PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A TORRE
Indomável,
fatídica
esta torre
deslumbra!
Do alto,
zunem os sinos,
ecos memoráveis
Na base,
unem-se os pilares.
harmonia delirante.
Ao meio
o indelével terraço
(sem janela)
onde florescem girassóis.
Autoria e outros dados (tags, etc)
VACINAS
A senhora professora avisava de véspera:
- Amanhã venham bem limpinhos e bem lavadinhos. Vêm os senhores das Lajes dar as vacinas.
Começava, nesse momento, o nosso martírio. A escola, ou melhor a Casa do Espírito Santo, entrava num silêncio total, absoluto e inquietante. Olhávamo-nos uns aos outros sem dizer nada e o recreio seguinte, o da tarde, não tinha graça nenhuma.
Saíamos da escola macambúzios, vergados ao peso do medo e da angústia. O resto da tarde era de sufoco e a noite de agonia.
Na manhã seguinte, uma barrela como a dos dias de festa. Tronco nu, cabeça debaixo da torneira de água fria e pesquisa de algum piolho. O sabão azul havia de matar os que não aparecessem. Por fim cheirávamos a lavados.
Tímidos, hesitantes, sem a algazarra do costume, seguíamos para a escola… E os velhos à Praça a questionar:
- O que será que lhes deu hoje para irem tão acmodados!?
A meio da manhã, chegavam os carrascos. A senhora professora mandava as meninas para o recreio e, pondo-nos em fila, ordenava:
- Tirem sueras, camisas e camisolas.
E nós, nus da cintura para cima, como na lavagem da manhã. A angústia aumentava e o medo crescia. Apenas se ouvia o roçar de uns nos outros, dos apetrechos dos senhores das vacinas.
De cara sisuda, sem um sorriso sequer, os senhores das vacinas aproximavam-se de nós. Pegavam-nos no braço esquerdo e com uma espécie de pena de caneta permanente, aquecida, desinfectada e embebida num líquido… Zás. Cravavam-nos duas grandes riscadelas nos bracitos débeis e indefesos. Doía? Ai, se doía!
Mas o pior é que passados dois dias aquilo começa a inchar, a tumescer, a criar uma espécie de pus, dentro de umas bolhas enormes, que doíam e perduravam durante vários dias. Pior. Não se podiam romper, caso contrário a vacina perdia a validade e haveríamos de levar outra.
E a prova de tudo isto, é que passados sessenta anos, as marcas das ditas cujas ainda cá estão, no braço esquerdo.
Autoria e outros dados (tags, etc)
NOMES SOLTOS
Guilherme da Silveira é o povoador mais antigo povoador da ilha das Flores cujo nome se conhece. Não consta que lá tivesse deixado descendentes quando abandonou a ilha, para se fixar em São Jorge.
Gonçalo Anes de Sousa foi, segundo uma tradição, novo povoador das Flores logo a s seguir a Guilherme da Silveira. Consta que chegou à ilha em 1945 e trouxe consigo 30 casais. Sabe-se que era natural de Évora, tendo casado na ilha Terceira, com Beatriz de Sousa, filha de João Vaz Corte Real. Ao fixar-se na ilha das Flores, que cerca de dez anos antes fora abandonada por Guilherme da Silveira, tornou-se o primeiro dono e senhor da ilha.
Uma filha de Gonçalo Anes de Sousa, chamada Violante de Sousa, casou com Pedro da Fonseca, escrivão da Chancelaria de D. João III, que, por ter comprado o Corvo a Antão Vaz, foi, mais tarde o segundo senhor das Flores e primeiro do Corvo.
Um filho deste casal, chamado Gonçalo de Sousa da Fonseca, foi o terceiro ou quarto senhor da ilha, com o título de capitão, que casou com D. Beatriz de Távora.
O senhorio das Flores também terá pertencido à família Teles.
Gomes Dias Rodovalho, casado com Beatriz Lourenço Fagundes, também foi senhor das Flores, constituindo o primeiro casal a fixar residência no local onde hoje é a freguesia da Fajã Grande.
Diogo Pimentel, de origem nobre como os anteriores, que casou com Catarina Antunes, filha do dito Antão Vaz, assim como os irmãos Rodrigo Anes e Álvaro Rodrigues, os irmãos António e Pedro da Fragoa ou Fraga, naturais de Braga, e respectivas mulheres, bem as irmãs Isabel e Margarida Rodrigues; os irmãos destas e respectivas mulheres; Pedro Vieira e Solanda Lourenço, ambos naturais da Madeira; João Rodrigues e Maria
Bela, casal também ido da Madeira; João Fernandes, o Barco Longo, e as sete filhas, idos da ilha da Rata, Gonçalo Anes Malho e Genebra Gonçalves, naturais de Ourém; João Fernandes, o Roxo, possivelmente, irmão ou parente do Barco Longo e sua mulher, Beatriz Fernandes, são nomes que se contam entre os primeiros povoadores das Flores.
Dados retirados de Drumond, Apontamentos Topográficos