PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
RURALIDADE ABSOLUTA
Hoje é domingo. No meu caminhar diário, por vezes cerceado ou até bloqueado por imperativos avoengos, decido abster-me do percurso urbano, habitual, mais tranquilo e envolvente, tomando como alternativa o rural, mais abrupto e sinuoso, mas mais delirantemente puro. Cinjo-me a este pedaço de Douro que me é disponibilizado usufruir e atravesso um monte fronteiro e que me conduz à Bouça. Outrora monte ermo e solitário, povoado de denso arvoredo onde imperava o pinheiro e o eucalipto, hoje é um espaço rasgado por ruas e vielas, parcialmente alcatroadas e ladeadas de pequenas vivendas, encastoadas em férteis quintais ou courelas a abarrotar de legumes e hortaliças, protegidas por densas latadas, agora, já aureoladas com as cores do outono.
Chego à Bouça, onde o perfume da ruralidade se torna mais intenso. Emerjo entre velhos casebres, de portas abertas a exalarem o fumo dos lares, velhos alpendres de mesas postas, caminhos rendilhados de silêncio, aqui e além ornados com uma ou outra cadeira à espera de um velhinho que vai passar ali a tarde, talvez sem sentir coisa nenhuma, a não os rumores do abandono. Mais além são os esqueletos de casas, outrora belas e recheadas de pessoas e de fartura, hoje reduzidas à sua forma pétrea, com telhados caídos, cheias de tédio e de abandono. Ao lado castanheiros a desfazerem-se dos ouriços com que atapetam o chão, vinhas de caules despedidos a abdicarem das folhas já amareladas mas a oferecem uma ou outra ripinha que ficou esquecida da safra, milheirais ressequidos e, aparentemente, abandonados, silvados despidos de amoras, macieiras perdidas entre o folhedo alfeiro.
Volto a uma viela onde predominam antigas casas reconstruídas, uma outra nova, prédios alegres e coloridos, entrelaçados entre cerrados de pencas à espera da grande noite… Tudo é silêncio e a madrugada parece prolongar-se estática, indiferente à força e ao vigor do astro-rei. Apenas uma mulher a estender roupa, um velho a refrescar-se no sossego da manhã, um cão a ladrar inutilmente e um ciclista a quebrar a rotina semanal. Dois homens passeiam como se fossem namorados.
Finalmente o monte que separa Vila Cova de Mouriz. Um torrão de verdura na sua vertente leste, com o Sol a açapar-lhe em plenitude. O que mais me encanta é o ribeiro que o atravessa. Fascina-me o murmúrio da água a esbarrar-se contra os pedregulhos, a elegância dos choupos a delimitar-lhe as margens, as fugas de rega aparentemente mortas, a força verde das ervas ao redor e o espantoso silêncio do arvoredo lá no alto. Este caminho, inseguro, irregular, abrupto e intragável a automóveis e quejandos, onde um homem mija destemido e sem complexos, bem podia ser transformado numa avenida onde o casario seriam os muros arqueados sobre o silêncio e os prédios as árvores elevadas por entre os raios do Sol. Chego, apreensivo à casa dos fantasmas. Inquieto-me porque embora não acreditando, ao redor há um silêncio impressionante e assustador. Além disso a casa é um monstro desfeito e amortecido. Estórias antigas e fantasmagóricas se desenharam ali. Talvez disputas de herdeiros… Mas verdade é que dela nada usufruíram e as ruínas permanecem ali, mudas como se fossem os restos de um navio naufragado. Ao redor só há silêncio, abandono, tédio, destruição e deserto. Mais além, já na descida da encosta, outras seguem-lhe exemplo, no abandono das suas paredes, na destruição das suas formas de que apenas permanecem os esqueletos. Uma terá sido deslumbrantemente bela, casa solarenga, ornada de varandas, beirais e pináculos, com os restos de uma capelinha, ao lado. Ao redor campos forrados de fartura. Ao longe o resto deste pedaço de Douro, onde há de tudo: montes, serras, árvores, florestas, vinhedos, caminhos, casas, prédios, fábricas e até uma autoestrada.
Neste oásis de ruralidade pura e absoluta, apenas falta o mar!
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PACÍFICO
MENU 56 – “PACÍFICO”
ENTRADA
Cream Crakers cobertas com creme de pimentos dulcificados em geleia, com queijo creme fresco e perfumados com hortelã. Retalhos de queijo simples.
PRATO
Posta de Salmão grelhada com puré de batata e salada de pimentos e alface.
SOBREMESA
Rodelas de ananás e pêssego, com gelatina de morango e suspiros.
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Preparação da Entrada: Cozer os pimentos em geleia Depois de cozidos juntar o creme de queijo fresco e triturar. Recobrir as bolachas e servir intercaladas com farripas de queijo de barra.
Preparação do Prato – Grelhar o peixe depois de temperado com alho, pimenta e orégãos. Fazer o puré de acordo com as instruções. Empratar juntando a salada de cebola, pimentos, pepino e cenoura picados ou raspados.
Preparação das Sobremesas – Confecção tradicional.
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HOJE È DOMINGO
Hoje é Domingo
Toca o sino,
O sino é de oiro,
E o touro é bravo.
Hoje é domingo
Toca no sino
Deixá-lo tocar
E o galo cantar
O galo é francês
Pica na rês
A rês é mansa
Vai pr'a França
Se ela voltar
Volta a picar
Pica na burra,
Que é casmurra
Pica no jarro
Que é de barro
Pica no sino
O sino é de oiro
Pica no toiro
O toiro é valente
Mete três homens
Na cova de um dente.
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