PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
TERÇO DO ESPÍRITO SANTO
Desde os primórdios do povoamento das ilhas açorianos que o seu povo, frequentemente, fustigado por crises sísmicas e temporais, implorava o auxílio divino, centrando a sua fé na Terceira Pessoa da Trindade - o Espírito Santo. Assim aconteceu, também, em São Caetano, freguesia onde, na realidade, desde os tempos mais remotos se enraizou uma profunda, convicta e autêntica devoção ao Espirito Santo, a qual tinha a sua expressão mais visível, por um lado, nas funções realizadas ao longo do ano e, por outro, na festa, celebrada na Terça-feira de Pentecostes. As funções consistiam em pagamentos de promessas feitas ao Divino Espírito Santo por um mordomo, geralmente um emigrante, e que consistiam na partilha do pão e da carne pelos mais pobres - em louvor do Paráclito. No final da celebração da missa, o mordomo era, solenemente, coroado, com o principal símbolo do Espírito Santo – a coroa. Por sua vez a festa, para além da celebração eucarística incluía um cortejo em que os irmãos transportavam em açafates ornamentados com toalhas com rendas e bordados artesanais, as suas ofertas de pão, sob a forma de rosquilhas e que seria distribuído por todo o povo. O que também era característico destas festividades era preparação espiritual das mesmas, através das novenas, realizadas antes de cada festa ou função, durante as quais o povo se reunia, em casa do mordomo, para cantar o “Terço do Espírito Santo”. Tratava-se duma celebração ancestral, de caris profundamente religioso e que, muito provavelmente, remontava aos primórdios do povoamento da ilha e aos tempos em que a mesma era abalada por crises sísmicas sucessivas e frequentes, de tempestades violentas e destruidoras, como se pode depreender do conteúdo de alguns dos textos ainda hoje cantados. As novenas tinham lugar em casa do mordomo, em cuja sala de fora era preparado um altar onde se colocava a coroa e o ceptro, ladeado pelas bandeiras e ornamentado com as melhores toalhas e cortinas brancas, geralmente vindas da América, com tecido vermelho, flores da época e esparto. O terço era cantado durante os nove dias que antecediam cada celebração, quer se tratasse da festa ou de uma função e, no final, partilhava-se vinho de cheiro e massa sovada. O terço constava de cinco partes, durante as quais se repetia uma invocação ao Paráclito, dez vezes seguidas, sendo que o orientador da novena cantava a primeira parte e o povo a segunda, situação que se alternava nas invocações seguintes. Acrescente-se que o Terço era cantado por todos os presentes, homens, mulheres, jovens e crianças, com um respeito profundo e uma devoção intensa, uma fé verdadeira e genuína, consubstanciando um acto religioso comunitário, muito digno e autêntico. No final do canto do terço, enquanto se cantava o hino “Alva Pomba”, o ceptro passava de mão, a fim de que cada um dos presentes, o osculasse com o maior respeito e dignidade.
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O FORTE DO ESTALEIRO
As ilhas dos Açores desde os primórdios do seu povoamento sentiram a necessidade de se defenderem e protegerem contra os ataques e assaltos de piratas e corsários, atraídos não só por víveres, pela água e pelos bens existentes nas mesmas mas também pelas riquezas das embarcações que ali aportavam, oriundas da África, da Índia e do Brasil. Desde de em meados do século XVI começaram a ser construídas, em todas as ilhas, fortificações ou fortes militares, com o objectivo de proteger as populações e manter as ilhas em segurança.
Assim, ao longo dos tempos, foram-se construindo vários tipos de fortes militares, uns maiores outros menores, em todas as ilhas, nomeadamente, nas do grupo ocidental, mais isoladas e consequentemente mais expostas aos ataques de piratas e corsários. Estes fortes situavam-se nos portos e ancoradouros, chefiados por militares guarnecidos pelas populações locais sob a responsabilidade dos respectivos concelhos.
Cuida-se que nas Flores terão existido cerca de 27 fortes militares, sendo 5 deles na Fajã Grande, a saber: Castelo da Ponta, Vale do Linho, Castelhana, Estaleiro e Portal da Rocha, este já na freguesia da Fajãzinha. Entre estes destacou-se, na Fajã Grande, o Forte do Estaleiro, localizado no lugar a que lhe deu o nome, entre o Porto e o Calhau Miúdo, Em posição dominante sobre um boa parte do litoral e a ampla baía da Ribeira das Casas, constituiu-se como um forte destinado à defesa do ancoradouro ali sediado e do porto adjacente, defendendo um e outro dos ataques de piratas e corsários, outrora frequentes nesta região, virada a oeste e muito mais isolada.
Acredita-se que a toponímia "Estaleiro" se deva a que, primitivamente no local, tenha existindo algum tipo de facilidade, como uma simples rampa, para a reparação naval, pese embora o lugar se estenda por terra dentro abrangendo, para além da costa, um pequeno espaço de terras de cultivo. Foi também aqui que existiu o primeiro campo de futebol da freguesia A região caracterizava-se, pois, por terras de cultivo, nomeadamente de géneros como o milho, a batata, a batata-doce, o feijão, cebolas, e couves. O forte do Estaleiro terá existido activo durante os séculos XVIII e XIX e consistiu numa pequena fortificação junto ao mar, adjacente ao ancoradouro do chamado Porto Novo, sobre a baía da Ribeira das Casas. Dela existe alçado e planta, com o título "Forte do Estaleiro da Fajam Grande", de autoria do Sargento-mor do Real Corpo de Engenheiros, José Rodrigo de Almeida. A "Relação" do marechal de campo Barão de Bastos em 1862 refere-o apenas como "Posto das Fajãs", informando que "Tem uma casa em mau estado". Na década de cinquenta, no entanto, ainda podiam ser observados alguns vestígios de uma estrutura que não chegou aos nossos dias.
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TEIMOSIA LENTA
Manhã sombria,
Porque a noite
Teimou em retirar-se.