PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
POEMA DO FECHO ECLAIR
(DE ANTÓNIO GEDEÃO)
Filipe II tinha um colar de oiro
tinha um colar de oiro com pedras, rubis.
Cingia a cintura com cinto de coiro,
com fivela de oiro, olho de perdiz.
Comia num prato
de prata lavrada
girafa trufada,
rissóis de serpente.
O copo era um gomo
que em flor desabrocha,
de cristal de rocha
do mais transparente.
Andava nas salas
forradas de Arrás,
com panos por cima,
pela frente e por trás.
Tapetes flamengos,
combates de galos,
alões e podengos,
falcões e cavalos.
Dormia na cama
de prata maciça
com dossel de franja roliça.
Na mesa do canto
vermelho damasco
a tíbia de um santo
guardada num frasco.
Foi dono da terra,
foi senhor do mundo,
nada lhe faltava,
Filipe Segundo.
Tinha oiro e prata,
pedras nunca vistas,
safira, topázios,
rubis, ametistas.
Tinha tudo, tudo, tudo
sem peso nem conta,
bragas de veludo,
peliças de lontra.
Um homem tão grande
tem tudo o que quer.
O que ele não tinha
era um fecho éclair.
António Gedeão
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VINTE E OITO DE MAIO
O dia 28 de Maio de 1926 ficou assinalado na História de Portugal por nele ter ocorrido o início de um levantamento militar, no norte de Portugal, com o objectivo de tentar repor a ordem no país, que desde 1924 vivia em constantes sobressaltos. Caminhava-se. a passos largos. a guerra civil. O movimento sindicalista havia sido abafado, incidentes violentos grassavam por toda a parte e tinam sido criadas, no país, condições para a instalação de um regime de terror, em que proliferavam os assassinatos e os atentados terroristas. Havia um enorme descontentamento entre o povo português devido à política do Partido Democrático que, desprovido da sua ala radical, se tornara num partido conservador e corrupto, alheio às causas da justiça social dos trabalhadores.
Assim a instabilidade política atingira uma situação de pré guerra-civil, com confrontos entre unidades militares e com a sublevação de algumas unidades militares. A instabilidade atingiu um ponto de ruptura, levando a que alguns dos principais comandos militares programassem e encetassem uma revolta.
A revolução teve origem em Braga, sendo o comando das operações assumido pelo General Gomes da Costa. A 28 de Maio foi proclamado o movimento militar, tendo-se iniciado, de imediato, uma enorme movimentação de forças militares de Braga para Lisboa. Ao longo do dia seguinte, Sábado, 29 de Maio, unidades militares de todo o país declararam o seu apoio aos militares golpistas. A chefia da polícia de Lisboa também aderiu ao golpe.
O governo, verificando não ter qualquer capacidade para controlar a situação, apresentou a demissão ao Presidente da República, na altura o Dr Bernardino Machado. Tomou conta do poder Mendes Cabeçadas, e Bernardino Machado resignou, embora nesse mesmo dia ainda ocorresse a última sessão da Câmara dos Deputados e do Senado.
A 1 de Junho, as tropas revoltosas reuniram-se em Coimbra, onde acordaram na proclamação de um triunvirato governativo, presidido por Gomes da Costa de que faziam parte também Mendes Cabeçadas e Armando Ochoa.
O movimento militar, transforma-se, assim, numa autêntica revolução com a adesão de inúmeros sectores da sociedade portuguesa, desejosos de acabar com o clima de terror e violência que se tinha instalado no país.
No entanto, a revolta continuou e as tropas de Gomes da Costa chegaram a Sacavém. A situação era confusa, pois não havia certeza de quem deveria formar o novo governo. Foi perante este impasse que, entre as novas figuras, surgiu a do Ministro das Finanças, Oliveira Salazar, que mais tarde assumiu a chefia do Governo.
A revolução implantou um regime militar que duraria formalmente até 1933, sendo seguido pela aprovação de uma nova Constituição e pela institucionalização do «Estado Novo», um regime autocrático em parte inspirado no movimento fascista italiano que tinha acabado de despontar em Itália, mas controlado pelos sectores católicos conservadores portugueses.
O regime implantado com a revolução de 28 de Maio, conseguiu recuperar da situação económica absolutamente caótica a que a chamada «República Laica» o tinha feito chegar após o golpe de 5 de Outubro de 1910.
No entanto, embora tivesse recuperado a economia do país, o regime implantado em 28 de Maio de 1926, entrou por sua vez e após o final da II Guerra, num lento processo de apodrecimento e degradação do país, culminando com a fatídica guerra do ultramar.
A Revolução de 28 de Maio de 1926 foi, pois, uma espécie de pronunciamento militar de cariz nacionalista e antiparlamentar que pôs termo à Primeira República Portuguesa, levando à implantação da Ditadura Militar, depois auto-denominada Ditadura Nacional e por fim transformada, após a aprovação da Constituição de 1933, em Estado Novo, regime que se manteve no poder em Portugal até à Revolução dos Cravos de 25 de Abril de 1974.
A notícia deste golpe, no entanto, não terá chegado tão cedo à Fajã Grande das Flores.
NB – Dados retirados da Net
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INTERROGAÇÃO
“Ainda não tinha dado conta de que a Igreja dos Açores, nas nossas Paróquias, é tida como insuficiente para transmitir os conteúdos fundamentais da fé, relacionar a formulação dos mandamentos com as situações de hoje, celebrar com dignidade todos os sacramentos e aprender o Pai-nosso como molde de oração e vida. (…) Só me fica uma pequena dúvida: o que andamos a fazer por estas ilhas desde o século XV?”
Abel Nóia