PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
COELHO MENDES
Joaquim José Coelho Mendes nasceu em Angra do Heroísmo, a 12 de Junho de 1861, tendo falecido na mesma cidade, em 1890. Poeta e jornalista, cursou apenas o liceu tendo emigrado para o Brasil, em 1887, onde viveu dois anos. No regresso, adoeceu e partiu para a Madeira com o objectivo de tentar a cura. Ali casou, regressando à terra natal. A sua colaboração nos jornais açorianos encontra-se dispersa pelo Atlheta, O Imparcial, A Evolução, Diário de Notícias, Açoriano Oriental e Domingo. Foi director de O Popular, redactor da Aurora Angrense, Operário e Fraternidade Artística. No jornal A Terceira escreveu várias biografias. Foi membro da Sociedade de Astronomia de França e sócio correspondente da Sociedade de Geografia de Lisboa.
Obras principais: Poesia, Crisálidas, Flores Agrestes, O profeta, e Do berço ao túmulo – sonetos
Dados retirados do CCA – Cultura Açores
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ADORO TE DEVOTE
A liturgia da festa de Corpus Christi é repleta de textos muito interessantes, tanto no que à forma e composição diz respeito tanto como pela profundeza mensagem teológica que contêm.
Cuida-se que esta festa terá sido instituída no século XIII, quando um padre de nome Pedro de Praga, da Boémia, sentindo uma enorme crise de fé sobre a veracidade da transubstanciação, terá feito uma peregrinação a Roma, a fim de alcançar uma graça para que esta tentação o deixasse. Ao deslocar-se a Bolsena, enquanto celebrava a Missa num altar com as relíquias de S. Cristina, aconteceu o milagre. Após pronunciar a fórmula da consagração, levantou a Hóstia e sentiu escorrer algo quente nas suas mãos. Observando melhor, viu que era sangue a gotejar da Hóstia Consagrada. Para ele, desvaneciam-se todas as dúvidas. A Hóstia Consagrada transubstanciara-se, verdadeira e realmente, no Corpo de Cristo. Reza a lenda, ainda, que o Sangue era tanto que caiu sobre o corporal e sobre o altar até chegar ao mármore e ainda hoje podemos encontrar as suas marcas sobre este.
A Hóstia cheia de sangue foi guardada. Naquela mesma época, a Beata Juliana de Cornillon havia pedido ao Papa Urbano IV a introdução da festa de “Corpus Domini” no calendário litúrgico da Igreja, e o Santo Padre pediu a Deus um sinal para saber se era Deus que queria essa festa ou se era algo humano. Quando o Papa soube do acontecido, deslocou-se a Bolsena. Ao ver a Hóstia cheia de Sangue ajoelhou e disse, simplesmente: Corpus Christi. De seguida, guardou a Hóstia e levou-a para Roma, juntamente com os objectos de culto. Ao regressar a Roma, o Papa colocou a Hóstia, ainda com vestígios do sangue, no ostensório e andou pelas ruas da cidade, em procissão. Para a passagem de Jesus, todos os romanos enfeitaram suas ruas.
No ano seguinte, o Papa promulgou a bula “Transiturus” que instaurava para toda a cristandade a Festa do Corpo de Deus, pedindo a Santo Tomás de Aquino que compusesse um hino, para o ofício de Corpus Christi. O hino chama-se Adoro té e é uma das mais belas composições que compõem o Canto Gregoriano.
Adoro te devote, latens Deitas,
Quae sub his figúris vere látitas
Tíbi se cor méum tótum súbjicit
Quia te contémplans tótum déficit.
Vísus, táctus, gústus in te fállitur,
Sed audítu sólo tuto creditur
Credo quídquid díxit Dei Fílius
Nil hoc verbo veritátis vérius.
In crúce latébat sola Deitas,
At hic látet simul et humánitas
Ambo tamen crédens atque cónfitens,
Péto quod petívit látro paénitens.
Plagas, sicut Thomas, non intúeor
Déus tamen méum te confíteor
Fac me tíbi semper magis crédere,
In te spem habére, te dilígere.
O memoriále mórtis Dómini,
Pánis vívus vítam praéstans hómini,
Praésta méae ménti de te vívere,
Et te ílli semper dulce sápere.
Pie pellicáne Jésu Domine,
Me immundum munda túo sánguine,
Cújus una stílla sálvum fácere
Tótum múndum quit ab ómni scélere.
Jesu, quem velátum nunc aspício,
Oro fiat illud quod tam sítio
Ut te reveláta cérnens fácie,
Vísu sim beátus túae glóriae. Amem.
Outro hino composto por São Tomás, a fim de enriquecer a liturgia deste dia foi Pange Lingua, cujas duas últimas estrofes são cantadas durante adorações e bênçãos do Santíssimo Sacramento, na Igreja Católica, sendo mais conhecidas por Tantum Ergo.
Tantum ergo Sacramentum
Veneremur cernui:
Et antiquum documentum
Novo cedat ritui:
Praestet fides supplementum
Sensuum defectui.
Genitori, Genitoque
Laus et jubilatio,
Salus, honor, virtus quoque
Sit et benedictio:
Procedenti ab utroque
Compar sit laudatio.
Amen.