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A VILA DA HORTA

Quarta-feira, 11.06.14

A Horta, no início do século XVIII, apesar de possuir o estatuto de vila desde 1498, através de foral concedido por el-rei D. Manuel I, era uma pequena povoação, plantada na orla sul da ilha do Faial, voltada para montanha do Pico. Embora, nessa altura, já fosse constituída por três paróquias - Conceição, São Salvador e Angústias - a vila resumia-se a um núcleo populacional centrado entre a fortaleza de Santa Cruz e o Porto-Pim, que se prolongava ao longo de uma enorme rua, paralela à baía, sobre a qual a vila se debruçava e que se estendia até à igreja da Conceição, lá para os lados da Lomba do Pilar, a noroeste da baía, já quase nos contrafortes da Espalamaca. Aí se estabelecera, desde há muitos anos, o centro administrativo da vila e era aí também que se situava a igreja da Senhora da Conceição, construída em substituição de uma outra destruída a quando de um ataque à ilha, por corsários ingleses. Esta igreja, uma vez que a freguesia da Conceição constituía o maior e mais importante núcleo populacional, era a mais importante da vila e junto a ela, iniciava-se a construção de uma alta e imponente torre, encimada por um gigantesco relógio.

A vila era circundada por uma baía à qual estava anexo um enorme e importante porto, onde entravam e donde saíam todo o tipo de embarcações de feitio e tamanhos diversos, desde naus, galeões, caravelas, brigues, escumas, patachos, bergantins, escaleres, até às fragatas de guerra, armadas com peças de artilharia ligeira, com três mastros, de velas redondas e usadas, apenas, em missões de defesa, escolta e de reconhecimento. Por ali se escoavam muitos dos produtos que a ilha produzia, nomeadamente trigo, pastel, urzela, laranjas e vinho, este produzido e vindo do Pico, em pequenos batéis que, depois de carregados nos “rola-pipas” de Santa Luzia e das Bandeiras, da Barca, do Calhau, da Candelária e do Guindaste, atravessavam o canal entre Faial e Pico, batéis estes que também acarretavam madeira e gado.

Arrasada pela peste bubónica que ali alastrara no início do século e com muitas das suas igrejas e dos seus monumentos destruídos, quer por crises sísmicas, quer por ataques da pirataria e saques de corsários, a Horta, no início do seculo XVIII, tentava reconstruir-se, levantar-se das cinzas, erguer-se do nada. Por outro lado a chegada de algumas ordens religiosas à ilha, nomeadamente os Jesuítas, os Franciscanos e os Carmelitas, beneficiando de alguma riqueza armazenada no Brasil, iam aos poucos, com a colaboração de um ou outro mecenas, construindo as suas igrejas e os seus conventos, enquanto a vila aguardava por também reedificar os seus palácios, reerguer os seus monumentos e até restaurar muitas das moradias dos seus habitantes.

Os frades Franciscanos, precisamente no virar do século, haviam terminado a construção da Igreja da Senhora do Rosário ou de São Francisco e o convento anexo. Este, porém, passara por muitas vicissitudes ao longo dos anos, sendo frequentemente enfraquecido por terramotos, incendiado por corsários ingleses e, anos mais tarde, destruído, quase totalmente, por um forte temporal. A sua reconstrução era urgente e imperiosa. As obras de restauro da igreja estavam terminadas, mas agora iniciava-se a reconstrução do convento.

Por sua vez as obras de construção da igreja e do convento da Senhora do Carmo, sob a égide dos frades carmelitas, estavam prestes a concluir-se, estando já a igreja aberta ao público. A construção do convento anexo iniciara-se no século anterior, por influência de D. Helena de Boim, esposa do então Capitão-mor Francisco Gil da Silveira. Após a construção de uma capela que foi dedicada à evocação de Nossa Senhora da Boa Nova, D. Helena de Boim, decidiu criar ali um hospício, com o fim de alojar os frades da Ordem dos Carmelitas que escalavam o porto da vila em viagem de ida e vinda para os Estados do Brasil e do Maranhão, uma vez que a Horta se havia tornado um ponto de paragem para os missionários que viajam de e para o Brasil e Ásia. Para prover o convento, D. Helena de Boim viria a doar todos os seus bens à Ordem dos Carmelitas, que nos terrenos junto à capela, dera início, no final do século XVII, à construção de um mosteiro, e mais tarde à Igreja de Nossa Senhora do Carmo que lhe está anexa.

O convento dos frades Jesuítas, junto a uma igreja mandada erigir por estes e já terminada, também estava a ser construído nesta altura. Fora mandado edificar por D. Francisco de Utra de Quadros, Capitão-mor do Faial, e sua mulher, D. Isabel da Silveira. Além disso, ainda continuavam a realizar-se as obras de restauração da Ermida de Santa Cruz, sob as ordens do Bispo de Angra.

Tudo isto, ligado a uma agricultura próspera e florescente, onde pontificavam como culturas dominantes o trigo e o pastel, faziam com que a vila de Horta, no início do século XVIII crescesse e fortificasse e se desenvolvesse, pese embora existisse pouco comércio e quase nenhuma indústria. Era também graças à sua localização, que a vila começava a prosperar, sobretudo como porto de escala de importantes rotas comerciais transatlânticas.

Mas todo este desenvolvimento foi abalado, cerceado e quase destruído com a trágica epidemia que se abateu sobre a ilha, entre os anos de 1717 e 1718. Nesta altura grassou em toda a ilha do Faial uma terrível epidemia que causou muitas mortes. Em Novembro de 1717 morreu grande parte dos moradores dos Cedros e de outras freguesias incluindo as da vila. Inicialmente as vítimas atacada pela peste eram atingidas por febre temporária e expectoração sanguinolenta, a que se seguia uma febre contínua e inchação nas axilas e nas virilhas e os doentes morriam entre os 3 e 5 dias. Esta peste era de tal maneira contagiosa que se propagava rapidamente de uma pessoa a outra; o pai não ia ver seu filho nem o filho o pai; a caridade desaparecera por completo e os doentes morriam abandonados e sós, por vezes nem sendo sepultados. Os que não eram atingidos faziam procissões e preces públicas. A assistência médica era nula e a peste estendia-se aos animais que por sua vez a transmitiam, com muita frequência, aos humanos.

 

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publicado por picodavigia2 às 17:26

JUNHO AMOROSO

Quarta-feira, 11.06.14

“Abril chuvoso, Maio ventoso e Junho amoroso fazem o ano formoso.”

Mais um interessante adágio, muito utilizado na Fajã Grande, anos cinquenta. Da conjugação das características dos três principais meses de sementeiras – Abril, Maio e Junho – ter-se-iam as condições para um bom ano agrícola. Primeiro a chuva de Abril, para regar e adubar os campos em abundância, tornando-os férteis. Uma vez semeados, as fortes ventanias podiam concentrar-se em Maio, pois como os produtos\ estavam a nascer, o vento não os prejudicava. O que precisavam para crescer e fortificar era da calmaria, do Sol e do bom tempo de Junho, qualidades que o povo considerava como suas amigas e por isso o epitetava de Junho amoroso.

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publicado por picodavigia2 às 17:01





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