PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
QUADRO VIVO
A água cai em catadupa,
pelas encostas verdejantes.
E o seu dolente murmúrio
desfaz o silêncio da manhã.
Para os lados do Rolo
Voam passaroucos entontecidos…
O Sol, a pino, espelha-se no mar,
mas os homens não desistem da enxada.
Há velhos recostados à Praça
E as mulheres correm, apressadas, pelas ruas
- a lenha é verde e o conduto pouco.
Na mesa, pobre, entornam-se desejos…
Mas um côdea de pão
e uma tigela de café…
nunca faltam.
Autoria e outros dados (tags, etc)
PELA POSSE DO POÇO
Para confirmar, ao certo, a que freguesia pertence o Poço da Alagoinha, basta conferir os limites das duas freguesias que o reclamam como seu: Fajãzinha e Fajã. Urge, no entanto, recordar que a Fajãzinha, por razões históricas, se considerou sempre “superior” à Fajã Grande, por cuidar que foi a partir dela que se formou esta última freguesia. No entanto a história diz-nos que não foi bem assim, pois a freguesia primitiva, embora tendo a sede onde hoje é a Fajãzinha, era denominada de “Fajãs”. Esta sim, dividiu-se originando Fajãzinha e Fajã Grande. Já por altura do episódio de Tiana Tenenta, afogada na Caldeira da Água Branca, a Fajãzinha enviou um “ultimato” à Fajã Grande, a fim de os seus habitantes retirarem de lá o cadáver da famigerada velha, pois infectava a água que bebiam no Rossio. Só que o caixão, vindo dos matos, em vez do corpo de Tiana Tenenta, trouxe paus e ervas e o embuste teve sucesso!...
Autoria e outros dados (tags, etc)
UMA LENDA DA FONTE VELHA
Antigamente, na Fontinha, em frente à casa do Arionó, havia uma fonte, chamada de Fonte Velha, talvez porque ali, outrora e antes de haver, na Fajã Grande, água canalizada, teria existido ali uma fonte natural, resultante de uma nascente, situada algures, nos confins da terra. Todos os dias, ia ali muita gente buscar água para dar de beber aos animais, para lavar a casa e a roupa ou simplesmente para beber.
Contavam-se que costumavam aparecer, junto à fonte gente misteriosa que aparecia e desaparecia, feiticeiras que se sumiam debaixo da fonte e muitos outros encantos que o povo presenciava, sobretudo na noite de São João.
Entre as várias lendas e estórias acontecidas, junto à Fonte Velha, contava-se uma, em que certa noite, ao passar por ali um homem que ia de viagem para os matos, parou para beber água e encher uma bóia que levava consigo. Depois de beber quanta água lhe apeteceu, começou a encher a bóia que há algum tempo achara no mar, a fim de levar água consigo para beber durante a longa caminhada que ia fazer. Ao encher a bóia, virou-se para apanhar a rolha e tapá-la, mas quando se foi a voltar a bóia, sem que ele contasse, caiu-lhe, rolando sobre as pedras da calçada. Só que ao baixar-se, para a apanhar, em vez da bóia da água viu uma moça muito bonita que lhe perguntou:
— Dás-me água para beber?
— Dou, sim senhora. E só esperar — respondeu o homem que, no entanto, ficou muito admirado por ver aquela rapariga desconhecida, sozinha, àquelas horas da noite, em busca de água para beber.
Como a bóia, ao cair, rolara e despejara toda a água que tinha dentro, o homem voltou costas à rapariga, a fim de voltar a encher a bóia na fonte. Depois de a encher por completo, até derramar por fora, voltou-se para dar de beber à rapariga mas já não a viu. Apercebeu-se, porém, de que ela tinha bebido água pela bóia, sem sequer lhe tocar, pois esta, estava só meia e ele tinha a certeza que a enchera e de não espalhara nem um pingo.
O homem ficou tão assustado e nervoso, que já não continuou a sua viagem. Regressou a casa e na manhã seguinte, foi atirar a bóia para o mar, pois nunca mais a quis usar, nem muito menos beber água por ela.