PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
DE MORGAN HILL A ANGRA
O José Maria Ávila nasceu nos Rosais, ilha de São Jorge e estudou nas Velas. Entrou para Seminário de Ponta Delgada em 1958, continuando no de Angra, durante mais três anos, até à altura em que abandonou os estudos naquela instituição de ensino. Pouco tempo depois, em 1965, emigrou para a Califórnia, residindo actualmente na cidade de Morgan Hill, embora visite os Açores e, mais concretamente São Jorge, com frequência.
Profissionalmente, trabalhou, durante os primeiros vinte e dois anos da sua estadia na Califórnia, numa das maiores companhias de Supermercados daquele estado norte-americano, com mais de 1500 sucursais espalhadas por todo o estado, ocupando nos últimos doze, desses anos, o cargo de gerente geral. Devido à sua capacidade de trabalho, competência e vocação para o empreendedorismo, a partir de 1987, decidiu estabelecer-se por conta própria, montando uma empresa “Store & Sign Shop” que actualmente mantém e dirige. Trata-se de uma agência que trabalha para uma companhia de transporte de cartas e encomendas para todo o mundo. Paralelamente está relacionado com a produção e venda de artigos de artes gráficas.
O José Maria Ávila encheu-se de contentamento com a sua participação no “Encontro” de Angra”, espalhando aos quatro ventos a sua fascinação: “Gostei muito de me encontrar com todos, em Angra, 49 anos depois”. Apesar desta tão longa separação, no espaço e no tempo, nada nem coisa nenhuma fez diminuir ou sequer amarfanhar a enorme amizade, carinho, respeito e camaradagem e consideração entre o José Maria Ávila e os outros “Senhores” do Encontro. Participou em tudo com entusiasmo, imiscuiu-se em cada pormenor, reacendeu-se-lhe o peito de jubilação em cada actividade, extravasou-se numa enorme vontade de todos abraçar, de dialogar com cada um, numa partilha de memórias e recordações. A sua presença foi notória no celebérrimo jogo de futebol em que, assumindo a guarda de uma das balizas, executou um bom punhado de defesas. Por tudo isto foi mais um dos “Senhores” do Encontro.
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SILÊNCIO
Este silêncio,
Despejado sobre o cais deserto,
Não sabe a maresia.
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LUÍS RIBEIRO
O etnógrafo Luís da Silva Ribeiro nasceu em Angra do Heroísmo, em 4 de Janeiro de1882 e faleceu na mesma cidade em 24 de Fevereiro de1955. Concluídos os estudos secundários em Coimbra, bacharelou-se em Direito, em 1907, tendo declinado o convite para se doutorar. Regressado à Terceira, obteve, por concurso, o cargo de Delegado-Procurador da Coroa na Relação dos Açores, embora por recomendação do Partido Regenerador. Foi também Administrador do Concelho e Comissário da Polícia de Angra, Juiz Administrativo, Chefe da Secretaria da Câmara Municipal de Angra e professor do Curso Complementar de Letras e de Canto Coral, no Liceu de Angra.
Devido à sua militância republicana e ligação ao Partido Democrático andou envolvido na administração local, quer por nomeação quer por eleição. Foi nomeado presidente da Câmara de Angra, em 1911; Governador Civil substituto, em 1913; presidente da Junta Geral, em 1914-1915, por eleição; manteve-se como procurador até se desligar do Partido Democrático, do qual havia sido líder. Manteve o seu espírito independente e liberal, embora tivesse colaborado com os organismos locais do Estado Novo, em tarefas muito concretas de carácter cultural. Em 1931, foi punido com 150 dias de suspensão, com perda de vencimentos, por ter sido acusado de facilitar a ocupação de aposentos camarários por parte dos deportados que se haviam revoltado.
Foi membro de várias instituições que reflectiam as suas preferências culturais: sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa; membro do Instituto de Coimbra-Academia Científica e Literária; Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia; Sociedade Portuguesa de Antropologia; Consejo Superior de Investigationes Cientificas (Espanha); Instituto de História e Geografia do Rio Grande do Sul; Sociedade Tucumana de Folclore (México); Clube Internacional de Folcloristas (Brasil); Academia de Mendonza (Universidade de Cuyo); Academia de Jurisprudência e de Legislação (Madrid); Instituto Açoriano de Cultura; Sociedade de Estudos Açorianos «Afonso Chaves» e Instituto Histórico da Ilha Terceira. Pertenceu à maçonaria, tendo feito a regularização ainda em Coimbra.
A intensa actividade intelectual de Luís Ribeiro levou-o a desenvolver estudos na área da História, procurando evidenciar a forte ligação histórico-cultural das ilhas açorianas a Portugal continental; sobre a jurisprudência, publicou trabalhos que mereceram referências de autores consagrados; no campo da Etnografia, deixou uma vasta e diversificada obra com análises profundas da vida açoriana. Um trabalho minucioso e seguro que mereceu a consideração de etnógrafos portugueses e estrangeiros. Na área política, publicou variadíssimos artigos onde ficaram expressas as suas discordâncias com os separatistas, pronunciou-se sobre a defesa do regionalismo e alvitrou uma série de propostas administrativas que se distanciavam das provenientes de São Miguel, de cariz autonómico mais alargado. Neste aspecto, Luís Ribeiro foi mais contido: defendeu uma descentralização municipalista, mas como não conseguiu que o projecto se concretizasse, optou pela manutenção das Juntas Gerais Autónomas, dotadas de poderes administrativos, mas fiscalizadas para evitar esbanjamentos. Uma certa descrença na capacidade dos açorianos serem capazes de se governarem a si próprios, levou-o a tomar posições que serviram os objectivos do poder centralizador. Em 1938, recebeu Marcelo Caetano e em boa medida o terá influenciado nas linhas mestras que vieram a integrar o Estatuto Administrativo de 1940.
No Correio dos Açores, jornal fundado em 1920, deixou uma vasta colaboração. Naquele periódico publicou uma série de artigos sobre o açorianismo, a construção da unidade e identidade regional e, em 1936, os Subsídios para um ensaio sobre a açorianidade. Pela lucidez e profundidade do seu pensamento, Nemésio escreveu que era «a alma e consciência da nossa ilha (Terceira) e dos Açores». Parte da sua obra foi reunida em volumes temáticos, mas existem ainda muitas dezenas de artigos dispersos pela imprensa.
Obras principais: Obras I, - Etnografia Açoriana (coordenado por João Afonso), Obras II – História (coordenado por José G. Reis Leite), Obras III, Vária (coordenado por João Afonso e Reis Leite), Obras IV – Escritos político-administrativos (estudo introdutório e coordenação de Carlos Enes).
Dados retirados do CCA – Cultura Açores