PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O DESCANSADOURO DA BANDEJA (FAJÃ GRANDE DAS FLORES)
O descansadouro da Bandeja, na Fajã Grande, era um dos mais pequenos e menos frequentados da freguesia, uma vez que, situado no lugar com o mesmo nome, servia apenas de local de descanso aos homens que ali se deslocavam, a que se juntavam, simplesmente, os que vinham das Queimadas, assim como os que regressavam das suas lides e trabalhos no Outeiro, mas apenas na parte do Outeiro paredes-meias com a Bandeja e que eram muito poucos. É que o chamado Caminho da Bandeja terminava nas Queimadas e nele desembocavam, somente, duas canadas: uma, a que vinha dos lados do Outeiro e que se cruzava com aquele caminho mesmo no coração da Bandeja, a outra, situada bem lá no alto das Queimadas, prolongando-se estendendo-se na direcção da Rocha, ligando as Queimadas à Laje da Silveirinha. No entanto, quem viesse com molhos ou cestos às costas daquelas bandas nunca viria por esta canada e pela Bandeja, percurso mais distante e, sobretudo, de muito pior qualidade.
Essa a razão por que o descansadouro da Bandeja era muito pouco frequentado, a não ser nos meses de Abril e Maio, em que o gado estava amarrado à estaca, nas forrageiras. Nesta altura do ano, à tardinha, antes da ordenha da tarde e de se dar às rezes a última cordada, aquele descansadouro enchia-se de homens, muitos vindos da Fonte-Cima e até do Batel, outros com gado na Bandeja e arredores, para ali se sentarem, a fumar, a falquejar, a conservar e, sobretudo, a descansar.
Situado numa zona bastante alta, no largo da entrada para a Canada do Outeiro, o descansadouro da Bandeja gozava de uma vista privilegiada sobre o oceano, sobre as Águas, a Ribeira das Casas e, mais além, sobre a Ponta com a sua igrejinha dedicada à Senhora do Carmo, de cujos sinos o toque das trindades ali se ouvia, podendo ainda observar-se e beneficiar da sombra da Rocha que se estendia da Figueira até ao Risco da Ponta, recortada das suas belas cascatas como da Ribeira das Casas, da Ribeira do Vime e da Ribeira do Cão e muitas outras grotas, impondo-se solene e majestosa.
Este descansadouro ficava voltado para o noroeste, pelo que era protegido dos ventos do sul e de sueste por uma alta e grossa parede, junto à qual se fora construindo uma pequena banqueta, feita de pedras rústicas e soltas que crescia sempre que o número de utentes aumentava.
Um sonho, este mítico descansadouro da Bandeja!
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HINO AO DOURO LITORAL
A região do Douro Litoral é, incontestavelmente, uma das mais belas e deslumbrantes de Portugal. Plantada à beira-mar e, consequentemente, embelezada pelas águas vivas e refrescantes do Atlântico que a abraça num equilíbrio entre o passado e o presente moderno, esta região do norte de Portugal adorna-se de belas paisagens, deixa-se sulcar por grandes e ternurentos rios que a caracterizam e mistificam como o Douro, o Tâmega, o Sousa, ou outros mais pequenos como o Mesio, o Ferreira, o Paiva, o Arda o Sardoura e tantos outros, alguns pequenos mas belos riachos, que fertilizam as terras das suas margens, ricas em vinha, em pomares de frutos secos e frescos, mas também em legumes variados cujos verdes, amarelos, castanhos, rosas dão cor a paisagens rurais de rara e inigualável beleza.
Terra rica e de abundância, habitada por dum povo generoso que sabe despojar-se do melhor para o bem comum, guardou, na sua gastronomia, a prova do seu altruísmo levando ao expoente máximo a gastronomia portuguesa que é Património Mundial, com as “tripas à moda do Porto”.
Na verdade, reza a história, misturada com a lenda que em tempos idos, aquando das Descobertas que trouxeram a globalização ao mundo e mais tarde, quando vítima das bizarras invasões napoleónicas, este povo abdicou das carnes mais nobres para as dar como alimento aos marinheiros que iam cruzar os mares e enfrentar verdadeiros cabos de tormentas, ou então delas sendo despojado pela tirania dos invasores, guardando, para si, apenas as miudezas, em especial as tripas da carne de vaca que confeccionou com o mesmo carinho e com uma satisfação renovada, transformando-as num belo e apetitoso prato, hoje conhecido, praticamente, em todo o mundo.
Esta humildade e generosidade, intrínsecas ao duriense foram, sem dúvida, gratificadas, recuperando-se a riqueza das carnes de vaca e essencialmente as carnes de porco e os enchidos, que são levados à mesa em pratos de “rojões à moda do porto” guarnecidos por tripas recheadas com a melhor farinha de trigo, suavemente temperados com alho e sal do mesmo Atlântico e realçados com folha de um louro de mil aromas. Por outro lado, e a quando das invasões francesas, foi a sua astúcia e subtileza que fizeram com que, escondendo entre duas fatias de pão cobertas de molho e batatas fritas um bom bife, criassem a hoje tão tradicional e característica francesinha.
E se estas são as iguarias mais relevantes, o certo é que a imaginação gastronómica é rica em sabores e experiências de paladares infindáveis numa valsa de temperos agridoces como o “sarrabulho doce”, com sabor a canela ou as “tortas de São Martinho” e os “bolinhos de amor” de gema e cobertos de um manto de açúcar, verdadeiras delícias para o paladar.
O Douro Litoral é uma região onde as tradições, usos e costumes se revelam em festas e romarias, onde o profano e o sagrado se harmonizam numa mesma manifestação de vida e num mesmo louvor entoado com pronúncia do Norte em ritmos e cores variadas em adros de igrejas românicas que provam a fé de um povo e testemunham a sua rica história que vem manifestando e conservando pelos séculos até aos dias de hoje.
Terra de uma cultura rica em história, a região do Douro Litoral exibe, com brio, vestígios de povos ancestrais, castros celtas e visigodos, citânias romanas, castelos e fortificações medievais, templos românicos e mosteiros seculares, solares e quintas abastadas, edifícios de uma arquitectura robusta e imponente, de uma beleza rural ímpar, em granito ou em xisto retirado com esforço das pedreiras locais.
A região do Douro Litoral é assim uma espécie de museu vivo e a céu aberto, um hino de glorificação e de homenagem à natureza.
Compõem-na todos os concelhos do distrito do Porto e que são: Amarante, Baião, Felgueiras, Gondomar, Lousada, Maia, Marco de Canaveses, Matosinhos, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel, Porto, Póvoa de Varzim, Santo Tirso, Valongo, Vila do Conde e Vila Nova de Gaia. Por sua vez, do distrito de Viseu, integram-se na região do Douro Litoral o concelho de Cinfães e o de Resende, enquanto todos os restantes concelhos da região, a saber, Arouca, Castelo de Paiva, Espinho e Santa Maria da Feira, pertencem ao Distrito de Aveiro.
NB - Dados retirados de um Roteiro Tuístico da Região