PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
BARTOLOMEU DE QUENTAL
O Padre Bartolomeu de Quental nasceu nos Fenais da Luz, ilha de S. Miguel, a 22 de Agosto de 1626, tendo falecido em Lisboa, em 20 de Dezembro de 1698. Em 1643, partiu para Lisboa, seguindo depois para Évora, onde frequentou a Universidade local, o Real Colégio das Artes, tendo-se licenciado em Filosofia em 1647 e obtido o grau de Doutor. Matriculou-se no curso de Teologia, ainda em Évora, mas passou para Coimbra em 1650, sendo já diácono dois anos mais tarde e pregando aos universitários. Em Dezembro de 1652, foi ordenado presbítero. Em 1654, estando vaga a vigararia da igreja matriz da Ribeira Grande, Bartolomeu do Quental concorreu e ganhou o lugar, por unanimidade de votos. No entanto, quando parecia que ia regressar à terra natal e rever a família, renunciou à nomeação, optando por pregar na região de Lisboa. A intensidade e qualidade do seu esforço eram publicamente reconhecidas e a 22 de Outubro de 1654 foi nomeado capelão-confessor da capela real e pregador extra-numerário. Apesar das tarefas que, desde essa data, desempenhou na corte, Bartolomeu do Quental não descurou a pregação itinerante, que continuou a manter. Após a morte de D. João IV, ocorrida em 1656, em plena Guerra da Restauração, Bartolomeu do Quental manteve o seu fervor missionário no território subordinado à arquidiocese de Lisboa, procurando, em simultâneo, reformar os capelães e clérigos da Capela Real. Em 1659, instituiu uma congregação de sacerdotes, com estatutos próprios, que organizavam a vida individual e colectiva e, de certa forma, já prenunciavam o que viria a ser a Congregação do Oratório. Entre 1664 e 1667, um período marcado por lutas internas na corte, prosseguiu as pregações no arcebispado de Lisboa, as visitas a hospitais e os exercícios espirituais, afastando-se progressivamente do partido régio e apostando na aproximação ao Infante D. Pedro. Em 1667, com a deposição de D. Afonso VI, Bartolomeu do Quental, beneficiando das suas boas relações com o Infante, preparou a fundação do Oratório como «associação de padres seculares, sem quaisquer votos». Inicialmente, o cabido – a Sé de Lisboa estava então vaga – recusou as propostas do sacerdote micaelense, mas, a 30 de Dezembro de 1667, antes da reunião decisiva, um dos cónegos que mais se opunha ao projecto morreu de um ataque e o cabido, impressionado, votou unanimemente a favor da obra idealizada pelo padre Bartolomeu do Quental. A provisão foi passada a 8 de Janeiro de 1668 e, a 16 de Julho desse ano, em Lisboa, nas Fangas da Farinha, na Rua Nova do Almada, nasceu a Congregação do Oratório, cujos estatutos seriam aprovados pelos papas Clemente X e Inocêncio XI. Em 1674, os Oratorianos mudaram-se para a Igreja do Espírito Santo, na mesma rua. A partir de Lisboa, o Oratório espalhou-se pelo país, com grande incidência nas províncias nortenhas. A multiplicação das casas levou o padre Bartolomeu do Quental a pensar na sua unificação legal, procurando seguir o modelo do Oratório francês, mas recusando a ostentação e a música. A partir do reino português, os Oratorianos implantaram-se no Brasil e na Índia mas, apesar do seu fundador ser natural de S. Miguel, nenhuma casa oratoriana foi instalada nos Açores. Desde a fundação do Oratório português até à data da sua morte, em 1698, o padre Bartolomeu do Quental escreveu diversos livros de meditações e dois volumes de sermões. Quando morreu, vítima de uma pleurisia, tinha fama de santo e vários milagres lhe foram atribuídos após o falecimento. A sua obra deixou profundas e bem sucedidas marcas.
Obras principais: Sermam funebre nas exequias da Excellentissima Senhora D. Leonor Maria de Menezes, condeça de Atouguia, Meditaçoens da infancia de Christo Senhor Nosso da Encarnaçam ate os trinta annos de sua idade, Meditaçoens da sacratissima payxão, e morte de Christo Senhor nosso, Meditaçoens da gloriosa resurreyçam de Christo Senhor Nosso: sua admiravel ascenção, amorosa descida do Espirito Santo, e finissimos excessos do Divinissimo Sacramento: com a direcção para a oração mental e mais exercicios espirituae, Sermoens do Padre Bartholameu do Quental., Meditaçoens das Domingas do anno.
Dados retirados do CCA – Cultura Açores
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QUADROS DA VIA SACRA
Desde há alguns anos que, aos domingos se realiza no Parque José Guilherme, na cidade de Paredes, uma interessante feira de antiguidades e não só. Na verdade, ali, para além de todo o tipo de velharias, como ferros, cerâmica, livros, objetos de uso pessoal, utensílios domésticos, adornos, peças de automóveis, bibelots, etc., também se vendem produtos da terra, artigos de produção caseira e artesanato: legumes, hortaliças, fruta, vinhos, enchidos, doces, compotas, peças em madeira, linho, lã, etc.
Num domingo, em que por lá passei, com maior disponibilidade e tempo, fui reparando, aqui e além, nas preciosidades que alguns vendedores expunham e que considerei de maior interesse. Para espanto meu, parei junto a um vendedor que, entre outras peças interessantes, tinha à venda três quadros que, percebi, fazerem parte de um conjunto de quadros religiosos, da via-sacra. Aproximei-me, com intenção de os observar melhor e pude verificar que eram belas gravuras, representando as estações sétima, decima e decima quarta, sendo o texto que acompanhava e explicava as imagens, em francês pelo que me foi lícito admitir-se que quadros terão sido retirados de alguma igreja francesa, talvez mesmo roubados, não sendo, no entanto esse ato, necessariamente, imputado ao vendedor que os tinha em sua posse e que, provavelmente, os terá adquirido por compra. O homem muito provavelmente, até poderá desconhecer a sua origem e o seu significado, porquanto me pareça que nesta altura em que, até no nosso país, tanto se fala na defesa preservação dos bens culturais da igreja, não seja muito provável que o clero francês ande a vender ao desbarato os quadros da via-sacra das suas igrejas.