PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
TALHERES
Viajava na TAP, num voo entre o Porto e as Lajes. Nesses tempos, a bordo daquela companhia aérea serviam-se refeições quentes e de faca e garfo. Copos e pratos, estes últimos sob a forma de pequenas travessas, eram de plástico. Os talheres, no entanto, eram de metal, tendo no cabo, muito bem estampado o logotipo daquela transportadora aérea.
Achei-os interessantes e apelativos, pelo que, depois de tomar a refeição, cuidando que ninguém me observava, à socapa, limpei-os cuidadosamente, embrulhei-os num guardanapo de papel e guardei-os num pequeno saco que levava comigo.
De repente, a senhora que ia a meu lado, fez o mesmo aos seus, só que, em vez de os guardar ela, deu-mos para que eu os juntasse aos meus.
Estarreci, envergonhei-me, fiquei sem pinga de sangue e cuidei que a senhora estava a dar-me uma bofetada com mão de luva.
Perante a minha hesitação, ela insistiu:
- Esteja à vontade! Não tenha medo! Guarde-os e leve-os à vontade. Eu sou a mulher do comandante e sei que eles não se importam que os passageiros os levem. Muitas vezes, depois de os usarem, deitam-nos fora para não voltar a transportá-los.
Confesso que a partir de então, só não consegui um faqueiro completo com talheres da TAP, porque pouco depois aquela transportadora aérea, lamentavelmente, passou apenas a servir pequenas e ligeiras refeições, ou seja sanduiches, embrulhadas em papel filme, colocadas numa simples caixa de papelão e sem talheres.
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QUEM NÃO PEDE
“A quem não reza Deus não ouve.”
Este é mais um interessante adágio, outrora, muito utilizado na Fajã Grande, sobretudo com um sentido figurado. Pretendia-se com o mesmo querer dizer ou lembrar a alguém que, para se obter qualquer favor, ajuda ou até conselho de outrem era necessário pedi-lo, primeiro. Na verdade, assim como para se obter as graças e os favores divinos se devia rezar, assim também para se obter o que quer que fosse de outrem, devia-se pedir, mas sob a forma de uma espécie de oração. O pedido, para ser obtido o que se pretendia, devia ser feito com humildade, nobreza e dignidade, como se de uma oração se tratasse. Naqueles tempos não era fácil obter o que quer que fosse sem formular um pedido. E pedir não era vergonha!