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O SARGENTO QUE FOI AO INFERNO

Domingo, 09.11.14

Havia numa terra um sargento, que era muito bom rapaz. Naquela terra também havia um rico mercador que se tomou seu amigo, arranjou-lhe a baixa e tomou-o para seu empregado. Como o mercador tinha filhas, o sargento apaixonou-se por uma delas. Mas o mercador era muito desconfiado e nunca deixava sair as filhas de casa, mas pela grande confiança em que tinha o rapaz, quando lhe pediu a filha em casamento, ele consentiu. Tudo corria muito bem. Até que dia foi representada uma peça muito linda no teatro, naquela terra e como as filhas desejassem vê-la, pediram ao sargento, que pedisse ao pai que as deixasse ir com ele. O mercador ficou carrancudo, mas deu licença, dizendo: – Deixo ir as minhas filhas com o senhor, mas com a condição, que quando der a última badalada da meia-noite devem estar todas em casa. Disseram todos que sim, e partiram. Quase perto da meia-noite, o rapaz disse para a sua noiva, que era bom retirarem-se para casa. Mais um bocadinho, mais um bocadinho; pede daqui, pede dali, o certo é que já tinha dado a meia-noite, eles ainda longe de casa. Assim que o rapaz bateu à porta, esta abriu-se logo e o mercador começou a bradar: – Foi assim que o senhor cumpriu as ordens que eu lhe dei? Pois trate já de arranjar as suas coisas que nem já esta noite me fica nesta casa. – Ó senhor, então só por isto! E quando estava já para casar com sua filha! O velho respondeu-lhe: – Só tem um meio de poder casar com minha filha, e voltar para minha casa. – Qual? – Vá ao Inferno, e traga-me três anéis que o Diabo tem no corpo, dois debaixo dos braços, e outro num olho. O rapaz achou aquilo impossível; mas que remédio teve senão pôr-se a caminho. Na primeira terra a que chegou, pregou um edital em que dizia: "Quem quiser alguma coisa para o Inferno, amanhã parte um mensageiro." Isto causou grande curiosidade, até que chegou aos ouvidos do rei, que mandou chamar o rapaz. Perguntou-lhe o rei: – Como é que você vai ao Inferno? – Real senhor, por ora ainda não sei; ando em procura dele, e irei lá, dê por onde der. – Pois bem, disse o rei, quando encontrares o Diabo, pergunta-lhe se ele sabe de um anel de muito valor que eu perdi, do que ainda tenho grande desgosto. Chegou o rapaz a outra terra e botou o mesmo anúncio. O rei também o mandou chamar: – Tenho uma filha que padece uma doença muito grande, e ninguém lhe acerta com o mal. Já que vais ao Inferno quero que saibas por lá onde é que estará a cura. O rapaz partiu sempre à procura do Inferno, e foi dar a uma encruzilhada em que estavam dois caminhos, um com pegadas de gente, e o outro com pegadas de ovelhas. Pensou, e por fim seguiu pelo caminho das pegadas de gente; ao meio dele encontrou um ermitão, de barbas brancas, que rezava em umas camândulas muito grandes, e lhe disse: – Ainda bem que tomaste por este caminho, porque esse outro é o que vai para o Inferno. – Ó, senhor! E eu há tanto tempo que ando à procura dele! O rapaz contou-lhe todo o acontecido; o ermitão teve compaixão dele, e disse: – Já que tens de ir ao Inferno, vai, mas sempre leva contigo estas contas, porque antes de lá chegar tens de passar um rio escuro, e há-de ser um pássaro que te há-de levar para o outro lado; e quando ele te quiser afundar no rio, joga-lhe as contas ao pescoço. Daqui em diante não sei mais o que te sucederá. Assim aconteceu. Chegado ao Inferno o rapaz teve um grande medo, e viu para ali um forno vazio e escondeu-se dentro dele. Quando estava todo agachado, passou uma velha muito velha e viu-o. – O menino aqui! Ora coitadinho, que é tão lindo; se o meu filho o visse matava-o, com certeza. O que veio cá fazer? O rapaz contou tudo à mãe do Diabo; a velha teve pena dele, e disse-lhe: – Olhe; pois deixe-se ficar aqui escondido, porque eu não sei quando o meu filho virá; ele está assistindo à morte do Padre Santo, que está nas agonias, e quer-lhe apanhar a alma. O rapaz pediu à velha se sabia do Diabo as perguntas de que trazia encomenda. Quando estavam nestas conversas chegou o Diabo bufando; a velha escondeu-o logo, e disse: – Anda cá, filho, para descansares; deita-te aqui no meu colo. O Diabo deitou-se e ficou logo a dormir. A velha foi muito devagarinho com as unhas e arrancou-lhe um anel que tinha debaixo do braço. O Diabo mexeu-se desesperado, gritando: – Isto o que é? – Ai, filho, fui eu que me deixei dormir, e dei uma pendedela em cima de ti. Estava a sonhar com aquele rei que perdeu o anel, e que nunca mais o tornou a achar. – Pois é verdade esse sonho, respondeu o Diabo; está debaixo de uma laje ao pé do repuxo do jardim. O Diabo tornou a ficar a dormir; a velha sorrateira arrancou-lhe o segundo anel. O Diabo tornou a acordar desesperado: _ Tem paciência, filho; tornei-me a deixar dormir e a sonhar com a filha daquele rei que nenhum médico sabe curar. – Também é verdade; a doença dela é o sapo-sapão, que está metido no enxergão. Tornou o Diabo a dormir. Para arrancar o anel do olho é que foram os trabalhos. A velha tirou-o com um espéculo, e o diabo com a dor e zangado com as pendedelas, saiu pela porta fora. O rapaz recebeu tudo da velha; voltou para o mundo e foi entregar as contas ao ermitão. Depois passou pela terra do rei que tinha perdido o anel, que lhe deu muito dinheiro quando o tornou a achar debaixo da laje. Depois passou pela corte do rei que tinha a filha doente, disse onde estava o sapo-sapão. A princesa melhorou logo, e o rei pediu-lhe para que dissesse a paga que queria. – Quero que Vossa Majestade me dê o seu poder por oito dias. O rei mandou deitar um pregão para ele governar oito dias; o rapaz partiu logo para a terra do sogro, e deu ordem logo que lá chegou para o mercador dentro em meia hora lhe vir falar à sua presença. O mercador foi, mas quando chegou era já mais de uma hora. O rapaz disse: – Podia-o mandar matar, por me ter desobedecido, em vir depois da meia hora. – Ó senhor, não me demorei por minha vontade. – Pois sim. Mas porque não soube em tempo desculpar aquele pobre sargento que pôs fora de sua casa? O mercador conheceu então o antigo noivo de sua filha, que tinha sempre chorado, confessou o seu erro, e pediu-lhe de joelhos muitos perdões. O rapaz entregou-lhe os anéis do Diabo, e nesse mesmo dia casou com a sua namorada, por quem tinha metido um pé no Inferno. (Adaptado de Teófilo Braga)

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publicado por picodavigia2 às 20:35

DANÇA DO MAR

Domingo, 09.11.14

Eu quero voltar ao mar,

P’ra apanhar uma sereia,

Dançar com ela na praia,

Em noites de Lua Cheia.

 

Eu quero voltar ao mar

P’ra apanhar uma ganhoa,

Colocar-lhe um laço ao peito,

Na cabeça uma coroa.

 

Eu quero voltar ao mar

P´ra apanhar uma onda mansa,

E ser levado por ela

Na aragem da bonança.

 

Eu quero voltar ao mar

P’ra apanhar a maresia,

Saltar baixios e escolhos

Em gesta de fantasia.

 

Eu quero voltar ao mar

(Foi no mar que eu nasci)

Apenas p’ra lhe dizer:

- Não posso viver sem ti.

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publicado por picodavigia2 às 18:30





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