PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
SOPAS DE BOLO E LEITE
Na Fajã Grande, na década de cinquenta, sobretudo quando faltava o pão de milho, ou simplesmente quando rareava, cozia-se bolo no tijolo. Depois de cozido, este ainda quente era migado no leite fresco e colocado numa tijela, constituindo, assim, uma das mais frequentes e tradicionais ceias da população, sobretudo da mais pobre. Caso o bolo sobrasse de um dia para o outro, procedia-se ao contrário, isto é, fervia-se ou simplesmente aquecia-se o leite, sendo o bolo migado no mesmo, mas ainda frio. Neste caso era o leite que aquecia o bolo, enquanto no primeiro era ao contrário, isto é, o bolo é que aquecia o leite,
Este belo manjar era comido em tijelas de louça, muitas delas pintadas, algumas até com interessantes desenhos e com a ajuda duma colher. Estas sopas tornavam-se muito mais apetitosas se fossem acompanhadas com uma fatia de queijo fresco ou meio curado. Havia também quem gostasse delas acompanhados de uma tirinha de linguiça ou outro conduto de porco. Na altura em que as vacas davam bezerro o leite era substituído pelos crostes, sendo que com estes também se fazia queijo.
A cozedura do bolo era simples, rápida e fácil. Além disso o aquecimento do tijolo exigia muito menos lenha do que o forno, podendo fazer-se com simples garranchos de incenso ou faia,
Para cozer o bolo, primeiro escaldava-se, misturando-se água a ferver sobre a farinha, mexendo-se com uma pá de madeira, a pá do bolo. Colocava-se a arrefecer e formavam-se bolas que depois se iam espalmando até se assemelharem a uma grande roda que, com uma faca era partida em quatro quartos. Aquecido o tijolo ou a chapa eram-lhe colocados em cima os quartos. Deveria haver uma atenção permanente para não deixar queimar o bolo, devendo o mesmo ser virado, a meio da cozedura.