PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
TAXA À TACHA
Nesta altura em que se discute e até se aguarda a divulgação de uma taxa sobre dispositivos digitais, que vai agravar os preços de artigos tão diversos como pens, discos rígidos, smartphones, telemóveis, Ipaids, computadores, impressoras ou tablets. Segundo recentes notícias, a medida foi aprovada quinta-feira no Conselho de Ministros e anunciada no briefing final, mas a tabela de taxas parece ainda não estar totalmente definida, parece legítimo que existem muitos outros objectos de uso pessoal e doméstico a terem o direito ou de se lhes exigir o dever de serem, também, taxados, entre os quais a pequena mas muito utilitária tacha. Haja pois, taxa à tacha! Taxem a tacha, já!
As razões são várias. Primeiro porque a tacha não tinha nada que usurpar o nome da taxa, pelo menos em termos fonéticos. A tacha açambarcou-se do que não era seu, em termos fonéticos, por isso mesmo deve pagar taxa. Em segundo lugar pela sua utilidade, pelo seu uso como substituta do prego, retirando-lhe, simplicidade, elegância, delicadeza e fina utilização. Por isso mesmo a tacha deve ter uma mais que justa taxa. Depois porque ainda há pessoas que arreganham a tacha e não arreganham a taxa, sendo que nestes casos a tacha está não apenas a substituir algo, mas a consubstanciar-se com um ente corrupto, gozão, pleno de malvadez e intolerância, pelo que deve ser bem taxada.
A tacha ainda deverá pagar taxa, porque sempre que se perde um desses pequeninos pregos de cabeça chata, muito bons para remendar tamoeiros e afins, ninguém se preocupa com mais uma ou menos uma tacha. Isto e, não há ninguém que tendo à sua disposição uma mão cheia de tachas, se perder uma, se vai dar ao trabalho de procura-la. Mais tacha menos tacha, mas não mais tacha sem taxa. Assim, passando a tacha a pagar taxa, quando alguém perder uma simples taxa, não a perderá simplesmente, mas perderá uma tacha com taxa, o que obviamente já pia mais fino.
Eia, pois, a taxa à tacha.
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OS TRÊS COELHINHOS ESPERTOS
Num país imaginário viviam três coelhinhos que eram irmãos e se chamavam Pim, Pam e Pum. Era um país de fantasia, com florestas muito densas, e lindos riachos a correr pelos campos cheios de flores. Certo dia. o Pim disse aos irmãos:
-Não gostavam de dar um passeio pelo bosque? Era divertido!
A ideia foi logo aceite com entusiasmo por Pam e Pum, e lá foram os três coelhinhos, passeando pelo bosque, à procura de surpresas. Chegaram a um vale muito tranquilo, cheio de bonitas flores nas quais os irmãozinhos se entretiveram a comer gostosíssimos trevos. Ah!, mas nem tudo era paz naquela floresta. Nela se erguia o castelo do gigante Brutamontes, que precisava de comer, todos os dias, três vacas e várias dúzias de cordeiros. Precisamente naquela manhã, o gigante tinha saído, à procura de lenha e de alimentos, armado com a sua terrível espada e um grande saco às costas. E, de repente, parou admirado:
-Mas o que é que eu estou a ver ali?! – Disse o Brutamontes. -Três coelhos! Com certeza são forasteiros, porque, se não, não se explica que andem por aqui tão à vontade! Lá muita carne não se pode dizer que tenham, mas vão servir-me de aperitivo. Então, meus rapazes!
Quando ouviram aquele vozeirão, os três coelhinhos sobressaltaram-se e, quando olharam e viram aquele gingantão, quase iam desmaiando. Quiseram fugir, mas o Brutamontes já lhes tinha cortado a retirada, rindo às gargalhadas:
- Ho, ho, ho! Corram mas é para dentro deste saco, que tenho a panela à vossa espera.
E, com grande habilidade, pegou neles e enfiou-os naquele saco enorme.
- Ele quer devorar-nos! - Choramingava o Pim, apavorado.
- É um gigante enorme! - Declarou o Pam.
- Com certeza, engole-nos num instante, ai que desgraça!
- Não adianta nada a lamentarmo-nos - disse muito sensatamente o Pum. - O que temos que fazer é tentar rasgar o saco. Se o conseguirmos...
Mas todos os esforços que fizeram não deram nenhum resultado. Entretanto, tinham chegado ao castelo do gigante, que começou logo a preparar o lume, à frente dos três coelhinhos apavorados, que já o gigante pusera fora do saco para os meter na panela.
-Tive uma ideia! - Disse subitamente o Pum.
Contou-a, baixinho, aos irmãos. Imediatamente os três coelhinhos se aproximaram do gigante Brutamontes e, num momento em que o viram distraído, atiraram-lhe cinza aos olhos. Aquele bruto começou a rugir como uma fera, porque não conseguia ver nada.
- Malditos! Hei-de apanhar-vos, hei-de apanhar-vos, - gritava. Mas o Pim, o Pam e o Pum, enquanto ele ia berrando aquelas ameaças todas, corriam já, mais velozes que o vento, em direcção à floresta e, quando conseguiram chegar à sua toca repetiam, uns aos outros, ainda tremendo de emoção, a história da sua salvação.
E nunca mais foram passear para aqueles lados!