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MAR

Terça-feira, 12.08.14

Mar,

na tua voz de búzio derrelicto,

há um silêncio contuso

um vulto abafado de vulcão .

Há nas tuas ondas um rumor acrisolado,

um sulco de lava, imperfeito.

Sobrevoam-te, em danças contundidas,

bandos de ganhoas amordaçadas.

 

Há na tua calma

um reboliço contundente de paixão.

No teu seio

navegam barcos sem velas e sem rumo

e as praias são desertos magoados.

 

No cais, de onde, outrora, partiam caravelas,

Constróis madrugadas de desejos.

Já não há jangadas de madeira carcomida,

E as sombras das gaivotas desfizeram-se

Sobre restos de navios naufragados.

 

Há baixios e laredos a arder,

Rochedos submersos e desfeitos,

Há vulcões mortos e sem brilho.

 

A tua água, silente, espelha,

uma canção perdida no horizonte,

um sorriso de donzela perturbada!

 

Mar de espuma obstruída…

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publicado por picodavigia2 às 21:09

A CALDEIRINHA

Terça-feira, 12.08.14

A Caldeirinha era um dos maiores e mais interessantes lugares da Fajã Grande. Situava-se bem lá no alto, quase a tocar os céus, nos matos da Ponta, a norte da freguesia, pelo que, consequentemente, fazia fronteira, a norte, com a vizinha freguesia de Ponta Delgada, já pertencente ao concelho de Santa Cruz. A leste, a Caldeirinha ladeava com o Queiroal e o Bracéu, a oeste com o Risco e a Sul prolongava-se até á à beira da Rocha, fazendo fronteira com as rochas das Covas, do Vime e da Ponta

A Caldeirinha, apesar de se situar nos matos, num enorme descampado, era uma zona de boas pastagens, por conseguinte, grande parte do seu território pertencia a proprietários particulares, residentes na Ponta que tinha ali grandes relvas, separadas uma das outras por gotões e valados, onde floresciam densos bardos de hortênsias e para onde levavam o seu gado, mantendo-o ali, dia e noite, sobretudo nos meses de verão Mas outra parte da Caldeirinha, maior e mais a norte, era concelho, isto é, era território comunitário, onde pastavam em comum contubérnio as ovelhas dos residentes na Ponta e de um ou outro proprietário da Fajã.

Situado numa zona montanhosa, o lugar da Caldeirinha era formado por alguns cabeços, entrelaçados uns com os outros e com um enorme vale, no centro de todos, que lhe dava a forma de uma espécie de caldeira, sendo essa, muito provavelmente, a razão de ser do seu nome, pese embora seja mais difícil de explicar a razão de ser do recurso ao diminutivo. Talvez este nome lhe adviesse do facto de em tempos idos, por ali terem existido vestígios de uma pequena cratera que, vista, cá de baixo, do centro do povoado, se assemelhava a uma espécie de pequena caldeira, embora sem água, caso não raro na ilha das Flores, onde existia e ainda hoje existe uma caldeira sem água, mas não deixando por isso de ser chamada Caldeira Seca.

Debruçado sobre as encostas dos matos da Ponta, ali ao lado do Queiroal e como que emparelhada com ele, quase todo o território da Caldeirinha era visível da Fajã, de onde se podia observar o próprio gado que ali pastava.

Sob o ponto de vista meteorológico a Caldeirinha, aparentemente, constituía uma espécie de indicador de chuva, por quanto, nuvens escuras derramadas sobre a Caldeirinha era prenúncio de que vinha aí chuva. Além disso, quando começava a chover lá no alto da Caldeirinha, o que era frequente, pouco depois chovia, cá em baixo, no povoado.

Mítico, lendário e enigmático o lugar da Caldeirinha era de verdade um dos mais belos lugares da Fajã, pese embora o acesso ao mesmo fosse muitíssimo difícil, quase impossível. Do lado do Queiroal não havia caminhos ou veredas que lá chegassem, o mesmo acontecendo das bandas do Risco, por onde os homens da Ponta passavam, mas conduzindo o seu gado através de pastagens. Apenas pela Rocha do Vime havia uma vereda, mas muito íngreme e difícil de subir.

Situada a 21° 59’ de longitude oeste e a 39° 25’ de latitude norte, a ilha das Flores é bastante montanhosa, tendo no Morro Alto a sua maior elevação, com 914 metros de altura. A Caldeirinha ficaria a cerca de metade desta altitude.

O rochedo que envolve o lugar da Caldeirinha revela-se muito vigoroso, característica comum a todo o relevo aa ilha e que se cuida ser fruto duma actividade combinada de vários cones vulcânicos rondando os 700-800 metros de altitude, posteriormente sobreposta com a de alguns cones menores. Daí resultou uma estrutura planáltica em dois degraus, que se prolonga até à costa. No patamar Norte, desenvolvido a uma altitude média de 600-700 metros, onde a vastidão, o silêncio, a tranquilidade e a homogeneidade dos tons verdes tomam conta da paisagem, encontra-se o Morro Alto, o Pico da Burrinha e, ainda, o da Testa da Igreja e o Pico da Sé. No patamar inferior, a Sul, com altitudes entre os 500-600 metros, os aparelhos vulcânicos são mais pequenos e modernos. Nas zonas aplanadas envolventes dos cones encontram-se lagoas, antigas crateras de afundamento, rasas ou fundas, com água acumulada na sua parte inferior.

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publicado por picodavigia2 às 19:26





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