PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O SAQUE DA MADRE DE DEUS
A nau portuguesa Madre de Deus foi o maior navio do mundo no seu tempo. Tinha 50 metros de comprimento e 14,5 de largura, pesava 700 toneladas e possuía capacidade para transportar 900 toneladas de carga. Dispunha de 7 conveses, estava equipada com 32 canhões e a sua tripulação variava entre os 600 e os 700 homens. Uma obra monumental, o orgulho da coroa portuguesa, na altura. Fora construída na Ribeira das Naus, em Lisboa, em 1589 e destinava-se a fazer a Carreira da Índia. Em agosto de 1592, quando viajava com destino a Lisboa, na sua viagem de regresso da Índia, carregada de valiosíssimas mercadorias, foi atacada e capturada por uma frota inglesa, composta por seis navios, na baía de Santa Cruz, na ilha das Flores. A captura da Madre de Deus pelos piratas ingleses, constituiu um dos maiores saques da História.
Sabe-se que nessa viagem, a Madre de Deus, transportava um valiosíssimo pecúlio. Entre as várias riquezas trazidas a bordo, contavam-se baús cheios de pérolas e joias preciosas, moedas de ouro e prata, âmbar, rolos de tecido da mais alta qualidade, tapeçaria diversa, 425 toneladas de pimenta, 45 toneladas de cravo-da-Índia, 35 toneladas de canela, 25 toneladas de cochonilha, 15 toneladas de ébano, 3 toneladas de noz-moscada e 2,5 toneladas de benjamim (uma resina aromática usada em perfumes e medicamentos). A bordo da Madre de Deus havia ainda incenso, sedas, damasco, tecido de ouro, porcelana chinesa, presas de elefante entre outros artigos. Mas o mais precioso tesouro que a Madre de Deus transportava e os ingleses haviam adquirido, era um documento impresso em Macau, em 1590, que continha informações preciosas sobre o comércio português na China e no Japão e que vinha muito escondido, pois estava fechado numa caixa de cedro, enrolado 100 vezes por um fino tecido, oriundo de Calecute.
A frota atacante inglesa, violando acordos anteriormente estabelecidos, entre Portugal e Inglaterra, era liderada pelo Comandante Sir John Burrough, ancorou, alguns dias antes, ao largo das Flores, à espera de caçar navios mercantes espanhóis que vinham das Américas com mercadorias várias, e que paravam na ilha para se abastecerem de água e víveres. Por azar, surgiu, inesperadamente, a Madre de Deus que regressava da sua segunda viagem da Índia e os ingleses, não hesitaram, capturando-a como se fosse um navio espanhol, atendendo a que, nessa altura Portugal era governado por um monarca espanhol. Os ingleses atacaram, massivamente, a Madre Deus, assaltaram, roubaram e, sob ameaça de tortura, conseguiram também obter a informação de que havia mais naus a caminho, vindas da Índia. Após um longo dia de batalha vários marinheiros portugueses perderam a vida, os conveses ficaram cheios de sangue e havia corpos dos marinheiros espalhados um pouco por todo o navio. O comandante inglês, no entanto, poupou a vida do capitão português Fernão de Mendonça Furtado, assim como as dos feridos, enviando-os para a ilha, onde foram recebidos e tratados
Segundo o uso na época, quando um navio fosse capturado, procedia-se ao transbordo da carga e o navio apresado era incendiado e afundado. Contudo, os corsários ingleses ficaram tão impressionados com a espetacularidade e excelência da Madre de Deus que resolveram rebocá-la para Inglaterra.
A ilha das Flores ficou assim na história. É claro que devido a um triste acontecimento, uma vez que testemunhou aquele que constituía ao tempo um dos maiores saques da História.
NB - Dados retirados do Site da Marinha Portuguesa.