PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
ERNESTO REBELLO
Ernesto de Lacerda de Lavallière Rebello nasceu em Lisboa, em 26 de Abril de 1842 e faleceu na cidade da Horta, 15 de Novembro de 1890. Para além de se ter distinguido como literato e jornalista, Ernesto Rebello, filho de Francisco Peixoto de Lacerda Costa Rebello, natural do Faial, advogado, e de Maria Elisa Nunes de Lavallière Rebello, natural de Cayenne, Guiana Francesa, foi funcionário da Repartição de Fazenda Distrital da Horta. Apesar de ter nascido em Lisboa é tido como um dos mais notáveis escritores «faialenses», individualidade de valor entre os representantes da escola romântica nos Açores. Como poeta, versejou com espontaneidade e simplicidade, despretenciosamente, sendo considerado como «um dos homens mais honestos, desinteressados e prestimosos [..] nas lides da imprensa».
São diversas as suas produções, umas dispersas por jornais, outras reunidas em livros e outras ainda inéditas. De entre elas tem sido destacada Notas Açoreanas, em que a história anedótica do distrito da Horta, principalmente do Faial, se encontra desenhada com colorido e sabor regionalista.
Para Henrique das Neves, a não ser este amor pelas letras e os seus afectos da família, o campo prendia-o mais do que tudo. Gostava do sossego e da solidão e trazia sempre gratas impressões do viver simples do povo, cujos costumes, lendas e crenças descreveu com especial cuidado. Era um cismador e um solitário, o que não quer dizer que não fosse expansivo com os amigos, porque o era, e contava então coisas antigas numa inesgotável cópia de factos curiosos, muitos dos quais se perderam com ele.
Ernesto Rebello era Cavaleiro da Ordem de Cristo e Comendador de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. Integrava várias associações culturais e científicas, nomeadamente a Sociedade Dantesca de Nápoles, o Gremio Litterario Fayalense de que foi sócio honorário e presidente.
Fundou e dirigiu O Amigo do Povo e o Civilizador e foi redactor de A Luz e de O Grémio Literário, colaborando, em verso e em prosa, em muitos outros jornais da Horta, dos Açores e Lisboa.
Em 20 de Novembro de 1890, por decisão da Câmara Municipal da Horta, da rua denominada D. Pedro IV, a parte entre o Largo Duque d’Ávila e Bolama e a Travessa da Misericórdia, passou a perpetuar o seu nome.
Obras principais; Contos e poesias açoreanas, As noites d’El-Rei: drama histórico em 3 actos, Um padre: drama em 4 actos, A desleixada: lenda scandinava, Dahlias do convento: comédia em 3 actos, Notas Açorianas, Lajes do Pico, Museu dos Baleeiros, Aves de arribação: crónica açoriana, Scenas dos Açores (romance), Aves de arribação (romance), Soror Maria.. Urzes e silvados, Mathilde (romance,. Excentricos faialenses (contos), Os pupillos da Lucinda, O ferreiro de cima da Lomba, Uma imperatriz, O sr. Vieirinha, Flores do mato (versos), Amor filial (drama), Margarida (drama). O Sr Eleutério (comédia) e Scenas do Outono (romance).
Dados retirados do CCA – Cultura Açores
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FREI PAPINHA
Um dos filmes que logo nos primeiros meses foi projectado no corredor/salão de recreio do Seminário Menor de Ponta Delgada e a que todos assistimos, com grande alegria e contentamento, foi o “Marcelino Pão e Vinho”. Tratava-se de uma obra a preto e branco, realizada, três anos antes, pelo espanhol Ladislau Vajda e baseado no livro com mesmo nome, escrito por José María Sánchez Silva. A história do filme era simples e resumia-se ao seguinte: um frade franciscano contava a uma menina, doente a “estória” de Marcelino, um bebé que foi deixado na porta de um mosteiro e criado pelos frades que ali viviam. Após frustradas tentativas, por parte dos frades, de entregá-lo para adopção, o menino acabou por ser criado pelos doze monges, residentes no convento. Marcelino cresceu, tornou-se rebelde e fazia muitas travessuras, levando os frades quase à loucura com sua desobediência e com as diabruras resultantes da sua fértil imaginação. Devido à solidão de que era vítima e a falta de crianças de sua idade para brincar, Marcelino divertia-se pregando partidas e inventando apelidos para os frades. Entre estes, pela sua bondade e simpatia, mas bastante desajeitado e bonacheirão, destacava-se um, interpretado pelo actor Juan Calvo. Era Frei Papinha.
Alguns dias depois, o padre José Baptista, numa aula de Desenho, talvez porque eu fosse desajeitado nas práticas daquela disciplina, talvez devido à minha cara, branquinha, bochechuda, redondinha e com aspecto, aparentemente, inofensivo e angélico, talvez por isto e por aquilo, cismou que eu era parecido com o tal frei Papinha, passando, na brincadeira, a designar-me por aquela alcunha. Os meus colegas acharam graça, cuidaram que o epíteto me assentava que nem uma luva e para arrelia e aborrecimento meu, passaram, desde aquele dia, a chamar-me, “Frei Papinha”. Eu é que não achei graça nenhuma em carregar mais um apelido, pese embora a figura do fradinho fosse bastante simpática e generosa. E no meu íntimo revoltei-me. Já não bastava os apelidos que eu tinha na Fajã, “Cevada”, que herdara de meu avô materno, “Chinelo” proveniente de meu pai e “Xoupajam” com que meus irmãos me brindavam em casa. Agora, no Seminário, havia de levar com o epíteto do bondoso e angélico “Frei Papinha”