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OS EMPREITEIROS

Sexta-feira, 26.09.14

Em meados da década de cinquenta chegaram à Fajã Grande, juntamento com um gigantesco e deslumbrante acervo de maquinaria e material de construção, os empreiteiros que haviam de abrir e construir o troço da estrada que ligaria a Fajã Grande ao resto da ilha. Tratava-se do troço entre o Porto da Fajã e a Ribeira Grande que, depois de construído, acabaria por deixar ficar tudo na mesma, uma vez que o troço seguinte, entre a Ribeira Grande e o Cimo da Rocha da Fajãzinha, só alguns anos depois seria construído, permitindo assim que se pudesse viajar de carro, da Fajã a Santa Cruz.

Os empreiteiros foram recebidos com grande alegria e satisfação pelo povo, por quanto se sabia que trariam um grande benefício para a freguesia. Eram três. O chefe e dono da empresa era o Senhor Santos, natural do continente mas residente na Terceira onde a empresa tinha sede. Era o único casado e tinha um filho. Os outros dois, o Senhor Pedro e o Senhor Valério, eram cunhados do Senhor Santos, seus sócios e colaboradores, sendo, também, os responsáveis pelas obras, cujos trabalhos supervisionavam, diariamente.

Chegados à freguesia, hospedaram-se na Rua Nova, numa casa com torrinha, a meio da rua, que estava vaga. Uma das melhores casas da freguesia e a única, para além da do chileno e da igreja, com torre. Depressa se adaptaram e criaram grande estima e amizade com a população local. Célebre sobretudo as expressões e ditos do Senhor Santos, possuidor de uma monumental barriga e fumador de charutos, ornados com um belo sotaque continental, impondo um respeito considerável. O senhor Pedro mais alegre e folgazão, o senhor Valério mais reservado e sóbrio, mas todos senhores de uma dignidade e de uma educação bem patentes aos olhos de todos.

Desembarcada a maquinaria e o material, vindo de Santa Cruz em batelões puxados por gasolinas, contrataram homens entre a população local e começaram as obras, iniciando-as, em duas frentes: no Porto e no Cimo da Assomada. Rasgaram colinas, esburacaram rochas, atravessaram campos, destruíram casas e construíram outras pagando indemnizações por campos e espaços ocupados.

A maquinaria era constituída por uma camioneta e um conjunto de vagões, com linhas férreas, a instalar, algumas betoneiras, a máquina de alcatroar e várias máquinas de fazer cimento. Tudo novidade na freguesia. O material, para além de malhos e martelos de todo o tipo e tamanho, era constituído pelas célebres “picaretas”, muitas pás, ancinhos, cavilhas, brocas e outro material de perfurar e partir pedra, Chegaram muitos carrinhos de mão, diversas caixas com velas de dinamite e os respetivos fiosques, fatos de oleado e chapéus para proteger da chuva, muitos arcos, pneus e rodas para construir os cilindros, etc. etc., enfim uma panóplia de material que nunca mais acabava.

Dezenas e dezenas de homens da freguesia foram contratados para trabalhar nas obras o que, se por um lado trouxe alguma riqueza, por outro fez com que muitos campos de cultivo começassem a ser abandonados, alterando assim, parcialmente, a vida e os costumes da freguesia.

 

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publicado por picodavigia2 às 10:05





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