PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
FILOSOFIA E DEDICAÇÃO
O Cipriano Franco nasceu a 13 de Novembro de 1945 na freguesia de São Pedro do Nordestinho, concelho do Nordeste, Ilha de São Miguel e reside, actualmente, em Ponta Delgada. Em 1957 entrou no Seminário de Ponta Delgada, continuando os seus estudos no de Angra, até completar o Curso de Teologia, em 1969, altura em que foi ordenado presbítero. Ao longo do seu percurso no Seminário revelou-se um aluno educado, cumpridor, muito estudioso e dotado de uma inteligência extraordinária, embora a sua humildade o arredasse de protagonismos fantasiosos e exagerados.
Após a ordenação foi colocado como coadjutor na paróquia de Santa Cruz da Praia da Vitória, sendo transferido, anos depois, primeiro para a Salga e, mais tarde, para a Fazenda de Nordeste. Paralelamente, leccionou Língua Portuguesa em escolas do Ensino Oficial. Mais tarde, licenciou-se em Filosofia pela Universidade dos Açores e, em 1996, partiu para Roma, doutorando-se, na Pontifícia Universidade Gregoriana. Ao regressar aos Açores, dedicou-se novamente ao ensino, como professor de História da Filosofia, de Estética e Teologia no Seminário de Angra, onde foi, simultaneamente, Director Espiritual, leccionando, também, História da Filosofia Medieval, no polo angrense, da Universidade dos Açores. Actualmente é Vigário Episcopal da ilha de S. Miguel e coadjutor na paróquia de S. Pedro de Ponta Delgada, cargos, por ele, já exercidos, anteriormente. É o actual presidente do Instituto de Cultura Católica e a ele se deve o facto de a Universidade Católica se ter disponibilizado a se estender, durante algum tempo, à ilha de São Miguel, permitindo a licenciatura em Ciências Religiosas, habilitando, assim, vários leigos e padres para a leccionação da disciplina de E. M. R. C.
Sacerdote, extremamente dedicado, o Cipriano chegou ao Encontro e a Angra revestido duma juventude, duma jovialidade, duma boa disposição e de um espírito de convívio e camaradagem invejáveis. Senhor dum notável acervo de sobriedade e dignidade nos momentos de maior solenidade ou nos encontros destinados à partilha de testemunhos e de reflexão, extravasava uma estravagância alegre e um envolvimento prazenteiro nas horas de convívio e de lazer, que ornamentava com sonoras e sentidas gargalhadas. Passeou, saltou, conversou, recordou, cantou e juntou-se a nós em tudo, com uma vontade sincera e uma satisfação verdadeira. Foi, sobretudo, num dos momentos mais solenes e emotivos do Encontro - a celebração da Eucaristia lembrando os professores e alunos falecidos a que o Cipriano presidiu - que revelou uma inequívoca dignidade, uma solene e profunda simplicidade. Por tudo isso tornou-se mais um dos “Senhores” do Encontro dos Antigos Alunos do Seminário de Angra.
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LER
“A leitura de um bom livro é um diálogo incessante: o livro fala e a alma responde.”
André Maurois
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O CAVALO DE SERRAR LENHA
Na Fajã Grande a lenha era fundamental na via e nos costumes da população, como que fazia parte do seu quotidiano. Quer o acender do lume, duas ou três vezes por dia, quer o dia semanal, geralmente a sexta-feira, em que se acendia o forno para cozer pão, quer por altura da matança, das festas e de outras ocasiões especiais, usava-se muitíssima lenha, de faia, de incenso, de pau branco, loureiro, sanguinho ou até de cedro ou de queiró. Por vezes até os garranchos de incenso retirados da manjedoura, após as vacas lhe comerem as folhas, bem como os milheiros e os sabugos eram utilizados como lenha.
Uma boa parte da lenha, trazida para junto de casa e armazenada em local próprio, era delgada, pelo que era, facilmente, partida à mão, se seca, ou, simplesmente picada com o machado. No entanto, muita lenha era resultante dos troncos e ramos de grossas árvores, cortadas para o efeito ou abatidas por já serem velhas, pelo que tinha que ser serrada e depois aberta, isto é, feita em lascas, a fim de que coubesse nas grelhas dos lares e, também, para que ardesse melhor.
Antes de ser picada com o machado os grossos troncos tinham que ser serrados em pequenos toros, para o que era necessário, para além da serra, um suporte especial, chamado cavalo de serrar lenha.
O cavalo de serrar lenha era uma estrutura de madeira, simples e primitiva mas muito funcional. Com quatro paus grossos, com cerca de um metro de cumprimento, formavam-se dois xis, sendo que o cruzamento deveria ficar numa das extremidades. Era esta parte que ficava para cima, enquanto as pontas mais compridas faziam de pés. Os xis eram ligados um ao outro, com tiras laterais de modo que tivessem grande resistência. Uma vez colocado em pé, o cavalo, o tronco que se pretendia serrar era colocado sobre os vês voltados para cima e resultantes dos dois xis, de forma a permitir que saísse uma num dos lados, ou seja, o pedaço do pau que se pretendia serrar e cujo tamanho se podia regular.
Na Fajã quase todas as casas tinham o seu cavalo de serrar lenha, construído, geralmente, pelo próprio proprietário. Quem o não tinha, quando precisava, pedia-o emprestado a um vizinho que nunca negava o empréstimo.