PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
DESCONFUNDINDO
O nome Bretão tem originado alguma confusão, relativamente a alunos que com este nome frequentaram o SEA, na década de cinquenta. Recordo que na realidade participou muito activamente no nosso Encontro, o José Agostinho Bretão, referido nesta lista, no passado dia 1 de Outubro e de que todos nos lembramos muito bem. Este Bretão agora referido, é o José António da Silva Bretão, que me foi apresentado pelo Dr José Nunes e que apareceu no Encontro, apenas um dia, pelos vistos nem estava inscrito. Segundo diz o João Carlos, aina havia, sim, inscrito um Carlos António da Silva Bretão, de que ninguém se lembra. Tudo isto provocou uma enorme confusão, que agora se pretende desconfundir, mas a justiça já foi feita à excelente participação do José Agostinho Bretão, embora a minha dúvida subsista quanto aos dois últimos, porquanto julgo que o Carlos António e o José António possam ser a mesma pessoa, tendo havido uma confusão de nomes.
O José Agostinho Bretão é natural da freguesia de Santa Bárbara, ilha Terceira e fez parte do curso de um grupo ainda a exercer o sacerdócio na diocese açoriana, o Norberto Cunha, o Cassiano e o Vasco Parreira e que terminaram o curso de Teologia e foram ordenados em 1966. Ao mesmo curso pertenceu o Nuno Vieira, um dos participantes no Encontro de Julho. Assim o José Agostinho Bretão ingressou no Seminário de Angra, no ano lectivo de 1953/54, onde fez grande parte da sua formação académica.
Após a saída do Seminário completou a sua formação académica no Liceu de Angra, cursando, mais tarde, Psicologia. Trabalhou em Angra na Inspecção do Trabalho, de que foi inspector, estando actualmente reformado. Em 1992, fez parte integrante do Grupo de Violas da Casa de Povo de Santa Bárbara, cuja criação tinha como objectivo colaborar na manutenção e defesa das tradições da freguesia. Reside, actualmente, na ilha Terceira.
O Bretão surgiu no encontro com uma serenidade invejável, com uma humildade resplandecente e com uma simpatia que a todos cativou. Senhor de uma ternura dignificante, o Bretão, com as suas conversas, diálogos, ditos e palavras, tanto em ocasiões de maior solenidade como em simples momentos de folguedos, transmitia a todos uma amizade verdadeira, sincera e deslumbrantemente comunicativa. Sem protagonismos, sem estravagâncias, sem excentricidade e sem exageros supérfluos e com as suas palavras sensatas, o seu diálogo cativante, as suas lembranças engrandecedoras e a sua presença persistente e condigna, o Bretão fez com que o Encontro se tornasse num desfilar de memórias vivas, num turbilhão de momentos gloriosos e experiências marcantes, num rosário de recordações genuínas e de sentimentos vividos num passado que o tempo e a distância nunca hão-de ofuscar. Por tudo isto e por muito mais que não foi possível captar, o José Agostinho Bretão, com a sua presença no Encontro, tornou-se mais um dos “Senhores” do mesmo
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ABANDONADOS
Era uma vez um homem muito pobre e que tinha muitos filhos. Viviam todos numa pequena e pobre cabana, no meio duma floresta, sem vizinhos ao redor. Apesar de trabalhar arduamente, de dia e de noite, o homem não conseguia arranjar os alimentos necessários para saciar a fome dos filhos.
Certa noite, depois de cearem um simples caldo de couves, a mulher disse ao marido que não tinha comida para dar aos filhos no dia seguinte. O homem ficou muito preocupado e, depois de muito pensar, disse:
- Não vale a pena eu continuar a viver com os meus filhos juntos para deixar que morram de fome. É melhor abandonar dois deles na floresta. Pode ser que encontrem uma alma caridosa que tome conta deles. Deus há-de ajudá-los.
Ao ouvir isto, o coração da mãe encheu-se de angústia e de dor. Não conseguindo dizer palavra, apenas rezava para que Deus não abandonasse os seus filhinhos.
Ora entre os filhos havia um casal de gémeos, o João e a Maria. Eram muito chegados um com o outro. O João ouviu a conversa do pai e compreendeu tudo.
No dia seguinte, de manhã cedo, o pai mandou-os vestir, dizendo-lhes que ambos o haviam de acompanhar para irem com ele à floresta, buscar lenha. O João, porém, antes de partir, encheu os bolsos com pedrinhas brancas que juntou de pequeno um jardim que havia em frente da cabana. Ao caminhar pelo meio da floresta, o menino ia deixando cair uma pedrinha e depois outra, como que assinalando o caminho por onde passavam. Por volta do meio-dia o pai parou e disse-lhes:
- Fiquem aqui, sentados, descansando, enquanto eu vou além, procurar umas abelhas a fim de recolher mel. Quando ouvirem um assobio grosso, sou eu, a chamar por vocês. Nessa altura, seguindo o som, vão ter comigo. - E, dizendo isto, sumiu-se na floresta.
Os dois meninos sentaram-se e esperaram muito tempo, começando a ficar preocupados pois não ouviam o assobio do pai
Esperaram mais algum tempo. Finalmente o menino disse à irmã que estava a ouvir um som que parecia o assobio do pai. Foram procurar, mas não encontraram nada. A menina começou a chorar cuidando que estavam perdidos. O irmão tentou acalmá-la, dizendo-lhe que haviam de encontrar o caminho para casa.
A menina confiou no irmão e começaram a caminhar, seguindo as pedrinhas que o João deixara no caminho quando acompanhavam o pai. Ao anoitecer chegaram à cabana. O pai, a mãe e os irmãos estavam sentados à mesa a cear. Passara por ali um homem para quem o pai trabalhara e pagara-lhe uns dias de trabalho. Com esse dinheiro haviam comprado alimentos para vários dias. Foi com muita alegria que viram os irmãos de volta, partilhando com eles a refeição. Depois fizeram uma pequena festa e foram dormir.
Passados alguns dias, o dinheiro acabou e a fome voltou de novo. Não havia como alimentar tantas bocas. O homem começou, de novo, a pensar em deixar abandonados os dois filhos no meio da floresta.
Desta vez, porém, o João não pôde apanhar as pedrinhas brancas porque a porta estava fechada e a chave tirada. No entanto guardou um pouco de pão que recebera para a ceia. Quando amanheceu, os dois gémeos seguiram viagem, juntos com o pai. O João, ficando um pouco atrás, espalhava pedacinhos de pão no caminho. Os passarinhos, porém, ao vê-los comiam-nos. O chegar a um lugar ermo o pai disse-lhes o mesmo que dissera da primeira vez em que os abandonara. Os meninos esperaram mas o pai nunca regressou. Decidiram, então, voltar para a cabana mas não encontraram os pedacinhos do pão. Embora tristes e preocupados decidiram caminhar, andando, até anoitecer, cuidando que estavam perdidos. Sem desanimar, o menino subiu uma árvore muito alta, de onde conseguiu ver, ao longe, o fumo que saía duma chaminé. Desceu da árvore, muito depressa e, juntamente com a irmã, começou a andar naquela direcção.
Depois de muito andar encontraram uma casa muito bonita e muito iluminada por dentro. Aproximaram-se e viram que a casinha era feita de bolos e as luzes eram velas açucaradas. O João quebrou um pedaço e entregou-o à irmã e partiu outro para si. De repente, de lá de dentro, ouviram uma voz que perguntou:
- Quem está a mexer em mim?
Esconderam-se depressa mas, pouco depois, voltaram para comer mais, ouvindo, novamente, a voz, a fazer a mesma pergunta. À terceira vez ouviram a voz bem perto deles:
- Ah! São vocês, meus queridos netinhos? Tão bonitinhos mas tão magrinhos! Entrem...
Entraram e a velha, que era uma feiticeira, ofereceu-lhes uma bela e saborosa ceia. Depois levou-os para um quarto onde havia de tudo. Fechou a porta e deixou-os dormir. No outro dia deu-lhes comida e água, e assim sucedeu durante vários dias. Mas o João, espreitando, descobriu que a velha comia pessoas e que devia estar engordá-los para, mais tarde, os comer. Pensou, então como haviam de libertar-se. Para tal apanhou uma lagartixa, cortou-lhe o rabo e toda vez que a velha trazia comida e perguntava como eles estavam, respondia:
- Vamos bem.
- Mostre o dedinho! – Pedia a velha.
O João, para a enganar, mostrava-lhe, através do buraco, a cauda da lagartixa. A velha, quase cega, apalpava e dizia:
— Tão magrinhos! Vamos comer mais, meus netinhos!
E, no dia seguinte, trazia-lhes mais comida. Meses depois os dois meninos estavam gordos, corados e fortes mas sempre mostrando o rabinho da lagartixa.
Certo dia, porém, a Maria, descuidou-se e perdeu o rabo da lagartixa. Quando a velha pediu que mostrassem o dedinho, a menina, muito estouvada e sem juízo, mostrou o mindinho. A velha apalpou-o e lambeu os beiços:
- Hum! Estão no ponto. Saiam, dai, meus netinhos.
Depois, abrindo-lhes a porta, deixou que saíssem. Na manhã seguinte, a velha pediu ao João que fosse buscar lenha cortada em toros. O menino lá foi, mas, pelo caminho, ouviu uma voz a chamar por ele, que lhe disse
- Leva a lenha, mas quando a velha acender o lume e pedir a ti e à tua irmã para atravessarem a tábua que ela colocou por cima da fogueira, digam que é melhor ela atravessar primeiro para vos ensinar. Nessa altura empurrem a velha para a fogueira e não tenham pena.
Assim fizeram. A velha acendeu uma grande fogueira, atravessou uma tábua por cima, pedindo às crianças que passassem de um lado para o outro. O João pediu-lhe que atravessasse primeiro para eles verem como era. A feiticeira subiu para a tábua e quando ia a meio os dois meninos empurraram-na. Ela caiu e ficou toda queimada. Bem gritava ela, desesperada:
- Água, meus netinhos! Deitem água no lume, para o apagar.
- Azeite, avozinha, azeite. - Respondiam eles. E a velha ficou esturricada, dando, pouco depois, um estouro como se fosse uma bomba.
O João e Maria correram a casa toda, encontrando os quartos cheios de dinheiro, roupas, pedras preciosas e muita comida e bebida.
Encheram uma parte do que encontraram e partiram para a cabana dos pais onde chegaram, muitos dias depois.
O pai, muito arrependido do que tinha feito, ficou muito contente e abraçando os filhos, pediu-lhes perdão. A mãe não cabia em si de alegria e os irmãos também ficaram muito felizes. Com os bens e o dinheiro que os meninos conseguiram trazer construíram uma casa, onde todos passaram a viver felizes.
NB - Inspirado num conto popular brasileiro.
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RECONQUISTADO
MENU 45 – “RECONQUISTADO”
ENTRADA
Salada de alface, morango laminado, queijo fresco e nozes,
temperada com molho vinagrete.
PRATO
Açorda de salmão.
SOBREMESA
Gelatina de Morango e suspiro
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Preparação da Entrada: - Ripar a alface, preparar e laminar os morangos. Misturar o queijo fresco e as nozes. Bater muito bem 3 colheres de sobremesa de azeite, com uma de vinagre e outra de mel, formando vinagrete. Temperar a salada com este molho e servir.
Preparação do Prato – Cozer o peixe em água temperada com azeite, cebola, salsa, alho picado ervas aromáticas e pimenta. Com uma parte do caldo cobrir um pouco de pão, desfazendo-o, perfumando-o com folhas de hortelã . Desfazer o salmão e misturar. Levar a mistura ao lume, juntando-lhe uma clara de ovo.
Preparação das Sobremesas – Confecção tradicional.