PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
MANHÃ DE CHUVA
Chove!
Chove, torrencialmente.
A manhã é escura, pardacenta,
Evapora incertezas
E até se confunde com a noite.
São Caetano,
De ruas desertas,
Transformadas em rios.
Janelas fechadas
Ferias cerceadas.
Procura-se um abrigo.
Apenas o pequeno “café”
- refúgio abençoado -
Alberga uma meia-dúzia:
- “turistas” revoltados,
- populares impedidos de trabalhar,
- “reformados à espera d’um copo.
Supostamente, a indignarem-se
Com este tremedal!
“Aqui,
Em Novembro,
O tempo costuma estar melhor
Do que em Agosto.”
Comentam…
E as lamentações continuam;
“Com este tempo
A uva apodrece…”
“Estraga-se toda”.
“Há-de ser o que Deus quiser…”
Dizem os mais conformados.
Manhã de bruma,
De chuva,
De escuridão e trevas…
E pior:
De uvas a apodrecer
E de mondas a crescer.
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4º DIA - BOM JESUS
Dia de festa, festa do Senhor Bom Jesus Milagroso mas também dia de muita chuva. Consequentemente dia de descanso quase absoluto.
A noite, pelos vistos, voltou a borrifar-se de chuva e, como se isso não bastasse transformando a manhã num verdadeiro manto de bruma escuro e pardacento, num torrão de persistente e irritante nevoeiro. Ao longe o eco do foguetório a anunciar a festa do Bom Jesus.
Apenas as ervas do tapete bagacinado desta espécie de Fonte Sacra, aqui mesmo ao lado de casa. Não eram muitas, mas o levanta e baixa que o seu arranque exige e a consequente dobra das costas, dói e deixa marcas. Maleitas que parecem ser permanentes e definitivas. Impõe-se não abusar. Com este tempo, imperava saber que condições, eventualmente, teria o mar, para banhos. Cais e Poça desertos. Maré bem seca. Numa ida ao mar, apenas o Aquiles enfiado na Poça. Há por ali um silêncio profundo, quase misterioso, apenas quebrado pelo marulhar ritmado das ondas e do seu desfazer-se contra os laredos.
São Mateus foi o destino seguinte. O tempo parecia ter melhorado e a chuva, aparentemente, amainara. Puro engano. São Mateus estava engalanado. Era a hora de arrematar o gado e havia missa. O templo estava repleto de fiéis, de música, de sons e de flores. Há sempre por ali vestígios do passado…A prédica do ouvidor do Faial" Terminada a missa uma chuvada como ainda se não vira por aqui. Parecia uma camada de snow, sob a forma líquida
Ir a São Mateus no dia de Bom Jesus e não almoçar ou, no mínimo, não trazer o almoço é quase como ir a Roma e não ver o papa. E se for albacora assada no forno, a aquisição torna.se ainda mais tentadora. E foi. Só parar em casa para fazer uma salada e romagem ao Multiusos. Jã não chove e cai uma calma serena. Almoço ao relento, seguido de uma boa sesta.
De tarde o mar revoltara-se, a maré estava seca, o frio e a chuva a boicotar o banho. A procissão do Senhor Bom Jesus é como que o epicentro da festa. O tempo melhorou, está fresco e permite o regresso à festa, embora, previsivelmente, exija um grande percurso a pé, com malefícios terríveis para o Aquiles. Milhares de pessoas, mais de uma dúzia de reverendos, dez filarmónicas, cinco andores, mais de uma dezena de guiões, muitas opas e muitas flores, pessoas descalço e carregadas de velas, permanente repicar dos sinos enfim um desfilar de símbolos, de penitência e de sentimentos. Uma hora!
E o mais curioso é que o almoço para amanhã está pronto. À noite, confecção de folhados com sobras de peixe fresco misturados com os restos de albacora, para um novo dia, onde se retomarão as actividades suspensas, neste meio da volta. O roteiro já está a mais de meio.
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IDEIAS CLARAS
“Infelizes os homens que têm todas as ideias claras.”
Louis Pasteur
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A LUA E O MARINHEIRO
“Lua deitada, marinheiro em pé.”
Interessante adágio muito utilizado, outrora, na Fajã Grande, pese embora não fosse terra de muitos e briosos pescadores e marinheiro. Assim e muito naturalmente, não se aplicava apenas no sentido real, isto é, aos homens que tiravam do mar o seu ganha-pão e que, consequente, tinham que iniciar a sua faina diária muito cedo. Deviam partir para o mar de madrugada, ainda antes do dia nascer ou de a Lua já não iluminar a noite. O adágio aplicava-se, no sentido figurado, a todos os que trabalhavam os campos, agricultores criadores de gado. É que a vida agrícola, na mais ocidental freguesia açoriana, era dura, árdua e sem tréguas, por isso e assim como os marinheiros, deviam iniciá-la antes de amanhecer. Levantar cedo, por vezes ainda no escuro, para a safra agrícola quotidiano, era mais do que uma necessidade, uma obrigação. Este adágio recordava-a.
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MANUEL DE ARRIAGA
Manuel de Arriaga Brum da Silveira, primeiro presidente da República Portuguesa terá nascido na Horta em 8 de Julho de 1840 e faleceu em Lisboa, a 5 de Março de 1917. Foi advogado, professor, político e escritor. O local certo do nascimento de Manuel de Arriaga continua por desvendar. O facto de ter sido baptizado na Horta levou os biógrafos a registar o seu nascimento nesta cidade, mas há testemunhos da época que referem ter nascido na ilha do Pico, na localidade do Guindaste, na casa de veraneio da família. Viveu a infância e a juventude no seio de uma família aristocrática e legitimista, mas o seu espírito romântico e liberal foi-se formando com as leituras orientadas por uma educadora americana. Na Universidade de Coimbra, onde se formou em Direito, em 1865, distinguiu-se como estudante de elevada craveira e, desde logo, propagandeou os ideais republicanos. Dificuldades económicas e desavenças políticas com o pai levaram-no a recorrer ao ensino para angariar os meios necessários ao seu sustento. Exerceu com prestígio a actividade de advogado em Lisboa, conjuntamente com a de professor de Inglês, no Liceu, depois de ter sido preterido nos concursos que fez para ingressar no magistério superior. Como pedagogo, fez parte da comissão encarregada da reforma da instrução secundária, em 1876. Reconhecido pelas suas qualidades, chegou a ser convidado por D. Luís para perceptor dos príncipes, mas recusou o convite por razões ideológicas. Empenhado, desde cedo, na vida política, andou ligado, em Coimbra, aos grupos de Antero de Quental e Teófilo Braga e, em Lisboa, continuou a sua militância destacando-se como orador brilhante. Participou na criação dos primeiros centros republicanos; foi um dos signatários do programa das Conferências Democráticas do Casino Lisbonense, em 1871; foi deputado pelo círculo do Funchal, nas legislaturas de 1882-84 e 1890-92; fez parte do Directório do Partido Republicano em 1891-94 e 1897-99. Em 5.10.1910, Manuel de Arriaga contava 70 anos de idade e não tomou parte activa no movimento que derrubou o regime monárquico. Foi incluído nas listas de deputados para a Constituinte, tendo sido eleito pelo Funchal, e exerceu os cargos de reitor da Universidade de Coimbra e de procurador-geral da República. Nas eleições para a Presidência da República não tomou a iniciativa de apresentar candidatura, mas também não recusou a proposta feita pelos seus apoiantes. Acabou por ser eleito, por escassa maioria, com os votos do Bloco Conservador, em 24.8.1911. Exercendo o mandato num período agitado da vida nacional e internacional, foi obrigado a renunciar ao cargo de presidente em 26 de Maio de 1915, na sequência de um movimento revolucionário. A atitude conciliadora que manifestou ao longo do mandato nem sempre foi bem sucedida, num período de forte luta política pela conquista do poder, em que se sucederam golpes, contragolpes e governos de várias tendências políticas. A situação agravou-se quando nomeou Pimenta de Castro para chefe do governo e este iniciou uma ditadura. A revolta contra Pimenta de Castro, acabou por atingir o presidente da República, que foi obrigado a demitir-se. No relatório/memória sobre a sua passagem pela Presidência procurou justificar as atitudes tomadas, mostrando-se bastante desgostoso com a vida política portuguesa. Revelou-se, também, como escritor e poeta, desde a sua juventude. Nas obras de poesia e prosa estão patentes as marcas da insularidade, a influência positivista, romântica e o seu espírito religioso e idealista. Obras principais: Sobre a Unidade da Família Humana debaixo do Ponto de Vista Económico, Renovações Históricas, Canto ao Pico, Cantos Sagrados, Irradiações, Na Primeira Presidência da Republica Portugueza, Literatos dos Açores, Grande Dicionário da Literatura Portuguesa e de Teoria Literária, A Ordem Pública, História de Portugal, etc.
Dados retirados do CCA – Cultura Açores