a ordem até então estabelecida.
Os ergástulos foram destruídos, as leis maquiavélicas suprimidas e os decretos aniquilantes anulados. Foi decretado que, a partir de agora, o Sol seria a principal razão de ser e de viver dos serranos pradenses. É que o neo-governante bochimane adorava o Sol. Não podia mesmo viver sem ele. A sua dependência do astro-rei era tal que, sempre este se escondia, quer porque chegasse a noite, quer porque surgisse um dia enevoado, cinzento ou chuvoso o anão refugiava-se no seu mítico falanstério e tremia terrivelmente de frio, sofrendo tão violentas e pitónicas convulsões, que se abstraia total e absolutamente da sua governação protectoral.
Por isso a protecção legislativa ao astro-rei era imperativo constitucional. O Sol recebia assim, por decreto, à boa maneira dos sacerdotes assírios e pré-helénicos, os epítetos de ser supremo, paraninfo real, coração do mundo, razão de ser de todo o universo, detentor dum poder, duma força e duma vontade anteriores ao mundo, regulador da marcha do universo, controlador assumido do destino, significante exímio da grandeza, da dignidade e da perenidade e gerador da contagiante simpatia.
Foram, então, publicados decretos cerceadores dos eclipses e eliminadores dos dias enevoados e cinzentos e promulgadas leis que combatiam, de forma radical e imperiosa, as próprias noites. A Lua, quer na sua extravagante ousadia de gerar eclipses, quer na sua prestigiante função de iluminar a noite, foi decretada como inimigo número um. A duração dos dias de Inverno foi aumentada.
Na própria bandeira da nação serrana foi mandada afixar a inolvidável imagem do maior e mais importante astro do universo, na sua postura mais digna, gratificante e criadora - nascendo. Por toda a parte, dentro e fora do palácio real, surgiam desenhos e imagens do Sol. Nos jardins reais, foram mandadas erigir duas estátuas: uma do deus Apolo e outra do rei Hélio e as salas foram ornamentadas com frescos e baixos-relevos representando os episódios mais significativos da vida de Faetonte, o mais importante filho do Sol que, estando um dia a jogar apaixonada e emotivamente com o seu amigo Epapo, este, ao ser derrotado, desentendeu-se com ele e lançou-lhe à cara alguns insultos, nos quais se incluía uma grave e ofensiva suspeita de que ele não era filho do Sol, o que punha linearmente em causa a seriedade da sua mãe. Faetonte foi queixar-se a esta que, de imediato, o mandou certificar-se junto do Sol. Este, encontrando o filho, a quem desde há muito procurava, despojou-se dos seus próprios raios em benefício do filho e jurou conceder-lhe tudo o que ali mesmo lhe pedisse, como real prova da sua efectiva paternidade. O jovem Faetonte pediu-lhe que o deixasse conduzir, apenas por um dia, o seu próprio carro. Não era essa a vontade paternal, mas como prometera em juramento e não podia voltar com a palavra dada, o Sol emprestou-lhe o seu carro puxado por fortíssimos cavalos e deu-lhe a respectiva certificação de condutor. Os verdores de Faetonte levaram-no, em louca correria, até ao horizonte terrestre. Foi aí que os cavalos, ao aproximarem-se da Terra, se assustaram e os raios de Faetonte começaram, de imediato a queimá-la e a incendiá-la, ao mesmo tempo que afastando-se, ela arrefecia. Gerou-se, assim, um caos universal, que culminou em tempestades ciclónicas e diluvianas, trovoadas contínuas, cataclismos destruidores, inundações arrasantes, tendo sido, o próprio Faetonte, fulminado por um raio, caindo o seu corpo no rio Eridano, perante o choro e o lamento de suas irmãs e do seu amigo Cícuo. A desordem no universo foi tal que, durante um ano, não houve Sol e a corrida dos cavalos tão violenta que do carro ficou um rastro no firmamento, que se prolongou até hoje e que ainda se pode observar - a Via Láctea.
Estas imagens, gravadas nas paredes o palácio real, contribuam, significativamente, para valorizar a força, a grandeza e a imperiosa consistência que o Sol, agora, passava a ter, na vida e nos costumes do novo governante. Este acordava todas as manhãs, na esperança de ver nascer o astro-rei. Caminhava pelos campos e pelas bosques, alta madrugada, ansioso e expectante, tímido e submisso, na certeza de que ele em breve, surgiria no firmamento, na sua grandiosidade e omnipotência, espargindo, com os seus raios luminosos, simpatia contagiante, irradiando doçura, emanando dignidade, aquecendo os bosques e as florestas, aconselhando as flores e os pássaros, passeando ao lado das montanhas, dignificando o perfume das flores e transformando em sublimidade a perene doçura dos frutos. O dia surgia, então, pacífico, alegre, e bonançoso. A água dos regatos e arroios corria, agora, mais límpida e cristalina, a fluidez fora irradiada, a inconstância abolida e a indefinição suprimida. O sol assumia-se, na realidade, na sua total e infinita plenitude - rei e senhor do universo. Era, assim, reposta, nas cercanias serranas, a ordem mitológica, assíria e pré-helénica, desfeita pela perturbante missão da História, acolitada por imperativos religiosos ou racionais.
O povo, cedo, entendeu o que se passava. As alterações eram tais, que era impossível não entendê-las. Preferiu, no entanto, ocultar-se, calar-se, aguardar os acontecimentos, sentindo a perene e constante ternura de sentir que agora fora decretado o direito de sonhar e de imaginar a aventura e a fulgurante consonância de conquistar o próprio destino. Por outro lado, a protecção e o constante acompanhamento que lhe era dado, por parte do novo governante, permitia não apenas que aceitasse a mudança, mas também que a anelasse e que a quisesse ou até mesmo que a procurasse.
Os dias sucediam-se, pois, repletos de paz e de tranquilidade. O povo pradense orgulhava-se de ocupar o 1º lugar no top da euritmia e da ataraxia contemplativa. As manhãs consolidavam-se perenes de irradiações solares e erguiam-se acolhedoras e tranquilizantes, geradoras de orgasmos emocionais, transmitindo à serra um potencial de vida, de doçura e simpatia contagiante, nunca antes conseguida. Quando o dia, impelido pela beleza solar, se extravasava na sua delirante bonança, os arbustos cresciam, as árvores davam mais flores e mais frutos, as aves construíam ninhos de raios de luz e de esperança, o povo refugiava-se nas sombras do destino, o anão pura e simplesmente contemplava o sol ou as imagens que dele rodeavam os mistérios do reino.
A vida, na serra, era agora a certeza institucionalizada. Era possível sonhar-se com a perene transcendência de se poder sonhar mesmo não sonhando. O teorema hélénico dos filósofos socráticos fora traduzido para a neo-cultura serrana: "a verdade é que estamos sempre a sonhar, pois quando estamos a sonhar, estamos de facto a sonhar e quando estamos a não-sonhar, também estamos a sonhar que não estamos a sonhar". Por isso, toda a serra sonhava.
Porém, inesperadamente, um dia, sem que ninguém se apercebesse ou desejasse, chegou, o primeiro e grande Inverno. De imediato os dias escureceram totalmente, as flores fecharam-se, as folhas caíram, as árvores murcharam, os animais, em aulidos de dor, refugiaram-se nos seus esconderijos. As encostas serranas cobriram-se com um manto acinzentado de neve. O anão tremeu de frio, como nunca tinha tremido até então e escondeu-se, fechou-se, enclausurou-se e chorou amargamente. É que não havia nem leis, nem decretos que imperassem sobre as leis da natureza e transformassem aqueles frios e terríveis dias de inverno, fazendo regressar à serra a ternura, o calor e a fragrância solares.
A vida na serra paralisou totalmente. O frio e a neve destruíram tudo e todos. Apenas a perene certeza do retorno sazonal e ansiado da longínqua primavera, justificava a angustiante mas ousada volúpia de viver.
O anão tremeu de frio dias a fio, semanas inteiras, meses consecutivos. Do sol, apenas a ténue esperança de regressar o mais cedo possível, pondo termo a tão angustiante e tétrica lucubração.
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OS CAPITÃES DAS FLORES E CORVO
Segundo Mendoça Dias a lista dos capitães das Flores e Corvo, desde que os Teives as alienaram até 1650 é a seguinte:
Fernão Teles - comprou as “Foreiras” aos Teives (que as descobriram ou delas se apossaram), segundo carta régia de confirmação da venda passada em 28 de Janeiro de 1475. Foi casado com D. Maria de Vilhena que, já viúva e com seu filho, a vendeu a João da Fonseca.
João da Fonseca - venda está confirmada por carta régia de 1 de Março de 1504, com as mesmas concessões.;
Pedro da Fonseca - filho do anterior sendo a sucessão confirmada por carta régia de 6 de Agosto de 1506. Foi o primeiro a usar o título de capitão das Flores e senhor do Corvo, por ter comprado o ilhéu a Antão Vaz.
Gonçalo de Sousa - segundo filho do anterior, sendo a sua sucessão confirmada pelas cartas régias de 12 de Janeiro de 1548 e 12 de Setembro de 1575. Casado com D. Beatriz de Távora, não tiveram descendentes pelo que o direito de herança da capitania caducou.
D. Francisco de Mascarenhas - conde de Santa Cruz e senhor das duas ilhas por carta régia de 17 de Setembro de 1593. A doação concedida como compensação pela perda da capitania do Faial e por estar vaga a das Flores;
D. Martinho de Mascarenhas - 2º conde de Santa Cruz e filho do anterior. A sucessão foi confirmada pelas cartas régias de 3 de Janeiro de 1608 e de 20 de Setembro de 1624.
D. Beatriz de Mascarenhas - 3ª condessa de Santa Cruz e filha do anterior. Foi casada com João de Mascarenhas, a quem o rei deu o título de conde de Santa Cruz, doando-lhe a capitania das Flores e do Corvo por carta de 15 de Junho de 1650.
Sucederam-lhes: D. Martinho de Mascarenhas II - 4º conde de Santa Cruz (1665-1676); D. João de Mascarenhas II - 5º conde de Santa Cruz (1676-1691); D. Martinho de Mascarenhas III - 6º conde de Santa Cruz e 3º marquês de Gouveia (1691-1723); D. João Maria de Mascarenhas - 4º marquês de Gouveia (1723-1740) e D. José de Mascarenhas - 5º marquês de Gouveia e 8º duque de Aveiro (1740-1759).
Em 1759, após a condenação e execução do duque, a capitania retornou à Coroa.
Pedro da Silveira caracteriza assim os governos das três dinastias
de capitães ou donatários como ele escreve: “Os Teles não se preocuparam com as ilhas a seu encargo. Os Fonsecas deram um notável impulso à sua efectiva colonização, em certa medida estimulados pelos reis, dada a crescente expansão castelhana para Oeste. Os Mascarenhas cuidaram sempre e apenas do que as ilhas lhes rendiam ou podiam render, não demonstrando a mais leve preocupação com o seu desenvolvimento ou com o bem-estar dos que lá viviam. Sugavam, implacavelmente, a população em rendas e dízimos e igualmente o faziam os seus feitores, em proveito próprio. Desde que esta família tomou posse da capitania, em 1593, não mais se criou ali qualquer freguesia.”
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SERVOS INÚTEIS
“Infelizmente, muitas paróquias (nos Açores) são como ilhas, só que rodeadas de terra por todos os lados, em vez de mar. Temos de nos habituar a pescar para o mesmo cesto e nós, sacerdotes, devemos pensar que ninguém pesca para si e que a paróquia ou a Igreja não são nossas. Na Igreja, só temos de nos convencer que somos servos inúteis.”
Octávio R de Medeiros
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O MACHADO E O RAIO
Antigamente, na Fajã Grande, havia muito medo das trovoadas e, sobretudo dos relâmpagos. Dizia que os relâmpagos, quando faiscavam, emitiam raios perigosíssimos, sobretudo se se reflectissem em espelhos ou no gume de um machado. Assim, sempre que começasse a relampejar deviam tapar-se todos os espelhos e quem transportasse um machado, tanto ao ombro, como nas mãos, devia libertar-se do mesmo, atirando-o para bem longe. Outros objectos, no entanto, também podiam atrair os raios emanados dos relâmpagos, como máquinas de costura, aivecas de arados, sachos, facas, etc. Mas mau, mau eram os espelhos e os machados.
Para ilustrar tais crenças, contava-se que Ti’Antonho Joaquim, que se ufanava de não ter medo de nada nem de coisa nenhuma, muito menos de raios, relâmpagos ou trovões, certo dia, de baixo de uma enorme trovoada, que, a julgar pelo pouco tempo que separava o faiscar do relâmpago do ribombar do trovão, deveria estar muito próxima, o que tornava tudo muito mais perigoso, resolveu pegar num machado, sair de casa e caminhar rumo a uma terra que tinha no Pocestinho, a fim de ir cortar lenha. Ao passar à Praça, alguns homens que ali estavam a descansar e abrigar-se da trovoado, ao ver aquela loucura, bem o avisaram:
- Ó home, já tens idade para tê juíze! Arruma-me esse machade, nã vês a relampada qu’está pr’ai a fazê?! Cum ess’idade, num sabes que debaixe de trovoade nunca se deve pegá num machade! Durante uma trovoada nã se deve pegar num machade, home dos diabes!
Ele, continuando o seu caminho, respondeu:
- Nã tenhe mede nenhum, nim de nada, muito menes de raios. Raios vos partim é a vocês, qu’istão par’i sentades, sim fazê coisa nehua. Ca pur mim tenhe mazé que trabalhá. Precise de lenha, o cepe está sem nenhua. A minha Adelina qué fazer lume e nã tem cunquê.
E lá foi à sua vida, enquanto os outros ficavam ali pasmados, até porque a trovoada parecia aumentar cada vez mais. Ti’Antonho Joaquim subiu a Fontinha, seguiu até ao Alagoeiro, sempre com o machado às costas. Enfiou-se pela Canada da Fontecima e chegou ao Batel. Subiu a ladeira, abrigando-se junto às altas abas das paredes. Ao chegar ao cimo, junto ao Descansadouro, postou-se no alto, em pé, a olhar o povoado, como se nada estivesse a acontecer, embora, cada vez, trovejasse com mais intensidade.
De repente sentiu um estrondo medonho e um choque terrível percorreu-lhe todo o corpo, fulminando-o e deitando-o por terra, inanimado. Ao lado, o metal do machado derretera por completo. Um raio, emanado de um relâmpago, a que se seguiu um estrondoso trovão, atraído pelo metal reluzente do gume, caíra-lhe sobre o machado provocando uma enorme descarga eléctrica, atordoando-o por completo. Foram uns homens que por ali passaram, algum tempo depois, que o recolheram e o trouxeram em ombros até a casa, ficando alguns dias de cama, até se recompor por completo.
Mas o susto foi tão grande e o perigo de morrer tão eminente que Ti’Antonho Joaquim, em dias de trovoada, nunca mais saiu de casa, nem muito menos, pegou num machado.